Jorge Pedro Sousa, Universidade Fernando Pessoa
Quando a 1 de Setembro de 1939, às 4h45 da madrugada, as Forças Armadas alemãs invadiram a Polónia, pondo em marcha o chamado Plano Branco (Fall Weiss), o mundo entrou na guerra mais mortífera a que a humanidade assistiu.1 Protegido pelo Pacto de Não Agressão Germano-Soviético de 23 de Agosto desse mesmo ano, cujo protocolo adicional secreto 2 já previa a partilha da Polónia com a URSS, provavelmente convencido de que a França e o Reino Unido não interviriam, como já vinha sucedendo desde a reocupação e remilitarização da Renânia, em 1935, crente num Reich de "mil anos" que reintegrasse o corredor de Dantzig, ligando a Prússia Oriental ao resto da Alemanha, Hitler não deve ter hesitado muito ao dar a ordem final.
A guerra-relâmpago alemã (blitzkrieg), arquitectada pelo general Guderian, cedo foi acompanhada por outra guerra: a da propaganda. Os nazis acumulavam uma longa experiência na matéria desde as lutas políticas que os conduziram ao poder, em 1933. Aliás, possuíam mesmo um Ministério da Propaganda, liderado por Goebbels, desde 1928 chefe da propaganda do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Por seu turno, as democracias britânica, francesa e polaca, as grandes protagonistas da campanha da Polónia pelo lado dos aliados, não tinham, ao despontar da guerra, uma máquina propagandística tão bem oleada como a alemã, que beneficiava, inclusivamente, do facto de estar ininterruptamente no terreno já desde 1922. Porém, britânicos e franceses possuíam um know-how em propaganda de guerra que remontava, linearmente, à Primeira Guerra Mundial.3
Em relação com o exposto, este artigo tem por objectivo procurar avaliar até que ponto a propaganda dos principais beligerantes afectou, nos jornais diários portuenses, a cobertura fotojornalística da Campanha da Polónia e das restantes operações bélicas de Setembro de 1939, se é que essa cobertura foi, na realidade, afectada pela propaganda alemã, polaca, britânica e francesa. A hipótese que procuraremos testar é a de que —tal como ocorreu nos Estados Unidos (Sherer, 1984)— o maior peso da máquina propagandística alemã no início da guerra terá influenciado em favor da Alemanha a cobertura fotojornalística realizada pelos jornais portuenses O Primeiro de Janeiro, Jornal de Notícias e O Comércio do Porto, pese embora os factos de o Estado Português ter manifestado a sua neutralidade e de os cidadãos nacionais se dividirem no seu apoio entre alemães e aliados, devido, entre outras razões, por um lado à natureza do regime salazarista e aos ecos do extremismo de direita de, entre outros, Rolão Preto, e, por outro, à natureza da oposição ao regime e ao peso histórico da Aliança Luso-Britânica.
Metodologia
Metodologicamente, enveredámos pela análise de conteúdo das fotografias dos periódicos citados, entre 2 (dia posterior ao início da guerra) e 29 de Setembro (dia posterior ao da capitulação polaca) de 1939. As categorias estabelecidas para a referida análise, definidas a priori, foram as seguintes:
— Número total de fotografias e total do espaço ocupado (em cm2) pelas fotografias;
— Número de fotografias sobre a guerra e espaço ocupado (em cm2) pelas fotografias sobre a guerra;
— Número total de fotografias publicadas na primeira página;
— Número total de fotografias sobre a guerra publicadas na primeira página;
— Nacionalidade dos líderes civis e militares fotografados (em número de fotos);
— Espaços geográficos fotografados (em número de fotos);
— Representações fotográficas das forças armadas dos beligerantes ou de países neutrais potencialmente envolvíveis no conflito (em número de fotos), nas seguintes situações:
· Barragens e controlos;
· Operações de vigilância e observação;
· Fortificações;
· Progressão no terreno (construção militar de pontes, travessias de rios, etc.);
· Mobilização/tropas em marcha para bases ou para a frente de batalha;
· Exercícios militares/preparação;
· Pausas, descanso e refeições;
· Entretenimento das tropas (pelos próprios ou por artistas);
· Tomada de prisioneiros ao inimigo/campos de concentração militares (com e sem representações de violência);
· Tomada de posições ao inimigo/"desfraldar de bandeiras"
· Mortos e feridos do inimigo;
· Destruição de equipamento e de fortificações ao inimigo;
· Mortos e feridos próprios devido a acções do inimigo;
· Destruição de equipamento e de fortificações próprias devido a acções do inimigo;
· Operações de socorro aos feridos próprios;
· Operações de socorro aos feridos do inimigo;
· Operações de apoio e socorro a civis afectados;
· Paradas, desfiles, distribuição de condecorações, alocuções e cenas similares;
· Fábricas militares;
· Meios bélicos (catálogo tecnológico);
· Preparativos vários (estritamente militares) de guerra, não catalogáveis noutras categorias;
· Outras situações (listagem);
· Civis apanhados nas operações de combate e em bombardeamentos de posições civis;
· Mortos e feridos;
· Socorro aos feridos;
· Operações de evacuação (principalmente de crianças);
· Preparativos de guerra;
· Actividades quotidianas em tempo de guerra;
· Entretenimento;
· Costumes e tradições (etnografia);
· Outras situações;
Sob o ponto de vista metodológico, é de realçar que, pontualmente, faltavam páginas aos exemplares dos jornais consultados (na Biblioteca Municipal do Porto), inclusivamente primeiras páginas, mas estamos em crer que tal ocorrência, embora tenha prejudicado a obtenção de resultados (que são, logicamente, diferentes do que seriam se a colecção de jornais estivesse intacta), não os torna menos relevantes nem invalida as conclusões a que chegámos. De qualquer modo, para suprir as dificuldades de análise, consultámos O Primeiro de Janeiro, na Biblioteca Municipal da Maia, e O Comércio do Porto, na respectiva empresa editora.
Contextualização histórica: o clima internacional
Portugal vivia, nos alvores da Segunda Guerra Mundial, no regime autoritário instaurado com o golpe militar de 28 de Maio de 1926, que se enquadra, por sua vez, na vaga de regimes autoritários que varreu a Europa de entre guerras. Estes terão beneficiado, numa primeira fase, da "crise do sistema liberal" (Rosas, 1992, 9) e, numa segunda fase, dos efeitos da Grande Depressão de 1929. Entre os objectivos desses regimes inscreviam-se os de porem fim ao liberalismo e ao bolchevismo (Rosas, 1992, 9).
Mussolini, fundador, em 1919, do Partido Nacional Fascista, havia dado o exemplo, com a sua marcha militarista sobre Roma, que, em 1922, levou o Rei Vitor Emanuel III a confiar-lhe a presidência do Conselho de Ministros. Em 1925, Mussolini já exercia uma verdadeira ditadura.
Na cronologia do autoritarismo europeu, a Portugal seguiu-se a Alemanha, onde Hitler toma o poder em 1933. Por seu turno, a Áustria instaura um estado ditatorial e corporativo em 1934 e, em 1935, o general Metaxas implanta a sua ditadura na Grécia. No ano seguinte, uma sublevação militar desencadeia a Guerra Civil em Espanha, que veio a tornar-se um verdadeiro laboratório para as tácticas da Segunda Guerra Mundial. Beneficiando do apoio activo alemão e italiano, que se expressou, inclusivamente, na frente de batalha (relembre-se a Legião Condor alemã) e da cumplicidade "discreta e prudente" do regime português (Rosas, 1992, 39), os nacionalistas espanhóis, liderados por Franco, ganham definitivamente o poder em 1939. Para trás deixavam em estilhaços a Frente Popular esquerdista e anarquista de 1936-1939, suporte do Governo republicano, e que com a Frente Popular francesa de 1936/37 constituía um dos exemplos de reacção ao avanço dos autoritarismos.
O apoio do regime português aos nacionalistas espanhóis é bem patente no facto de Portugal, onde se encontrava exilado um dos mentores do levantamento militar espanhol de 1936, o general Sanjurjo, ter sido um dos palcos onde se desenvolveu a preparação da revolta. Sanjurjo, todavia, morreria ainda em Portugal, em Julho de 1936, abrindo caminho a Franco, quando o avião que se preparava para o levar para Espanha, onde iria liderar a sublevação, excessivamente carregado, não conseguiu descolar, esmagando-se no fim da pista.
O rearmamento e a aparição da Alemanha nazi em meados dos anos trinta desafiou a hegemonia britânica e evidenciou as fraquezas da ordem internacional vigente, parcialmente assente na Sociedade das Nações. Esta não teve forças para intervir na anexação da Manchúria pelo Japão, em 1931, nem no plebiscito do Sarre, que vota a reincorporação na Alemanha, a 13 de Janeiro de 1935, nem na remilitarização da Renânia pela Alemanha, em Março de 1935, numa flagrante violação do Tratado de Versalhes, agravada pelo anúncio imediatamente posterior do rearmamento alemão e da reintrodução do Serviço Militar Obrigatório na Alemanha.
A escalada belicista prosseguiu, em Outubro de 1935, com o ataque da Itália à Etiópia, que culmina com a anexação deste país independente pelos italianos. Em 1936, o Japão atacou a China. A 12 de Março de 1938, dá-se o Anschluss, legitimado por um plebiscito. A 30 de Setembro de 1938, na Conferência de Munique, o Reino Unido, a França, a Alemanha e a Itália decidem a repartição da Checoslováquia, cujos representantes nem sequer foram ouvidos. A Alemanha ocupou a região dos sudetas e a maior parte do restante território foi repartido entre a Polónia e a Hungria. A Boémia, a única parte que faltava, é vítima de um golpe de força nazi, a 15 de Março de 1939, tornando-se no protectorado alemão da Boémia-Morávia. A Eslovénia torna-se um estado independente, na órbita alemã.
Em 1939, a 7 de Abril, os italianos ocupam e anexam o seu protectorado
da Albânia. Quase seis meses mais tarde, o mundo acordava para a
Segunda Guerra Mundial.
Contextualização histórica: o clima nacional
O Estado Novo pode identificar-se com Salazar, a figura que, de alguma forma, o idealizou e o corporiza.
De facto, consolidando o poder que vinha construindo a partir do seu Ministério das Finanças desde 1928, esse professor coimbrão, chamado pelos militares do 28 de Maio para colocar em ordem as finanças públicas, assume a presidência do Conselho de Ministros em Julho de 1932, aí se mantendo até 1968, com apoio de militares, da Igreja e de importantes sectores conservadores da sociedade.
Com o triunfo de Salazar, o Partido Socialista dissolve-se em 1933, o Partido Comunista perde militantes e entra na clandestinidade e os anarco-sindicalistas, sem imprensa nacional desde 1927, mas talvez ainda a força operária de maior peso social na época (Rosas, 1992, 25-26), são reduzidos a uma expressão ínfima. Não obstante, comunistas, anarquistas e democratas, entre os quais os democratas socialistas, viriam a ser das forças principais de oposição ao regime nas décadas que se seguiriam, a par dos militares, quer aqueles que se revelaram descontentes com a ruptura com o Movimento de 1926 (recorde-se, por exemplo, a Revolta da Madeira, em 1931), quer aqueles que, mais tarde, se revelaram descontentes com a guerra colonial e com o sistema de promoções, factores que estariam na génese do 25 de Abril.
Podemos considerar o Portugal de meados dos anos trinta como um país "(…) atrasado, rural, dependente, periférico (…), conservador (…)" (Rosas, 1992, p. 15), regido com base na fórmula "Deus, Pátria e Família", que Salazar ergueu como princípios sustentadores do seu Estado Novo, um Estado que brandia o nacionalismo ordeiro contra o "caos" do parlamentarismo. Assim, nas bases orgânicas da União Nacional, "movimento único" destinado a substituir os partidos e a alicerçar o regime, proclamava-se que dela faziam parte "(…) portugueses dispostos a trabalhar para a salvação e engrandecimento de Portugal". No mesmo documento, datado de 30 de Julho de 1930, definia-se ideologicamente a UN: "A União Nacional consagra e perfilha um nacionalismo histórico, racional, reformador e progressivo, que (…) se desvia do socialismo e do liberalismo (…)".
A matriz do regime, consagrada na Constituição de 1933 (aprovada por plebiscito em Março desse ano), vai, desta feita, definir-se com base no corporativismo, no antiliberalismo, na antidemocracia e na "ditadura serena" corporizada no presidente do Conselho de Ministros, detentor do poder executivo e, efectivamente, de (grande) parte do legislativo. Nota-se também uma comunhão de desígnios entre a Igreja, guiada pelo cardeal Cerejeira, amigo íntimo de Salazar, e o Estado, ao ponto de se consagrar constitucionalmente o catolicismo como religião de Estado.
Podem-se também notar insinuações fascistas no corpo ideológico que rege o Estado Novo, como a semimilitarização da sociedade, expressa em instituições como a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa, o corporativismo ou a actividade propagandística do regime, desenvolvida pelo Secretariado da Propaganda Nacional, liderado por António Ferro.4 Porém, Salazar cedo exclui o extremismo de direita radical, protagonizado, entre outros, pelos nacionais-sindicalistas de Rolão Preto, os "camisas negras" portugueses, que advogavam para Portugal uma espécie de replicação do nacional-socialismo, em favor de uma espécie de conservadorismo rural, morgadístico e provinciano. Assim, o Movimento Nacional Sindicalista, que na sua proclamação de 18 de fevereiro de 1933 se definia como sendo "anti-comunista, anti-liberal, antidemocrata, antiburguês, anticapitalista e anticonservador" e "pró familiar, municipalista, sindicalista, corporativista, autoritário e nacionalista", foi extinto, e os seus militantes foram levados a ingressar na União Nacional.
A prudência de Salazar foi mais longe. Nos meses que antecederam a Segunda Guerra Mundial, o Presidente do Conselho, procurando eventualmente manter uma equidistância entre as partes de maneira a salvaguardar as colónias, a comerciar com ambos os lados e a preservar o regime fosse qual fosse o vencedor do previsível confronto bélico, terá mesmo procurado demarcar o Estado Novo de conotações aos expansionismos nacionalistas alemão, italiano e japonês (Rosas, 1992, 38), tendo até rejeitado uma sugestão italiana, feita em Abril de 1939, para que Portugal aderisse ao Pacto Anti-Komintern. Depois de este gesto, o Reino Unido pode ter-se sentido à vontade para, em Agosto de 1939, ter apoiado o rearmamento do Exército Português.
Para aguçar a intranquilidade de Salazar pode ter contribuído ainda o facto de a Falange Espanhola ter evidenciado, ainda durante a Guerra Civil de Espanha, uma enorme vontade expansionista, bem expressa na publicação de um mapa onde não figuravam as fronteiras portuguesas e na vontade de difundir o ideário falangista além-fronteiras.
Por força de todo este estado de coisas, mas, hipoteticamente,
também devido à natureza do regime e ao perfil de Salazar,
a 3 de Setembro de 1939 —data em que o Reino Unido e a França declaram
guerra à Alemanha— Portugal declara a sua neutralidade, invocando
os princípios da Aliança Luso-Britânica. Seguidamente,
o Governo implantou um sistema de controlo político e económico,
com vista a assegurar o auto-abastecimento, a conter a inflação,
a restringir as exportações, a equilibrar o rendimento das
exportações com o abastecimento interno e a combater a especulação,
o açambarcamento e o mercado negro (Rosas, 1992, 42-43).
Início da guerra: a invasão da Polónia e outras batalhas
Na madrugada de 1 de Setembro, as forças alemãs penetraram na Polónia por três frentes: 1) pelo Norte, a partir da Prússia Oriental; 2) pelo Oeste, a partir da Prússia Ocidental; e 3) pelo Sul, através da actual República Checa. Como a planície polaca oferecia óptimas condições para a blitzkrieg, o exército polaco, mal equipado, mal treinado e cujos preparativos tácticos apenas englobavam o contra-ataque, cedo foi ultrapassado pelos carros de combate e pelas tropas motorizadas alemãs, apoiadas por aviões, que, verdadeiros senhores dos ares depois da destruição da exígua aviação polaca ainda nas bases, bombardeavam inclementemente posições civis e militares. Ao fim do dia, o general Von Brauchtisch, comandante alemão, anuncia ao seu führer a tomada de Dantzig.
No dia 2, as quatro batalhas da fronteira (Silésia-Eslováquia, Czestochwa, Pomerânia e Prússia Oriental) revelam-se sucessos arrasadores para os alemães, apesar da resistência polaca, muitas vezes heróica, como o caso da cavalaria, que atacava à carga. Os polacos ficavam cercados em grandes bolsas, que cairiam gradualmente nas mãos da Wermacht. Dia 3, a França e o Reino Unido (acompanhado da Índia, Austrália e Nova Zelândia) declaram guerra à Alemanha. Nesse mesmo dia, um submarino alemão afunda o cargueiro britânico Athenia, a primeira vítima da Batalha do Atlântico, e completa-se a linha de defesa alemã nas fronteiras belga e holandesa, baptizada Siegfried, com 33 divisões.
A 4 de Setembro, os exércitos alemães do Norte e do Sul, reunidos no Vístula, começam a marchar para Varsóvia, que, não obstante, apenas se renderá a 27 de Setembro, depois de terríveis bombardeamentos. A 6 de Setembro, dia em que a África do Sul declara guerra à Alemanha, Cracóvia é capturada. O Governo polaco abandona Varsóvia e refugia-se na Roménia, país que, pressionado pelos alemães, aprisionará esses governantes, a 18 de Setembro. Tornava-se impossível qualquer resistência global organizada, pelo que apenas pequenos grupos isolados conseguem resistir aos invasores.
No Oeste europeu, a 7 de Setembro, notam-se pequenos movimentos de forças francesas na fronteira franco-alemã, interrompidas a 12 desse mês, depois de se perceber que nada pode ser feito para auxiliar a Polónia. As primeiras unidades britânicas começam a chegar a França no dia 9.
De 9 a 11 luta-se em Radom, a 80 quilómetros de Varsóvia, depois da queda de Lodz. A 11, dia em que o Canadá declara guerra à Alemanha, a área industrial da Alta Silésia, a mais rica da Polónia, já está totalmente em mãos alemãs. De 12 a 18 de Setembro, tem lugar uma violenta batalha nas proximidades do rio Bzura, onde os alemães conseguem cercar a 19ª Divisão polaca, fazendo cerca de 170 mil prisioneiros. Entre os dias 14 e 15, completa-se o cerco de Varsóvia, que os generais alemães queriam vencer por inanição, mas que Hitler queria vencer pelos bombardeamentos, que são feitos com inusitado vigor. A 16, os polacos cercados em Varsóvia recusam render-se, apesar do pedido alemão.
A 17 de Setembro, data em que o porta-aviões britânico Courageous é afundado pelo submarino alemão U-29, os russos invadem a Polónia oriental, avançando sem oposição pela Galitzia. Encontram-se com os alemães em Brest-Litovsk —o local onde havia sido assinada a capitulação russa face à Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial— no dia 19, a mesma data em que Hitler entra triunfalmente em Dantzig.
Com a rendição de Varsóvia, onde são feitos prisioneiros 160 mil homens, termina a resistência polaca. A 28 de Setembro de 1939, a Polónia rendia-se, incluindo a bolsa de Kutno, que resistia duramente desde o dia 10. Alguns grupos de guerrilheiros, porém, haveriam ainda de fustigar durante algum tempo os alemães e mais de cem mil soldados polacos conseguiriam fugir para continuar a luta a partir do exterior.
As perdas alemãs na campanha foram de 10.572 mortos, 30.322 feridos
e 3.404 desaparecidos. Em contrapartida, nesses 28 dias morreram 150 mil
polacos; aos restantes restava tornarem-se "escravos do Reich".
Um problema especial
A cobertura de guerras, particularmente quando envolvem grandes potências, costuma ser algo a que a imprensa devota sempre atenção, tempo e energia. Não é, aliás, difícil explicar por que razões é que a imprensa mundial, portuense incluída, devotou atenção, tempo e energia à cobertura da primeira campanha da Segunda Guerra Mundial, embora a imprensa portuense, ao contrário dos actuais jornais do Porto, não tenha feito eco desse esforço para se autopromover.
De facto, se recorrermos à lógica dos critérios de noticiabilidade, na alvorada da Segunda Guerra encontramo-nos simultaneamente perante a notoriedade de "nações de elite", perante uma falha no regular funcionamento dos sistemas de relacionamento entre os povos e perante uma ocorrência de grande magnitude, "excessiva". Além disso, esse acontecimento era, de alguma forma, previsível, pelo que o crescimento das expectativas também favoreceu a cobertura jornalística, por ter permitido alguma planificação (as notícias do início da guerra, por exemplo, chegaram rapidamente de Berlim, por telegrama, telefone e via rádio 5). Por outro lado, também era um acontecimento que poderia envolver directamente Portugal, sendo seguro que, pelo menos indirectamente, acabaria por envolver o nosso País. Por isso, era um acontecimento próximo, o que lhe dava mais uma mais-valia em ordem a ser seleccionado para cobertura.
Ora, apesar da frequência da cobertura fotojornalística de conflitos bélicos, o fotojornalismo de guerra não tem sido estudado significativamente.6 Alguns estudos concentraram-se nas reacções do receptor (reader response) às fotografias de guerra 7 e outros ainda atenderam ao uso das fotografias como arma propagandística, em tempos de paz e de guerra.8 Não obstante, a cobertura fotojornalística de guerra é problemática não apenas devido às potenciais dificuldades de tratamento do tema e aos dilemas éticos, morais e deontológicos que ao fotojornalista podem surgir, mas também devido à censura e ao fornecimento de fotografias (propagandísticas) para publicação pelos exércitos em confronto.
Quando a guerra começou, na Polónia, os alemães recusaram que correspondentes estrangeiros acompanhassem o seu exército (Lochner, 1964, 100), fazendo gorar os planos de cobertura do conflito que alguns jornais tinham (Price, 1939, 30; Lochner, 1964, 100). As informações e as fotografias para publicação foram fornecidas à imprensa pelas denominadas Propaganda Kompagnies (PK); estas tinham sido criadas em 1938, para fornecimento de informações aos soldados, ao país e à imprensa estrangeira (Herzstein, 1978, 228). Em 1939, cada Propaganda Kompagnie possuía dois pelotões ligeiros, que integravam cada um seis redactores e quatro fotógrafos, um pelotão pesado, que possuía redactores, fotógrafos, uma secção de rádio e uma secção cinematográfica, um pelotão que publicitava as acções de propaganda, composto por uma secção de projecção de filmes, uma secção de alto-falantes e o staff editorial da newssheet das forças armadas, e um pelotão destinado a preparar e avaliar o material produzido pelos restantes pelotões (Boelke, 1970, 195). Segundo Herzstein (1978, 227), Goebbels ter-se-á referido ao papel dos homens das PK da seguinte maneira:
Os jornalistas, porém, não eram ingénuos. Num artigo publicado na Life pouco tempo após a invasão, identificava-se correctamente como propaganda a informação (incluindo a foto-informação) disponibilizada por alemães e por aliados e asseverava-se não só que os alemães estavam a bater os aliados nessa matéria como também que as fotografias distribuídas ou autorizadas pelos censores alemães não tinham por fim ganhar adeptos para a causa alemã, mas sim ajudar a construir uma imagem de poderio para as forças armadas alemãs.9
Gisèle Freund (1989, 161), num balanço que também
faz da cobertura fotojornalística da Segunda Guerra Mundial, notou
que a censura impediu, durante o conflito, a publicação das
fotografias com os mortos e os feridos e terá encorajado a publicação
das fotografias que apoiavam o esforço de guerra, como as que representavam
o ambiente simultaneamente "épico" e "cavalheiresco" das casernas
dos "heróicos" aviadores britânicos que bombardeavam a Alemanha
ou combatiam os caças e bombardeiros nazis. Todavia, como ela mesma
também escreve, "O endoutrinamento dos fotógrafos era tão
forte que eles próprios estavam persuadidos de estarem a lutar por
uma causa justa ao censurarem-se a si próprios, fotografando apenas
cenas que não pareciam desfavoráveis aos países que
representavam." (Freund, 1989, 161)
Resultados e discussão
A) Jornal de Notícias
Elementos gerais
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45,2% |
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Mancha gráfica=1.953cm2X 27 números |
——— 18,7% |
Quando comparados os resultados patentes no quadro anterior com aquilo que acontece na actualidade, reparamos que a superfície ocupada por fotografias no jornal é reduzida (5,4% da mancha gráfica), excepto nas primeiras páginas, e isto apesar de a dimensão média das fotos atingir cerca de 9X9 cm. Os tempos eram outros e havia não só mais tempo para se ler, como também as possibilidades técnicas desaconselhavam o uso de imagens em larga escala, dada a necessidade de se fazerem zincogravuras. Por outro lado, a humanidade só então começava a entrar ipsis verbis na "civilização da imagem": apesar de a fotografia estar numa idade de ouro, do cinema ser um meio "de massas" e de já existirem serviços de televisão (audição pública), ainda seria preciso esperar mais dez anos para que a TV, principal medium dos nossos dias, se tornasse dominante nos EUA e quase mais vinte para que fizesse a sua aparição em Portugal.
Não deixa de ser igualmente significativo que de entre as 345 fotos publicadas, 140 (40,6%) explorassem a temática da guerra, evidenciando que esse era o grande tema do momento. Além disso, o espaço ocupado por estas últimas chega a atingir 45,2% do espaço ocupado por fotografias e 18,7% do espaço total das primeiras páginas. Assim sendo, é hipótese a considerar que as fotografias de guerra (das quais 77,1% foram editadas na "um") tenham funcionado como um instrumento de conquista de audiência ou, pelo menos, como um mecanismo que permitia ao jornal corresponder aos desejos da audiência, presumivelmente ávida de informações sobre o estado de coisas no Velho Continente, até porque a expectativa teria crescido em correlação com a escalada belicista dos tempos anteriores ao despoletar do conflito.
Apesar de a origem e da autoria das fotos sobre o conflito não ser assinalada (recorde-se que as questões do direito à assinatura e do direito à integridade da imagem são questões mais ou menos associáveis à fundação da agência fotográfica Magnum, já no pós-guerra), estamos convencidos de que apenas as três fotografias que foram realizadas em Portugal são da autoria de foto-repórteres do Jornal de Notícias, reportando, todas elas, a chegada a Lisboa de náufragos dos navios afundados pelos submarinos alemães. Como os jornais portugueses em 1939 ainda não possuíam serviço de telefoto e como apenas subscreviam o serviço redactorial das agências noticiosas internacionais (repare-se, inclusivamente, que a primeira agência noticiosa portuguesa, a Lusitânia, só foi fundada em 1944), as restantes imagens devem ter sido distribuídas pelos serviços de propaganda ligados às embaixadas e aos consulados, como foi, aliás, costume durante a guerra.10
Nacionalidade dos líderes civis e militares fotografados(em n.º de fotos)
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*Entre as quais uma foto de Hitler na frente, uma foto de Hitler e seus comandos a inspeccionar tropas e uma foto do antigo Imperador da Alemanha, Guilherme II, aos 81 anos.
**Uma das fotos analisadas representa o encontro de um político polaco com um político britânico.
***Estaline.
Quer tenha eventualmente sido por causa de uma maior capacidade de distribuição de fotos por parte dos britânicos no Porto, quer tenha sido por alguma anglofilia derivada dos laços históricos, quer até hipoteticamente tenha sido pelas insuficiências no arquivo documental do Jornal de Notícias ou qualquer outra razão, do quadro anterior ressalta o elevado número de fotografias representando líderes políticos e militares aliados (59,4% das fotos), particularmente britânicos (38,5% das fotos), apesar de a confrontação de Setembro de 1939 dizer principalmente respeito a alemães (apenas 14,6% das fotos) e polacos (apenas 9,4% das fotos). Curiosa é a presença de várias fotografias (14,6%) de líderes de países que até então se mantinham neutros (belgas, holandeses, luxemburgueses, turcos, romenos, etc.), quase como um prenúncio da mundialização do conflito, que depressa ocorreria.
Os líderes soviéticos têm uma presença meramente residual na representação fotojornalística dos acontecimentos, apesar da invasão soviética da Polónia, realizada a partir de 17 de Setembro. Não nos parece, porém, que esta tivesse sido uma opção decorrente das ideias anticomunistas do regime salazarista, mas antes uma contingência do fundo fotodocumental disponível e da inexistência de representação diplomática soviética em Lisboa (os soviéticos, assim, não distribuiriam fotografias em Portugal, ao contrário do que fariam os restantes protagonistas na guerra), já que, à partida, interessaria ao regime português recordar a existência do "dictador do Kremlin" [sic] e dos "vermelhos" (assim se referia várias vezes o JN a Estaline e aos soviéticos, respectivamente), capazes de atentar contra o "nobre", "corajoso" e "resistente" povo polaco (adjectivos que o JN igualmente emprega, denunciando as suas eventuais ideias germanófobas e sovietófobas, em simultâneo com uma certa polacofilia).
Espaços geográficos fotografados(em número de fotos)
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Nota: apenas em um caso (uma das fotografias de Dantzig) se tratava de uma fotografia referente à situação que se vivia, e representava uma rua da cidade emoldurada por bandeiras nazis, pronta a receber Hitler; todas as restantes fotos eram, provavelmente, fotografias de arquivo de antes da guerra e representavam monumentos dessas cidades. Em nenhum dos casos se vislumbrava qualquer cena de destruição.
Antes de passarmos a uma análise quantitativa, é interessante salientar que o facto de em nenhuma das fotografias dos palcos da guerra se vislumbrar qualquer vestígio de destruição, mais do que uma opção, terá sido uma contingência decorrente da não recepção de fotografias mais actuais, pelo que o JN terá tido de se socorrer das imagens disponíveis em arquivo para —e num sentido literal— ilustrar as suas páginas. O diário recorda, assim, como eram alguns dos principais monumentos de Varsóvia, de Cracóvia e de Dantzig antes do conflito ter rebentado. Por consequência, o sentido que se possa ter construído para a guerra a partir dessas fotografias não seria de molde a gerar intranquilidade, comoção ou pena.
Acompanhando o fio do noticiário, as cidades mais representadas são as polacas (64,3%), incluindo Dantzig (duas fotos, ou seja, 14,4%, uma das quais mostrando a cidade engalanada e pronta a receber a visita do conquistador, Hitler). Neste aspecto, parece-nos que as representações imagéticas são mais consentâneas com a evolução do conflito em Setembro de 1939, já que as planícies e cidades polacas, principalmente Varsóvia, constituíram o principal palco da guerra. "Esquecidas" ficaram as aldeias e vilas polacas, igualmente martirizadas, mas cuja dimensão e a eventual ausência de fotografias as tornaram num dos elementos ausentes da cobertura.
Representações fotográficas das forças armadas (em número de fotos)
A — Forças Armadas Aliadas (excluindo polacas)
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B — Forças Armadas Polacas
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C — Forças Armadas Alemãs
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campos de concentração militares (sem representações de violência) |
1 (16,7%) |
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D — Forças Armadas Soviéticas
Não houve quaisquer representações fotográficas.
A principal constatação que os dados oferecem é o elevado peso das representações fotográficas da máquina de guerra franco-britânica (61,8% das fotos dessa categoria) quando comparado com o peso das representações fotográficas dos principais beligerantes de Setembro de 1939 (20,6% de fotos sobre as forças armadas polacas; apenas 17,6% sobre as alemãs e 0% sobre as soviéticas). Depois disto, várias outras observações se podem fazer:
b) À ausência de representações fotográficas dos mortos e dos feridos também pode associar-se um hipotético desejo dos beligerantes em ordem a mostrar a sua força e determinação;
c) A mobilização foi o tema mais tratado no campo das representações fotográficas das forças armadas aliadas, o que eventualmente sugeriria a determinação da França e do Reino Unido em (dessa vez) estarem a preparar-se para combater o expansionismo alemão e aquilo que o nazismo-hitlerismo significava para as democracias; com idêntica simbologia terão hipoteticamente funcionado as representações fotojornalísticas das operações de vigilância e observação, das fortificações, dos exercícios militares e do inventário tecnológico;
d) Ao contrário do que aconteceu nos mais recentes conflitos, como o da Guerra do Golfo, não se nota qualquer insistência na catalogação dos meios militares; a ênfase da cobertura foi colocada no elemento humano, seja como defensor, seja como agressor, seja como vítima, mas (quase) sempre como protagonista (a maior parte das notícias eram personificadas, tal como agora);11
e) As fotografias disponíveis do exército polaco devem ter sido quase todas obtidas antes do rebentamento da guerra, já que as representações fotográficas do conflito, do ponto de vista polaco, acentuam a preparação para a guerra e a vontade de resistir (exercícios, mobilização, paradas, catalogação dos meios bélicos, etc.); porém, essas fotografias poderiam dar ao leitor, sem referências contextualizadoras sobre elas, uma ideia diferente daquilo que realmente sucedia no terreno;
f) Apenas uma fotografia dá uma vaga ideia do que a guerra poderia estar a ser: trata-se de um avião alemão destruído pelos polacos; porém, embora os polacos tenham sido vencidos, não foram inseridas quaisquer fotografias que revelassem a destruição de equipamentos militares polacos;
g) Embora diluidamente, devido ao baixo número de fotografias
inseridas (6, ou seja, 17,6%), as representações fotojornalísticas
das forças armadas alemãs dão uma certa ideia de força,
ímpeto e eficácia; curiosamente, a primeira foto representativa
das operações alemãs só surgiu no dia 8 de
Setembro, o que significa que durante a primeira semana o ponto de vista
alemão do conflito não foi fotograficamente representado
no JN.
A — Civis aliados e sociedade civil dos países aliados (excluindo Polónia)
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total=38 fotos) |
86,8% |
*Missa pela paz.
B — Civis polacos e sociedade civil polaca
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total=38 fotos) |
10,5% |
C — Civis alemães e sociedade civil alemã
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total=38 fotos) |
2,7% |
D — Civis soviéticos e sociedade civil soviética
Não houve quaisquer representações fotográficas.
Antes de uma análise do ponto específico das representações fotográficas das sociedades civis e dos civis, é importante reparar que o número de fotografias sobre o assunto (38) é semelhante ao número de fotografias representando as forças armadas (34), com uma ligeira vantagem para o primeiro tema. Assim, podemos dizer que, no JN, os civis tiveram uma presença relevante na cobertura fotojornalística do primeiro mês de guerra.
Por outro lado, o Jornal de Notícias privilegiou na cobertura as sociedades civis dos países aliados (França e Reino Unido, principalmente). As representações fotojornalísticas das sociedades dos países aliados (não polacos) atingem 86,8% das fotografias publicadas sobre o tema. A sociedade civil alemã praticamente foi ignorada (apenas uma fotografia de crianças brincando na praia, embora esta fotografia acentuasse a noção vantajosa para o ponto de vista alemão de que a Alemanha estaria tranquila e normal) e a polaca para aí caminhou (4 fotografias inseridas, isto é, 10,5%). A sociedade civil soviética foi totalmente desprezada (nenhuma foto).
O dado mais estranho da cobertura foi talvez o facto de a sociedade civil polaca ser representada através de fotografias que exploravam a etnografia (três fotos, 75% do total de imagens sobre a sociedade civil polaca), como as imagens de pessoas em trajes regionais, por vezes a dançar. Embora as razões do sucedido se inscrevam hipoteticamente na falta de outro material (pelo que teria havido a necessidade de recorrer a fotografias eventualmente obtidas/distribuídas antes da guerra), o fenómeno indicia a ausência de maturidade na cultura fotojornalística do JN, já que nos parece evidente que a fotografia era entendida principalmente como ilustração e não como um elemento informativo válido.
Apesar das representações fotojornalísticas dos inevitáveis refugiados dos tempos de guerra (que, no presente caso —quatro fotos, isto é, 12,1%—, versavam pessoas a saírem das cidades — uma foto— ou sobreviventes dos navios torpedeados a chegarem a Portugal em três ocasiões, com fotografias de repórteres portugueses) e das representações das igualmente inevitáveis operações de evacuação, principalmente de crianças e doentes (duas fotos, ou seja, 6,1%), a maior parte das representações fotográficas das sociedades civis aliadas (mais precisamente, francesa e britânica quase em exclusivo) dava conta da vontade de resistir, da protecção dos bens e da preparação das pessoas contra um longo conflito, que incluiria bombardeamentos (23 fotos sobre preparativos de guerra, ou seja, 69,7%; três fotos sobre as actividades quotidianas em tempo de guerra, o que equivale a 9,1%; estas últimas, presumivelmente, darão sempre uma certa ideia de normalidade para lá das adversidades que se supõem momentâneas). O trauma da utilização de gases venenosos na Primeira Guerra Mundial propagava-se na curiosa ênfase fotojornalística dada à utilização de máscaras de gás por civis (e também por militares).
Lista de fotografias não categorizadas
— Cargueiro britânico "Athenia" |
— Paquete alemão "Bremen" |
— Cargueiro britânico Bósnia |
— Navios alemães bloqueados em portos neutrais |
— Forças armadas neutrais (duas fotos) |
B) O Primeiro de Janeiro
Elementos gerais
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58,8% |
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Mancha gráfica=2.370cm2X 27 números |
——— 25,5% |
Apesar de não atingir a percentagem de fotografias na mancha gráfica a que actualmente estamos habituados, em O Primeiro de Janeiro cerca de 8% do espaço é ocupado por fotos, em alguns casos de dimensão assinalável, com cerca de 15X15 cm ou mais (a dimensão média é de aproximadamente 13X13 cm), nomeadamente na última página e na primeira página. Inversamente, nas páginas interiores usavam-se principalmente fotografias de tamanho reduzido. Ou seja, na montra do jornal usavam-se os recursos disponíveis para cativar a audiência e informar melhor, utilizando-se a imagem fotográfica como um elemento comunicativamente válido; na última página acontecia o mesmo, sobretudo com uma secção de meia página devotada ao fotojornalismo. Mas, nas páginas interiores a fotografia servia sobretudo para ilustrar.
O facto de a guerra na Europa ser o tema do momento, suplantando mesmo a visita do Presidente da República, general Carmona, às colónias (que se prolongou até ao início de Setembro), é relevado pela elevada percentagem de fotografias sobre a guerra publicadas no PJ: 49,1% das fotos, ocupando 58,8% do espaço dedicado às imagens fotográficas. Sob este prisma, percebe-se igualmente a razão pela qual as 101 fotografias sobre a guerra editadas na "um" (93,5% do total de fotografias aí inseridas e 70,1% das fotos publicadas sobre o confronto bélico em curso) ocuparam cerca de um quarto do espaço total das primeiras páginas.
Qualitativamente, será de relevar que não foi revelada pelo PJ a origem ou a autoria das fotografias, embora provavelmente tivessem sido distribuídas pelos serviços de propaganda dos beligerantes, à excepção das fotografias evocativas dos náufragos dos navios torpedeados que chegavam a Portugal, hipoteticamente realizadas por repórteres do próprio jornal.
Nacionalidade dos líderes civis e militares fotografados(em n.º de fotos)
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Eventualmente pelas mesmas razões hipotéticas que apontámos para o caso bastante similar do Jornal de Notícias, de entre os dados constantes no quadro atrás adquire especial relevância o facto de os líderes alemães (uma foto, ou seja, 4,8%) e soviéticos (nenhuma foto) não terem uma representação fotojornalística ao nível do protagonismo dos seus povos no conflito. No patamar oposto, encontramos os aliados, especialmente os britânicos, apesar de na Frente Ocidental, mais próxima de Portugal (a proximidade geográfica poderia ter sido um critério de selecção fotojornalístico), apenas se registar a chamada "drôle de guerre".
Espaços geográficos fotografados (em número de fotos)
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Nota: duas das fotos representavam localidades polacas após bombardeamentos.
Apesar das "escaramuças" na Frente Ocidental, a ênfase na representação fotográfica dos locais das batalhas incidiu nas localidades polacas (14 fotos, ou seja, 73,4%), embora também aqui com a assepsia decorrente da quase ausência das representações da violência que se abateu sobre esses locais (apenas duas fotos, 10,5%, mostravam efeitos dos bombardeamentos alemães, numa cidade e numa estação de comboios polacas, podendo estes cenários de destruição ter contribuído para mostrar a força germânica).
É de salientar que as imagens fotográficas publicadas se referiam essencialmente a edifícios monumentais fotografados antes do início da guerra, acentuando eventualmente a ideia de assepsia. Por outro lado, as pequenas povoações, igualmente vítimas dos confrontos militares, estão ausentes da cobertura.
Realce-se ainda que duas das fotografias inseridas representando monumentos em cidades polacas foram não só publicadas pelo Janeiro, mas também pelo JN (por exemplo, o Teatro de Varsóvia) e pelo Comércio. Este facto poderá indiciar uma origem comum das fotografias, eventualmente os organismos propagandísticos polacos ou aliados, embora não seja de excluir que essas imagens correspondam a reproduções de postais ilustrados, uma prática a que por vezes se recorria mesmo no final dos anos oitenta, quando iniciámos a nossa carreira jornalística.
À semelhança daquilo que ocorreu com o JN, julgamos que o facto de se terem publicado apenas as referenciadas imagens decorre de aspectos contingenciais (existências de fotos em arquivo, difusão de determinadas imagens e não de outras pelos organismos dos países afectados, etc.) e não de acções censórias ou de uma intencionalidade definida, hipoteticamente ligada à tranquilização do público (aliás, se tivesse existido uma intenção censória, teriam sido suprimidas as imagens evocativas dos bombardeamentos e da destruição por estes provocada).
Representações fotográficas das forças armadas (em número de fotos)
A — Forças Armadas Aliadas (excluindo polacas)
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B — Forças Armadas Polacas
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C — Forças Armadas Alemãs
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*A primeira fotografia de operações militares alemãs é publicada a 6 de Setembro e mostra defensores da linha Siegfried.
**Cruzador alemão entra em Dantzig.
D — Forças Armadas Soviéticas
Sem quaisquer representações fotográficas.
E — Forças Armadas de Países Neutrais
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*Tropas suíças: quatro fotos; tropas belgas: uma foto.
**Tropas suíças: uma foto; tropas belgas: uma foto; tropas suecas: uma foto.
***Tropas suíças: uma foto; tropas belgas: uma foto.
****Meios americanos.
Se compararmos as representações fotográficas das forças armadas com as dos espaços geográficos, verificamos que a situação se inverte, isto é, o maior destaque vai para as representações das forças armadas aliadas (67,8%), principalmente britânicas, e não para as polacas (24,5%), à semelhança do que aconteceu com as representações dos líderes. Curiosamente, também nesta categoria de análise a Alemanha sai contabilisticamente "a perder" (apenas 7,7% das fotos), situando-se mesmo o número de representações fotográficas das forças armadas do "vencedor" abaixo do número das fotos evocativas dos exércitos neutrais, especialmente da Suíça. Provavelmente, para este fenómeno terá contribuído um eventual esforço das entidades oficiais helvéticas e belgas na distribuição de fotografias, que o PJ, ávido delas, terá aproveitado. Por outro lado, constata-se que o vazio representacional-fotográfico soviético é total, porventura porque não existia em Portugal qualquer representação diplomática soviética.
A exemplo do que fizemos para o JN, poderíamos tecer ainda, ordenadamente, algumas observações:
b) As imagens que representam as fortificações alemãs da linha Siegfried, por seu turno, evocarão um outro ponto de vista alemão: o de resistir a um eventual avanço aliado na Frente Ocidental; achamos algo curioso é a quase inexistência de representações fotográficas da mais famosa fortificação da época: a francesa linha Maginot (talvez por uma questão de secretismo militar, que teria impedido a circulação de fotografias);
c) A preparação dos países aliados, polacos incluídos, para o confronto, é o tema relativamente mais representado no PJ, nas suas diferentes vertentes (mobilização, exercícios militares, inventariação dos meios bélicos, aprovisionamento, operações de vigilância e observação, fortificações, refeições dos militares em exercícios e em campanha, etc.);
d) No caso polaco, as representações fotojornalísticas de paradas e desfiles militares reportar-se-ão a momentos antes do conflito, já que em tempo de guerra —principalmente de uma guerra total tão rápida e avassaladora— os polacos não terão tido tempo de "limpar as armas"; todavia, sem quaisquer referências temporais e outras sobre a obtenção das fotos, os leitores poderiam ter sido (não intencionalmente) enganados sobre o que estava a suceder na Polónia — a cultura jornalística ainda não teria absorvido ideias como a contextualização e a contrastação como formas de se evitar a manipulação;
e) O elevado número de fotografias representando as forças armadas de países que (pelo menos em Setembro de 1939) eram neutrais seria talvez um pouco estranho se não encontrássemos para ele uma explicação hipotética: poderá dever-se ao esforço fotopropagandístico desses mesmos países, desejosos de evidenciarem a sua capacidade "musculada" de se manterem neutrais;
f) A ausência de representações fotográficas
de mortos e feridos terá apoiado a construção da ideia
de uma guerra asséptica, embora também possa ter funcionado
como um mecanismo sustentador das ideias de força dos alemães
ou de capacidade de resistência dos polacos.
A — Civis aliados e sociedade civil dos países aliados (excluindo Polónia)
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total=39 fotos) |
92,3% |
*Numa, náufragos de navios britânicos
torpedeados chegam a Lisboa.
B — Civis polacos e sociedade civil polaca
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total=39 fotos) |
7,7% |
C — Civis alemães e sociedade civil alemã
Não houve quaisquer representações fotográficas.
D— Civis soviéticos e sociedade civil soviética
Não houve quaisquer representações fotográficas.
E — Civis de países neutros e sociedades civis de países neutros
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*Na Bélgica.
Ao contrário do que aconteceu no Jornal de Notícias, n'O Janeiro as representações fotográficas da sociedade civil e dos civis, enquanto protagonistas da guerra ou afectados por esta, são em número bastante inferior ao das representações militares. A primeira conclusão a tirar é a de que, desse modo, no PJ o acento tónico da cobertura foi para os militares dos países em confronto e não para os civis (quase 20 fotos menos no que respeita à cobertura das sociedades civis).
Impressionante é a ausência de representações fotográficas das sociedade civis e dos civis alemães e soviéticos e a relativa desvalorização dos polacos. Sobre estes últimos, e acentuando a ideia de que as fotografias publicadas pelos jornais seriam distribuídas pelas mesmas entidades e referir-se-iam a períodos antes do rebentar do conflito, uma das imagens mostra camponesas polacas em trajes regionais (o JN também publicou fotos do mesmo tipo), a ler descontraidamente um jornal. Esta abordagem etnográfica e eminentemente ilustrativa não nos parece natural numa guerra e deve ter resultado, como dissemos, da necessidade de os jornais aproveitarem o filão das fotografias distribuídas pelos beligerantes ou então da necessidade de recorrerem a fotos em arquivo, ainda que recentes e também distribuídas por entidades dos países em confronto.
As fotografias potencialmente mais chocantes são as dos refugiados (como a dos náufragos a chegarem a Lisboa) e a dos civis polacos apanhados num bombardeamento em Varsóvia (uma das imagens que poderia dar uma ideia mais precisa do que realmente se passava no terreno). Com eventuais efeitos contrários, mais precisamente susceptíveis de gerar a ideia de "normalidade", situam-se as fotografias evocativas das actividades quotidianas em tempo de guerra; obsessivamente presentes estão, em muitas delas, as máscaras de gás.
Tal como o Notícias, o Janeiro dá especial relevo aos preparativos de guerra das sociedades civis francesa e britânica (retirada de obras dos museus, colocação de abrigos, colagem de fitas nos vidros das janelas, etc.) — França e Reino Unido anunciariam assim ao mundo a sua união e a sua vontade de resistir, mas também a sua preparação para uma guerra de tal forma violenta que poderia afectar gravemente a população civil.
Lista de fotografias não categorizadas
— Mãe de dez soldados franceses |
— Porta-aviões Courageous |
B) O Comércio do Porto
Elementos gerais12
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45,3% |
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Mancha gráfica=2.610cm2X 27 números |
——— 14,1% |
O número de fotografias sobre a guerra publicadas por O Comércio do Porto (122 fotos, representando 38,1% do total de imagens fotográficas) acentua a ideia de que o conflito era o grande tema do momento. Porém, essa fartura de fotografias sobre um único tema poderá também dever-se ao aproveitamento que os jornais portugueses terão feito das imagens distribuídas pela propaganda dos beligerantes.
O facto de 74 das fotografias sobre a guerra (60,7% destas imagens) terem sido inseridas na primeira página também se pode incluir nas nossas anteriores proposições, embora tal facto possa igualmente evidenciar o recurso às fotografias como mecanismo de cativação, conquista e fidelização das audiências.
A dimensão média das fotografias (11X11 cm aproximadamente) é um pouco enganadora da sua valorização, pois a sua paginação era feita sobretudo em rodapés ou noutros locais de menor atracção visual. Além disso, as imagens de maior formato eram reservadas para a primeira página; nas restantes a situação invertia-se. Se a estes dados associarmos o facto de apenas 5,8% da mancha gráfica do Comércio ser ocupada por fotografias, então será possível afirmar que as fotografias cumpriam em primeiro lugar uma função de ilustração, sendo relativamente menosprezadas enquanto elemento informativa e comunicativamente válido.
Registe-se, para terminar, que no Comércio não existia qualquer elemento susceptível de identificar a origem ou a autoria das fotos. Todavia, tal como frisámos para os restantes jornais, estamos convencidos de que apenas as fotografias dos náufragos de navios torpedeados que chegaram a Lisboa —e que o CP publicou— foram da autoria de foto-repórteres do jornal.
Nacionalidade dos líderes civis e militares fotografados(em n.º de fotos)
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Desta feita em O Comércio do Porto, mais uma vez se nota a emergência dos britânicos, seguidos por franceses e outros aliados, como indivíduos mais favorecidos na cobertura fotojornalística; da mesma maneira, destaca-se a relativa ausência de relevo fotojornalístico de alemães, polacos e, totalmente, de soviéticos, apesar de estes povos serem os grandes protagonistas do primeiro mês da Segunda Guerra Mundial. Da mesma maneira que para os restantes periódicos, a explicação que encontramos é a de que as fotografias sobre a guerra terem sido distribuídas pela propaganda dos beligerantes; assim, os soviéticos, que não actuavam diplomaticamente em Portugal, não tiveram quaisquer hipóteses de distribuir fotos pelos jornais, enquanto os alemães pouco se terão interessado por um maior esforço propagandístico no início das hostilidades.
Os números mostram também que ocorreu um fenómeno de personalização das foto-"estórias", tal como acontece, ainda hoje, na generalidade das peças jornalísticas (que tendem a ser sobre pessoas e não sobre coisas). Esse fenómeno expandiu-se em grande parte das fotos de outras categorias, que também era sobre pessoas (mobilização, aprovisionamentos, exercícios militares, etc.) e só pontualmente sobre coisas (fortificações, aviões destruídos, locais bombardeados, etc.).
Espaços geográficos fotografados (em número de fotos)
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Nota: cinco das fotos (45,5% do total) representavam localidades polacas após bombardeamentos; quatro destas fotos foram publicadas a 16 de Setembro de 1939, tendo sido as primeiras a dar conta da destruição provocada pela guerra (evocavam a destruição de uma ponte, de um depósito de gasolina e de uma estação de comboio).
A cobertura foto-geográfica do Comércio indica, pelo menos, uma relativa preocupação com o principal palco do confronto: a Polónia. Além disso, as representações fotográficas dos espaços foram em quase metade dos casos marcadas pelos sinais da violência bélica, o que denota algum equilíbrio e, principalmente, uma cobertura menos asséptica do que os restantes jornais (promovendo esta impressão está também o facto de o Comércio ter publicado quatro fotografias de combates). As restantes imagens, tal como aconteceu no Janeiro e no Notícias, evocavam vistas gerais e monumentos citadinos (uma delas chegava mesmo a incluir a legenda "Um lindo aspecto de Varsóvia"), tendo provavelmente sido realizadas antes da guerra ter rebentado e podendo igualmente corresponder a reproduções de postais ilustrados (ou de outras fontes) existentes em arquivo.
Curiosamente, a cidade-pretexto de Hitler para invadir a Polónia, Dantzig, está totalmente ausente das representações fotojornalísticas da invasão da Polónia pelas tropas alemãs. Da mesma maneira, as pequenas localidades (principalmente as pequenas localidades polacas) também são inexistentes na cobertura.
Representações fotográficas das forças armadas (em número de fotos)
A — Forças Armadas Aliadas (excluindo polacas)
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B — Forças Armadas Polacas
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C — Forças Armadas Alemãs
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Nota: a primeira fotografia que representa
combates foi publicada a 19 de Setembro e mostra tropas alemãs a
penetrar com cautela em edifícios para desalojar os resistentes
polacos.
D — Forças Armadas Soviéticas
Sem quaisquer representações fotográficas.
E — Forças Armadas de Países Neutrais
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*Tropas suíças.
**Tropas holandesas.
***Tropas suíças e americanas.
Ao observarmos os dados expostos, julgamos que a primeira constatação a fazer é a de que, tal como nos restantes jornais analisados, a cobertura foi vincadamente concentrada no esforço aliado de guerra (diríamos mesmo, no esforço franco-britânico e até principalmente no britânico). Inversamente, os polacos, alemães e, principalmente, soviéticos, são mais desvalorizados na cobertura.
É de notar que mesmo os países que eram neutrais ou que estavam decididos a defender a sua neutralidade tiveram direito a um maior número de representações fotográficas do que os soviéticos e alemães, que participaram nos confrontos. Este fenómeno poderá dever-se quer a um esforço propagandístico dos países que ambicionavam manter-se neutrais, quer talvez também a uma questão de identificação, já que o desejo desses países neutrais era semelhante ao desejo português de defesa da neutralidade.
Hipoteticamente, a ausência de fotografias sobre as movimentações das tropas soviéticas dever-se-á ao facto de, à data, não existir em Portugal qualquer representação diplomática da URSS que fornecesse fotografias aos jornais.
Parece-nos interessante destacar que, apesar de as acções de mobilização e os preparativos de guerra (aprovisionamento, construção de abrigos, etc.) constituírem os principais temas "bélicos" de O Comércio do Porto, foram publicadas quatro fotografias de combates, metade das quais assegurando o ponto de vista polaco (resistência e coragem) e a outra metade assegurando o ponto de vista alemão (força avassaladora, dinâmica de vitória e esmagamento da resistência). O cenário da cobertura do Comércio foi, desta forma, ligeiramente mais activo que o dos restantes jornais. Todavia, ainda assim podemos afirmar que as representações mais directas da violência bélica, nomeadamente as representações fotonecrófilas, estão algo ausentes da cobertura realizada, pelo que, também n'O Comércio do Porto, a generalidade das fotografias pode ter funcionado como um mecanismo de tranquilização psicossocial.
O privilégio concedido à cobertura da mobilização, dos diversos preparativos de guerra, das operações de vigilância e observação na frente ocidental, das fortificações, dos exercícios militares e dos meios bélicos pode ter contribuído—conforme já salientámos— para dar a noção ao público de que os povos, todos eles decididos, se estavam a preparar —por vezes parecendo até que alegremente, como em certas fotografias evocativas da mobilização— para um conflito que prometia ser longo, global e significativamente destrutivo.
Representações fotográficas dos civis e da sociedade civil (em número de fotos)
A — Civis aliados e sociedade civil dos países aliados (excluindo Polónia)
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total= 33 fotos) |
91,9% |
*Três das fotos foram realizadas
em Lisboa: a 8 de Setembro surgiram nas páginas do CP duas fotos
de tripulantes do vapor britânico Manaar, torpedeado pelos alemães,
a chegarem à capital portuguesa; a 26 de Setembro, a cena repetiu-se,
com tripulantes de outro navio britânico, igualmente afundado pelos
submarinos nazis.
B — Civis polacos e sociedade civil polaca
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representando os civis e a sociedade civil dos países beligerantes (total= 33 fotos) |
8,1% |
C — Civis alemães e sociedade civil alemã
Não houve quaisquer representações fotográficas.
C — Civis soviéticos e sociedade civil soviética
Não houve quaisquer representações fotográficas.
E — Civis de países neutros e sociedades civis de países neutros
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*Na Itália.
Existe um certo desequilíbrio entre as representações fotojornalísticas dos civis e das sociedades civis (34 fotos), por um lado, e as representações fotojornalísticas dos militares (45 fotos), por outro. A ênfase da cobertura foi colocada pelo Comércio do Porto do lado militar, fosse por uma vontade de corresponder aos imaginados desejos da audiência, fosse devido ao tipo de fotografias difundidas pelos beligerantes.
Desequilibrado foi também o relevo dado às representações das sociedades civis e dos civis dos países beligerantes. Neste campo, os aliados não polacos (especialmente franceses e britânicos, com predomínio destes últimos) obtêm quase 92% das representações fotográficas, seguidos dos polacos (8,1%), enquanto soviéticos e alemães passam por inexistentes (zero fotos).
Em diversas imagens nota-se a mesma obsessão pelo uso de máscaras de gás que já evidenciámos nos restantes jornais, quer ao nível das representações fotográficas dos militares, quer ao nível das representações fotográficas dos civis. Uma curiosa fotografia publicada pelo CP, a 18 de Setembro, mostra mesmo um foto-repórter londrino, equipado com capacete e máscara de gás, a realizar o seu trabalho de reportagem no exterior.
Das imagens publicadas, as potencialmente mais chocantes e inquietantes são as que se referiam à evacuação de crianças (apesar dos risos, das brincadeiras e da ternura) e doentes e as que evocavam os "refugiados", particularmente os sobreviventes de navios afundados pelos submarinos alemães que davam início à Batalha do Atlântico. Entre as mais tranquilizantes encontramos aquelas que davam a ideia de que as actividades quotidianas continuavam quase que "normalmente", apesar dos tempos conturbados que se viviam e que obrigavam ao uso de máscaras de gás, à protecção de bens e haveres e a exercícios de retirada para abrigos anti-aéreos (preparativos de guerra).
Lista de fotografias não categorizadas
— Porta-aviões britânico Courageous |
— Paquete alemão Bremen |
Algumas comparações entre os jornais
Pensamos que, face aos dados recolhidos, se pode dizer que os três jornais fizeram uma cobertura fotojornalística semelhante e pouco diversificada do início da Segunda Guerra Mundial, provavelmente devido às contingências já expostas, sobretudo a uma hipotética dependência das fotografias distribuídas pelos organismos propagandísticos dos países beligerantes e dos países que queriam mostrar ao mundo uma "neutralidade" musculada. A padronização das representações fotográficas do conflito (concentradas, principalmente, em torno da mobilização e dos preparativos militares e civis para a guerra) foi acentuada pelas repetições, ainda que episódicas, de diferentes fotos nos três periódicos.
É de frisar que, no fotojornalismo patente nos jornais de Setembro de 1939, e contrariamente ao que tende a acontecer na actualidade, o texto e a imagem fotográfica nem sempre assumiam uma relação de complementaridade e cumplicidade evidentes. Pelo contrário, nos diários portuenses desse tempo reparámos que frequentemente as imagens surgem ao lado de textos que nada têm a ver com elas, cumprindo uma missão meramente ilustrativa, o que denuncia, por inerência, uma certa imaturidade do fotojornalismo português, nomeadamente quando comparado com aquilo que se fazia em países como a Alemanha (desde os anos vinte), a França, o Reino Unido ou os Estados Unidos.
De forma similar, notou-se que os jornais portugueses analisados revelavam identicamente alguma imaturidade gráfica. Por exemplo:
— As fotografias eram principalmente publicadas nas primeiras páginas, embora O Primeiro de Janeiro publicasse, em alguns dias, na última página, uma secção fotojornalística de meia página, em que o texto se resumia a algumas linhas; nas restantes páginas, poucas fotografias eram inseridas e, quando o eram, frequentemente tinham tamanhos reduzidos;
— As fotografias (tal como as restantes imagens, como mapas e ilustrações) não serviam, usualmente, para a ancoragem do grafismo (não existia design no verdadeiro sentido da palavra, pelo que não existia a relação forma-função indissociável do grafismo da imprensa dos nossos dias).
Não notámos também uma notória repetição de fotografias sobre a guerra nos diferentes jornais (embora tivessem ocorrido repetições pontuais, como aconteceu com uma foto de uma estação de comboios polaca bombardeada, com uma foto dos Duques de Windsor, com uma foto da evacuação das crianças londrinas, com uma foto de combatentes polacos, entrincheirados, a combater os invasores e ainda com outras imagens), o que poderá indiciar ter havido um certo cuidado por parte das entidades fornecedoras em distribuir imagens diferentes pelos diversos jornais. De facto, dado o nosso conhecimento da situação, esse dado não nos parece sustentar a hipótese de que as fotografias fossem provenientes de fontes diferentes dos mesmos países. Relevamos, porém, que o facto de os jornais consultados se encontrarem dispersos por três diferentes locais dificultou uma pesquisa comparativa mais sistemática.
Sob o ponto de vista do sentido das mensagens, parece-nos que existe, nos três jornais, uma espécie de alinhamento não oficial com os aliados, não sabemos se propositado, inclusivamente por causa de eventuais opções anglófilas da audiência, de jornalistas ou de proprietários dos media, ou contingente (resultante, por exemplo, da hipotética eficácia dos canais de informação aliados em Portugal e da ineficácia dos canais alemães).
Gostaríamos também de frisar que naquela época a fotografia deveria ser um bem relativamente caro e raro nos jornais, apesar de provavelmente ser também uma mais-valia no que respeita à cativação, conquista e fidelização da audiência. Encontrará aqui explicação o facto de os diários do Porto, publicados num Estado zeloso da sua neutralidade, terem aproveitado um número tão significativo de fotografias sobre a guerra (quando comparado com o número de fotos dos restantes acontecimentos), apesar de esse ser o tema forte do momento. De facto, haveria que aproveitar a "benesse" decorrente da profusão de fotografias em circulação, difundidas pelos países beligerantes e pelos países que pretenderiam mostrar-se preparados para "o que desse e viesse" (entre os quais o expoente máximo seria a Suíça), já que fazer e publicar fotografias de produção própria, mantendo, inclusivamente, para o efeito, um staff proporcional de foto-repórteres, sairia caro.
Finalmente, destacamos o facto de nem os preparativos bélicos
que Portugal provavelmente fazia nem as manifestações de
força do nosso país (paradas, etc.) se encontrarem fotograficamente
representados na cobertura. Em princípio, esta situação
ter-se-á devido mais à ausência de meios próprios
para efectivação dessa cobertura (humanos, financeiros e
materiais) e às rotinas instaladas do que à censura, até
porque as manifestações de força bélica deveriam
tendencialmente ter sido propagandeadas. Todavia, a hipótese censória
não é de excluir.
Conclusões
Em primeiro lugar, julgamos que a cobertura "fotojornalística" do primeiro mês de guerra não foi uma cobertura "fotojornalística" em si, mas principalmente o resultado dos esforços fotopropagandísticos dos países envolvidos, o que direccionou as representações fotográficas da evolução dos acontecimentos para a edificação de determinados sentidos e de determinadas simbologias. De qualquer modo, essas imagens, em alguns casos, são indícios do que se passou, pelo que as poderemos considerar informativas e, neste sentido, "fotojornalísticas".
Seguidamente, face aos dados recolhidos, parece-nos que a imagem que os leitores da imprensa diária portuense podem ter construído da invasão da Polónia e, de uma forma geral, do início da guerra, a partir da observação das fotografias publicadas nos jornais do Porto, não foi a de uma avassaladora força germânica esmagando as forças armadas polacas e progredindo rapidamente no terreno, ao contrário do que ocorreu e do que públicos como o norte-americano puderam verificar (Sherer, 1984). Inclusivamente, a maior ênfase na cobertura fotojornalística foi dada aos preparativos de guerra aliados, principalmente aos britânicos, e aos líderes civis e militares aliados, de igual modo com preponderância dos britânicos, sugerindo a ideia de que os principais países aliados se estavam a preparar —e bem— para uma guerra contra a Alemanha e que ela seria o agressor, já que os preparativos das restantes nações eram de defesa enquanto os germânicos estavam a invadir um país, a martirizar um povo e a afundar navios civis. Assim, a hipótese que colocámos inicialmente não foi confirmada, isto é, a Alemanha não surgiu especialmente valorizada nas representações fotojornalísticas da Campanha da Polónia construídas pelos jornais portuenses. Pelo contrário, em Setembro de 1939 foram os aliados, diríamos mesmo os britânicos, os mais beneficiados com a cobertura fotojornalística do início da guerra nos referidos diários.
Estamos convencidos de que não foi a censura prévia aos jornais portuenses que ditou a situação relatada, embora ela possa ter tido a sua influência. Inversamente, para o fenómeno descrito, julgamos que poderão ter hipoteticamente contribuído várias causas:
2) Laços de especial relevância com o Reino Unido, país com o qual Portugal, apesar das contingências do Ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890, mantinha a mais antiga aliança do mundo;
3) Eventual natureza profunda pró-democrata e anglófila do Povo Português, apesar da natureza do regime salazarista e dos ecos do extremismo militarista de direita;
4) Rejeição colectiva do expansionismo alemão e medo da Alemanha nazi;
5) O facto de Portugal ser um país "periférico" e "atrasado" (Rosas, 1992) poderá ter desincentivado a Alemanha a investir mais fortemente na difusão local de propaganda, especialmente numa primeira fase da guerra, em que talvez não se adivinhasse ainda o papel que o país viria a desempenhar (por exemplo, como fornecedor de volfrâmio e de alimentos).
Cumpre ainda realçar que na cobertura fotojornalística da invasão da Polónia também não se deu conta das baixas civis e pouca conta se deu dos bombardeamentos indiscriminados, das cidades totalmente destruídas, como se a guerra fosse asséptica. Para este estado de coisas, porém, terá contribuído o facto de os alemães não terem possibilitado o acompanhamento dos seus exércitos pela imprensa estrangeira e a dificuldade de estabelecimento de canais seguros de comunicação entre a martirizada Polónia e o exterior. De facto, a invasão alemã foi de uma rapidez quase estonteante.
Frisamos também que, pelas imagens fotográficas inseridas
nos jornais portuenses, o público do Porto não deve ter criado
a ideia de que o exército alemão era extraordinariamente
bem equipado, bem treinado e bem dirigido, sendo capaz de realizar acções
bélicas em larga escala de forma rápida, superior e decisiva.
Isso não terá ido ao encontro das hipotéticas pretensões
da propaganda alemã, conforme sugerido, a 18 de Setembro de 1939,
no artigo da Life "War pictures: Germans beat British-French in
First Week of Propaganda". Porém — e embora esse não tenha
sido o objecto do nosso estudo— não deixámos de reparar que
os conteúdos das notícias, embora muitas vezes contraditórios
e falsos (manipulação, desinformação e contra-informação),
13 dificilmente não deixavam de dar aquela ideia
de superioridade das forças armadas de Hitler, em conformidade com
as hipotéticas pretensões alemães.
Notas:
1.Cerca de cinquenta milhões de mortos calculados; muitos outros milhões de feridos, desalojados, refugiados e evacuados.
2.Ou semi-secreto, pois jornais como o Manchester Guardian e o Daily Express davam conta de rumores sobre o Pacto Germânico-Soviético de partilha da Polónia, conforme revelava o Jornal de Notícias de 27 de Agosto de 1939.
3. Por exemplo, a França possuía o Service Photographique de l'Armée.
4. Em termos fotográficos, podemos recordar o Álbum da Visita Presidencial às Colónias, 1938-1939, em cinco volumes, ou os álbuns Portugal 1934 e Portugal 1940.
5. Conta-se, por exemplo, no caderno comemorativo do 1º Centenário de O Primeiro de Janeiro, 1 de Janeiro de 1968. Porém, em nenhum dos jornais da época vimos quaisquer referências autopromocionais (ao contrário do que os órgãos de comunicação fazem agora) a um maior esforço de cobertura da guerra.
6. Entre esses poucos estudos, encontramos, por exemplo, os seguintes: James A. Fosdick - Photography in war and peace. Journalism Quarterly, vol. 24, pp. 227-232, 1947; Kenrick S. Thompson e Alfred C. Clark - Photographic imagery and the Vietnam War: An unexamined perspective. Journal of Psychology, vol. 47, pp. 279-292, 1974; Charles Bork - On war photography. National Review, pp. 34-38, 12 September 1986; D. Z. Foster - Photos of horror in Cambodja: Fake or real? Columbia Journalism Review, pp. 46-47, March 1978; Susan D. Moeller - Shooting War: Photography and the American Experience of Combat. New York: Basic Books, 1989; Michael Sherer - Comparing magazine photos of Vietnam and Corean wars. Journalism Quarterly, vol. 65, pp. 752-756, 1988.
7. Por exemplo: Kenrick S. Thompson, Alfred C. Clark e Simon Dintz - Reactions to My-Lai: A visual-verbal comparasion. Sociology and Social Research, vol. 58, pp. 122-129, 1974.
8. Por exemplo: Clifton Edom - Photo-propaganda: The history of its development. Journalism Quarterly, vol. 24, pp. 221-226, 1947.
9. War pictures: Germans beat British-French in First Week of Propaganda. Life, Sept. 18, 1939, p. 15.
10. Possuímos mesmo uma colecção particular de cerca de trinta fotografias da Segunda Guerra Mundial distribuídas pela Embaixada Britânica aos jornais e os arquivos dos jornais portuenses têm também um número significativo dessas imagens. Sherer (1984) também diz que grande parte das fotografias sobre a guerra publicadas nos jornais norte-americanos eram oriundas de fontes alemãs, britânicas e francesas.
11. São vários os trabalhos que o provam. Veja-se, por exemplo: Jorge Pedro Sousa (1997) - Fotojornalismo Performativo. O Serviço de Fotonotícia da Agência Lusa de Informação (tese de doutoramento). Santiago de Compostela: [edição do autor].
12. Embora extravase o tema, gostaríamos de fazer duas observações de cariz gráfico: a 5 de Setembro o CP publicou um gráfico informativo que quase faz lembrar os actuais infográficos; por outro lado, publicou fotografias de moda sobrepostas, com vários formatos e de com enquadramentos e cortes oblíquos, bem como uma sequência emoldurada por um filete a lembrar as bordas de um filme. Estes elementos gráficos denotam já uma certa maturidade nos jogos visuais do periódico, embora, por outro lado, tenhamos também notado a publicação de fotografias ovais, o que já será uma manifestação de ancilose, pois trata-se de uma tendência do século XIX.
13. Encontrámos notícias completamente falsas, como a de que Berlim teria sido bombardeada por uma força polaca de 300 bombardeiros ou que teria sido bombardeada pelos britânicos (só em Março de 1941 os britânicos bombardearam Berlim pela primeira vez). Por outro lado, contabilizámos nas notícias a perda de pelo menos quatro porta-aviões britânicos, quando se sabe que apenas um foi afundado no primeiro mês de guerra. E ainda poderíamos salientar as notícias dos "grandes sucessos" das tropas francesas e britânicas que operavam na fronteira, quase como se estas estivessem já próximas de Berlim, ou a notícia da queda de Varsóvia, noticiada a 9 de Setembro, quando a capital polaca apenas se rendeu a 28 desse mês.
BIBLIOGRAFIA
FREUND, Gisèle (1989) — Fotografia e Sociedade. Lisboa: Vega.
HERZSTEIN, Robert (1978) — The War That Hitler Won. New York: G. P. Putnam's Sons.
LOCHNER, Louis (1964) — The first big lie of the Second World War. In David Brown e W. Richard Bruner (eds.) — I Can Tell It Now. New York: E. P. Dutton.
O PRIMEIRO DE JANEIRO — Caderno do 1º Centenário. 1 de Janeiro de 1968,
PRICE, Jack (1939, 2 de Setembro) — US photographers better off now than in 1914. Editor and Publisher, p. 30.
ROSAS, Fernando (coord.) (1992) — Portugal e o Estado Novo. In Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques (Dir.) — Nova História de Portugal, vol. XII. Lisboa: Editorial Presença.
SHERER, Michael D. (1984) — Invasion of Poland photos in four American newspapers. Journalism Quarterly, vol. 61, pp. 422-426.
War pictures: Germans beat British-French in First Week of Propaganda. Life, 18 de Setembro de 1939, p. 15.