Sérgio Salustiano da Silva1
O objetivo desta pesquisa é estudar a influência da indústria cultural na desconstrução da identidade do homem pós-moderno, pela cultura de massas. Mesmo sendo um assunto complexo conforme argumenta Alain Hesrcovici:
``... não é possível falar, objetivamente, em identidade cultural numa coletividade dividida em classes sociais, seja ela local ou nacional. A cultura não pode ser concebida como um processo social homogeneizador que permitiria abranger a totalidade da coletividade; o jogo de exclusão não permite definir elementos simbólicos comuns à totalidade dos membros da sociedade''. (HESRCOVICI, 2001,14)
Entretanto, apesar de estudiosos como Hesrcovici não aceitarem que se possa ter objetividade quando o assunto é falar da crise de identidade cultural do homem pós-moderno, devido às barreiras sociais existentes em cada nação, deve-se levar em conta que, apesar de qualquer diferença social que possa existir, a indústria cultural trabalha exatamente para derrubá-las, pois ela usa de meios para convencer o homem de que ele pode se tornar um olimpiano2, se conseguir atingir o mesmo ``level''3, que os membros das classes mais abastadas da sociedade.
Nesta reformulação de valores proposta pela indústria cultural, as culturas de massas e os símbolos antes restritos somente aos guetos são reintroduzidos na sociedade com novos apelos para o consumo da massa. Ao transformar esses símbolos, ela oferece aos seus antigos detentores a oportunidade de inserir-se no mundo globalizado.
Mas, apesar da revalorização dos seus símbolos e por conseqüência, de sua cultura, o homem pós-moderno não se reconhece mais nesta atual identidade, que esta sendo oferecida pela sociedade contemporânea, pois ele vive os conflitos de ter sua identidade fragmentada, desde do seu nascimento até sua morte. E para tentar reverter essa situação, ele busca, mesmo inconscientemente seus antigos valores culturais, em uma tentativa de firmar o seu ``EU'' social e satisfazer suas necessidades pessoais.
Esse fato, segundo Edgar Morin, acaba por quebrar as tradições do homem pois, para ele, ``a cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural'' (MORIN, 2000, 16), que transforma as antigas identidades homogêneas em híbridos culturais4. E, o homem ao tentar buscar no seu passado símbolos para respaldar sua identidade presente e futura, acaba por criar uma nova cultura sob a bênção da indústria cultural.
Assim, nesta pesquisa pretende-se analisar a forma como a globalização, depois de atingir a identidade cultural de uma nação, passa a influenciar diretamente na identidade particular do homem pós-moderno, pois a cada dia é mais crucial poder entender esse movimento que pode ser analisado de dentro para fora e vice-versa, mas que sempre estará afetando diretamente a construção e o desenvolvimento das identidades locais, pois o indivíduo, partindo do pressuposto por Stuart Hall, sendo um sujeito detentor de uma identidade fragmentada, é capaz de modificar toda a estrutura social tanto do seu espaço local quanto do espaço global.
Embora vários estudiosos da pós-modernidade afirmarem que o homem está lutando para reverter a atual crise pela qual ele está passando, onde ele busca simultaneamente sua identidade local enquanto é obrigado a viver como um homem global. Mas, ainda não descobriu como criar mecanismos para proteger sua cultura local ao mesmo tempo que ele estará sendo oferecida para uma sociedade transnacional.
Dentro deste estudo, que pretende abordar de forma limitadora, pois aborda a crise da identidade do homem pós-moderno, através da ótica de um grupo musical5, pretende-se analisar as influências da sociedade global perante as identidades locais, na sua perda de referencial e aquisição de novos valores.
A banda Casaca, que iniciou sua carreira com fortes apelos da cultura local do Estado do Espírito Santo, conseguiu despertar o interesse não somente dos capixabas, mas também de uma gravadora multinacional, a Sony Music, que através da banda usou os elementos antes restritos as festas religiosas da Barra do Jucu, para transformá-los e inseri-los na sociedade global. Com isso, apesar da banda ter criado um sentimento de reintrodução e revalorização de um símbolo - o congo - que sempre esteve à disposição de todo o Estado, acabou perdendo sua identidade local, que foi transformada pela indústria cultural, para ser reintroduzida na cultura de massa.
Esse fator deve ser analisado não somente devido ao movimento pendular das identidades locais confrontando-se com as globais. E também de forma mais aprofundada, ou seja: de como este movimento poderá estar sendo útil para a introdução da cultura capixaba no mundo globalizado. E para o reconhecimento dos capixabas na sua cultura antes relegada apenas à periferia. Outro ponto importante a salientar é que apesar de aparentar ser apenas um problema regional, estamos tratando de um símbolo de uma cultura, que ao mesmo tempo que está sendo perdido está sendo reintroduzido na indústria cultural.
Adorno previu que na indústria cultural:
``Tudo é percebido do ponto de vista da possibilidade de servir para outra coisa, por mais vaga que seja a percepção dessa coisa. Tudo só tem valor na medida em que se pode trocá-lo, não na medida em que é algo em si mesmo.'' (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 148)
Desta forma, postulamos que, a cultura local somente teria validade para a indústria cultural se, de alguma forma, ela pudesse ser reformulada e reintroduzida na sociedade contemporânea. Assim, para o capixaba, apesar do congo estar sendo apenas mais um produto para o seu consumo, ele passaria a adotá-lo como um símbolo de sua identidade. Esse fato é legitimado pelo fato do sujeito não ter uma identidade fixa e, procurar em símbolos valorizados pela cultura de massa, indícios de suas raízes culturais. Conforme afirma Stuart Hall, a atual crise de identidade acontece devido à estar em estado de constante mutação:
``Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida.'' (HALL, 1998, 21)
Assim, através de dados coletados nos dois principais jornais impressos do Estado, procuramos reunir informações para fundamentar nossa análise. Procuramos verificar como foi a abertura dada à banda entre o período em que ela ainda era um grupo local até chegar ao ápice, que foi ao assinar contrato com uma gravadora multinacional. Essa banda, na nossa concepção tornou-se um olimpiano, atingido as grandes massas globais. Contatamos também, com a análise dos jornais que a própria mídia impressa influenciou na desconstrução dessa identidade local.
Vamos realizar nossa análise, observando os títulos e as fotos que foram publicadas para atrair o grande público para a descoberta desta nova ``boy-band'', tipicamente brasileira e originalmente capixaba. Em um jornal impresso os primeiros apelos são os estéticos, no caso das fotos e títulos pode-se comprovar que na maioria das vezes as reportagens tentavam remeter a um sentimento de pertencimento ao local. Em uma delas6 percebe-se o vocalista da banda aparecendo enrolado na bandeira do Estado em uma nítida alusão ao sentimento de pertencimento à sua territorialidade.
A fundamentação teórica desta pesquisa é baseada na teoria culturológica proposta por Edgar Morin, que analisa as conseqüências sociais da introdução dos símbolos produzidos pela indústria cultural, na atual sociedade de massa, consumidora de bens que supostamente trarão a felicidade ou sua identidade. Nessa teoria constata-se a questão da sociedade contemporânea, que encontra-se com sua identidade em estado de redescobrimento. E para esse descobrimento usa da indústria cultural, via cultura de massa, para adquirir os símbolos que vão legitimar sua atual identidade heterogênea e fragmentada.
Assim, essa teoria poderá oferecer subsídios para comprovar o fato de que o homem pós-moderno busca novas formas de representação para sua identidade, mesmo tendo noção que não conseguirá resgatar os símbolos de sua cultura original.
O fundamento desta teoria é a tentativa de homogeneização de culturas diferenciadas, pois o homem pós-moderno vive a eterna procura da felicidade. Mauro Wolf ao citar Morin, argumenta que, a cultura de massa conceitua esse momento vivido entre estes dois pólos como complementares, apesar de tão diferentes:
``A cultura de massa é uma moderna religião de salvação terrena que contém em si as potencialidades e os limites do seu próprio desenvolvimento: por um lado, aponta o caminho que, necessariamente, toda a sociedade de consumo seguira mas, por outro lado, é vulnerável a todos os movimentos colectivos que são portadores de exigências metaindividuais e espirituais.'' (WOLF, 1997, 93)
Essa vulnerabilidade da sociedade global é o principal problema vivenciado, atualmente, pelo homem pós-moderno, que procura formas de viver em um mundo em constante mutação, ao mesmo tempo em que busca a satisfação na sociedade contemporânea.
Em vista disto, surge, portanto, a necessidade da discussão sobre como a sociedade, apesar de estar em constante mutação e adaptação, principalmente tendo em vista a globalização, aceita a criação de identidades partilhadas. Segundo Wolf, para além das diferenciações (de prestígio, hierarquia, convenções, etc.) delineia-se um campo comum, uma identidade dos valores de consumo, que são essenciais para suprir as necessidades privadas do homem pós-moderno, e desta forma moldá-lo para que aceite as novas identidades globais.
E a indústria cultural trabalha para fortalecer esse sentimento hedonista, em que o homem busca seus prazeres através do consumo, - pois na cultura de massa a sociedade globalizada é definida por Edgar Morin como ``a identidade dos valores de consumo, e são esses valores comuns que veiculam os mass media...'' (MORIN, 2000, 42) -. Os indivíduos que se encerram nesta sociedade acabam por aceitar suas limitações diante da imposição de novas formas de representação de suas tradições. E conforme afirma Adorno, ``mesmo quando o público se rebele contra a Indústria Cultural, essa rebelião é o resultado lógico do desamparo para o qual ela própria o educou.'' (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 135)
Outro ponto determinante para a fundamentação desta pesquisa, é o estudo das identidades do homem pós-moderno, pois como afirma Stuart Hall:
``O próprio conceito (...) ``identidade, é demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea para ser definitivamente posto à prova.'' (HALL, 1998, 8)
Mas apesar de haver essa reticência ao se falar na identidade, principalmente por ser ela uma forma subjetiva de expressão de uma cultura. O fato é que por meio da globalização o homem tornou-se um sujeito de identidades provisórias e instáveis, não somente pelo fato de ela buscar a quebra de barreiras nacionais, criando um grande continente global e sem fronteiras, mas porque ela trabalha, segundo analisa Adorno e Horkheimer, com a base de que ``... o indivíduo (...) só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional com o universal está fora de questão.'' (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 144).
Esse é o grande ponto pelo qual vários países levantam suas barreiras contra uma tentativa de penetração do global. No Brasil, como em diversas outras nações, a Constituição Federal de 1988 previa no seu artigo 216 que:
``Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedades brasileira...''
Desta forma, o país não buscava apenas proteger a memória dos seus antepassados formadores da cultura brasileira, mas pretendia criar mecanismos que moldassem a forma como a globalização, já prevista naquela época como uma grande de dizimar as culturas, engolisse a identidade brasileira e/ ou regional .
Essa forma de tentar proteger a cultura nacional vai de encontro ao pensamento de Renato Ortiz, que imaginava que a ``globalização evitaria também uma certa ilusão pós-moderna, como se o mundo fosse composto por um conjunto de átomos sociais desconexos'' (ORTIZ, 1996, 56). Sendo que uma das principais características da globalização na sociedade é trabalhar o homem como um ser único, ela despreza o conjunto, que caracterizava a sociedade moderna.
E a indústria cultural trabalha exatamente neste contexto, conforme o próprio Renato Ortiz afirma que:
``...os publicitários e os executivos do marketing global sabem disso perfeitamente. Eles não pretendem vender seus produtos para todas as pessoas do planeta; interessa-lhes conquistar segmentos mundializados de consumo. Tudo é uma questão de grau, uma variável dependente do público-alvo.'' (ORTIZ, 1996, 123)
O que faz com que a indústria cultural trabalhe desta forma é o fato de que o sujeito pós-moderno é um indivíduo que teve sua identidade e referências fragmentadas, e não lhe foram oferecidos novas perspectivas, portanto, ele teve que aceitar as identidades coletivas, mas não abandonando sua individualidade e sua busca pela cultura local.
Essa busca por uma identidade fluída é o que norteia seus passos e o coloca em crise, e o faz não aceitar por completo as identidades globais, pois ele ao mesmo tempo que quer inserir-se no mundo moderno, ele vive preso ao seu passado.
Esse problema da existência e crise das identidades é reforçado nesta pesquisa pelo fato de, ao iniciar o estudo para a realização deste trabalho, poder-se constatar que as transformações ocorridas na sociedade contemporânea estão intrinsecamente ligados ao fortalecimento das identidades nacionais, pois segundo argumenta Hall:
``as identidades nacionais permanecem fortes, especialmente com respeito a coisas como direitos legais e de cidadania, mas as identidades locais, regionais e comunitárias têm se tornado mais importantes.'' (HALL, 1998, 73)
E a questão do quanto a indústria cultural fortalece a crise das identidades locais ao usar de seus símbolos é um dos principais problemas levantados para que se possa chegar ao verdadeiro problema, que é a desconstrução da identidade do homem pós-moderno, que através da cultura de massa busca o seu referencial para poder viver na sociedade. Stuart Hall menciona que ``... ao invés de pensar no global como substituindo o local, seria mais acurado pensar numa nova articulação entre o global e o local.'' (HALL, 1998, 77). Mas para o cientista social Antônio Firmino Costa, o que acontece é que:
"... a medida que os atuais processos de globalização se intensificam com poderosas dinâmicas de interligação do mundo, a manifestação de identidades culturais diferenciadas, em vez de desintegrarem-se, tendem a proliferar-se ou acentuar-se" (Edição eletrônica do JBCC, 2001).
Apesar de ambos terem posições contrárias quanto a globalização, no contexto geral, eles concordam que ela (a globalização) acaba por produzir uma nova interação entre o global e o local. Entretanto quando aceitamos que passará a existir uma nova interação entre ambos, também deveremos aceitar como certa a aniquilação das identidades locais, pois por mais que elas sejam reformuladas, e reinseridas na sociedade, elas passarão a ser uma identidade globalizada, que foi adotada pelo meio local, na qual se inseriu. E o congo, que tinha suas características únicas e exclusivas, se perderá pois a sociedade não terá conhecido o som dos tambores e muito menos saberá suas origens. Esta sociedade conhecerá o que a indústria cultural ensinou e mostrou para ela. O que, através dos mass media, ela viu e ouviu. As tradições que deveriam passar de pai para filho, já não existirão mais, pois esse conhecimento será transmitido pela mídia.
Desta forma quando Hall afirma que: ``Há, juntamente com o impacto do global, um novo interesse pelo local''. (HALL, 1998, 77), e esse interesse é despertado devido à cultura de massa ter transfigurado os símbolos de diversas culturas em mercadorias, ``...essas novas mercadorias são as mais humanas de todas, pois vendem a varejo os ectoplasmas de humanidade...'' (MORIN, 2000, 14). Desta forma não haveria uma transformação do velho em novo, e muito menos uma crise de identidade, pois a cultura de massa continuaria sendo:
``... uma moderna religião de salvação terrena que contém em si as potencialidades e os limites do seu próprio desenvolvimento: por um lado, a ponto o caminho que, necessariamente, toda a sociedade de consumo seguirá mas, por outro lado, é vulnerável a todos os movimentos colectivos que são portadores de exigências metaindividuais e espirituais.'' (WOLF, 1997, 93)
Essa definição da cultura de massa apontado por Mauro Wolf é vista por Adorno e Horkheimer como :
``... técnica da indústria cultural levou apenas à padronização e à produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra e a do sistema social.'' (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 114)
Os argumentos de ambos os teóricos somente servem para afirmar que a crise de identidade existente na atual sociedade contemporânea globalizada, realmente existe, e o pensamento de ambos se complementam, pois ao mesmo tempo em que ela é uma religião de salvação, segundo Wolf, ela padroniza as identidades locais, conforme afirma Adorno.
Desta forma, a heterogeneidade do homem pós-moderno, leva a acreditar que ainda é impossível prever as conseqüências da influência da cultura de massas na atual sociedade contemporânea, somente pode-se ter a certeza de que as atuais identidades estão em constate mutação e o principal agente motivador dessa transformação é a indústria cultural.
O homem, neste início de século, busca uma forma de identificar-se na sociedade em que vive. Os principais problemas para que isso aconteça são as várias transformações que sua identidade cultural sofreu ao longo dos anos. Hoje, o homem é um ser com uma identidade híbrida e vive sob o signo da pós-modernidade.
``O sujeito pós-moderno, conceptualizado não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma ``celebração móvel'': formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.'' (HALL, 1998, 12, 13)
Essa problemática da falta de identidade acontece, principalmente, pelo fato do indivíduo não poder viver mais na sociedade como um ser pleno, como na concepção dos iluministas, unificado desde o seu nascimento a até a sua morte, ou como um sujeito sociológico, possuidor de uma essência que o identificaria no mundo, mas que poderia ser modificada quando em contato com o mundo exterior. Atualmente ele vive um novo estágio de identificação, sendo um sujeito pós-moderno, sem identidade fixa, nascido da diversidade de culturas do mundo globalizado, tendo sua identidade construída e reconstruída permanentemente ao longo de sua existência.
``As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno. A assim chamada ``crise de identidade'' é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.'' (HALL, 1998, 7)
Nessa nova sociedade o homem não faz mais parte de um organismo uno, ele é projetado de forma fragmentada, transformando-se em um híbrido cultural, e sendo obrigando a assumir várias identidades, dentro de um ambiente que é totalmente provisório e variável, estando sujeito a formações e transformações contínuas em relação às formas em que os sistemas culturais o condicionam.
O principal meio que condiciona essa nova identidade do homem pós-moderno, na nossa avaliação, é a indústria cultural que, por meio da disseminação de símbolos antes restritos a determinadas localidades, os massifica e os transforma em mercadoria de fácil assimilação e absorção pela grande massa.
Assim, a identidade deixa de ser formada pela interação entre o ``eu e a sociedade'', conforme afirma Stuart Hall (HALL, 1998, 11), passando a ser formada pelas ``supostas'' necessidades do homem, influenciado pela indústria cultural. Mas ao mesmo tempo que ele aceita usar destes símbolos da cultura de massa, ele busca a valorização de sua identidade regional, tentado fazer com que ela possa coexistir junto com as várias identidades globais ofertadas pela indústria cultural.
``As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre ``a nação'', sentidos com os quais podemos nos identificar, constróem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seus presente com seu passado e imagens que dela são construídas''. (HALL, 1998, 51)
A nação pode ser considerada outro grande problema de identificação do homem pós-moderno, pois ele não tem em si um conceito formado sobre o que ele representa no seu Estado. O hedonismo provocado pela sociedade contemporânea o faz sentir-se um cidadão global, com necessidades regionais. Ele não cresce mais ouvindo estórias sobre os grandes heróis de seu povo. Cresce ouvindo as grandes aventuras da televisão, que não tem como objetivo centrá-lo na sua região, e sim o de abrir novas portas para que ele queira e possa se integrar à aldeia global.
A integração do homem pós-moderno, sujeito fragmentado que busca referências através dos mídias para formar sua identidade, acaba por acontecer de dentro para fora. Ele - o homem pós-moderno - busca na heteronomia da sociedade global as formas de poder estar se resocializando neste novo mundo.
A identidade capixaba teve início com o processo de colonização portuguesa do Brasil, em 15357. Mas, apesar dos portugueses terem sido o os primeiros a começar o processo de identificação, sua influência não conseguiu ser total, pois a cultura portuguesa foi misturada com a indígena, africana, francesa, espanhola, e tantas outras que juntas formaram o que hoje pode-se definir como um identidade cultural capixaba.
``Devemos ter em mente esses três conceitos, ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como uma ``comunidade imaginada'': as memórias do passado; o desejo por viver em conjunto; a perpetuação da herança''. (HALL, 1998, 58)
Em vista disto, o capixaba não tem como dizer que não possuí uma identidade própria, mesmo que no Estado ainda possam existir nichos de povos totalmente autônomos da diversidade cultural do Estado, como é o caso do pomeranos, no Sul do Estado, que iniciaram imigração para o Espírito Santo no início do século XIX, e que até hoje são o único núcleo no mundo que ainda preservam sua identidade.
No Espírito Santo, ainda existe as bandas de congo e a colônia de pomeranos, então seria o que Hall chamou as memórias do passado, uma vez que eles ainda vivem como os seus antepassados, ao mesmo tempo em que continuam passando sua herança cultural para os seus filhos, o mesmo poderia se dizer do congo que foi uma herança, mas devido a mistura de duas raças os negros e os índios talvez fosse impróprio colocar nessa mesma classificação.
``Uma questão a colocar é a possibilidade ou não de existência de uma identidade capixaba ou espírito-santense, ou seja, aquela produzida a partir da nossa contiguidade espacial, independente das afinidades ou diferenças naturais e culturais. Se analisarmos com rigor antropológico, estaríamos fadados a constatar a impossibilidade de encontrar uma cultura capixaba, dada a diversidade de experiências, construções de mundo, memória cultural, tradições. Seriam os índios tupiniquins e guarani capixabas? Seriam os pomeranos capixabas? O que os une sob uma mesma unidade federativa e, certamente, terem documentos de identidade que atestam terem nascido no ES'' (REIS, 2001,195)
Conforme afirmou Ruth Reis, o conceito de identidade é muito s s nações. O que deve-se levar em consideração quando estamos tratando de uma identidade local, são os símbolos pertencentes aquela localidade, que constituem, o conjunto de mitos que serão definidos no final como a alicerces da identidade regional.
Essa fato também é observado por Alain Hesrcovici, ao afirmar que:
``Neste sentido, a identidade só pode ser concebida como uma construção ideológica, e não como um fato objetivo. O papel dos intelectuais consiste justamente, em tentar articular, no sentido de tornar coerentes, as práticas dos diferentes grupos sociais, no seio de uma determinada hierarquia cultural, assim como fornecer uma representação simbólica da sociedade. Certas produções são assim escolhidas como sendo representativas do conjunto da sociedade: a França se resume ao Moulin Rouge, aos vinhos, aos perfumes e a Edith Piaf, O Brasil ao samba, às mulatas e ao futebol, etc. trata-se de uma escolha ideológica e, numa certa medida arbitrária, à medida que esses ``cartões postais'' não são, nem podem ser, representativos de uma realidade muito mais complexa.'' (HESRCOVICI, 2001,15)
Portanto, pode-se afirmar, que apesar do capixaba viver entre duas das principais regiões econômicas, do país, Rio de Janeiro e São Paulo, e de ser considerado o quintal de Minas Gerais, ele traz consigo elementos que vão distingui-lo das demais culturas nacionais, mesmo que esses símbolos sejam subjetivos e estejam somente na mentalidade dos próprios capixabas. Não importando para isso classe social, gênero ou raça, conforme analisa Stuart Hall:
``... não importa quão diferentes seus membros possam ser (...), uma cultura nacional busca unificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como pertencendo à mesma e grande família nacional'' (HALL, 1998, 59)
Embora quando se fale em identidades tenha que se ter em mente que não é o simples conjunto de estereótipos e sim os símbolos subjetivos - herdados através do conhecimento transmitido de geração para geração -, que vão formar a representação cultural de um povo, autores como Ruth Reis preferem afirmar.
``Aos incrédulos em relação a uma possível identidade capixaba, é necessário afirmar que não se trata de confundir identidade com estereótipo, ou seja, com uma visão caricatural de um tipo idealizado que representa um lugar ou uma cultura. Exemplo mais flagrante pode ser a Bahia, que, em geral, é citada como expressão típica de identidade bem marcada e delimitada. A distorção desta concepção poder levar desavisados a se surpreenderem com a possibilidade de encontrar um baiano que não dance axé music, não goste de acarajé e não fale mainha. Da mesma forma que o europeu com um nível de informação médio em relação ao Brasil pode se sentir inconformado ao descobrir que nem toda brasileira é torneada por deus, tingida pelo sol e pela miscigenação racial e sambista sensual. Os estereótipos são caricaturas de culturas que embora surjam a partir de simplórias leituras que desconhecem a complexidade cultural, também funcionam para a constituição das identidades, à medida que atuam na construção de uma imagem coletiva individual.'' (REIS, 2001,196)
Essa forma de definir a identidade por Ruth Reis mostra que as identidade culturais, são mais do que simples gestos ou atitudes, mas conforme já falado anteriormente, são os símbolos culturais existentes em cada nação somente de conhecimento de seus habitantes, na maioria das vezes são traços subjetivos, que criam o sentimento de pertencimento de um sujeito ao seu local de origem.
Essa é a identidade do homem pós-moderno, incluindo o capixaba. Ele sabe quem é, mas o problema é que ele não consegue observar os traços de sua identidade, necessitando a todo momento estar reforçando, o fato de ser ``capixaba''. Por exemplo, é comum quando um turista chega no Espírito Santo, o cidadão local perguntar: ``Já comeu moqueca capixaba? Pois o resto é só peixada!''. Este exemplo, acontece pelo fato deste cidadão necessitar que os outros saibam que ele possui um símbolo somente seu, que o distinguirá dos demais Estados brasileiros.
Desta forma na atual crise de identidade do capixaba que também é observada em várias outras localidades, o homem necessita mais do que apenas traços subjetivos, ele quer ver sua identidade sendo reconhecida, e sendo valorizada em outras culturas.
Muitos teóricos afirmam que o homem pós-moderno começou a perder as referências de sua identidade cultural ao inserir-se no mercado global, que o fez compartilhar várias culturas tendo a sua própria sido engolida pelas demais, pois a aldeia global, onde as fronteiras transnacionais foram praticamente dissipadas, não permitiriam uma identidade única e sim a coletividade de identidades.
Entretanto, não se tem um referencial de tempo que possa ser usado como marco para o início da pós-modernidade, uma vez que muitos desses teóricos ainda não aceitam que o homem tenha abandonado os ideais modernistas. O que se observa é toda uma ruptura com os laços que o prendiam a uma forma de pensamento moderno. Essa ruptura não tem um marco especifico, mas ela torna-se mais latente com a sociedade pós-guerra, que passou buscar algo mais, através do fortalecimento de sua identidade. Estudiosos deste tema como Jean-François Tétu preferem não usar um tempo em específico para usar como marco para esses estudos:
``a pós-modernidade não é um estilo de época a ser estudado como o romantismo, realismo, simbolismo..., que têm uma listinha de características, não é isso. Há toda uma condição, pós-moderna, que corresponde a uma sociedade pós-iundustrial, que marca um momento pós-utópico, que não tem sentido na projeção de um futuro, da utopia, pois o tempo privilegiado não será o futuro, mas o presente.'' (TETU, 1997, 432)
Neste presente, o homem vai buscar no seu passado suas origens culturais para centrar-se nessa sociedade global, onde as culturas se interagem, e onde as leis darwinianas, de que somente os mais fortes sobrevivem, destruíram sua referência de mundo e de localização. Este ponto é reforçado por Ricardo Ferreira Freitas, ao afirmar que apesar de existir uma possibilidade estética de igualdade entre as pessoas, o homem é conduzido a uma sensação de perda de referências culturais.
Essa perda de referencial se acentua cada vez mais á medida em que esse homem passa a interagir e inserir-se no mundo globalizado, onde é apenas mais uma peça na engrenagem de uma ``nave espacial'' que uma vez que der sua partida, não terá mais volta.
A identidade sendo apenas um fragmento, uma colcha de retalhos, que foi remendada com vários pedaços de culturas homogêneas fez o homem pós-moderno adotar um simulacro do individualismo levando-o a transitar entre dois pólos distintos o seu eu interior, aquele que procura saber quem ele é, e a que sociedade a qual ele pertence, que seria o seu eu exterior, que o faz interagir com o meio no qual ele vive.
Mas, apesar do homem pós-moderno adotar várias identidades como sua, neste hibridismo cultural ele sempre estará buscando a sua identidade no seu regionalismo, pois como o olimpiano concebido por Edgar Morin, o sujeito pós-moderno, necessita de reconhecimento, mesmo que seja somente de sua cultura, ele necessita saber que ela está sendo preservada ou globalizada em outros Estados-nações.
Atualmente, na nossa avaliação não é possível afirmar qual é a identidade fixa de um povo, uma vez que ela está em constante mutação. Mas também não é possível falar que ele não a tenha, pois os símbolos mesmo que inconscientes são reforçados pela indústria cultural, para uma sociedade de massa, que os usa para conseguir conquistar novos consumidores para os seus produtos.
Segundo Adorno e Horkheimer os extremos das identidades podem substituir o local pelo global e vice e versa (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 122). Mas, o que se observa neste inicio de século é que o global necessita do respaldo do local para que seja aceito pela sociedade a qual ele está sendo inserido.
Na atual crise de identidade do homem pós-moderno o grande dilema da sociedade é até onde a sua cultura está sendo engolida pelas identidades heterogêneas oferecidas pela indústria cultural. E até onde ele - o homem desta sociedade - está se sujeitando a outras culturas, mesmo que para a maioria isso possa parecer irrelevante ou inexistente, a pós-modernidade trás consigo todo esse questionamento consigo, comprovando a falência das identidades modernas, Stuart Hall argumenta que:
``... as identidades modernas estão entrando em colapso, o argumento se desenvolve da seguinte forma. Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um ``sentido de si'' estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento - descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos - constitui uma ``crise de identidade'' para o indivíduo.'' (HALL, 1998, 9)
A crise acontece pelo fato do homem pós-moderno viver em uma sociedade que dissolve a todo momento suas referências culturais ou sociais, criando novas necessidades e valores. O homem pós-moderno produto de uma internacionalização das relações econômicas está inserido em um amplo processo fragmentário, na qual ele não consegue mais sentir-se representado no ambiente no em que ele está inserido. Essa necessidade de representação faz com que ele se volte para si tentando encontrar-se, e quando isso acontece também ocorre a revalorização do local.
Entretanto, não quer dizer que está desestruturação da identidade seja um fator planejado ou calculado pelos detentores do poder da sociedade contemporânea, ela ocorre à revelia de todo e qualquer processo, seja de transnacionalização ou da globalização da economia, da sociedade e do consumo. Ela nasce do desejo do homem em conquistar novos horizontes, mas não como na Idade Média, quando o homem buscava desbravar novas nações. Essa atual incursão em busca de novos ``territórios'', está relacionada diretamente com o conhecimento, com a informação e com uma tentativa, mesmo que inconsciente, de proteger-se da globalização, ao mesmo tempo em que tenta dominar esse movimento global.
``O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático.'' (HALL, 1998, 12)
Esse estado provisório de identificação faz com que ele mesmo conquistando e se inserindo em novas culturas tente fazer a sua aparecer e prevalecer. Um bom exemplo que procuramos elencar nesse trabalho é o sucesso da banda Casaca que abandonou o seu regionalismo para ser transformado em um produto global, entretanto, sob a benção do local, pois ele estaria levando a ``cultura'' capixaba para outras fronteiras
A globalização e a cultura de massa poderiam ser definidas como as duas faces de uma moeda. Adorno e Horkheimer citam que ``os produtos da indústria cultural podem ter a certeza de que até mesmo os distraídos vão consumi-los abertamente'' (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 119), igualmente a globalização que trabalha com as culturas transformando-as para que elas possam ficar mais fáceis de serem consumidas.
Nesta cultura de massa,
``... os média que, em última análise, tornam-se ponte entre as interações entre a cultura mundial e a cultural local, entre o público e o privado como nos diz Touraine quando defende a idéia de que a cultura de massa penetra no espaço privado, ocupa grande parte dele e, como reação reforça a vontade política de defender uma identidade cultural, o que leva à recomunitarização.'' (PICCININ, 2000)
Essa nova reconfiguração do local promovida pela cultura de massa, Por um lado, reforça a idéia do cidadão como indivíduo autônomo, produtor, consumidor e usuário de além fronteiras, o cidadão do ``mercado-mundo'' e suas redes. Mas por outro lado perde força a idéia do cidadão como sujeito, com força de ação política individual ou coletiva na sociedade, e com vínculos territoriais mais duradouros, definidos por uma comunidade e/ou Estado-nação.
``Da mesma forma que as religiões, o consumo constitui um universo de significação capaz de modelar as práticas cotidianas. Nele, os indivíduos se reconhecem uns aos outros e constroem suas identidade, imagens trocadas e reconfirmadas pela interação social. Neste sentido, o mercado é fonte de autoridade, possui legitimidade para definir a validade das ações individuais, orientando-as nesta ou naquela direção.'' (ORTIZ, 1996, 170)
Com essa nova configuração da cultura de massa o popular passa a ser valorizado pela elite, ao mesmo tempo em que os códigos que antes deveriam ser feitos de uma forma mais simples para que a grande massa pudesse entender mudam e, passa a existir uma inversão a cultura deixa de ser de cima para baixo passando a ser das massas para as elites.
Desta forma a cultura de massa consegue fazer uma revalorização da cultura local, e mesmo que inconsciente eles passam, também a perder o que antes era destinado somente a eles, pois, a globalização trabalha no sentido de aprimorar as identidades culturais locais, para que estas possam ser inserida na sociedade global. Assim a globalização cria juntamente com a cultura de massa, um movimento sincrônico das identidades.
Para que isso possa acontecer a indústria cultural dentro de um sistema econômico transnacional incorpora, traços das culturas de periferia revalorizando o local. Forma essa já estudada por HESRCOVICI:
``O poder respectivo de cada espaço local depende de sua capacidade de impor, no seio deste sistema mundial, certos produtos; a dimensão universal do local se define em função da capacidade que possuem seus diferentes produtos para se incorporar neste espaço mundial. Existem várias estratégias possíveis: se aproveitar do exotismo, (...) ou rentabilizar os produtos no mercado nacional para ser competitivo no mercado internacional (...).'' (HESRCOVICI, 2001,17:18)
Assim as culturas passam a integrar-se com traços do regionalismo de nações periféricas. Jean-François Tétu observa que ``esse novo momento é marcado pela globalização e as contradições entre o local e o global'' (TETU, 1997, 432)
As contradições acontecem pelo fato de haver o choque entre duas identidades distintas, e apesar da globalização tentar impor novas formas de representação do local e do global, ela acaba por criar um sentimento de revalorização das identidades nacionais, em detrimento de qualquer fator que possa ser apresentado pelo movimento de globalização.
Esse tipo de representação acontece principalmente pois nesta pós-modernidade as identidades locais estarem experimentando um novo sentimento de revaloriazação, Stuart Hall observar esse sentimento de valorização da seguinte forma:
``As identidades nacionais permanecem fortes, especialmente com respeito a coisas como direitos legais e de cidadania, mas as identidades locais, regionais e comunitárias têm se tornados mais importantes.'' (HALL, 1998. 73)
Esse mesmo ponto é observado por Alain Hesrcovici como o compartilhamento de vários culturas que formam a identidade do homem pós-moderno, sendo que ele não tem uma identidade centrada e sim vários pedaços de uma mesma cultura:
``... qualquer cultura é o produto da colaboração com várias outras culturas, e não é possível isolar os elementos locais. Uma cultura se define, essencialmente, pela maneira como `se utiliza', como se reapropria dos elementos de sistemas culturais mais abrangentes.'' (HESRCOVICI, 2001,14)
Essa fato pode ser constato pelo atual fase da economia global em que, busca atingir novos mercados de consumo8, fazendo com que o contrato de pertencimento, do sujeito com sua nação, não entre em choque quando em contato com o global, pois ele não irá respeitar os diferentes particularismos, regionalismos e localismos, de cada cultura, busca formas não de somente impor a cultura dominante de uma nação, mas a coexistência de ambas, o que da mesma forma estaria acarretando a descaracterização da cultura local.
A característica da pós-modernidade é o rompimento do homem moderno com os seus laços de cultura e tradição, sujeito de cunho estritamente consumista ele, para muitos teóricos, foi um marginalizado da era moderna, para tantos outros apenas um desencantado com o movimento modernista. Entretanto a melhor definição de homem pós-moderno é de um sujeito sem referências do seu passado e em busca da construção do seu futuro, mesmo sabendo que ele ainda é inimaginável.
Desta nova forma de representação do homem, podemos definir que o sujeito pós-moderno, apesar de ser influenciado pela indústria cultural conforme analisa Adorno ao afirmar que ``a cultura contemporânea confere a tudo um ar de semelhança'' (Adorno, 1985, 113), ele busca nas origens de suas tradições as marcas que irão nortear o seu futuro.
As culturas de massas observadas tanto por Adorno quanto por Morin, são produtos de uma indústria cultural. E esses produtos são, na concepção dos autores, reformulados, pois na atual indústria, não existe mais a possibilidade de criação de algo novo, uma vez que tudo é somente reformulado e apresentado a sociedade com uma nova roupagem.
Adorno neste ponto faz duras críticas a indústria cultural. Segundo ele a indústria oferece apenas lixo às massas sedentas para consumirem algo que satisfaça seu status:
``... a técnica da indústria cultural levou apenas à padronização e à produção em série, sacrificando o que fazia a diferença entre a lógica da obra e a do sistema social.'' (Adorno, 1985, 114)
Essa padronização imposta pela indústria cultural e aceita pela cultura de massa, é analisada pelo ponto de vista pós-moderno como um momento de ruptura com o passado.
Assim, o sujeito pós-moderno abandona todos os seus referenciais de tradição e cultura somente para estar inserido no mercado global. Embora muitas vezes ele nem saiba desta sua nova opção cultural, assim o faz devido as condições impostas pela sociedade para a sua subsistência como um membro do grupo, apesar de muito se falar da individualização do homem ele necessita estar fazendo parte de um grupo social, ao qual ele se identifique.
Para explicar a questão da cultura de massa, adotaremos a classificação proposta por Umberto Eco, no livro Apocalípticos e Integrados9. Embora o assunto já tenha sido tratado, avaliamos que a inclusão se torna necessária, na medida em que será a partir deste ponto em que haverá o aprofundamento da influência da cultura de massa na desconstrução das identidades.
Os mass media dirigem-se a um público heterogêneo, e especificam-se segundo ``medias de gosto'' evitando as soluções originais.
Nesse sentido, difundindo por todo o globo uma ``cultura'' de tipo ``homogêneo, destroem as características culturais próprias de cada grupo étnico.
Os mass media dirigem-se a um público incônscio de si mesmo como grupo social caracterizado; o público, portanto, não pode manifestar exigências face à cultura de massa, mas deve sofrer-lhe as propostas se saber que as sofre.
Os mass media tendem a secundar o gosto existente, sem promover renovações da sensibilidade. Ainda quando parecem romper com tradições estilísticas, na verdade se adequam à difusão, agora homologável, de estilemas e formas já de há muito difundidos ao nível da cultura superior e transferidos para nível inferior. Homologando o que já foi assimilado desenvolvem funções meramente conservadoras.
Os mass media tendem a provocar emoções intensas e não mediatas; em outros termos: ao invés de simbolizarem uma emoção, de reresentá-la, provocam-na; ao invés de a sugerirem, entregam-na já confeccionada. Típico, nesse sentido, é o papel da imagem em relação ao conceito, ou então da música como estímulo de sensações mais do que como forma contemplável.
Os mass media, colocados dentro de um circuito comercial, estão sujeitos à ``lei da oferta e da procura'' Dão ao público, portanto, somente o que ele quer, o u, o que é pior, seguindo as leis de uma economia baseada no consumo e sustentada pela ação persuasiva da publicidade, sugerem ao público o que este deve desejar.
Mesmo quando difundem os produtos da cultura superior, difundem-nos nivelados e ``condensados'' a fim de não provocarem nenhum esforço por parte do fruidor; o pensamento é resumido em ``fórmulas''; os produtos da arte são antologizados e comunicados em pequenas doses.
Em todo o caso, também os produtos da cultura superior são propostos numa situação de completo nivelamento com outros produtos de entretenimento; num semanário ilustrado, a reportagem sobre um museu de arte vem equiparada ao mexerico sobre o casamento da estréia.
Por isso, os mass media encorajam uma visão passiva e acrítica do mundo. Desencoraja-se o esforço pessoal pela posse de uma nova experiência.
Os mass media encorajam uma imensa informação sobre o presente (reduzem aos limites de uma crônica atual sobre o presente até mesmo as eventuais reexumações do passado), e assim entorpecem toda consciência história.
Feitos para o entretenimento e o lazer, são estudados para empenharem unicamente o nível superficial da nossa atenção. De saída, viciam a nossa atitude, e por isso, mesmo uma sinfonia, ouvida através de um disco ou do rádio, será fruída do modo mais epidérmico, como indicação de um motivo assobiável, e não como um organismo estético a ser penetrado em profundidade, mediante uma atenção exclusiva e fiel.
Os mass media tendem a impor símbolos e mitos de fácil universalidade, criando ``tipos'' prontamente reconhecíveis e por isso reduzem ao mínimo a individualidade e o caráter concreto não só de nossas experiências como de nossas imagens, através das quais deveríamos realizar experiências.
Para tanto, trabalham sobre opiniões comuns, sobre endoxa, e assim funcionam como uma contínua reafirmação do que já pensamos. Nesse sentido, desenvolvem sempre uma ação socialmente conservadora.
Por isso se desenvolvem, ainda quando aparentam ausência de preconceitos, sob o signo do mais absoluto conformismo no campo dos costumes, dos valores culturais, dos princípios sociais e religiosos, das tendências políticas, Favorecem projeções orientadas para modelos ``oficiais''
Os mass media apresentam-se portanto como o instrumento educativo típico de uma sociedade de fundo paternalista mas, na superfície, individualista e democrática, e substancialmente tendente a produzir modelos humanos heterodigiridos. Vistos em maior profundidade, surgem como uma típica ``superestrutura de regime capitalista'', usada para fins de controle e planificação coata das consciências. Com efeito, aparentemente, eles põem à disposição da cultura superior, mas esvaziados da ideologia e da crítica que os animava. Assumem os modelos exteriores de uma cultura popular mas, ao invés de crescerem espontaneamente de baixo, são impostos de cima (e da cultura genuinamente popular não possuem nem o sal nem o humor, nem a vitalíssima e sã vulgaridade). Como controle das massas desenvolvem uma função que, em certas circunstâncias históricas, tem cabido às ideologias religiosas. Mascaram porém, essa sua função de classe, manifestando-se sob o aspecto positivo da cultura típica de uma sociedade do bem-estar onde todos têm as mesmas oportunidades de acesso a cultura, em condições de perfeita igualdade.
Essas definições foram formuladas por Eco, em sua crítica à cultura de massa.
A cultura de massa passa por uma grande crise neste período pós-moderno, onde o homem necessita estar sentindo-se representado. Desta forma ele busca nos produtos oferecidos pela cultura de massa, o fortalecimento de sua identidade, como forma de poder estar representando-a apesar de Adorno analisar que "... a indústria cultural permanece a indústria da diversão" (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 128), Edgar Morin, avalia que:
``O termo cultura de massa não pode ele mesmo designar essa cultura que emerge com fronteiras ainda fluidas, profundamente ligada às técnicas e à indústria, assim como à alma e à vida quotidiana. São os diferentes estratos de nossas sociedade e de nossa civilização que estão em jogo na nova cultura. Somos remetidos diretamente ao complexo global'' (MORIN, 2000,18)
Entretanto, não podemos nos esquecer que a indústria cultural trabalha exatamente no sentido de integrar a cultura de massa a essa nova reformulação das sociedades onde as fronteiras são derrubadas e as nações se integram seja pela moeda ou pela sua cultura. No caso da indústria cultural ela promove essa quebra de barreiras através de bens produzidos para o consumo, quebrando as fronteiras pré existentes, seja de ordem econômica ou social.
A cultura de massa apesar de encontrar resistências para a sua disseminação em várias nações ela consegue transpo-las e integrar suas culturas, pois ela irá buscar nas necessidades individuais do sujeito, forças para conseguir se integrar nas culturas tradicionais, Morin afirma que:
Ela não tende a destrói todo o folclore: substitui os folclores antigos por um novo folclore cosmopolita. (...) Esse novo folclore cosmopolita carrega em si fragmentos de folclore regionais, nacionais ou étnicos: é, num certo sentido, um agregado de folclores que se unem para formar um tronco universalizado...'' (MORIN, 2000,159)
Essa nova integração e reformulação de antigas culturas tradicionais são produzidas, pelo fato da cultura de massa suprir as necessidades do homem de bem estar e de felicidade, que servirão como um entorpecente para que ele possa esquecer as suas verdadeiras necessidades, pois ao mesmo tempo em que são ofertadas novas formas de representação, é retirado dele seus anseios e angustias.
O ópio da sociedade contemporânea, assim poderia ser definida a cultura de massa, pois o vício que ela produz cria anseios que o sujeito não tinha, faz com que ele busque e sinta a necessidade de consumir produtos que não vão estar agregando nenhum valor a não ser a satisfação momentânea, em troca ele entrega sua vida e consciência para ser moldada de acordo com as diretrizes impostas pela indústria cultural.
Adorno define esse entorpecimento da sociedade, promovido pela indústria cultural como uma troca de ambas as partes pois:
"O princípio impõe que todas as necessidade lhe sejam apresentadas como podendo ser satisfeitas pela indústria cultural, mas, por outro lado, que essas necessidades sejam de antemão organizadas de tal sorte que ele se veja nelas unicamente como um eterno consumidor, como objeto da indústria cultural" (HORKHEIMER, ADORNO, 1985, 133)
Isso não significa que o sujeito tenha consciência de ser um objeto manipulado ao bel prazer da indústria cultural, mas também não impõe limites para que isso não aconteça, pois quando ela (a indústria cultural) se sente ameaçada busca novas formas de estar vendendo uma nova necessidade, seja através do sentimento religioso, familiar ou amoroso, "...o poder da indústria cultural prové