O uso das ferramentas de Marketing para
administrar Igrejas
Celso Alves da Ponte1
Resumo
Esta dissertação estudou, em caráter exploratório, a
aplicação do composto de marketing junto a uma igreja evangélica
clássica como forma de possibilitar a ampliação de seu
número de membros e também o volume de dízimos e ofertas
arrecadados.
De maneira mais detalhada, o presente estudo objetivou determinar quais
sãos os aspectos mais relevantes para uma pessoa quando esta se
propõe a mudar de igreja de mesma denominação ou de outra para a
Igreja Batista de Água Branca.
Escolha do tema
A escolha deste tema justifica-se pela constatação de que o pastor
é um leigo em marketing devido à sua própria formação
acadêmica em teologia, curso em que este assunto não é abordado,
e também pela escassez de publicações diretamente voltadas à
aplicação das teorias de marketing pelas igrejas.
Segundo Barna (1992, p.11), ``o pastor comum é preparado somente em
matérias relacionadas com a religião, no entanto, ao assumir a
direção de uma igreja, está sendo chamado a dirigir um
negócio. A necessidade de aplicação das ferramentas de Marketing
pelas igrejas se explica pela concorrência gerada pelo anseio cada vez
maior do homem que crê e está voltado para o espiritualismo, a
natureza, a energia cósmica, um Deus indefinido e sobrenatural, do homem
que deseja viver experiências ``espetaculares''.
A fim de tornar viável a elaboração de uma pesquisa que
comprovasse a necessidade de conhecimentos sólidos e formais a respeito
de marketing pelas igrejas, escolheu-se a Igreja Batista de Água Branca
como caso a ser estudado e delineando-se assim o seguinte problema de
pesquisa: As práticas do composto de marketing conquistam
fiéis e proporcionam crescimento?
Com relação ao objetivo geral do trabalho, as igrejas ao adquirirem
o conhecimento dos instrumentos de marketing, possam aplicá-los e assim
encontrar crescimento e seu trabalho possa também ser caracterizado como
obra do homem e não somente da fé. Quanto aos objetivos
específicos, o estudo se propôs a verificar por que ocorre
migração entre igrejas, tendo como objeto de estudo a Igreja Batista
de Água Branca e também se há relação entre o
crescimento do número de fiéis e as práticas do composto de
marketing.
Desenvolvendo as hipóteses, este trabalho propôs que: a) se as
igrejas possuírem sólidos conhecimentos das estratégias de
marketing, isto poderá favorecer seu crescimento, b) a busca por motivos
de natureza diversa, pelas quais as pessoas migram de uma igreja para outra,
c) o crescimento do número de fiéis esta relacionado com o composto
de marketing, d) é possível adaptar os 4 P's do marketing ao caso
especifico desta igreja, e) é possível uma igreja clássica usar
as práticas da Administração cientifica.
Diante do exposto, foi delineada a metodologia a ser utilizada neste
trabalho, destacando-se o estudo de caso selecionado (Boyd & Westfall,
1992, p.68 e Mattar, 1996, p.22), Quanto à amostragem é do tipo
não probabilístico (Mattar 1996, p.156) onde os achados
servirão somente para a Igreja Batista de Água Branca e as fontes
secundárias de levantamento de dados, compreendem: bibliografia (neste
caso é escassa), documentos, estatísticas e pesquisas já
realizadas. A pesquisa foi caracterizada pelo universo de membros da Igreja
Batista de Água Branca, no espaço temporal de outubro e novembro de
2000 onde o sistema de referência é o cadastro de membros da igreja.
Para o critério de seleção de amostras não
probabilísticas (Mattar, 1996, p.133 e Boyd & Westfall, 1982, p.398)
a técnica escolhida foi por tipicidade e intencional, e o tamanho da
amostra levou em consideração os recursos financeiros do
pesquisador. O instrumento de coleta de dados (Mattar, 1996, p.100) foi o
questionário não estruturado e não disfarçado e para a
coleta de dados (Mattar, 1996, p.67 e Boyd & Westfall, 1982, p.144 a 145)
foi utilizada a entrevista individual ou de profundidade, e os dados
tabulados na transcrição literal destas.
Fundamentando teoricamente o estudo
De acordo com Shawchuck et alii (1992, p.211), ``para que as
organizações tenham chances de sobreviver, precisam estar atentas
às modificações do mercado em que atuam e estar preparadas para
procederem às modificações e transformações
necessárias. Isto só não garante a estabilidade ou
crescimento''.
Ainda Schawchuck et alii sustentam três princípios de suma
importância para o sucesso do planejamento de marketing em
congregações:
-
Simplicidade -- quanto mais simples mais fácil para os membros
participarem e, conseqüentemente, menor será a resistência.
- Naturalidade -- o planejamento deve levar em conta a cultura,
experiências anteriores e as habilidades das pessoas. O que é
natural para uma congregação pode não ser para outra.
- Participação -- as pessoas tendem a apoiar aquilo que ajudaram a
criar. É desejável que a congregação esteja envolvida no
processo de planejamento e,quando isto não for possível, seus
membros devem ser informados sobre seu andamento e deve lhes ser permitido
fazer comentários.
Um planejamento estratégico de marketing é uma maneira
sistemática de organizar a análise do mercado, a posição da
organização naquele mercado e a elaboração de um programa
para as atividades de marketing futuras. Shawchuck et alii (1992:424)
apresentam os seguintes pontos importantes que devem constar de um plano de
marketing para congregação, em que os componentes de planejamento
estratégico são as varáveis inter-relacionadas:
A - Definição da missão (o que somos e o que desejamos ser?)
Propósito da igreja, objetivo constante do propósito.
B. Análise da situação interna (onde estamos agora?)
Ambiente (político, econômico, técnico e social )
Membros e outros participantes, fontes de fundos, competição.
C. Mercado -- alvo (para onde queremos ir?)
Descrição do mercado alvo.
D. Estratégias de marketing -- metas (como vamos chegar lá?)
Específicas (quantificáveis); realística (exeqüíveis)
Importantes, prioritários.
Marketing Mix: preço, produto, distribuição,
comunicação.
E. Plano de ação de marketing (o quê e quem?)
F. Orçamento de marketing (quanto e onde gastar?)
Recursos humanos e financeiros
Tempo, quantidade e alocação.
G. Controle de marketing
Resultados da implementação, correções necessárias para
aperfeiçoar o desempenho.
Classificando as organizações e relacionando-as com as igrejas
A classificação útil das organizações, baseada no perfil
do beneficiário principal, é proposta por Blau & Scott (1992, p.
312) e a igreja objeto deste estudo classifica-se como: Associação
de benefícios mútuos - aquelas formadas por um grupo de pessoas com
a finalidade de criar benefícios sociais, religiosos ou de
proteção para os outros e para si mesmas. Dois exemplos são
igrejas e sindicatos. A organização oferece serviços aos membros
e recebe apoio financeiro e serviço voluntário em troca.
Crítica ao comportamento das igrejas às vistas do marketing
Moriguchi (1993, p.17): as organizações surgem para atingir algum
propósito, ou seja, para aquilo que foram criadas, assim aos hospitais
cabe cuidar da saúde dos doentes; à polícia cuidar da
segurança; às igrejas cuidar das necessidades espirituais de sua
comunidade e, à medida que cresce, a organização torna-se mais
complexa, pois precisa servir bem não apenas ao número original de
clientes, mas aos vários grupos de interesse que se formam em torno
dela.
Igrejas orientadas para o marketing
Kotler (1978, p.60) afirma que em meados da década de 50 as
organizações começaram a reconhecer que se sairiam melhor se
tentassem servir a uma necessidade dos consumidores ao invés de tentar
impor-lhes seu produto. As empresas começaram a investir em pesquisas
para descobrir quais as necessidades das pessoas e como estas poderiam ser
satisfeitas.
A Igreja acolhedora
Shawchuck & Norman et alii (1992, p.68) definem que a igreja acolhedora
ou responsiva é aquela que, respeitando suas limitações, procura
entender, servir e satisfazer as necessidades e desejos de seus membros e
público a quem serve. São as igrejas amigáveis e acolhedoras,
voltadas às pessoas e não a programas. Como resultado, as pessoas
sentem-se profundamente satisfeitas: ``esta igreja enriquece a vida
espiritual de seus membros''; ``esta igreja realmente se preocupa com as
pessoas''; ``esta é a melhor igreja de que eu participei''.
Estes clientes tornam-se a melhor propaganda da igreja. Comentários
``boca a boca'' desse tipo alcançam muitas outras pessoas. Assim, a
responsividade apresenta quatro níveis e as igrejas se encaixam em um
deles: a não responsiva, a casualmente responsiva, a altamente
responsiva e a totalmente responsiva.
- A igreja totalmente responsiva (totalmente amável e acolhedora)
analisa periodicamente as necessidades, percepções, preferências
e a satisfação de seus membros.
Encorajam todos a participarem ativamente dos assuntos da igreja e respondem
aos seus desejos. O resultado é que seus membros tornam-se envolvidos,
entusiasmados e satisfeitos.
Estarão bem informados sobre os assuntos da igreja e prontos a oferecer
seu apoio, pois os serviços da igreja estarão constantemente
ajustados às necessidades e interesses de seus fieis.
Assim Shawchuck, Norman et alii (1992, p.86) afirmam que, para uma igreja
adotar a postura de tornar-se totalmente responsiva (amável e
acolhedora) ela precisa seguir os conceitos essenciais:
-
cada igreja tem uma missão;
- a igreja realiza trocas com um grande número de públicos no
cumprimento de sua missão;
- seu mercado deve ser segmentado e um público alvo deve ser escolhido
para ser servido;
- para cumprir sua missão, a igreja precisa atrair recursos através de
trocas;
- seus públicos respondem à sua imagem;
- para aumentar a satisfação de seus públicos alvos, a
congregação precisa de um plano de ação.
- As organizações religiosas, amigáveis e acolhedoras
(responsivas), portanto, devem responder a duas importantes questões:
desejamos ser responsivas a quem e a quê?
Barna (1997, p.150) declara que a missão para um ministério é
uma clara imagem mental para um futuro preferível, concedida por Deus a
Seus servos escolhidos com base na compreensão exata de Deus, do
próprio ``eu'' e das circunstâncias. Uma congregação deve
apresentar uma missão realizável, bem definida e que possa motivar.
As missões muito difíceis de serem alcançadas devem ser
evitadas, pois podem ter efeito contrário: ao invés de motivar,
desmotivam. A missão precisa ser nobre, deve enriquecer a vida das
pessoas, fazendo com que se sintam orgulhosas, especiais por fazerem parte
da mesma.
Derek (1991, p.31) apresenta a definição de negócio, em que se
deve estabelecer três dimensões: a primeira é de grupos de
clientes -- quem será servido e satisfeito; a segunda é de
necessidades dos consumidores -- o que será satisfeito e a terceira
é de tecnologias alternativas -- como tais necessidades serão
satisfeitas.
O conceito de público para as igrejas
Shawchuck & Norman et alii (1992, p.94) definem que o público é
um grupo distinto de pessoas e/ou organizações que possuem um
interesse real ou potencial e/ou um impacto sobre uma organização.
O conceito de mercado para as igrejas
SHAWCHUCK (1992, p.103) define que mercado é um grupo distinto de
pessoas e/ou organizações que têm recursos que querem trocar ou
que poderão concebivelmente trocar por benefícios distintos.
Kotler (1978, p.11) diz que a segmentação de mercado consiste na sua
divisão em partes bem homogêneas, em que cada parte possa ser
concebivelmente selecionada como um mercado alvo a ser atingido por um
composto de marketing distinto.
Engel et alii (1990, p.30) afirmam que segmentos existem porque certos
fatores fazem com que as pessoas se comportem de maneira diferente umas das
outras. Estudiosos do comportamento do consumidor fazem uma
distinção entre baixo--envolvimento e alto-envolvimento nos
processos de trocas. O envolvimento em grau percebido é a
importância pessoal que acompanha a escolha de um produto ou
serviço.
O conceito de troca para as igrejas
Kotler (1978, p.38) afirma que a troca é o conceito central do
marketing. Exige a oferta de valor a alguém em troca de valor. Assim, o
marketing quer saber como as transações são criadas,
estimuladas, facilitadas e valoradas. Uma empresa, portanto não deve se
orientar para dentro, para seus próprios produtos, mas para fora ao
encontro das necessidades de seus consumidores.
O conceito de imagem para as igrejas
Shawchuck & Norman et alii (1992, p.120) conceituam que imagem é a
soma de sentimentos, crenças, atitudes, impressões, pensamentos,
percepções, idéias e conclusões que uma pessoa ou um grupo
de pessoas têm de outra pessoa, organização ou objeto.
O conceito de satisfação para as igrejas
Shawchuck & Norman et alii (1992, p.128) afirmam que satisfação
pode ser definida como um estado sentido por uma pessoa ou grupo de pessoas
após uma experiência que correspondeu a suas expectativas. Uma
igreja amável e acolhedora é aquela que faz todos os esforços
para conhecer, servir e satisfazer as necessidades e desejos de seus membros
e públicos. Cada igreja precisa determinar o quão acolhedora deseja
ser e procurar mecanismos apropriados para medir e aperfeiçoar sua
habilidade em criar satisfação.
O objeto do estudo
A Igreja Batista de Água Branca é uma entidade de caráter
religioso, sem fins lucrativos, com sede em São Paulo. Em 1o de Maio de
1937, foi fundada como Igreja Evangélica Batista de Água Branca,
após seus 21 fundadores terem solicitado suas Cartas demissórias da
Igreja Batista Paulistana. Quanto à doutrina, a Igreja Batista de
Água Branca batiza por imersão, pois o Batismo nas águas é o
símbolo do batismo espiritual pelo Espírito Santo e consiste no
mergulho na morte e na ressurreição no Senhor Jesus. A Igreja
Batista de Água Branca conta com 32 ministérios, demonstrando a
tentativa de dividir as funções, a fim de melhor atender os anseios
de seu público.
O espaço físico
A Igreja Batista de Água Branca ocupa uma vasta área, próxima
à ponte da Pompéia, no mesmo bairro. Por opção de seus
membros e visão de seu pastor principal, não possui prédio em
alvenaria para seus cultos, mas sim uma tenda de circo. A justificativa para
não se construir em alvenaria está baseada nos custos de
construção e em caso de necessidade de expansão, com a tenda,
este trabalho ficaria muito facilitado. O local do culto abriga 2.700
pessoas sentadas, sendo que há uma boa visão do palco de qualquer
lugar dentro da tenda.
No palco há também um batistério (local onde se realizam os
batismos por imersão na água).
O ambiente Interno
A igreja como já foi mencionado está dividida em 32 ministérios,
com o predomínio de um responsável e vários participantes,
sendo que estes também participam de outros ministérios. A figura do
pastor principal como centralizador das principais decisões surge
naturalmente.
Os membros
São membros da igreja todos aqueles que forem batizados por ela (assim
considerados renascidos, porque aceitaram Jesus e as normas da igreja). Para
se tornar membro já sendo evangélico de outra denominação ou
de outra igreja Batista, a pessoa necessita de uma carta de
transferência, sendo submetida à aceitação pró-forma em
uma Assembléia.
A pesquisa documental revelou como a igreja, através de seu pastor
principal, procedeu em seu trabalho visando preparar a equipe pastoral para
o entendimento do Planejamento Estratégico, iniciando pelos
``Componentes da Visão'', segundo o pastor Ed René.
Missão e Filosofia: A essência da Visão
Como disse David Packard, a Missão responde porquê estamos
aqui? .1 Responde também a perguntas como: qual é a nossa
tarefa? o que temos para oferecer ao mercado?
qual é a atividade que justifica nossa existência?
o que pretendemos fazer? qual o nosso propósito? qual
é a razão pela qual existimos. Um bom caminho para
encontrar a Missão é fazer a pergunta sobre a necessidade do mercado
que a organização pretende suprir. Em outras palavras, perguntar:
qual é o nosso negócio? qual é o nosso ramo de
atividades?
A Declaração de Missão, portanto, deve conter no mínimo
duas informações, a saber: (1) cliente e (2) produto ou serviço.
Valores: O alicerce da Visão
Os valores refletem as crenças da organização. Valores podem ser
chamados de políticas de ação, credo, e até mesmo de
filosofia. Na verdade, os valores indicam o óbvio: aquilo que a
organização valoriza. Os valores são, portanto, uma
decomposição da Filosofia, pois servem para esclarecer a maneira
como se deve proceder em uma organização específica.
Igreja Batista de Água Branca
De acordo com o conceito de que os Valores são a decomposição da
filosofia, pode-se alistar os exemplos da Igreja Batista de Água Branca.
A Filosofia da Igreja é priorizar relacionamentos, envolvendo todos os
seus freqüentadores além dos limites do culto-clero-domingo-templo.
Os Valores podem ser vistos como as entrelinhas da Filosofia.
Estratégia: O Trem de pouso da Visão
Visão sem ação é passatempo; ação sem Visão
é ativismo; mas Visão com ação pode transformar o mundo. A
Estratégia é responsável por transformar Visão e Valores em
Ação.
A imagem futura baseada em crenças dignas somente se tornará uma
realidade caso sejam definidos os passos práticos na direção de
sua concretização. A Estratégia, por assim dizer, define o
processo operacional básico de uma organização e deve descrever
o inicio, meio e fim das ações da organização em
direção ao cumprimento de sua Missão.
O paradigma do planejamento mudou. O conceito mais elementar de planejamento
define os seguintes passos básicos: (1) decida onde você quer chegar
(objetivo); (2) identifique os obstáculos; (3) defina um curso de
ação contendo prazos, custos e padrões de medida para cada etapa
(metas). A Estratégia, portanto, quer dizer que uma organização
possui atividades personalizadas diferentes para oferecer o mesmo produto
que suas concorrentes oferecem. A grande questão é que justamente
estas atividades personalizadas são as que conferem valor singular ao
produto conforme aquela organização específica.
Igreja Batista de Água Branca optou por uma Estratégia de cinco
passos, a saber:
-
relacionamentos íntegros;
- encontros facilitadores;
- celebrações coletivas;
- pequenos grupos;
- rede ministerial;
A Igreja Batista de Água Branca definiu seu âmbito com a
expressão horizontes de relacionamentos, o que inclui, sem
exceção, todos aqueles que são afetados direta (contato formal)
ou indiretamente (horizonte de influência) pela existência da
Igreja. As definições abaixo são do pastor Ed René que
serviram para nortear a criação do planejamento estratégico da
IBAB.
Visão: status futuro (consumado ou vigente) da organização,
Missão: o que a organização faz (e para quem), Filosofia: o
``jeito de ser'' ou peculiaridades da organização, Valores:
princípios fundamentais que norteiam as ações da
organização, Âmbito: público alvo referencial (ou exclusivo)
da organização.
Este trabalho constatou que a IBAB possui um Planejamento Estratégico
com rigor técnico, fundamentado em bases bíblicas, teológicas e
em autores consagrados academicamente apresentando-se desta forma:
Modelo IBAB de planejamento estrat égico
A razão de ser da Igreja e sua relação com o Planejamento
Estratégico
A Igreja Batista de Água Branca afirma que seu planejamento
estratégico indica que a Razão de ser justifica a existência de
uma Instituição, isto é, a necessidade que a Instituição
pretende satisfazer. A primeira tarefa foi definir biblicamente a razão
de ser da IBAB, isto é, que razão teria Deus para estabelecer a
Igreja no mundo e trabalhar para sua manutenção e expansão? O
que motivou Deus a instituir sua igreja?
Por isso a teologia diz que o Universo pertence a Deus duas vezes: por
direito de criação e por direito de redenção. Segundo Paulo,
apóstolo, para que o Senhor Jesus exerça domínio, seja o
cabeça sobre todo o Universo, Deus o constituiu cabeça da igreja (Ef
1.22.23). Conclui-se, portanto, que a igreja ocupa lugar central no processo
de retomada do reino de Deus. A estratégia de Deus para redimir o
Universo inclui a criação de uma nova humanidade em Cristo Jesus.
A Razão de Ser define a necessidade que a instituição pretende
satisfazer, ou a necessidade que a originou. A Missão diz respeito à
maneira como a instituição responde à sua razão de ser.
Nesse caso, considerando que a razão de ser da Igreja é a
reconciliação da criação com o Criador, devemos compreender
o que a Igreja deve fazer no mundo para que a criação seja
reconciliada definitivamente com o Criador.
A IBAB compreende que evangelizar é mais do que fazer convertidos, é
fazer discípulos que obedecem a todas as ordens/ determinações
que Jesus mandou (Mt 28.19,20). No que diz respeito à
evangelização bíblica, a conversão não é um ponto
de chegada, é apenas o início de uma nova vida, agora completamente
submissa a Cristo, sob a ação do Espírito Santo de Deus (2Co
5.14,15). Observe, por exemplo, que o todo da vida cristã pode ser
avaliada através das fases do discipulado e seus respectivos alvos, como
segue:
Conhecendo a filosofia da IBAB
A IBAB deriva sua filosofia avaliando a realidade religiosa
contemporânea à luz dos referenciais do Velho e Novo Testamentos,
como segue:
Não bastasse o padrão bíblico neotestamentário, a
própria missão da IBAB a empurra para fora dos limites
culto-clero-domingo-templo. Uma igreja que pretende levar o evangelho todo
para o homem todo não pode ficar restrita aos eventos esporádicos de
finais de semana. Pessoas precisam de Deus; pessoas precisam de pessoas.
Desta forma, Relacionamentos é uma palavra chave da vida da IBAB. Toda a
Escritura está alicerçada na afirmação de Deus: Não
é bom que o homem esteja só (Gn 2.18). Desde então, melhor é
serem dois do que um (Ec 4.12). Cremos na igreja como corpo de Cristo, no
sentido em que Cristo age no mundo através da igreja (At 1.1), isto
é, Cristo age no mundo através de pessoas. Discipulado se faz
através de relacionamentos. Discipular é ensinar a guardar tudo
aquilo que o Senhor Jesus mandou (Mt 28.19,20). Paulo apóstolo fez isso
mostrando os bastidores de sua vida para que seus discípulos pudessem
ver o evangelho funcionando (2Tm 3.10-12).
O Âmbito da IBAB
A Razão de ser define a necessidade que a instituição pretende
satisfazer. A Missão é o que a Instituição pretende fazer
para satisfazer a necessidade que originou. A Filosofia indica a maneira
peculiar da instituição cumprir sua missão. Para a IBAB estes
conceitos já foram definido na sua declaração de Visão,
apresentado-se desta forma:
Razão de ser, ``a reconciliação da criação com o
Criador'', Missão, ``Levar o evangelho todo para o homem todo'' e
Filosofia, ``Priorizar relacionamentos envolvendo todos os seus
freqüentadores além dos limites culto-clero-domingo-templo''.
Áreas de Atuação da IBAB - Bases Bíblicas e Teológicas
``Nosso referencial bíblico para a definição das áreas de
Atuação da Igreja é o livro de Atos dos Apóstolos, que
descreve a experiência dos primeiros cristãos reunidos em
comunidade.
Assim, a IBAB atua nas áreas de Adoração, Instrução,
Comunhão, Serviço, e Proclamação.
Na seqüência, a pesquisa documental apresenta, como foi escrito pelo
pastor Ed René o documento abaixo:
``A Igreja Batista de Água Branca operacionalizando a Visão''.
Todo o planejamento é Estratégico?
O conceito básico do Planejamento Estratégico IBAB foi (1)
estabelecer a moldura visionária para (2) a fixação de metas
estratégicas a partir de (3) áreas de atuação.
Isto fez com que nos organizássemos em grupos de trabalho voltados para
objetivos. Basicamente, fizemos três coisas no processo de Planejamento
Estratégico: (1) planejamos metas (temos 19 metas estratégicas); (2)
delegamos a execução das metas para grupos de trabalho (áreas de
atuação); e (3) oferecemos um norte para a execução das
metas (visão, missão, filosofia, diretrizes estratégicas).
Uma alternativa para o Planejamento Estratégico é planejar
processos, ao invés de planejar metas. Isto é, tirar a ênfase do
``planejamento'', e colocá-la no ``estratégico''. Para isso, é
necessário compreendermos o que é uma Estratégia.
O que é uma Estratégia?
Pesquisei três autores: Michael Porter (professor da Harvard e autor de
Vantagem Competitiva, Editora Campus); C.K. Prahalad (professor de Harvard e
autor de Competindo pelo futuro, Editora Campus); Tom Peters (autor de
Tempos loucos exigem organizações malucas, Prosperando no Caos, e em
Busca do UAU, todos pela Editora Harbra). Tom Peters é o mais radical e
chega a citar um acadêmico francês que diz que ``o termo planejar
é imbecil''. Sua conclusão, ou sugestão vem de outro
acadêmico, Henry Mintzberg, que afirma que a grande tarefa dos
planejadores é ``descobrir estratégias, e não projetos''.
C.K. Prahalad é mais moderado e argumenta que o segredo do Planejamento
Estratégico é a concentração nas competências essenciais
da organização: aquelas capacidades que são difíceis de
imitar ou que diferenciam a organização. Mais do que isso, Prahalad,
sugere que
toda organização deve possuir um conjunto harmônico de
competências essenciais, que ele chama de ``pool de talentos'' 2, sendo
este o maior fator de sucesso.
Michael Porter foi o autor que mais me esclareceu. Sua definição de
estratégia é magnífica: ``estratégia é a
criação de uma posição única e de valor, envolvendo um
conjunto diferente de atividades''.3 Toda organização deve definir
claramente seus resultados chave, através dos quais poderá mensurar
com clareza se está de fato cumprindo sua missão e se sua visão
esta se concretizando.
Construindo uma Ponte
Creio que a IBAB possui o `posicionamento único e de valor'' , citado
por Michael Porter. Existe algo que distingue a IBAB das demais comunidades
cristãs e este algo é a rede de relacionamentos de intimidade de
seus freqüentadores entre si e com Deus. A IBAB é uma comunidade
interpessoal devocional. Este é o mix de valor da IBAB.
A teoria e a prática na Igreja Batista de Água Branca
-
Quanto às características das Igrejas
A IBAB apresenta características de uma igreja avivada (entre o
clássico e o pentecostalismo) de classe média e média alta.
Não é tradicional na sua essência, embora tenha estruturas
rígidas e formais. Pelo fato de sua visão priorizar
relacionamentos, de certa forma estes conduzem a um comportamento mais
aberto, mais informal. A interação da Igreja com seu meio, com a
comunidade, reforça a sua permeabilidade em relação às
mudanças constantes do ambiente.
- Quanto ao Planejamento de Marketing bem sucedido em congregações
A partir dos princípios apontados por Schawchuck et alii, este estudo
revelou sua aplicação pela Igreja Batista de Água Branca. Como
se demonstra a seguir. Simplicidade: na pesquisa de campo, os entrevistados
sabem a declaração de Visão e Missão da igreja, que oferece
sustentação e entendimento ao plano da igreja, podem-se entender que
os conceitos são de fácil entendimento. Naturalidade: busca-se a
habilidade das pessoas, para que estas desenvolvam seus ministérios e,
assim, que a igreja cumpra as metas estabelecidas. A pesquisa de campo
revelou que as pessoas desejam desenvolver suas habilidades como forma de
prestar um serviço à comunidade e a Deus. Participação: o
engajamento nos pequenos grupos e também a liberdade de participar de
todas as atividades da igreja envolve as pessoas e permitem que, através
do relacionamento pessoal, tenham todas as informações sobre a
igreja, e havendo, além disso, os boletins dominicais em que as
principais informações estão contidas. Todos os que forem aos
cultos recebem logo na entrada.
- Quanto à Classificação das Organizações
Assim, uma organização que não visa ao lucro, como a IBAB, pode
ser entendida dentro das características propostas desta forma:
organização de beneficio mútuo, formalmente constituída,
capitalizada, que transforma estes recursos em bens e serviços para que
as pessoas (seu público alvo) tenham uma vida de relação com
Jesus.
- Quanto às igrejas orientadas para o marketing.
A Igreja Batista de Água Branca utiliza o planejamento estratégico
permitindo aos ministérios terem claramente sua missão e com isso
atender desejos e necessidades de seu âmbito.
- Quanto a Igreja acolhedora.
Verifica-se que a IBAB de certa forma se enquadra como igreja acolhedora e
90% dos entrevistados a entendem assim. Mas não preenche totalmente
as características apresentadas pelos autores citados, pois embora
venha atendendo aos desejos e necessidades das pessoas, da mesma forma,
encoraja os membros a opinarem, sugerirem, reclamarem, mas não realiza
um estudo periódico sobre o nível de satisfação de seus
membros, ainda que tome providências quanto a reclamações e
sugestões depois de julgar a validade e pertinência e possibilidade
de serem aceitas.
- Quanto ao conceito de público para as igrejas.
Sendo um sistema aberto, que interage com o meio influencia e é
influenciada por este, a IBAB possui as características de público
apresentadas pelos autores citados. Cabe salientar que em Público
intermediário a igreja não utiliza agências de propaganda,
pesquisa de marketing, consultores de marketing e nem de Radio e TV. Assim
como não possui uma editora.
- Quanto ao conceito de satisfação para as igrejas
O conceito de imagem está diretamente ligado ao conceito de
satisfação, conforme os autores mencionados afirmam. A Igreja de
Água Branca possui o controle informal do grau de satisfação de
seus membros em relação à qualidade do louvor, do sermão e
outros.
Concluindo sobre as hipóteses
Com a constatação da aplicação do Planejamento
Estratégico da Igreja Batista de Água Branca, fundamentado em
autores consagrados no meio acadêmico, confirma-se a hipótese de que
igrejas evangélicas clássicas podem fazer uso da
Administração Científica e assim favorecerem seu trabalho junto
à sua comunidade. A utilização das ferramentas de marketing
favorecem o desempenho, transformando sua estrutura e seu funcionamento como
elementos diferenciadores. Favorecem o crescimento e desenvolvimento diante
do quadro de alta concorrência. Quanto à natureza dos fatores que
levam uma pessoa a mudar de igreja, o que se constatou nos depoimentos dos
membros foi a presença de todas as razões pressupostas, mas com
destaque para os relacionamentos e o desejo de fazer diferença no grupo
social.
Proposta
Este trabalho tem como proposta adaptar o quadro dos 4 P's do Marketing para
a igreja local e assim propõe-se o quadro ao caso específico da
IBAB.
O produto que para Barna são as relações pessoais passa a ser a
Fé, pois é por meio dela que as pessoas travam um relacionamento com
Jesus Cristo. O ato de Fé pode surgir nos mais variados momentos da vida
e, quando o pastor desenvolve seu sermão à luz da bíblia,
procura despertar este sentimento de fé nos fiéis para que venham a
crer em suas palavras.
Deste modo, entende-se que o produto ``vendido'' pelas igrejas é a
Fé.
A segunda alteração ao modelo de Barna refere-se ao aspecto
Preço que aquele autor considera ser a dedicação do fiel e à
luz desta pesquisa passa a ser o Tempo dispendido por aquele que
freqüenta a igreja. Justifica-se tal proposta porque mesmo quando a
pessoa não deseja nada em troca de sua dedicação à igreja, o
processo de troca ocorre e, sem dúvida, a oferta material mais imediata
e evidente do homem à sua religião é o tempo a ela dedicado.
Torna-se necessário ressaltar que os pastores entrevistados mostraram-se
contrários tanto aos 4 P's propostos por Barna e também ao quadro
elaborado neste trabalho. Segundo sua maneira de encarar a questão, o
produto IBAB é a Salvação e seu Preço, a Fé.
Kotler afirma que entender as ferramentas da Administração, dentre
elas o marketing, como uma filosofia é realmente se aperceber de que
este não é sinônimo de vendas ou mera promoção, mas sim
atender aos desejos e necessidades de seus clientes, criando o ambiente Raquel da Cunha Recuero
propício para atingir, desta forma, os seus objetivos corporativos e
não oferecer os produtos e serviços o mais eficientemente
possível.
Em relação a esta posição de Kotler, a Igreja Batista de
Água Branca busca atender os desejos e necessidades de seu rebanho.Na
medida em que ela cria o ambiente propício, através de sua
filosofia de priorizar relacionamentos, seu rebanho interage nos pequenos
grupos e recebe a atenção de que necessita, seja ela material,
espiritual, emocional ou outra natureza.
Referências bibliográficas
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Breaking harvest, Regal Books, 1992.
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-- Área de concentração: Marketing
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2 Prahalad, C.K, A Competência Essencial, publicado na HSM Manegement,
AnoI, n.1, ps 6-11.
3 Porter, Michael, O que é Estratégia?, artigo publicado no Jornal
do Anunciante, Ano V, n. 70, suplemento dos Executivos de Marketing.
- 1
- Professor mestre -- Gestão de negócios em Marketing - UniSant'Anna -
2001. Professor mestrando em Educação Arte e História da Cultura -
Universidade Presbiteriana Mackenzie - 2005. Professor Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de
Comunicações e Artes.