Adriana Moreira
Universidade Católica de Pernambuco
À medida que se aproxima o século XXI, a comunidade empresarial brasileira e, por que não dizer mundial, tem à frente grandes desafios e também grandes oportunidades. Oprimido por uma postura histórica de mercados fechados e de recursos naturais, subutilizados, o Brasil se depara hoje com as exigências de um novo mercado globalmente competitivo. Em uma economia interligada por redes eletrônicas em tempo real, a distância geográfica não mais existe. O isolamento acabou e os blocos econômicos, a exemplo do Mercosul, ganham outros mercados e passam, a competir com as grandes potências mundiais.
O Brasil está reagindo a estas mudanças e abre suas portas e janelas para uma nova era. A tarefa não é simples, mas está nas mãos dos empresários moldar o futuro, ao invés de ficar a serviço dele. Nenhum país ou empresa pode ignorar as mudanças globais nos setores econômicos, político e tecnológico. Hoje, os avanços tecnológicos, comercias e nos mercados financeiros ocorrem com muita rapidez e as empresas que não seguirem o mesmo ritmo ficarão para trás. Mesmo dentro dos limites regionais, as novas ferramentas destinadas a melhorar processos, aumentar eficiência, e treinar funcionários e a promover a interação com clientes estão transformando, da noite para o dia, antigas empresas em modernos empreendimentos e criando novos líderes de mercado.
A queda das barreiras comerciais, o alinhamento dos sistemas produtivos em grandes blocos econômicos e o fenômeno da globalização da produção e dos mercados vêm, paulativamente, mudando as estratégias de ação das empresas. Maturada a partir de meados da década de 80,-"na esteira do desenvolvimento do comércio internacional e dos avanços tecnológicos, a globalização econômica é uma realidade já suficientemente palpável para obrigar organizações a, gerir seus negócios balizadas pelos parâmetros da competitividade, qualidade, produtividade e excelência de gestão.
Independente do porte ou setor de atividade da empresa, sua estratégia de operação deverá sempre levar em conta o objetivo maior da chamada "vantagem competitiva". Quanto mais valor agregado ao produto ou serviço oferecido ao mercado, mais essa vantagem será convenientemente alcançada. E a comunicação joga nesse campo um papel fundamental: seja no sentido de promover a coesão interna em torno da qualidade do produto, dos valores e da missão da empresa, seja no trabalho de aumentar a visibilidade pública da organização e na divulgação de seus produtos e serviços. Num cenário globalizado, a informação - e as formas de comunicar produtivamente essa informação - revela-se uma arma poderosa de gestão empresarial. Isso, se aplica tanto à comunicação interna e corporativa como às ações de fortalecimento da imagem institucional, relações com a imprensa e governos, marketing, propaganda e promoção.
A comunidade empresarial brasileira precisa se esforçar para competir nos mercados globais, sem perder de vista as mudanças que ocorrem em outros setores e que terão impacto decisivo na próxima década. É na concorrência com os melhores que a habilidades, talentos, produtos e serviços de qualquer empresa podem-se tornar, de fato, competitivos.
Estamos na Era da Informação, um momento onde a comunicação e troca de experiência também ganharam seu lugar e passaram a ser o diferencial dos negócios. Hoje se aprende errando, ou melhor, se aprende com os erros dos outros. A mídia promoveu isso, ela entrou nas fábricas, trouxe a noticia ao consumidor, apresentou aqueles que fabricam a nossa pasta de dente preferida e hoje ela pode ser melhor, se assim quisermos.
O segredo não é mais a alma do negócio, afinal, nós, consumidores de pastas de dentes, lasanha congelada e pizza semipronta queremos saber o que acontece lá no chão da fábrica, queremos ver o que a empresa X ou Y promovem aos seus funcionários e à comunidade de seu entorno. A concorrência quer saber o que está sendo feito na melhoria da comunicação interna, pois bons resultados devem ser copiados, devem ser compartilhados. Esta é a mentalidade que vem crescendo no mercado.
A comunicação empresarial tem se mostrado imprescindível no sentido de melhorar a relação com seus públicos. A cultura do uso da informação como forma de gestão traz resultados aparentes nas empresas que já utilizam o processo. Exemplos como a Xerox do Brasil e a Rhodia, pioneira no assunto, prova que desfiar o que há de melhor no mercado mundial é o cantinho para aperfeiçoar e melhorar produtos, a qualidade e os serviços.
Hoje o funcionário é parceiro, não mais empregado. A ``família empresa'' não tem segredos, tem respeito.
Porém, como a comunicação implica em visibilidade - o que em muitos casos pode significar vulnerabilidade - o processo de implantação de um projeto de comunicação dentro da empresa tem um caminho a seguir. O ``media training'' nasceu dessa necessidade de acompanhamento e preparação para a nova realidade, onde jornalistas parecem mais presentes na empresa, mais curiosos, mais embasados sobre os negócios da corporação. Desta forma, empresários passaram a ser preparados para o trato com a imprensa, com a mídia, com seus públicos e, gradativamente, esse processo evoluiu, saindo das técnicas básicas de ``olhe para a câmera'' e partindo para o valor que o espaço cedido pelo repórter tem. Aliás, cada situação tem suas características próprias, cada empresa tem seu público alvo, mas o empresário deve estar apto a lidar com isso.
O que já soou a ``modismo'' ganha as livrarias e as bancas de jornal em publicações aos montes falando do perfil do "empresário do novo milênio- um ser digital, antenado a toda e qualquer tendência do mercado mundial e que convive, de forma pacífica, com a comunicação dentro de sua empresa. Exageros à parte, conhecimento é diferencial, e inovação é prioridade.
O conhecimento sempre foi importante, não é à toa que somos o homo sapiens, o homem que pensa. Ao longo da história, a vitória ficou nas mãos de pessoas que estavam na vanguarda do conhecimento: os guerreiros primitivos que aprenderam a fazer suas próprias armas, as empresas norte-americanas, durante centenas de anos beneficiárias do sistema de escolas públicas mais abrangente do mundo, que lhes proporcionou uma força de trabalho bem instruída. Mas o conhecimento é mais importante do que nunca. Nosso estoque de capital intelectual é importante porque estamos no meio de uma revolução econômica que está criando a Era da Informação.
Para entender o que é capital intelectual, o motivo de sua importância e como aumentá-lo e gerenciá-lo, é crucial entendermos o que significa ``Era da Informação". Este estudo monográfico mostrará como o conhecimento assumiu um papel dominante em nossa economia, nossas empresas e nosso trabalho.
O que busco com esse trabalho é demonstrar a atual situação do empresariado brasileiro sob o ponto de vista teórico nas aplicações da comunicação aos objetivos da empresa. Trata-se de um campo de atuação em pleno crescimento, aplicado não só aos responsáveis pela comunicação empresarial - papel de jornalistas, relações públicas, publicitários e profissionais de marketing - bem como ao próprio empresário que, como evidenciado pelos autores, necessita de um alto grau de adaptabilidade às novas exigências do mercado mundial.
Tornou-se um clichê comparar esse acontecimento do final do século
XX - o surgimento da Era da Informação - aos deslocamentos e à
transformação que marcaram a Revolução Industrial, há
quase 200 anos. Lugar-comum, mas verdadeiro, vale a pena recordar um pouco
dessa história por dois motivos: primeiro porque ela nos ajuda a sentir
a magnitude do que o futuro nos reserva; segundo, porque existem paralelos
instrutivos entre parte do sofrimento econômico de nossa era e as lutas
da Revolução Industrial.
Bem vindos à Revolução!
Este trabalho é dividido em cinco capítulos:
No primeiro - Construção Teórica e Metodológica - trato dos referenciais do estudo, da sua problematização.
No segundo - Comunicação Empresarial - parto do seu conceito e o comprometimento do empresário com os públicos internos e externos na difusão da informação tida como diferencial no mercado vigente. Num segundo momento mostro as razões pelas quais uma empresa deve investir em um plano de gerenciamento da informação dentro de seus domínios visando a satisfação de seu público (clientes, fornecedores e empregados). Neste capítulo, apresento algumas das ferramentas já utilizadas com sucesso para a conscientização do empresariado no que diz respeito à comunicação.
O terceiro - Sociedade da Razão - situa comunicação e sociedade sob a ótica da Revolução Industrial. Tida como marco pela grande maioria dos estudiosos de comunicação, a RI mostra-se contemporânea à racionalização da sociedade, da comunicação e dos sistemas econômicos. Neste capítulo, situo os elementos baseados em teorias do desenvolvimento histórico da condição humana, uma espécie de retrospecto. Dos conceitos de modernidade de Touraine aos de Sociedade Pós-industrial defendidas por Daniel Bell e Domenico de Masi, acreditamos ser imprescindível o tear destas prerrogativas para o devido desenrolar deste trabalho.
O quarto - Era da Informação - esclarece a aplicabilidade das tecnologias da informação dentro da empresa, suas nuances e reflexos nas teorias de gestão empresarial. Relata o processo completo de gerenciamento do capital intelectual - tido como o novo perfil do "operário" e conceitua gestão do conhecimento, tida como imprescindível às novas exigências do mercado mundial.
O quinto - Sociedade em Rede - baseia-se nas transformações pelas quais a nossa sociedade passou, culminando na globalização e na utopia da "aldeia global" tendo o uso da tecnologia e o desenvolvimento econômico como pano de fundo. Aqui faço uso das análises de Manuel Castells, um dos teóricos contemporâneos de maior influência na formulação do pensamento crítico nesta área, focando nas mudanças sociais e econômicas em nível global (em contraste com alguns dos teóricos iniciais, como Daniel Bell, que focava a sua atenção nas economias nacionais).
Esta monografia tem como objetivo uma reflexão sobre a influência das novas tecnologias de informação em nossa sociedade, incidentemente sobre o setor empresarial.
A razão deste trabalho nasceu do meu interesse especial pela Comunicação Empresarial e o uso das tecnologias da informação no meio. O sucesso rápido e espantoso da Intemet, considerada a mais bem sucedida destas tecnologias, fez-me questionar muitas das teorias de gestão empresarial defendidas até então.
À frente da possibilidade de interligação entre quaisquer lugares do planeta e o pronto recebimento da informação bruta, me veio o questionamento sobre a estrutura desta nova sociedade em formação, a sociedade em rede, e como tanto conhecimento pode, e deve, ser aplicado dentro das políticas de comunicação da empresa.
Numa pré-análise de conteúdo sobre o assunto, identifiquei a literatura a ser estudada e, a partir de autores chave como Gaudêncio Torquato, Paulo Nassar, Manuel Castells e Domenico de Masi, outros surgiram na forma de citação. Daniel Bell, Alain Touraine e Alvin Toffler podem ser caracterizados como fontes secundárias, já que foram inseridos no decorrer das pesquisas.
Os principais teóricos aqui relacionados, a exemplo de Manuel Castells e Peter Drucker, vêem a Revolução Industrial como o primeiro passo na busca do entendimento do elemento "empresa" e da comunicação dentro dela. Sob a ótica do progresso imposto por tal revolução, cada vez mais cabe à comunicação a responsabilidade de integrar a sociedade da época a tais mudanças.
Julguei de relevante importância situar o assunto através da perspectiva histórica. Desta forma, não só justifico a relação da sociedade com a empresa, bem como apresento o uso da informação nestes dois elementos e seus devidos contextos, culminando na sociedade da Era da Informação, a qual vivemos hoje.
A metodologia utilizada foi a qualitativa e os conceitos foram fundamentados em pesquisa bibliográfica de publicações editadas em português. Optei por restringir ao nosso idioma, pois grande parte das teorias aqui relacionada possui edições traduzidas. No decorrer das pesquisas tive a necessidade de recorrer a estudos acadêmicos mais atuais como monografias e teses, pois estas tratam do assunto de forma mais atualizada, baseando minha análise crítica.
``... hoje em dia a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido lugar entre as várias possibilidades de se estudar fenômenos que envolvem os seres humanos e suas intrincadas relações sociais estabelecidas em diversos ambientes''(Godoy, 1995 : 116)1
Sob esta perspectiva, julguei o tema deste trabalho como um fenômeno que pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa visão integrada de autores. O caminho utilizado foi a pesquisa documental. Vale citar que entrevistas e observações diretas feitas por ocasião de eventos específicos na área empresarial, além de consultas à Internet também fizeram parte do estudo.
Para Bailey (1982), a pesquisa documental traz como grande vantagem o estudo de pessoas e situações às quais não temos acesso fisico. Em particular neste trabalho, apesar de tocar em um assunto bastante atual, seria impossível tratar das relações de comunicação entre empresários e seus públicos na Revolução Industrial, uma vez que não seria possível encontrar indivíduos que tenham vivido à época2.
Outro ponto importante é o fato da trajetória histórica apresentada no capítulo 2 deste trabalho (A Sociedade da Razão), onde quis identificar algumas das tendências no comportamento de fenômenos como o consumo, por exemplo.
Embora contando com informações de vários tipos e com análises e relatos de múltiplas fontes, não pretendo discutir as teorias existentes sobre o pós-industrialismo ou as sociedades. Mas tentei construir um discurso o mais autônomo e não redundante possível, integrando materiais e observações de várias fontes, sempre citadas entre si.
Além disso, os dados, observações e referências apresentados neste trabalho, na verdade, não visam demonstrar, mas sugerir hipóteses, comprimindo idéias em um corpus de observação selecionado segundo as questões surgidas durante minha pesquisa e, sem dúvida, não organizado em função de respostas preconcebidas.
A metodologia seguida neste trabalho, cujas conseqüências específicas serão apresentadas no decorrer de seus capítulos, está a serviço do objetivo abrangente de seu esforço intelectual: propor alguns elementos de teorias exploratórias da economia e da sociedade da Era da Informação, no que se refere, especificamente, ao empresariado e à utilização das tecnologias de comunicação dentro dos propósitos da comunicação empresarial.
Apesar do capítulo 3 ser mais diretamente relacionado a processos específicos de transformação histórica nos vários contextos, ao longo de todo o estudo, esforcei-me por alcançar dois objetivos: 1 - fundamentar a análise na observação, sem reduzir a teorização ao comentário; 2 - diversificar o máximo possível as minhas fontes culturais de observação e idéias.
Visto que na produção científica nem tudo ou se faz tem a mesma solidez, pude perceber que alguns enunciados possuem a tessitura de uma tese, significando posturas mais ou menos aceitas. Outros são apenas hipóteses, ou suposições aceitáveis, no sentido de poderem ser argumentadas. Mas há também pontos de partida sem maiores rigores comprobatórios, e mesmo gratuitos já que não posso arcar com o compromisso de elucidar definitivamente toda e qualquer afirmação.
Dois personagens são lembrados quando se tenta delimitar o período em que o consumidor passou a ser o centro das atenções. Afinal, é ou não ele quem compra aquilo que produzimos? O término da época caracterizada pelo descaso e pela esperteza no trato com a clientela, foi capitaneada por empresários como William Vanderbilt, o famoso autor da frase ``o público que se dane'', proferida ao ser inquirido por um repórter sobre o que dizer às pessoas envolvidas num grave acidente com uma composição de sua estrada de ferro. Ou ainda Phineas Barnum, proprietário do Circo Barnum, considerado o príncipe da mistificação e o símbolo de uma época ao afirmar: ``A cada minuto nasce um tolo e eu me aproveitarei dele''3
Globalização, público mais exigente, preocupação com o meio-ambiente, sindicatos trabalhistas, esses são alguns dos fatores que fizeram com que as empresas atentassem para maiores investimentos em comunicação. Em tempos difíceis da economia, as empresas precisam de saídas criativas para resolver seus problemas, e a comunicação toma uma importância muito grande, aparecendo como alternativa para essa situação. A empresa busca atingir a ideal performance da comunicação provendo as pessoas de informações corretas, no lugar certo, no tempo exato e na forma apropriada em todos os níveis, áreas o setores. Teoricamente, aquela que não desenvolve estas funções de forma adequada tende a perder visibilidade, transparência, oportunidades, novos canais de comunicação, negócios e, principalmente, clientes em potencial.
Kunch (2000)4 sob o ponto de vista acadêmico, afirma que o uso da informação como ferramenta de gestão eficaz defendido pela Comunicação Empresarial possui, no Brasil, um agravante: além da dificuldade de implementação de política de comunicação dentro das empresas, a produção nacional de Comunicação Empresarial ainda é escassa se comparada à americana. Marilene Lopes (2000) atribui tal escassez aos períodos de ditadura e mercado fechado por quais o país passou nas décadas de 60 e 70. O mesmo não aconteceu com os países considerados de "Primeiro Mundo", onde há muito a comunicação é utilizada pelas empresas de vanguarda como instrumento estratégico para atingir resultados de negócios.
Aliás, o nosso país não tem a cultura de produzir "gurus" de gestão administrativa. Como afirmado por Kunsch:
``Pode-se dizer que não há no contexto da realidade brasileira e até por que não dizer ibero-americana uma tradição e mesmo volume de conhecimentos acumulados capazes de formar um corpus teórico de Comunicação Organizacional''.
Dentre os autores que discutem o assunto, Roger Cahen (1 990) tem uma das mais claras definições.
``Comunicação Empresarial é uma atividade sistêmica, de caráter estralégico, ligada aos mais altos escalões da empresa e que tem por objetivos: criar - onde ainda não existir ou for neutra - manter - onde já existir - ou ainda, mudar para favorável - onde for negativa a imagem da empresa junto a seus públicos prioritários''(1990 : 32)
O ponto comum entre os diversos autores é o fato de empregar o termo Comunicação Empresarial como sendo o conjunto das práticas da construção da imagem de uma empresa frente ao seu público interno e externo. Hoje esta preocupação apresenta-se mais segmentada, o que deu surgimento a técnicas específicas preocupadas com cada público e seu papel na comunicação.
O pioneirismo acadêmico coube a Gaudêncio Torquato que, em 1972, defendeu a tese de doutorado "Comunicação na empresa e o jornalismo empresarial". Uma outra importante iniciativa deve ser ressaltada: a criação da ABERJE - Associação Brasileira dos Editores de Revistas e Jornais de Empresa, em outubro de 1967 durante o 1 Congresso Nacional de Editores de Revistas e Jornais de Empresa, realizado em São Paulo.
O fruto das pesquisas que efetuou na área de comunicação empresarial foi o livro "Jornalismo Empresarial" (1985) que já na sua introdução sentencia:
``Um dos fenômenos mais característicos das modernas sociedades industriais é o crescente uso das funções de comunicação para sobrevivência, desenvolvimento e prosperidade das organizações. Repartidas e esboçadas de acordo com os diversos modelos organizacionais e assumindo importância cada vez maior, as funções comunicativas engajam-se definitivamente nos desenhos de estruturas de pequenas, médias e grandes empresas'' (1985 : 11)
Convencionado pelo autor como ``Jornalismo Empresarial'', dada a importância como veículo de informação, o termo funde-se às Relações Públicas e à Propaganda, formando o tripé clássico organizador dos fluxos irradiadores de opinião em torno das organizações.
Vale ressaltar que os corpos de conceitos destas áreas adequaram-se, gradativamente, às necessidades de crescimento empresarial. À Propaganda coube o papel de responsável pelo desenvolvimento do segmento comercial, sofisticando sua matricial ramificação ideológica. Já as Relações Públicas, esta assumiu feição de complexo sistema de influências, criando sólidos vínculos entre organização e seus públicos, contribuindo para manter clima de favorecimento em torno das atividades empresariais.
Como afirmado por Nassar, o tema tomou proporções animadoras e empresários brasileiros já encaram a Comunicação Empresarial como uma eficiente ferramenta estratégica, aceitando esta atividade como investimento ao invés de despesa. Anteriormente a comunicação era percebida de forma errônea como um custo que não produz um retomo mensurável. Outra razão pela qual ela tem sido negligenciada como prioridade administrativa ao longo dos anos é que o seu impacto não tem estado visível nos resultados finais.
Paulo Nassar, estabelecendo relação entre a Comunicação Empresarial e a imagem institucional, afirma que de nada adianta formular campanhas publicitárias mirabolantes se não houver preocupação com o caráter estratégico e permanente da formação de imagem empresarial:
``A sociedade e o mercado consumidor tornaram-se bastante hostis às 'empresas analfabetas', que não aprendem a escrever, ouvir, falar, se expressar e, principalmente, dialogar no ambiente em que atuam''. (1995 : 12)
Entretanto, ao mesmo tempo em que o mundo ganha velocidade, interligado por avançadas tecnologias de comunicação, aumentam também o potencial de danos provocados por comunicações mal feitas. A boa nova era a de que os executivos podiam, se assim desejassem, conversar com o seu públicos (clientes,. empregados, fornecedores) em muitos locais e ao mesmo tempo através do uso da Internet. A má notícia é que os riscos aumentaram e, que ele também, se não preparado adequadamente, pode ser visto hesitante e atrapalhado, fazendo declarações frívolas no noticiário das seis.
Peter Drucker (2000) alerta que, antes das mudanças, o empresário deve se perguntar se elas são uma oportunidade ou uma ameaça. Há enormes vantagens em eficiência com base nas novas tecnologias, a otimização da comunicação é apenas uma delas. Porém, inovação é, hoje, sinônimo de mudança gerenciada.5
A Internet é, sem dúvida, a mais bem sucedida das tecnologias de informação, além de uma das grandes invenções das telecomunicações. Possibilita o contato entre pessoas, empresas, universidades e todo o tipo de instituições nos vários pontos do globo, juntando diferentes culturas, p rápidos, e melhor ainda, possibilita a promoção de seus produtos sem gastos como impressão de catálogos, envelopes, selos. Permite ainda, assim que a empresa desejar, fazer vendas através da rede.
Visto por este prisma, realmente a Internet só traz beneficies e, com a sua chegada, a voracidade por estar "plugado" com as novas tecnologias fez surgir uma avalanche de home-pages institucionais. Ter um site chegou ou a ser ponto de honra entre as empresas, porém ainda falta, para algumas, atenção com o conteúdo destas novas portas abertas a seus públicos. Muitas delas não deixam a desejar e já oferecem serviços on-line - a exemplo dos bancos, lojas de departamentos, supermercados e livrarias - mas a grande maioria peca na objetividade e falta de informações sobre a própria história, seus produtos, seus empregados e serviços.
Deve ser ressaltado que, da mesma forma que a empresa utiliza a Internet para oferecer informações sobre os seus produtos, ela necessita estar preparada para extrair desse convívio virtual, o feedback do cliente que indica pontos de melhoria, opiniões e sugestões de novos produtos e serviços.
Uma pesquisa realizada pelo IBOPE levantou dados que apontam 4,7 milhões de consumidores pretendem acessar a Internet ainda nos próximos seis meses. Levando em conta que, também baseado nos números da pesquisa, a maior parte dos potenciais intemautas estão na classe A e B, ou seja, pessoas com alto poder de compra. Mas um dado alarmante deve ser levado em conta: daqueles que estão trabalhando, apenas 7% eram empresários, seguidos de 14% identificados como diretor e/ou gerente.6
Apesar da pesquisa não tratar diretamente da relação empresário/comunicação, ela aponta um número quase insignificante de representantes dos altos escalões das empresas familiarizados ao meio digital. Seja qual for o canal de comunicação escolhido, o importante é que envolva toda a organização, seja direto, regular e, sobretudo, personalizado.
Em um programa estruturado de Comunicação Empresarial é seguido um modelo adequado às necessidades próprias do cliente, o que assegura fluxos regulares de informação entre a organização e seus públicos, de forma a manter o equilíbrio do sistema/empresa. Sistêmico implica o fato de que a Comunicação Empresarial preocupa-se com o conjunto visando um objetivo único, e não ações isoladas.
Para tanto, nos Departamentos de Comunicação foram acrescidos profissionais de marketing e relações públicas, hoje responsáveis por atender às demandas internas e externas não se prendendo apenas aos releases e contato com a imprensa. A chegada das tecnologias de informação (as quais veremos mais detalhadamente no capítulo 3) trouxe consigo novas ferramentas e 'mais trabalho. Ainda na lista de prioridades da comunicação são necessários profissionais especializados em "endomarketing''7, assessoria de imprensa, relações públicas, recursos humanos, além de áreas adjacentes focadas na política da empresa em que atuam.
As pequenas e médias empresas, desprovidas de departamentos de comunicação e mesmo de planos de comunicação definidos, ainda encontram nas Assessorias de Imprensa privadas, o meio mais conveniente e cômodo de passar adiante suas filosofias e manter contato com tendências e perspectivas do seu setor. Mas não é só isso.
O cuidado e formação positiva da imagem empresarial devem ser permanentes visando o respeito tanto de seu consumidor, como de seus empregados. Como afirmado este processo depende do constante apoio em estratégias de ações conjuntas, contínuas e disciplinadas. E cabe, ainda, ao grau de envolvimento do próprio executivo em tais ações.
Corrado (1994) prevê novos horizontes. Segundo ele, as coisas mudaram e a administração deve estar disposta a assumir o "risco" de comunicar informações. ``Uma das razões é a necessidade de reagir aos desafios do mercado público''. Realmente, trocas de executivos, fechamento de fábricas e produtos fracassados não ficam mais entre as quatro paredes do escritório central. Os executivos e suas equipes exercem poder de vida e morte sobre a vitalidade econômica de muitas comunidades e, negligenciando seu envolvimento, a empresa é forçada a enfrentar as consequências.
A abertura das fronteiras econômicas e retomo à liberdade de expressão nos anos 80 aproximou jornalistas e empresários. Ambos descobriram interesses em comum: jornalistas vislumbraram um mundo fascinante e rico em notícias e os empresários, desacostumados com a presença dos repórteres foram, pouco a pouco, se abrindo ao diálogo. Porém, como apontado por Carlos Augusto Salles, presidente da Xerox do Brasil, para a maioria das empresas que operam no país, até mesmo para algumas subsidiárias das multinacionais, persistia o medo de falar mais abertamente dos seus negócios. Prevalecia o receio de ser mal interpretado, de fornecer munição aos concorrentes e até mesmo de abrir flancos para uma muito temida intervenção governamental.8
Paulo Nassar (1997) coloca as empresas modernas como veículos de comunicação em si mesmas. A ver:
``Na década de 80, era comum presidentes e diretores de empresas passarem por media trainings. Atualmente, essa necessidade continua presente, só que ampliada para toda a organização''. (pg. 12)
Apontado como o primeiro passo em um plano de comunicação, o media training insere a primeira célula de conscientização da importância que a comunicação exerce na empresa. O primeiro público são os próprios empresários, seguidos de seus chefes de departamentos e gerentes. Segundo Nemércio Nogueira (1999), os resultados serão sentidos por todo o conjunto interno e externo de públicos, criando assim um fluxo transparente de informação sob os canais mais competentes e especializados para tal.
A princípio, deve ser ressaltado que o media training trata da relação empresário/mídia, atentando assim para a interface entre a instituição e o "mais multiplicador dos públicos", como apontado por Nemércio Nogueira (1999). Porém, com o desenvolvimento de novas técnicas de capacitação, além da necessidade de informações adjacentes ao dia-a-dia da empresa, o media training foi estendido a toda a empresa e perde o caráter eminentemente prático, apenas ensinando a falar olhando na lente da câmera, por exemplo. Hoje os ``cornos'' não mais satisfazem a comunicação empresarial, é preciso explicar os ``porquês''.
O termo ``imagem'' sintetiza todo o desejo que circunda o tema aqui discutido. Segundo Villela (1998), o dicionário Aurélio dá para a palavra a definição de conceito genérico resultante de todas as experiências, impressões, posições e sentimentos que as pessoas apresentam em relação a uma empresa, produto, personalidade, entre outras coisas. Porém, a forma que uma imagem se apresenta hoje para nós, pode se mudada com o tempo, com novas experiências. A boa imagem de ontem pode ser o pesadelo de amanhã.
A autora atribui à Opinião Pública grande parte destas mudanças de conceito:
``Ela é a encruzilhada onde se encontram as idéias vindas dos mais diversos grupos e que se exprime e se modifica, sem que necessariamente os indivíduos estejam fisicamente juntos; a discussão livre de uma controvérsia e a decisão ou opinião coletiva que gera a imagem que desejamos ter'' (1998 : pg XIII)
Numa breve análise introdutória vemos que, apesar da segmentação dos públicos - efeito causado pela tecnologia, em especial com a Internet e os canais de pay-perview9 - os vários veículos possuem características bem diferentes que devem ser levadas em consideração. Repórteres de rádio pedem sonoras de transmissão ao vivo, ou seja, quanto maior a prolixidade do entrevistado, maior a chance dele ser "cortado". Existem os programas mais sensacionalistas, os mais objetivos, os mais opinativos. As revistas mensais possuem um tempo maior para fechamento de suas pautas, as semanais não possuem a mesma flexibilidade para participar de coletivas promovidas pelas empresas. Finalmente, cada situação tem suas características próprias. E o empresário deve ser familiarizado com isso.
Tanto literatura acadêmica, quanto às revistas direcionadas ao público empresarial (Exame, Você S/A) enfatizam, a cada edição, conselhos e novas tendências da administração e sua convivência pacífica com a comunicação.
Seja qual for o veículo, o repórter vai sempre em busca de respostas para perguntas-chave: o que, quem, quando, como, onde e por quê. Mesmo parecendo simples, elas são capazes de dificultar a performance de um entrevistado. Portanto, é necessário ter sensibilidade para perceber qual pergunta pode provocar maior repercussão frente à Opinião Pública.
Villela (1998) aponta dois exemplos clássicos, onde a resposta não satisfez o contexto. O primeiro é o do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, quando questionado sobre a violência contra mulheres: ``Estupra, mas não mata!''. Isso vai ser sempre usado contra ele. O seguinte é o do ex-presidente da FIESP - Federação das Industrias do Estado de São Paulo, Mário Amato, quando teceu o seguinte comentário sobre a ex-ministra Dorothéa Werneck: ``Apesar de mulher, ela é muito inteligente''
Nogueira (1999) apresenta em seu livro ``Media Training - Melhorando as relações da empresa com os jornalistas... de olho no fim da Comunicação Social'', um complexo diagnóstico sobre esta delicada relação existente entre a imprensa e a empresa. Em seu estudo, baseado em seu próprio trabalho frente à empresa R.P. Consult, ele discute desde as expectativas dos jornalistas e sua função social, até os novos paradigmas da comunicação e seu impacto sobre a imagem empresarial.
Partiremos aqui da compreensão do autor sobre a comunicação empresarial como sendo o ``conjunto de técnicas através das quais a empresa ou entidade se relaciona institucionalmente com os diversos 'públicos', ou setores da opinião pública, que lhe são relevantes `` (Nogueira, 1999: 27)
O grande alerta é, sem dúvida, com relação à atualização e acúmulo de conhecimento em sua área de atuação. Informações sobre tecnologia, finanças, mercado, pesquisas de consumidor e internas, aceitação de produto e, principalmente, comunicação são as mais apontadas na literatura administrativa como sendo alicerce para o devido entendimento do mercado em que cada empresa atua.
Como citado por Mauro Salles no prefácio do livro de Nemércio Nogueira:
``Se já não existe o 'no profile' e se a comunicação com os vários públicos - internos e externos - é cada vez- mais essencial e valiosa no mundo empresarial, temos que entender que o gestor moderno, o novo empresário, o novo executivo, precisa ser um comunicador. Não dá mais para ser apenas um profissional (ou um herdeiro ... ) treinado em finanças, em tecnologia, em processos industriais e comerciais. Se não entender o papel da comunicação no seu negócio e se não fizer de seu posto ou de sua missão uma plataforma de comunicação, ele certamente vai ter dificuldades. E estas não poderão ser corrigidas por excessos de delegação ou pela velha prática que acredita que a boa comunicação dependia apenas de sorrisos e tapinhas nas costas'' (Nogueira, 1999: 15)
A procura por este tipo de "capacitação" tem se dado também devido à crescente sofisticação organizacional, além do surgimento de grandes companhias fruto de fusões, onde a figura do porta-voz perde a sua importância. A interface com a imprensa aumenta, o fluxo de informação exige o pronto atendimento e entendimento com a mídia.
Uma das questões que em muito preocupam os profissionais de Comunicação Empresarial e, inclusive, uma das mais colocadas pelos responsáveis por cursos de media training é a existência das "demandas positivas" e as "demandas negativas" de notícias na imprensa sobre determinada empresa, esta última é caracterizada pelas temíveis situações de crise. Já a primeira, menos comum às matérias jornalísticas, pois não geram manchetes, podem ser usadas como aliadas na divulgação de resultados positivos, a exemplo de fatos que revelem inovação, progresso, ampliação da consciência social, melhora dos padrões de vida, valorização da arte e da cultura, enobrecimento do ser humano, geração de lucros e riquezas.
Com Villela vemos a questão do relacionamento empresa/mídia:
``As empresas sabem que o bom relacionamento com a imprensa, quando sério e independente, pode oferecer apoio indireto às suas iniciativas, assim, como nas críticas, ela será criteriosa e imparcial. Isso ocorre se a comunicação é frequente, numa política de portas abertas. Divulgar, através da imprensa, iniciativas, lançamentos e investimentos, além de esclarecer dúvidas ou curiosidades sobre a organização, produtos e serviços, é uma ótima via de interação com a sociedade'' (Villela, 1998:29)
Apresentado desta forma, o ``media training'' mais parece um treinamento de caráter apenas defensivo, e não deve ser tratado assim. Dentre as missões da comunicação empresarial, esta não explícita nas definições acadêmicas, está a de prover as ferramentas necessárias também para a inserção da empresa nos processos que regulam a vida nacional, como as estruturas governamentais e legislativas. Antes, um esclarecimento, o objetivo pretendido não é o de manobrar órgãos públicos, mas adquirir condições de acesso e credibilidade junto às decisões que possam defender ou promover os interesses corporativos de determinada empresa ou setor.
Empresários, diretores e gerentes estão longe de ser os únicos alvos da imprensa. Hoje cresce a tendência por ouvir também o empregado. Um bom exemplo disso é o Guia Exame "As 100 melhores empresas para você trabalhar", uma iniciativa que abre portas para as empresas, dá-lhes visibilidade, além de fortalecer vínculos com seus funcionários e clientes.10
Na publicação foi feito um levantamento minucioso das empresas que são benchmarking11 em práticas e políticas de recursos humanos. Cerca de 900 empresas foram convidadas a participar e, após de desistências e eliminações, 281 chegaram ao fim do processo de seleção. A média de satisfação das melhores ficou em 78, o que significa 78% dos funcionários das 100 melhores empresas se dizem satisfeitos.
José Tolovi Jr., diretor no Brasil do Great Place to Work Institute, consultaria americana que trabalha em parceria com a EXAME neste projeto, lembra que a comparação de resultados com pesquisas realizadas em outros países favorece o Brasil: a média americana deste ano é de 82 pontos, seguidas da média brasileira, 78 pontos e das médias suíça e portuguesa que são de 74 pontos. Apesar da pequena diferença de quatro pontos e dada as devidas proporções, o Brasil possui hoje, segundo a pesquisa, 100 empresas exemplares.
O objetivo deste ranking é, segundo Maria Amália Bernardi12,estimular as empresas a melhorar sempre seus esforços em Recursos Humanos, dando maior atenção ao ``cliente interno''.
``Endo'' provém do grego e quer dizer ação interior ou movimento para dentro. Endomarketing é, portanto, marketing para dentro.
A prática do endomarketing, como conceituado por Analisa Brum, nasceu da necessidade de se motivar pessoas para programas de mudança que começaram a ser implementados a partir da década de 50, no mundo inteiro. E como já afirmado por Nassar e agora reiterado por Analisa Brum (1998), o "homem" deve ser visto como o elemento principal de todo e qualquer processo de mudança e de modernização empresarial, pois as mudanças, quando implementadas, esbarram em formas tradicionais e conservadoras, capazes de desencadear um estresse organizacional que dificulta e impede o desenvolvimento pleno de qualquer atividade.
Na visão de Brum (1998), o que aconteceu na maior parte das empresas, foi o desabamento na pirâmide organizacional em relação ao grau de comprometimento das pessoas com os programas. Sabe-se que ainda hoje o envolvimento maior se dá na parte de cima da pirâmide (alta direção e gerências). A base da pirâmide (supervisores e funcionários comuns) continua tendo envolvimento menor, a não ser que a empresa coloque à sua disposição as informações de que necessita para o engajamento total. E um programa de endomarketing bem feito é capaz de tornar o funcionário um ser comprometido com a nova postura da empresa e com a modernidade, cada um em sua área de atuação e através do seu trabalho.
A autora faz analogia ao intercâmbio de conhecimentos feito entre americanos e japoneses ainda na década de 50, quando os primeiros passaram tudo o que sabiam sobre metodologias estatísticas e foram retribuídos com a importância do trabalho em grupo, da reunião de pessoas em tomo de um mesmo objetivo. Os famosos "círculos de controle de qualidade" criados pelos japoneses fizeram-nos emergir já na década seguinte da crise do pós-guerra, quando sua indústria civil ia mal.
``A expressão 'Total Quality Control' vem da tradução inglesa da palavra japonesa Kanri que, para eles, não significa apenas , 'controle'. Significa, também, 'remover obstáculos'. Mas remover obstáculos para quê? Para que todos olhem para a mesma direção. Esta definição, além de curiosa, coincide com o principal objetivo do endomarketing: fazer com que todos os funcionários tenham uma visão compartilhada sobre o negócio da empresa, incluindo itens como gestão, metas, resultados, produtos, serviços e mercados em que atua''(1998:15)
Aliado a todo o trabalho de motivação dirigido aos funcionários está a informação coerente, clara, verdadeira, lógica, centrada e bem trabalhada. Visto desta forma, a informação transformas e na maior estratégia de aproximação empresa / funcionário.
Continuando com Brum (1998), vale lembrar que a informação oficial, dentro da empresa, é de domínio da direção. Cabe à direção o envio, ou não, de determinada decisão que, mais tarde, transformada em informação para a base da pirâmide. A demora no envio desta informação pode ocasionar o que a autora denomina ``entropia da informação'', um dos fatores que em muito desmotiva o funcionário.
``A realidade e o alcance da entropia da informação, como é chamado este processo, foram estudados pela moderna psicologia experimental. Uma informação que é transmitida de boca-em-boca, por um certo número de pessoas, sofre alterações cumulativas ao longo do caminho. A falta de canais e instrumentos oficiais de comunicação interna determina o cenário adequado para que a entropia da informação atue, provocando uma opinião interna negativa e contrária aos objetivos da empresa ``(1998:31)
Quando as denúncias de irregularidades - um dos maiores fantasmas dos departamentos de comunicação - parte dos próprios empregados, se instaura o caos, pois, fundamentadas ou não, seu poder de influência é muito maior se partisse de outros setores da opinião pública. Mas mesmo que este tipo de atitude não saia dos muros das empresas, ainda em forma de boatos podem levar instituições e produtos à ruína.
Há poucos anos um caso foi constatado no Brasil com uma grande montadora de veículos, quando, por falta de informação e diálogo, funcionários comentaram com amigos e parentes a suposta saída de um modelo das linhas de montagem. À empresa restou apenas investir em intensas campanhas para a reconstrução da imagem do veículo que, por pouco, não foi destruído. Uma maior atenção ao trabalho preventivo de comunicação interna teria poupado muitos destes gastos.
Duas estratégias básicas são relacionadas ao endomarketing segundo o trabalho de Analisa Brum (1998). A primeira foca a visão da direção com os propósitos e objetivos da Organização. Um exemplo comum são os programas de mudança de cultura interna visando modificar a atitude de seus funcionários buscando compromisso e lealdade com os princípios da empresa. A segunda estratégia diz respeito à tarefa, focando a comunicação de questões específicas quanto ao trabalho em si. Inclui ainda a coleta de opinião dos funcionários sobre maneiras de melhorar desempenho e novas formas de trabalho. Neste caso, os objetivos estão diretamente relacionados à eficiência dos métodos de produção.
A autora relaciona estes dois pontos a ambientes saudáveis de entrosamento entre direção e funcionários: ``Vivemos o fim da revolução e a era da reinvenção da mudança pacífica. Isso significa que somente num clima favorável é possível gerar novas idéias, fomentando novas descobertas, estruturas e dimensões sociais''(1998:7)
Um exemplo desta política é notada na Panamco, maior engarrafadora da Coca-Cola no país. Seu diretor, Marcos Povoa, não só se interessa genuinamente pela opinião dos clientes, como se tornou pró-ativo ao atacar o cerne dos problemas através do apoio de seus funcionários. Em experiência recente, convocou os funcionários através de comunicado geral a lhe enviar um e-mail caso verificassem algo de errado com os produtos da companhia nos supermercados que costumam freqüentar. Povoa completa: ``O fato era que muitas pessoas notavam coisas erradas, como por exemplo, a má disposição ou a falta de um produto na prateleira. Muitas queriam contar o que viam, mas não sabiam a quem recorrer''.
A iniciativa encontrou eco na empresa e a participação de pessoas mostrou-se maior do que a esperada. Os comentários têm ajudado na identificação de todo o tipo de problema em um tempo bem menor.13
A criação deste espírito de "inteligência grupal" depende da iniciativa da própria empresa em descobrir, num primeiro instante, aquilo que motiva o funcionário. Reconhecer publicamente um trabalho bem feito, verificar se o funcionário possui as melhores ferramentas para realizar a função que lhe foi atribuída, enfatizar o compromisso da empresa com a manutenção do emprego e, até mesmo remunerar as pessoas de forma competitiva, são fatores que contam muito na motivação do empregado. Da mesma forma, atitudes desatentas, como oferecer a mesma recompensa, todos os anos, independente do desempenho individual, usar de ameaças e coações para que a tarefa seja realizada, tratar os funcionários de forma burocrática, prejudica qualquer programa de gestão.
Discussões sobre o assunto nas publicações empresariais evidenciam que profissionais especializados em endomarketing ainda são poucos, o trabalho, hoje, cabe aos departamentos de comunicação e de recursos humanos que, juntos, já desenvolvem campanhas na área.
A indústria é o segmento da economia brasileira que mais desenvolve trabalhos em nível de comunicação interna, mesmo porque o número de empregados é bem maior e as negociações sindicais a levaram à modificação da mentalidade interna.
A informação deste tipo de campanha também pode vir alicerçada no treinamento, quando os funcionários crescem junto com a empresa que lhes proporciona o cenário adequado para que possam entender a padronização dos serviços como uma decorrência de fatos reais, comum àquelas que desejam voltar-se para o mercado. São criados novos canais de disseminação dos novos padrões, trabalhada a imagem da empresa internamente e recolhidas sugestões e contribuições dos funcionários para melhorias internas relacionadas com o cumprimento dos novos padrões de serviços e da nova cultura de atendimentos propostos. Este tipo de situação é muito comum quando as empresas procuram a Certificação ISO 9002.
Agregar valor ao negócio também é isso, pessoas felizes produzindo, pessoas felizes lucrando e pessoas felizes consumindo.
``Exomarketing é, portanto, uma estratégia de comunicação externa que se utiliza das ações e instrumentos de endomarketing como conteúdo''14
Este novo conceito nasceu dos excelentes resultados obtidos com a comunicação interna. Se antes ver funcionários trabalhando felizes e ter a produção garantida era motivo de alívio aos executivos, por que não aproveitar do sucesso e mostrar ao público externo quão boa é a sua empresa?
Em outras palavras, mais este recurso vem para reforçar as estratégias de marketing externo, tão perfeitas e eficazes foram as ações de endomarketing.
A autora cita a Azaléia, uma empresa gaúcha de calçados, que publicou na Veja - revista de maior circulação do país - um anúncio de página inteira para falar da creche que mantém para os filhos de seus funcionários.
``Essa empresa pratica há muitos anos o exomarketing. Além de desenvolver um trabalho vitorioso junto ao público interno, faz com que toda a sociedade empresarial e a comunidade na qual está inserida acompanhem o seu esforço e sintam orgulho de suas ações'' (1998 : 153)
Ações em endomarketing podem ser simples, como apresentar painéis frente às próprias empresas com resultados obtidos pelos funcionários, resultados de jogos internos, vídeos institucionais exibidos nas recepções, locais por onde passam fornecedores, clientes e outros visitantes.
Esse modelo pode ser encontrado também em um grande número de anúncios gráficos, publicados em jornais e revistas com chamadas de abordagem interna, mas que vem causando muita simpatia do público externo. Como exemplo podem ser citados o do BankBoston ``Para conquistar clientes, primeiro conquistamos nossos funcionários'', o da Nestlè ``Poucas empresas são sinônimos daquilo que fazem'' ou ainda o da Brasmotor ``Uma organização formada por pessoas jurídicas, pessoas físicas e, sobretudo, pessoas felizes''. Cada qual com seu apelo gráfico, estes anúncios geralmente se apresentam com a figura de um funcionário devidamente fardado, sorridente e cheio de disposição.
A receita do exomarketing é simples e foi concebida no próprio dia-a-dia das empresas que quiseram expor o que possuem de melhor em sua estrutura interna. ``O exomarketing serve exatamente para que os empresários possam mostrar a evolução das suas relações com o público interno'' (Brum, 1998:177)
O primeiro modelo prático que uniu todas as técnicas e os aplicou à empresa foi o Portas Abertas, hoje um livro homônimo ao case que revolucionou a multinacional Rhodia, além da própria comunicação empresarial no Brasil, implantando a cultura de que a empresa possui o direito de escrever artigos para jornais, defender pontos de vista que possam vir a interessar não apenas a empresa, mas a opinião pública, abordando assuntos como educação e meio ambiente.
``A Rhodia abandona o low-profile que caracterizou, no passado, as suas relações com o público, para adotar uma postura de portas abertas, receptiva ao debate, por considerar o risco de omissão mais grave do que o representado pela defesa de pontos de vista `` (Nori, 1991:63)
Façamos uso de um dos pontos defendidos no plano de comunicação da Rhodia para exemplificar que, há muito o empres