O Adiantado do Minuto:
A internet e os novos rumos do jornalismo
Luis Fernando da Rocha Pereira
Faculdades Integradas Hélio Alonso - FACHA
2002
Índice
Monografia de graduação do curso de Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo, apresentada como exigência final de
curso.
Disciplina: Projeto Experimental (2o Semestre de 2002);
Faculdades Integradas Hélio Alonso - FACHA ; Rio de Janeiro
2002.
luisf@rochapereira.com.br
1 Introdução
"Os senhores me desculpem. Mas, devido ao adiantado da hora, me sinto
anterior às fronteiras"1. Esta era a visão de Carlos Drummond de
Andrade sobre os acontecimentos que marcariam o mundo durante a Segunda
Guerra Mundial. Anos depois, o jornalista Carlos Eduardo Lins e Silva
aproveitaria a bela passagem de Drummond e a utilizaria como referência
no título e no texto de introdução de seu livro "O Adiantado da
Hora: A influência americana sobre o jornalismo brasileiro".
Aproveitando o gancho, decidi retirar dessas duas preciosas fontes o
título de minha monografia: "O Adiantado do Minuto: a internet e os
novos rumos do jornalismo". A intenção do presente trabalho é
abordar um novo campo, surgido em 1994, através das primeiras
publicações em meios digitais - no Brasil, o pioneiro foi o Jornal
do Comércio de Recife - que traz uma série de novos desafios para o
profissional de comunicação, mais especificamente na área de
jornalismo.
Num primeiro momento, os grandes jornais do país, como o Jornal do
Brasil, O Globo, Folha de São Paulo, utilizavam a mídia internet
para transpor o conteúdo veiculado na parte impressa. Com a
evolução das ferramentas de publicação e o número
crescente de internautas no universo online brasileiro, esses veículos
perceberam a necessidade de nutrir uma nova massa de leitores com
conteúdo específico em suas publicações digitais.
Surge, então, o conceito do tempo real (real time) no jornalismo, no qual as
notícias das mais diversas editorias são disponibilizadas de minuto
em minuto. O grande objetivo é fisgar o usuário para navegar o maior
tempo possível pelo site, provendo em troca atualizações de
conteúdo constantes.
No entanto, a prática do jornalismo na web ainda não apresenta um
modelo ou padrão clássico. O que se vê ainda é um grande
laboratório de experimentações e pesquisas na tentativa de se
atrair a atenção do leitor, que a cada dia, acostumado ao avanço
e munido de modernas tecnologias, torna-se mais exigente.
Em alguns dos capítulos apresento um bate papo ("Trocando em bits") com
importantes profissionais envolvidos na produção e edição de
notícias de grandes jornais online do país (como Jornal do Brasil e
Último Segundo), sites (Comunique-se, Webinsider e Tá na Tela) e do meio
acadêmico (Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da
Bahia - UFBA e Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC), que
poderão nos revelar os segredos e pensamentos para construção de
um modelo estruturado de jornalismo na web. A íntegra de todas estas
entrevistas está disponível no capítulo Anexos.
Além das entrevistas, foi realizada uma pesquisa online para determinar e
medir o universo de leitores dos veículos digitais. Foram respondidos
124 questionários e, ao longo do trabalho, farei uma breve análise
sobre as respostas geradas pela pesquisa. Boa leitura!
2 Um pouco da história do jornalismo online no Brasil
No "Manual de Jornalismo na Internet", os professores Marcos Silva
Palácios e Elias Machado Gonçalves, da Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), relatam que as
primeiras experiências de publicação e veiculação de
notícias via computador são da Agência Estado, em meados dos
anos 80, através do projeto Notícias do Futuro do Massachussetts Institute of Technology -
MIT (http://www.Nif.mit.edu)2.
O professor Elias Gonçalves, em trabalho apresentado no ano de 1996 no
Congresso de Ciências da Comunicação, cita a experiência do
Jornal do Comércio de Recife, "que distribuía seus serviços na
internet diferente do que ocorre com as notícias da Agência
Estado"3. Assim, o Jornal do Comércio torna-se o
primeiro jornal brasileiro a se aventurar em sistemas digitais. A
inovação ocorreria no ano de 1994, época que o JC Online
distribuía os textos de suas reportagens através do sistema
Gopher4, hoje em
desuso devido a ascensão da tecnologia de internet (World Wide Web).
No entanto, o primeiro grande jornal impresso brasileiro a ser vinculado na
plataforma web seria o Jornal do Brasil, em 28 de maio de 1995 (segundo
fontes do jornal, os testes com publicações esporádicas
começaram em fevereiro de 1995). Após o Jornal do Brasil, outros
grandes jornais trilhariam o mesmo caminho: são criados os sites do O Estado
de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de Minas, Zero Hora,
Diário de Pernambuco e Diário do Nordeste.
E para concepção do primeiro grande jornal online do país foram
deslocados profissionais do impresso ou foi criada uma equipe
específica para colocar o veículo na web? "O JB Online sempre possuiu
uma equipe própria. Inicialmente, essa equipe era bastante reduzida e
mais limitada a área de tecnologia. Com o tempo, fomos agregando novos
profissionais, principalmente do ramo editorial, e aumentando a nossa
capacidade de geração de conteúdo e de apuração de
notícias", revela o diretor de marketing do JB Online, Marcello Penna.
Em 1997, a internet passaria a contar também com o conteúdo de
grandes revistas. Em junho deste mesmo ano, a Revista Veja passaria a
disponibilizar seu conteúdo em edições semanais. O grupo IDG,
também na mesma época, lançaria o canal IDG Now! reunindo uma
equipe de jornalistas voltada para produção de notícias em
tempo real, algo diferente dos sites das revistas da empresa voltadas para o
público de tecnologia (Computerworld, PC World, entre outras).
Cinco anos após o surgimento dos primeiros jornais online, as grandes empresas
de comunicação decidiriam investir capital nos veículos e
efetivamente produzir conteúdo específico para este canal. Assim,
jornais como o Estadão Online, a Folha Online e a Revista Veja passam a destinar
espaços às notícias em tempo real voltadas exclusivamente para
o público internauta.
O ano de 2000 seria marcado também pela criação do primeiro
jornal exclusivamente online. O provedor de acesso à internet iG (Internet
Grátis) lançou o jornal Último Segundo, que contaria com
notícias produzidas por agências de informações e
reportagens produzidas por uma redação própria.
O sucesso do novo empreendimento seria imediato. Até junho de 2002,
segundo monitoramento da empresa de consultoria Media Metrix, o Último
Segundo era o jornal online de maior audiência.
Em agosto de 2001, foi lançado o portal de notícias Globonews.com,
que traria o conteúdo produzido pelos diferentes veículos (Rede
Globo, Rádio Globo, Jornal O Globo) pertencentes às
Organizações Globo e também por uma redação própria.
E o universo de grandes publicações na internet não pára de
crescer. Segundo o último estudo do instituto American Journalism Review
(AJR), o número de jornais online no mundo cresceu de 78 para 5.280 no ano de
2001. Já estatísticas do site Net Papers (www.netpapers.com.br) revelam que, atualmente, o número de jornais no
mundo é de 5.408 distribuídos por 183 países, sendo 229 de
jornais brasileiros e 2.349 de jornais dos EUA.
Em pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, entre 15 e 25 de julho deste
ano com 354 leitores das duas versões (impressa e online) da Folha de
S.Paulo, apontou alguns aspectos que seduzem os leitores para as versões
digitais dos jornais.
Os principais itens citados na pesquisa foram notícias mais atualizadas
(42%), rapidez (10%), possibilidade de pesquisar o conteúdo de
edições anteriores (5%) e de ler o jornal no trabalho (3%).
Quarenta e oito por cento dos entrevistados disseram ainda que costumam
consultar sites noticiosos ao longo do dia com intuito de se manterem
atualizados5.
Além das versões online de jornais e revistas, a internet abriu um
grande mercado para os jornalistas. Hoje, dezenas de empresas possuem sites,
sejam eles de empresas de comunicação ou até mesmo de cunho
institucional, produzindo conteúdo voltado exclusivamente para o meio
digital.
Nessa história todos saem ganhando. É o leitor/usuário, que
passa a contar com diversos produtores de notícias, tendo o poder de
escolher o assunto que mais lhe entretém. É o profissional, que
ganha um novo campo de trabalho, sendo contratado para redações de
revistas online segmentadas ou para produzir conteúdo de um boletim de
notícias, os chamados newsletters, que são distribuídos via e-mail. E
também as empresas, sejam elas de comunicação ou não, pois
se aproximam cada vez mais de seu foco principal: leitor/cliente.
2.1 Depoimentos
Para finalizar este capítulo, confira na íntegra dois importantes
depoimentos que ilustram a criação de dois veículos
jornalísticos na web: "O Globo Online" e "IDG Now!".
" Tudo estava ficando muito chato até o surgimento da internet. Comecei a trabalhar como jornalista na internet no início de 1997, de forma intensa, e nunca mais parei. De lá para cá tenho escrito e publicado diariamente.
No início de 1997, a editora IDG tinha publicações impressas consolidadas (PC World, Publish, Computerworld, NetworkWorld e outras). A empresa desejava fazer a transição para a internet mas não encontrava apoio por parte dos editores das publicações impressas, que não viam com bons olhos a publicação de parte de seu conteúdo online. Consideravam um desprestígio para o jornal ou revista chegar às mãos dos leitores com reportagens já reproduzidas online. É importante notar que os leitores destas publicações eram usuários de internet pioneiros, em sua maioria.
Ainda assim, o diretor da IDG, Ney Kruel, resolveu criar os sites das publicações, além de um site corporativo e a novidade: um site de notícias em tempo real, a ser chamado IDG Now.
Foi aí que entrei. Fui chamado a produzir o conteúdo do recém criado IDG Now, enquanto uma equipe criava e mantinha os sites da empresa e das publicações (bastante diferente das publicações impressas, de modo a contornar a repulsa dos editores).
Como desenhar o IDG Now? Que tipo de assunto deveria o site cobrir? Que foco deveria imprimir às matérias?
Esta foi a parte mais interessante da história. Apesar de possuir alguns títulos mais perto do usuário final, o público da IDG era claramente corporativo. O que atraía os anunciantes era a possibilidade de se dirigir a uma audiência profissional, atuando em grandes corporações com orçamento para aquisição de tecnologia.
Isto claro, decidimos que o foco das matérias deveria ser mais para o leitor do Computerworld do que o de PC World, ou seja, mais o usuário corporativo do que o doméstico.
Assim, ainda brincamos, Kruel e eu (velhos colegas desde os primeiros anos da IDG):
- Nosso leitor será o Fontenelle!
Era uma referência a um conhecido em comum, na época diretor da Lotus, a empresa de software que mais tarde seria adquirida à força pela IBM. Ao identificar um típico leitor, estávamos delimitando..."
" Quando foi lançado, em 1996, o Globo On Line basicamente reproduzia o jornal impresso. A transposição das matérias do impresso para a versão on line era feita de maneira quase manual e a equipe buscava sites que completassem as matérias. Por exemplo, em uma matéria sobre a CIA, na versão online, o leitor encontraria o link para o site da agência de inteligência americana.
O primeiro ano de funcionamento do site foi todo bancado por patrocinadores. No início, o plantão era baseado principalmente nas notas produzidas pela Agência O Globo para os seus clientes e não funcionava 24 horas por dia. Não existia uma equipe fixa de plantão. A primeira página era pouco atualizada, normalmente mantendo as matérias do jornal impresso.
A partir de 98, o plantão passa a ser mais valorizado e ganha uma equipe fixa. Por uma determinação do jornal, as editorias do jornal impresso passaram a ter o compromisso de enviar flashes das matérias que estivessem sendo apuradas. Foi estabelecido um sistema de cotas por editoria.
A capa passou a ser mais atualizada com os assuntos do dia, sempre apontando para uma nota de plantão. As pessoas responsáveis pelas editorias trabalhariam acompanhando o horário de fechamento do jornal. Essas pessoas eram responsáveis pela conversão e por complementar as matérias. Eventualmente, era produzido algum material próprio.
Na tentativa de maior integração com o jornal impresso, uma pessoa do Globo Online foi deslocada para participar das reuniões de pauta. A equipe passou a investir em sites e coberturas especiais. Em 99, o plantão começou a funcionar 24 horas por dia.
As editorias continuavam a não ser atualizadas, mantendo sempre as matérias do jornal impresso. A capa era alterada constantemente. O uso de fotos aumentou, assim como áudios capturados da rádio CBN e vídeos da TV Globo e da Globonews TV.
Com a criação do portal de notícias Globonews. com, em agosto de 2001, o Globo Online passou por uma ampla reformulação para redefinir seu público-alvo e seus objetivos. A transição tinha como meta conservar o público habitual do site, atrair novos leitores e atender a uma gama maior de interesses do público alvo, aumentando a visitação, a fidelidade, o tempo de permanência e a identificação dos leitores com o conteúdo e a interação entre o site e o jornal O Globo.
Com isso, buscou-se aumentar o número de visitantes únicos -- número de pessoas que visitam o site diariamente - e, ao mesmo tempo, aumentar o número relativo de page-views - soma do número de páginas visualizadas por todos os leitores num determinado dia.O Globo Online optou por aumentar o destaque das notícias do Rio de Janeiro, em três áreas: cidade, cultura e esportes. Além disso, manteve em destaque as notícias nacionais e internacionais, medida fundamental para manter a íntima relação com os leitores do jornal O Globo, um jornal do Rio com visão nacional, e para atender ao público de outros estados e do Exterior.
Ao se posicionar desta forma, O Globo On Line seguiu os passos do jornal e transformou o risco de concorrência autofágica com o Globonews.com - um amplo portal de notícias nacionais e internacionais - em oportunidade de crescimento para ambos os sites. Isso fica claro ao se comparar a evolução do público tanto do Globo On Line quanto do Globonews.com.
A base do projeto do Globo Online continuou sendo a produção e o tratamento de notícias em tempo real. Produzido a partir de uma sinergia entre os produtores de conteúdo da Infoglobo e em parceria com outras fontes das Organizações Globo, o tempo real do Globo Online se tornou uma referência de notícia ``quente'' em relação a praticamente todos os outros sites de jornais brasileiros.
As três áreas de cobertura do Rio de Janeiro foram reforçadas com produção de notícias em tempo real, de reportagens exclusivas e de áreas de serviços, com guias de utilidade pública e sistemas de busca para facilitar a vida dos moradores do Rio de Janeiro.
Com as reportagens exclusivas, o site aumenta sua atração para os leitores ao longo do dia inteiro, todos os dias, além de se tornar uma fonte fundamental para formadores de opinião: várias reportagens já tiveram intensa repercussão junto ao público e outros veículos ``suitaram'' reportagens produzidas pelo site.
Os números de audiência do Globo Online revelam uma tendência de crescimento desde o lançamento do novo site, em 28 de agosto de 2001. Um exemplo: em maio, a média diária de visitas registrada foi de aproximadamente 74 mil pessoas. Em dezembro, esta média passou para 107 mil, num aumento de quase 50%, em função, naturalmente, dos acontecimentos mundiais que se seguiram ao atentado de 11 de setembro. Hoje, a média é de cerca de 90 mil usuários/dia.
Novos projetos de cross-media estão em andamento, com ações desenvolvidas em conjunto pelo O Globo e pelo Globo On Line, como têm sido feito com o Boa Viagem Rio, site de turismo regional que começa a ser comercializado também pela equipe do jornal, que tem por base a carteira de clientes da própria Revista Boa Viagem.
Neste sentido, algumas iniciativas têm sido tomadas em parceria com a redação e o comercial dos Jornais de Bairro, como o Água na Boca On Line. A idéia é oferecer aos leitores do site e seus anunciantes versão complementar à do suplemento impresso."
3 Estruturação e evolução dos jornais
online
"As mudanças em curso na mídia têm especial
importância para a juventude com pretensões a fazer
carreira nesse campo. Os mitos sobrevivem, mas o contexto é
totalmente diferente. Quando o autor deste livro começou sua
carreira jornalística na agência de notícias New
York Times há mais de 40 anos, as tecnologias disponíveis
eram canetas, blocos de papel, um telefone e uma velha máquina
de escrever que se recusava a bater a letra p. Hoje as
agências de notícias são dominadas por terminais de
bancos de dados, aparelhos de fax, videocassetes e outros
dispositivos computadorizados. Muitas dessas máquinas
serão substituídas em poucos anos por versões
high-tech ou por tecnologias absolutamente novas. Essas
tecnologias em breve modificarão o local de trabalho, exigindo
novas habilidades além de ler e escrever."8
No livro "O Adiantado da Hora: A influência americana sobre o jornalismo
brasileiro", o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva aponta alguns dos
conceitos e valores do jornalismo americano adaptados para o jornalismo
brasileiro. "O jornalismo americano influenciou, do ponto de vista
técnico, o jornalismo mundial", afirma o jornalista Nilson Lage, com
passagens pelo Diário Carioca, O Globo e Jornal do Brasil, e atualmente
professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Será que o jornalismo americano, também pioneiro no ramo de
internet, exerceu influência na escola jornalística digital
brasileira? "Não há escola jornalística determinada para o
estudo do jornalismo na web. Tim Bernes Lee é britânico e
desenvolveu a web num laboratório em Genebra no início da
década de 90. É verdade que os americanos criaram a Internet para se
protegerem de um possível ataque soviético. Mas há
pesquisadores e grupos de discussão conceituados diversos países -
que não só nos EUA - tentando chegar a um acordo sobre como produzir
conteúdo on-line e atrair leitores. Se levarmos em conta que o texto na
Web não muda, pode-se afirmar que os sites noticiosos brasileiros têm
influência americana. As coberturas em tempo real são escritas no
formato pirâmide invertida e os textos mais elaborados (como os do
site www.nominimo.com.br) também seguem o modelo adotado pelas
revistas impressas", diz a jornalista Luciana Moherdaui, pesquisadora sobre
o tema e autora do livro Guia de Estilo para Web.
A jornalista Suzana Barbosa, profissional com passagens no Jornal da Tarde,
Correio da Bahia e Gazeta Mercantil, prefere classificar a influência
americana nos modelos dos grandes portais web. "Mas o que é interessante
perceber é que, enquanto lá eles definiram sua presença digital
como websites mesmo - tendo as versões digitais não meramente como
espelho da impressa - no Brasil, proliferou o modelo portal, que nos EUA
é mais adotado pelos engenhos de busca etc. Basta observar para perceber
como as empresas jornalísticas brasileiras adotaram o formato portal
para agregarem também o negócio de provimento de acesso para ter
maior receita e conquistar mais parceiros ou passaram a integrar um
megaportal em busca de maior visibilidade", revela.
O professor Elias Machado Gonçalves, coordenador do Grupo de Pesquisa
sobre Jornalismo Online (GJOL) da Faculdade de Comunicação (FACOM) da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), considera "um mito reducionista"
definir o jornalismo brasileiro como uma cópia fiel do praticado nos
Estados Unidos. "Nosso jornalismo sempre conseguiu manter uma certa
autonomia. Me parece mais fiel conceber nosso jornalismo como uma mescla do
norte-americano com o europeu. No caso do digital ocorre algo muito
semelhante. Muito do modelo vem como uma forte carga das experiências
nos Estados Unidos, mas vale lembrar que, com o aumento da
competição em termos mundiais, muitas vezes os processos de
desenvolvimento de produtos são simultâneos. No caso dos
negócios nas redes, somos obrigados a enfrentar os competidores externos
sem ter tempo de aprender com seus erros, porque os processos de
desenvolvimento dos negócios são paralelos, quase simultâneos.
Se a Folha esperasse pelos norte-americanos para lançar o UOL em
parceria com a Abril teria perdido as condições de disputar, com
vantagens competitivas, o Terra e o AOL".
O colunista do site Comunique-se, Sandro Guidalli, cita a pouca pesquisa
realizada pelos veículos do país. "As agências online ora
copiaram suas similares americanas ora adequaram o conteúdo
jornalístico em imensos portais sem que tenha havido necessariamente
uma pesquisa, um estudo sobre qual modelo seguir. Os jornais impressos e as
agências em tempo real seguem parâmetros comuns a todos os que
estão na Web. Texto enxuto, muito espaço para imagens, flashes e
boletins noticiosos curtos e dinâmicos", diz.
E como estaria o jornalismo online brasileiro em relação ao praticado em
outros países? "O jornalismo online ainda está em fase de
adaptações em todo o planeta. Ainda precisa ser mais criativo do que
é. Grande parte dos sites noticiosos (estrangeiros e nacionais) utiliza
os mesmos recursos de edição para atrair a atenção de
leitores online. O jornal do futuro, na minha opinião, será aquele
produzido conforme a audiência que se pretende atingir, oferecendo
níveis de informação ao leitor", diz a jornalista Luciana
Moherdaui.
Sobre o mesmo assunto, o professor e jornalista Elias Machado Gonçalves
cita outras características da impressa digital brasileira. "Temos uma
variedade de publicações muito grande em todos os estados da
federação. Os modelos de produção de notícias ainda
são muito vinculados ao jornalismo tradicional, como ocorre em todo o
mundo, porque para mudar o sistema de produção se deveria implantar
sistemas de produção de aplicativos destinados ao jornalismo nas
redes. Nesta etapa do jornalismo sem software adequado, pouco se pode
oferecer de novidade tanto nos sistemas de produção, quanto na
circulação dos conteúdos, ou mesmo na incorporação dos
usuários aos sistemas produtivos das organizações
jornalísticas".
3.1 Estrutura de um veículo online
Entre as entrevistas realizadas para este trabalho, os profissionais foram
unânimes em afirmar que as redações dos veículos online
apresentam a mesma hierarquia de cargos que há anos figuram nos
veículos impressos. Assim, uma equipe jornalística para web
também conta com diagramadores, repórteres, editores e diretores.
"Nas redações online há também o editor, o sub e o diagramador. O
repórter faz sua matéria, que - na maioria dos casos - passa por
esta hierarquia até ser divulgada, como acontece no impresso", diz o
jornalista Leandro Mazzini, que já trabalhou no JB Online e hoje é
repórter da editoria de política do impresso.
No entanto, os profissionais que estão atuando no mercado apontam
algumas tênues diferenças no trabalho realizado nesses dois tipos de
redação. "Todas acidentais. Por exemplo, o estresse tende a ser mais
espalhado pelo dia todo (o que é saudável), em vez de concentrado em
um só momento. Outra coisa: o conceito de furo é muito alterado; por
fim, neste momento ainda em que as empresas de internet são jovens, suas
equipes são jovens também, o que é ótimo", explica Leão
Serva Neto, diretor de jornalismo do Último Segundo.
Já a jornalista Luciana Moherdaui, que há mais de cinco anos atua na
área, diz que "o que muda nas redações online é o suporte de
publicação e a utilização de recursos multimídia para
enriquecer uma cobertura, se o assunto justificar". O jornalista Sandro
Guidalli complementa o pensamento de Luciana. "A diferença está no
timing da apuração, redação e publicação da notícia.
No meio tradicional, trabalha-se com mais calma, apesar da pressão do
dead-line. Deve-se sempre buscar apurar completamente a matéria para só
então publicá-la, seja no impresso, seja na Web. Me parece que
há um frisson, um nervosismo que é peculiar da Internet, muito também
em função da competição", afirma.
O repórter do JB Online, Alexandre Fontoura, que também escreve para o
Caderno de Informática da versão impressa do jornal, diz que o
trabalho em equipe nas redações online é maior e o prazo de entrega
das matérias mais rígido. Elisa Travalloni, editora do JB Online,
acrescenta outros aspectos importantes. "O jornalista tem que estar antenado
o tempo todo ao que está acontecendo, o tempo todo olhando os outros
sites. Num jornal impresso você olha, claro, mas se concentra em uma ou duas
matérias por dia... depois no final do dia, olha de novo o que está
acontecendo, até para pensar pautas. No site, a agilidade é maior,
além do fato de que o jornalista pensa de forma mais abrangente, ou
seja, ele pensa se vai poder fazer galeria de foto, se pode criar uma
enquete para o assunto, se vai oferecer áudio, vídeo, etc. A
interação com o designer é muito maior no ambiente online do que a
interação com o diagramador no impresso. Sentamos juntos para
avaliar o que deve ser feito para que o designer não atrapalhe o
conteúdo e vice-versa".
3.2 Conteúdo: estrutura e divisão
Na parte estrutural de notícias, os veículos online também são
segmentados em editorias (Política, Economia, Cidade, Tecnologia, entre
outras). Uma das principais inovações do produto virtual é a
criação do noticiário em tempo real, que traz em seu conceito
atualizações de conteúdo a cada minuto.
No princípio, a idéia dos grandes portais era disponibilizar
notícias 24 horas ininterruptamente. No entanto, com passar do tempo e
devido a falta de verbas para se manter uma grande quantidade de jornalistas
com essa carga horária, as notícias em tempo real passaram a ser
renovadas somente ao longo do dia, sendo que alguns jornalistas escalados
para os famosos plantões abastecem a parte da noite com
atualizações esporádicas de conteúdo.
Um dos temas que ainda causa uma imensa discussão entre os profissionais
da área é a questão de se definir um padrão e regras de
texto para o jornalismo online. Analisando o conteúdo dos grandes jornais na
internet, as redações seguem o modelo clássico de texto do
jornalismo tradicional. Lead, objetividade, simplicidade serão algumas
das armas para construção de bons textos na internet. Fora isso, o
caminho está aberto para experimentações.
Ainda sobre o assunto, a tecnologia também representa papel fundamental
quando permite, através da interligação (links) de arquivos, a
criação de hipertextos, que disponibilizam uma gama de
informações cada vez maior para o leitor. Mas o que seriam
hipertexto e link? Segundo o Mini-Dicionário Técnico de Web Design, da Editora
Terra, hipertexto9 é um
"documento que contém links não-lineares para outros documentos, o
que permite um processo de leitura não-seqüencial". Já
link10 "na web indica a
existência de vínculo com uma outra fonte de informação".
No livro Cibercultura, o sociólogo francês Pierre Lévy descreve o hipertexto
como um texto estruturado em rede, em oposição a um texto linear
["constituição de nós (elementos de informação,
parágrafos, páginas, imagens, seqüências musicais etc.) e
elos entre esses nós - referências, notas ponteiros, "botões
indicando a passagem de um nó para o outro"]11.
O maior significado dessas novas implementações é que o leitor,
acostumado a virar seqüencialmente as páginas de um jornal impresso,
em veículos digitais é ele quem passa a definir como fará sua
leitura. Assim, ele poderá escolher como primeira leitura uma reportagem
sobre os jogos de futebol do final de semana e, minutos depois, ao clicar em
um link em anexo, escolher como segunda leitura a resenha do show de Chico
César na noite passada.
O livro Guia de Estilo para web, da jornalista Luciana Moherdaui, traz um capítulo exclusivo
sobre o tema "planejamento de notícias para web". Nele, há um
depoimento interessante sobre este assunto:
"O editor de textos para web deve compreender o meio para o qual escreve e estar familiarizado com todas as possibilidades que a internet oferece. Criar um guia de estilo para a web. Isso é imprescindível para dar unidade ao produto que se oferece como, por exemplo, tratar o leitor de 'você', a tipografia (tamanhos e fontes) e o design da página, entre outros. Definir a audiência do site e estar preparado para escrever corretamente para uma audiência internacional.
O leitor de nosso informativo é universal já que pode acessar a rede de qualquer lugar do planeta, o tratamento dado à informação deve ser aberto. Definir claramente os meios de acesso às notícias que oferece em suas páginas. Estrutura e design. O leitor deve encontrar com facilidade os conteúdos que procura quando se conecta à nossa página...Um usuário insatisfeito é um leitor que não voltará mais à nossa página.
A premissa de atualização periódica é essencial para o trabalho na internet. Uma página que não se atualiza é uma página morta...Escrever para o papel já é muito complexo, mas, para escrever para a web, é preciso estar atento a diversos aspectos. O texto deve ser correto, as imagens têm de ter uma boa definição, os links devem funcionar e a página não deve pesar mais que o estritamente necessário.
Há que se levar em conta as diferenças entre escrever para o papel e para a internet: extensão de textos (a leitura é feita pela tela do computador), uso de datas (hoje, amanhã, etc), títulos informativos incompletos (às vezes, é preciso submanchete, subtítulo, imagens, que no papel contextualizam a informação de uma manchete".
Immaculada Moretó, editora do
jornal espanhol online El Pais12
3.3 Trocando em bits I
Para falar sobre a evolução (conceitual e tecnológica) dos
jornais online, reunimos alguns profissionais para responder o seguinte
questionamento:
Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal
exclusivamente online Último Segundo, quais aspectos, em termos de
evolução conceitual e tecnológica, vocês apontariam como
positivos? E os negativos?
Elias Machado13: Em primeiro lugar, uma correção. A façanha de primeiro diário online pertence ao Jornal do Comércio, de Recife, na rede desde 1994, no Gopher. O JB é o primeiro na plataforma Web. A maior avanço está na menor reprodução automática dos conteúdos dos demais meios. O aspecto mais negativo: a falta de desenvolvimento de sistemas autônomos de produção de conteúdos adaptados ao suporte digital. Avançamos na produção de conteúdos específicos mas falta ainda conceber modelos de produção de conteúdos descentralizados, capazes de incorporar os usuários na alimentação das publicações.
Luciana Moherdaui14: A principal evolução conceitual foi a formação de pessoas (designers, jornalistas e técnicos se adequarem à velocidade da Web). Três anos atrás, quando eu ajudei a criar o Último Segundo, a equipe ainda estava sintonizada com a Web. A maioria dos profissionais veio do impresso. Hoje, redação, arte e tecnologia têm uma sintonia incrível. É possível produzir conteúdo multimídia para incrementar a cobertura local e internacional em poucas horas. Outro fator importante no período foi treinar a agilidade da equipe. Um repórter que trabalha na Web está apto a trabalhar em qualquer redação. Ele é um profissional ágil, com texto final e maior capacidade de acuracia gramatical. Além disso, também está preparado para pensar uma página de jornal ou revista, pois faz esse exercício na Web o tempo todo.
Em termos tecnológicos, se pensarmos em programas desenvolvidos para edição multimídia, edição de texto, programas de e-mail e de comunicação simultânea, avançamos bastante. Hoje, algumas redações fazem entrevistas por ICQ ou e-mail e utilizam sofisticados software de publicação e produção de imagens. Aos poucos, o telefone vai sendo substituído por esses tipos de programas. Agora, se levarmos em conta que pouco mais da metade da população tem telefone em suas casas, que as conexões telefônicas são de péssima qualidade e que a banda larga não avançou muito em países como o Brasil, por exemplo, e que dos 170 milhões de brasileiros, quase oito milhões são usuários ativos de Internet, pode-se afirmar que ainda estamos engatinhando. Outro problema que considero grave é a falta de sintonia entre desenvolvedores de sites e usuários. Muitos projetos, inclusive jornalísticos, são desenvolvidos para supermáquinas, sem levar em conta que a maioria dos usuários está conectada via linha discada e não tem programas para fazer o download das páginas. Ou seja, muitas vezes, temos a tecnologia de ponta para criar uma nova página, mas os leitores/usuários não poderão ver esse material pronto em suas telas. Você deve ter acompanhado o congestionamento na Internet por causa da cobertura on-line do ataque aos EUA, ano passado. A CNN.com, por exemplo, teve de diminuir sua homepage de 255 KB para 20KB para que os internautas pudessem navegar por suas páginas e saber o que estava acontecendo nos EUA. Muitas vezes, a tecnologia sofisticada não resolve o problema do usuário que só está atrás de informação.
Leandro Mazzini15: Há muita coisa a se discutir sobre webjornalismo. A princípio, o termo mais abrangente e correto, na minha opinião, seria noticiário online. Ainda não aprendemos a fazer jornalismo online. A evolução tecnológica é extraordinária - há cinco anos não tínhamos isso - há uma globalização comunicacional sem fronteiras. O futuro da comunicação passa por isso. Um aspecto negativo é causado por um positivo: a velocidade da informação. Isso, de certa forma, causa um estafa. É muita notícia, atualmente, para pouco leitor.
Alexandre Fontoura16: O Último Segundo tem 80% (ou algo parecido) das noticias vindas das agências de noticias, inclusive o JB Online. Ele reproduz noticias... produz quase nada. Em termos de evolução, aprendemos com experimentos, testando e vendo resultado, para fazer um local atrativo virtualmente.
Nilson Lage17: Evolução tecnológica, sim. Conceitual, não sei. Se evoluíram, evoluíram juntos. Os portais são muito confusos, a matéria desorganizada, os critérios editoriais permissivos. Será preciso evoluir muito.
Raphael Perret18: Positivos: aos poucos, os jornais perceberam que não bastava que suas versões online fossem puras cópias dos impressos. Era importante manter uma redação que pudesse trabalhar ao longo do dia e atualizar as notícias do site.
A utilização de outras mídias, como imagens, sons e vídeo, ainda que muito econômica, também começou a ser implantada, enriquecendo a informação.
Negativos: ainda alguns conceitos, a meu ver antiquados, dirigem a tônica dos sites de notícias. O tempo real é um deles. Por que eles se esgoelam para dar uma informação a cada minuto? Por que um portal nacional publica uma nota sobre uma reunião de sindicalistas no Amapá? O que importa é dar as notícias mais rápido, e não a qualidade da notícia. Assim, com a pressa, criam-se muitos erros que entram rapidamente para o folclore do jornalismo online.
Suzana Barbosa19: Entre os dois exemplo que você aponta é evidente que houve evolução, exatamente porque enquanto o JB simboliza o modelo de um jornal impresso que migra para a Web - em maio de 1995, portanto logo que o acesso comercial a internet é liberado no país - o US, lançado em 2000, representa o primeiro produto concebido e veiculado apenas na Web, sem nenhuma vinculação com uma empresa jornalística tradicional (mais tarde, a TV Bandeirantes torna-se uma parceira e acionista no portal iG do qual o US é o principal produto).
Desta maneira, pode-se dizer que, se o JB foi pioneiro ao utilizar as tecnologias digitais para a veiculação de seu conteúdo também através da rede e utilizando os recursos disponíveis e possíveis naquele momento, o US também o foi, mas quando surge já tem possibilidades ampliadas (inclusive tecnologicamente falando, pois a infra-estrutura já estava mais desenvolvida) para a organização, tratamento e disponibilização do seu conteúdo.
Obviamente, o JB incorporou novos recursos, sendo também um dos primeiros a divulgar notícias em fluxo ou em tempo real com atualização constante, valendo-se do material da Agência JB.
Assim, foi incorporando alguns dos elementos relacionados com as características do jornalismo neste suporte - hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, personalização e memória (BARDOEL & DEUZE, 2000; PALACIOS, 1999). O US, por sua vez, além da utilização desses elementos para a publicação dos conteúdos, termina por consolidar um padrão -- em nome da velocidade e agilidade do meio -- publicando uma nova notícia por minuto, resultando num afrouxamento do caráter de noticiabilidade, conforme verificou Ana Lúcia dos Santos em sua dissertação Jornalismo fast-food sobre o US, defendida em fevereiro na FACOM. De qualquer maneira, entre o US e a edição do JB existem diferenças conceituais e algumas semelhanças que refletem o posicionamento de cada produto, principalmente em relação a sua linha editorial. E nesse caso não se pode ignorar que o JB é uma marca relacionada a uma empresa tradicional.
Por outro lado, como aferiu pesquisa sobre mapeamento de características e tendências no jornalismo online brasileiro (realizada de agosto de 2000 a agosto de 2001, pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo em Jornalismo Online da FACOM), as versões digitais dos jornais brasileiros com similares impressos, gratuitos e auditados pelo IVC, conceitualmente, ainda são muito parecidas com o impresso. Encontram-se na fase classificada como transpositiva e também de metáfora, pois poucos empregam recursos oferecidos pelo meio para a construção das matérias.
Elisa Travalloni20: Os jornais online romperam um pouco a dependência que tinham com os jornais impressos, ou seja, deixaram de ser apenas reprodutores de um tipo de conteúdo para começar a criar seu próprio conteúdo. No caso do JB/ Folha/ Estadão e Globo, é claro que não dá para deixar de lado a reprodução desses jornais, nem devemos, porque garante bons acessos e porque permitimos que os brasileiros de outros estados ou que moram fora possam ler o jornal. Mas, quero dizer que os jornais online estão investindo em sua própria redação, querem ampliar conteúdo, oferecer o algo mais aos leitores. Ainda enfrentamos muita dificuldade financeira (publicidade, patrocínio ou mesmo investimento interno), mas a idéia é que os sites cresçam e ofereçam mais informação aos leitores, que se constituam em redações próprias.
De positivo também, acho que os jornais online estão se preocupando em definir uma nova linguagem - ainda não sabemos que linguagem é essa ou se mesmo teremos apenas uma linguagem. Estamos buscando formas novas de apresentar a informação aos leitores, vídeos, áudios, hiperlinks, fotos, gráficos, animações. Mas, é um processo longo, de discussão entre os jornalistas e também acadêmicos.
Acho que o problema hoje dos jornais online é o "formato agência". O que vem a ser isso? Quando os jornais online foram criados, eles se basearam nas Agências de notícias da época (AJB e AE), que produziam muitas notas para vender (texto e foto). Esse conteúdo era reproduzido no site, originando o que o JB Online chama de Tempo Real (em outros sites é o plantão). É claro que uma das características dos sites dos jornais é a informação instantânea, oferecer ao leitor a qualquer hora do dia o que está acontecendo na cidade, no país e no mundo. Mas, temos que discutir se queremos quantidade ou qualidade ou os dois.
Os sites têm que buscar um equilíbrio, porque não adianta publicar qualquer coisa só para fazer volume, e nem sempre temos que oferecer 5 notinhas sobre um assunto. Às vezes é melhor oferecer menos notas, mas mais profundas, ou seja, ao invés de publicarmos 5 notas sobre o tiroteio da madrugada no RJ, vamos oferecer uma matéria consolidada para o leitor (claro, isso diminui o número de page views do site e reduz o número de notas em relação ao concorrente). O problema ainda é perceber melhor o que o leitor quer. Responder isso é muito difícil, porque os leitores são diversificados. O ideal seria oferecer quantidade e profundidade, mas para isso é preciso uma equipe que dê conta.
Leão Serva21: O JB foi o primeiro jornal brasileiro a ter um site de internet que veiculava no meio digital o conteúdo do jornal em papel. O Último Segundo foi o primeiro jornal concebido para o meio digital, explorando suas peculiaridades. Aspectos positivos: exatamente essa adequação; negativos: o jornalismo na internet ainda é associado a algo epidérmico pelo establishment, o que limita, ainda, sua influência.
3.4 Geração de Receitas
Atualmente, o faturamento de jornais impressos e revistas é obtido, em
grande parte, através da venda de assinaturas de suas
publicações e também pela área de publicidade. Já os
grandes veículos de comunicação na web enfrentam sérios
desafios em definir a melhor forma de se gerir dinheiro na rede.
Uma das primeiras soluções criadas pelas empresas envolvidas com os
negócios digitais foi a definição de espaços nos sites
voltados exclusivamente para veiculação de propaganda. Hoje, o
banner22 e uma
página pop-up23 são alguns desses novos formatos
tecnológicos explorados pelos grandes portais. A venda de cada um desses
espaços virtuais representa generosos valores, muito aproximados dos
valores cobrados em termos de propaganda em páginas impressas de jornais
e revistas.
O alcance de um grande portal web é tão grande que em poucas horas
é possível se obter o dobro de tiragem diária de um jornal
impresso. Com esse grande potencial de público, qual seria a melhor
receita para gerar dinheiro? "O ponto é: de que adianta gerar esse
tráfego gigantesco de leitores, sem ao menos conhecê-los? Os
leitores anônimos não são 'clientes', não são
assinantes. O JB Online possui cerca de oito vezes mais visitantes
únicos do que o Jornal do Brasil possui assinantes. A grande
diferença é que o jornal fatura com essas vendas (assinaturas e
bancas) e também com publicidade e os classificados. Atualmente o modelo
de negócios do JB Online consiste basicamente na venda de publicidade
(em diversos formatos) e principalmente no licenciamento de conteúdo
(também em várias formas). Nesse modelo, conseguimos nos sustentar
como empresa, sem qualquer ajuda financeira do Jornal do Brasil. Não
é nenhuma profecia desmedida, mas posso te garantir que é uma
questão de tempo para que todos os jornais online passem a ter o seu
conteúdo fechado (parcialmente ou integralmente)", revela o diretor de
marketing do JB Online, Marcello Penna.
A editora do JB Online, Elisa Travalloni, aponta alguns razões para se cobrar
assinatura em publicações digitais. "Acredito que uma das formas de
buscar recursos é cobrar assinatura por serviços especiais do site
ou mesmo pelo site todo. É uma medida impopular, é verdade, e
complicada de ser colocada em prática no Brasil. Mas por que não
cobrar pelo acesso, como é cobrada a assinatura do impresso? A
publicidade também precisa buscar meios de ser atraente na internet. Os
internautas detestam pop-ups ou barras de propaganda, mas esquecem que é
isso que ainda está mantendo o site gratuito".
Já o jornalista Marcus Vinicius Mannarino, gerente do Centro de
Informações da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), diz que os
veículos devem almejar outros caminhos. "Ainda acredito no modelo que
prevê o aproveitamento da escala que a Internet proporciona: cobrar
pouco de muitos. Mas cobrar pelo quê? Cobrar pelas notícias,
simplesmente? Os jornais já são produzidos em meio digital. A
edição impressa é apenas uma saída possível. Gerar uma
edição eletrônica é simples e barato, considerando a
estrutura industrial já montada nas empresas que têm versões
impressas. Mesmo para as empresas que montam equipes especificamente para
edições eletrônicas, acho que o adequado não é cobrar
pelo acesso às notícias. Isso porque, em breve, meu círculo de
amigos vai ter condição de ser uma fonte mútua de notícias.
Todos plugados em rede, podem trocar informações permanentemente. Os
jornais vão ter de se aprimorar para oferecer a notícia e,
também, ir além. É uma imposição que se coloca, da mesma
forma como eles tiveram que se adaptar ao surgimento do rádio e, depois,
da TV".
O jornalista Sandro Guidalli segue a mesma linha de pensamento. "Ainda
não se sabe a melhor resposta para esta pergunta, que é mais um
dilema do que uma simples indagação. Malabarismos de marketing
já foram testados de quase todas as formas sendo que ainda existe o
temor de que o conteúdo pago possa afugentar os leitores. Talvez isto
funcione para algumas publicações tradicionais não para os
portais mais generalistas. Há jornais americanos que cobram pelo seu
acesso online e obtiveram sucesso. Isso também depende da cultura e do
hábito de leitura de cada país. Ainda considero temeroso 'fechar' o
conteúdo no Brasil. A solução é encontrar outras saídas
para obter rentáveis fontes de recursos além da publicidade".
3.4.1 Trocando em bits II
Reunimos novamente alguns profissionais de comunicação para
debaterem o tema "Cobrança de Assinatura em Veículos Online".
Confira as opiniões:
Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Vocês
acreditam que o usuário de internet no Brasil vá pagar para ler
matérias jornalísticas na web?
Marcello Penna24: Acho que esse é um caminho inevitável. Para oferecer tudo o que o jornal impresso oferece e ainda mais algumas outras coisas, isso é imperativo...Só não dá para dizer em quanto tempo isso irá acontecer, nem como será feita essa "cobrança". As possibilidades são bastante variadas. Já existem algumas iniciativas de cobrança pelo conteúdo (Valor / Gazeta).
Curiosamente ambos jornais atuam especificamente no setor econômico, e apostam no fato de possuírem um conteúdo vertical para cobrar pelo acesso às informações. Não sei se dará certo...vamos esperar e ver. Outro modelo de cobrança pelo conteúdo é o UOL com a Abril e com a Folha de São Paulo. De todos os modelos, parece ser um dos melhores, pois mantém uma carteira de aproximadamente um milhão de clientes. Obviamente parte desses clientes paga pelo acesso, mas acredito que a maior parte está "comprando" o conteúdo. Sei que o UOL representa cerca de 10% das vendas de assinaturas mensais da Abril. Eu não tenho conhecimento de pesquisas dentro desse campo, mas acho que o caminho mais importante é que cada veículo identifique precisamente o perfil dos seus leitores e estabeleça uma relação contínua com eles. Mais do que qualquer pesquisa genérica, acredito que os próprios leitores é que poderão nos direcionar nesse processo.
Alexandre Fontoura25: É uma forma de sustentação. Acho que pode funcionar para notícias específicas, direcionadas, mas não para um jornal diário. A informação é gratuita.
Nilson Lage: Não sei. Pessoalmente, só pagarei em último caso. Acredito que essa seja a postura mais freqüente. E, se começarem a cobrar, sempre aparecerá alguém disposto a abrir uma página própria, acessar as páginas pagas (pagando, é claro) e reescrever rapidamente as matérias que lhe parecerem confiáveis. No caso, verei a página desse plagiário, até porque pode-se patentear a forma, não o conteúdo. E há muita gente acreditando, como Norbert Wiener, que a era da informação implica o acesso pleno e gratuito à informação.
Raphael Perret26: Claro que se todo mundo começar a fazer isso, acredito que sim. Por outro lado, enquanto houver uma opção gratuita, acho que os internautas vão preferir essa opção. O conteúdo pago só vai sobreviver se realmente valer a pena pagar por ele. Não basta pegar o mesmo conteúdo de hoje, fechar e avisar: "agora para nos ler você precisa pagar versus reais por mês". É preciso oferecer mais, para que o leitor perceba que, pagando, ele não terá apenas as notícias que ele achará em qualquer outro site gratuito, mas muitas outras vantagens, como, por exemplo, notícias exclusivas de jornais estrangeiros. As pessoas pagam o preço que acham justo. É questão de custo-benefício.
Suzana Barbosa27: Acredito que o modelo de conteúdo fechado seja uma tendência para aquelas publicações que tenham de fato conteúdos exclusivos e de grande interesse. O leitor/usuário vai pagar por algo que saiba que só vai encontrar em determinado site. Atualmente, os grandes jornais e alguns portais adotam a estratégia do conteúdo fechado - denominado prêmio - para algumas áreas do site, deixando outra parte do conteúdo aberto a qualquer usuário. Isso ocorre porque as empresas, para investir em qualidade de conteúdo e também em tecnologia, precisam de retorno financeiro - que não vem tão facilmente apenas com a publicidade.
Elisa Travalloni28: Pois é... Nos EUA e Londres, por exemplo, a tiragem de jornais impressos é muito maior do que a nossa. A variedade de publicações idem. Eles têm o hábito da leitura de jornais e revistas. Um jornal como o New York Times é referência, muitos querem continuar lendo, mesmo tendo que pagar por isso. Mas, isso pode não se refletir aqui. A primeira experiência foi com a Gazeta Mercantil, que fechou parte do conteúdo e não obteve muito sucesso, o que foi surpreendente, porque é um jornal específico, voltado para uma parte da população que precisa daquelas informações sobre o mercado financeiro. A tendência é que a cobrança seja feita como na Folha de São Paulo, em que o conteúdo impresso é fechado para assinantes (online ou não).
Elias Machado29: No campo da pesquisa científica não existe lugar para crenças ou futurologia. Se considerarmos a natureza dos sistemas de relações ou econômicos desenvolvidos nas redes digitais, podemos afirmar que cobrar pelo acesso aos conteúdos significa a menos criativa de todas as saídas. O futuro do jornalismo nas redes depende do desenvolvimento de modelos de negócio viáveis. Nos meios convencionais a publicidade viabiliza os empreendimentos. Na rede, cada vez mais o comércio eletrônico supre com a função cumprida pela publicidade antes. Quanto mais desenvolvido o modelo de jornalismo digital, menos se cobra do usuário pelo acesso aos conteúdos. A cobrança deve ser indireta. O melhor modelo de negócio insere o usuário no sistema de produção em vez de cobrar pelo acesso a conteúdos produzidos centralizadamente.
Marcus Mannarino30: O New York Times já aprendeu a usar alguns dos recursos que a tecnologia oferece, em seu próprio benefício comercial. Sua edição web já foi de acesso restrito aos americanos; depois foi aberta ao mundo, mas mediante assinatura; depois foi abandonada a assinatura, mas exigido o cadastramento.
E eles souberam usar o cadastramento. Passaram a identificar os leitores e rastrear o comportamento deles. E usaram essas informações para negociar com os anunciantes. Você, leitor brasileiro, ao entrar no site do New York Times, pode se surpreender ao ver um anúncio de empresa brasileira. Esse anúncio não é exibido para qualquer leitor, apenas para os brasileiros, por exemplo. Eles fazem isso: dão ao anunciante espaço publicitário para o público que o interessa. Isso tem muito valor. Buscaram na tecnologia um forte argumento comercial. E faturam com isso.
Acredito que a tecnologia será a força por trás de qualquer modelo de negócio para o jornal online.
O exemplo acima é mais comercial que editorial. E não passa pela cobrança ao leitor. Mas acredito que o leitor vá se interessar em pagar se houver valor agregado à notícia. Muita coisa pode ser feita em edições eletrônicas. O espaço para reportagens especiais está todo disponível e mal aproveitado. Os jornais podem investir em reportagens de fôlego, com produção de fotos e imagens, pois têm espaço para publicar. Cobrar por isso? Por que não? Se for possível identificar e atingir o público que tem interesse naquele conteúdo, cobra-se do leitor, uma quantia reduzida e ainda aproveita-se o potencial publicitário.
Arquivos de jornais: outra possibilidade. Em 50 anos, o acervo eletrônico acumulado será riquíssimo! E somar-se-á a este o material mais antigo, que for digitalizado conforme os custos desse processo caírem. Isso tudo terá um altíssimo valor. Hoje, poucos leitores utilizam os arquivos dos jornais.
Pudera, esses arquivos não foram feitos para o público - pelo menos no jornalismo brasileiro, porque os norte-americanos têm arquivos estruturados para atender ao público. São inúmeras as possibilidades, mas dependem da cultura dos editores, dos jornalistas, dos anunciantes, dos leitores. É preciso que o tempo e a ousadia mostrem os vários usos que o webjornal pode ter.
4 Jornalista da web: os novos desafios
"O que primeiro me surpreendeu foi o quase silêncio ali imperante, só perturbado por um tilintar mais agudo, o estridular de campainhas para mim inlocalizáveis ou pelo dialogar curto e sussurrante entre um jornalista e outro"31
Segundo alguns especialistas em comunicação, a internet, além de
causar uma revolução na produção de notícias, fez com
que o profissional de jornalismo tivesse a obrigação de aliar
conhecimentos técnicos com uma boa redação. Além do
processador de textos, hoje um jornalista para atuar na web precisa saber
também manusear editores de HTML32, programas de manipulação
de imagem, entre outros.
No livro "A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa
jornalística", de 2001, Nilson Lage dedica um capítulo exclusivo
para falar sobre as novidades no uso da "Reportagem assistida por computador
(RAC)". "Um computador - eventualmente, um portátil laptop - e uma conexão
com a internet possibilitam ao repórter acessar, de qualquer parte do
mundo, seus próprios arquivos ou milhões de banco de dados sobre os
mais diferentes assuntos"33. Nos EUA, o uso da RAC já está tão difundido pelo
exemplo do NICAR - Instituto para Reportagem Assistida por Computador - que
formou até o início de 1999, 12 mil repórteres para o uso
dessas novas técnicas34. E no Brasil, como nossos
profissionais absorveram as novas tecnologias?
"Muito da baixa adaptabilidade das publicações digitais às
demandas dos usuários decorre da falta de capacitação dos
profissionais. Desprovido dos conhecimentos específicos sobre a
natureza do meio, o jornalista fica sem condições de desenvolver
modelos inovadores de publicações. No jornalismo digital, mais que
dominar o texto, o jornalista tem que ter capacidade de produzir
conteúdos multimídia, adaptados a um ambiente em que o usuário
exige desempenhar uma função ativa ao longo do processo de
produção dos conteúdos. Caso desconheça as particularidades
do meio ou as exigências técnicas do suporte, nenhum profissional
pode apurar fatos no tempo padrão das redes, o tempo da
atualização permanente das notícias", revela Elias Machado
Gonçalves, professor e pesquisador de jornalismo da Faculdade de
Comunicação da UFBA.
Outros profissionais complementam o pensamento do professor Elias. Para
eles, o jornalismo online permitiu que o jornalista ampliasse suas
funções, sendo responsável não só pela parte escrita,
mas também pela edição e diagramação de reportagens.
Será que o jornalista da web poderá se tornar um profissional de
comunicação mais completo?
"Claro. Nunca tive o menor problema de gravar imagens, fazer perguntas,
ouvir os entrevistados, escrever textos, editar minhas matérias e
apresentá-la para o público. Também creio que é um direito
de um jornalista ou comunicador ser um especialista, ou seja, um
repórter que só escreve sobre economia para um jornal impresso. O
problema é que ele estará limitando suas chances de trabalho e sua
'empregabilidade'. Mas é uma questão individual. Assim como o
talento, não se pode exigir uma única forma de trabalho em
jornalismo", revela Antônio Brasil, professor de telejornalismo e
coordenador do Laboratório de TV da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ).
O professor Elias Machado ressalva um ponto importante nesta discussão.
"A ampliação das atividades do jornalismo, devido ao aumento da
complexidade da tecnologia, vem de longe. Não é fato específico
do jornalismo digital. A partir da entrada dos computadores nas
redações, o jornalista teve que assumir muitas das funções
dos revisores ou mesmo dos subeditores ou copy-desks".
Em seu livro, Lage relata que "qualquer observador dirá, sem
esforço, que a introdução dos computadores modificou bastante a
prática do jornalismo. Alguém que estude bem o assunto, no entanto,
concluirá que essa modificação é mais profunda do que parece
à primeira vista e que o processo de mudança está longe de
terminar: na verdade, promete tornar-se permanente"35.
E o professor Lage tinha razão. O uso do computador aliado a uma
ferramenta de comunicação poderosa como a internet permitiu que as
empresas jornalísticas produzissem, com menor custo e numa maior
velocidade, uma grande quantidade de notícias. No entanto, o jornalista
Sandro Guidalli aponta um problema desta nova tendência para os
profissionais. "O problema está 'apenas' no fato de que passamos a
apurar e a investigar menos para editar e diagramar mais".
Então, como fica o jornalista nesta história? "Isto aconteceu em
toda a profissão com a introdução dos computadores.
Desapareceram figuras como os revisores e os profissionais que calculavam o
tamanho dos textos. Na Internet ou fora dela há jornalistas
repórteres, redatores, editores e projetistas gráficos", diz Nilson
Lage.
Outros profissionais, por estarem atuando diretamente na web, apontam a
tendência da maior interação com os novos diagramadores,
chamados de webdesigners36.
"Ainda vejo como um trabalho integrado com os outros profissionais. Se eu
fizer uma matéria especial, com outros links, com imagens, gráficos,
vou passar tudo isso para o designer e comentar com ele qual é o teor da
matéria. Posso sugerir uma imagem, ou formato, posso também
discordar sobre a cor, fonte, layout e pedir outra coisa, mas é um trabalho de
equipe, a responsabilidade deve estar dividida. A minha responsabilidade
final é com a matéria. No meu caso, como editora, sim, fico
responsável por tudo, porque dou a palavra final", explica Elisa
Travalloni, editora do JB Online.
A jornalista Luciana Moherdaui segue a mesma linha de pensamento de
Travalloni e acrescenta um aspecto importante. "O jornalista da Web se
habituou a pensar multimídia e a trabalhar em conjunto com o
webdesigner e o técnico na edição de suas reportagens. O
jornalista Luciano Martins fala sobre isso em meu livro: 'O importante, como
ressalta o jornalista e escritor Gabriel García Márquez, é
saber contar bem a história. Ele quer dizer que cada fato impõe seu
próprio estilo, e eu acrescento que, no caso da Internet, cada
história a ser contada impõe também o recurso tecnológico
mais adequado. Precisamos ter repórteres que se habituem a pensar de
maneira abrangente, multimídia, e que saibam trabalhar em parceria com
o desenhista do ambiente onde a história vai ser exibida e com o
técnico que vai operar os recursos de edição e
exibição'."
4.1 Webwriter: uma nova profissão ou função?
Assim como os diagramadores se tornaram webdesigners na internet, há uma forte
tendência no jornalismo digital, oriunda de especialistas americanos
como Crawford Killian, autor do livro "Writing for the Web", em se adotar o
termo webwriter para os profissionais que produzem conteúdo para web.
No Brasil, o jornalista e publicitário Bruno Rodrigues, editor de
conteúdo do site da Petrobras, é um dos maiores especialistas no
assunto. Seu livro "Webwriting - Pensando o texto para mídia digital",
lançado em 2000 pela editora Berkeley, tem causado profundas
discussões sobre os novos questionamentos que o jornalista enfrenta na
internet e a necessidade de se criar um termo específico para designar
tais profissionais.
Em seu livro, Bruno Rodrigues traz alguns questionamentos sobre a
prática do webwriting: "Existem muitas definições, mas a melhor delas
apresenta o webwriting como um 'conjunto de técnicas para a distribuição
de conteúdo em ambientes digitais'... Escrever para web é uma arte,
que, até pouco tempo, enfrentava problemas. O jornalismo online diário foi
o primeiro a utilizar o conceito de webwriting, mas o fez com tanta urgência -
típica do meio - que, tão logo nasceu, o ato de escrever para web
foi do artístico ao rápido. Foi um parto prematuro (ainda que
necessário)..."37.
Entre essas correntes de pensamento, o professor Nilson Lage parece trazer a
melhor definição sobre o assunto. "Jornalista é jornalista, na
web ou fora dela. Pessoalmente, não aprecio a especialização por
veículo como formação básica. A convergência
tecnológica (a universalização do computador como ferramenta)
marcha a favor da minha posição".
4.1.1 Trocando em bits III
No terceiro Trocando em bits, reunimos novamente alguns profissionais para discutirem qual o
melhor termo a ser utilizado: "Jornalista da Web ou Webwriter?".
Assim como os diagramadores se tornaram webdesigners na
internet, há uma forte tendência no jornalismo digital, oriunda de
especialistas americanos como Crawford Killian, autor do livro "Writing for
the Web", em se adotar o termo webwriter para os profissionais que produzem
conteúdo para web. Vocês concordam com esta visão?
Bruno Rodrigues38: Sim. Assim como o trabalho dos webdesigners vai muito além do trabalho dos diagramadores de mídia offline, o trabalho dos webwriters não é apenas pensar o texto, mas a informação em suas diversas formas, seja ela uma foto, um selo, um ícone etc. O webwriter não é somente um redator, mas sim o profissional que pensa a distribuição de conteúdo informativo pelas diversas 'camadas' de um website. É uma atividade muito mais cerebral que técnica. Há diferenças fundamentais entre o comportamento das informações nas diversas mídias, sim - e não apenas entre o jornal offline e o online, por exemplo, mas entre o rádio e a revista, entre a TV e o vídeo. Não perceber estas diferenças é resistir à diversidade de raciocínios, não acompanhar o comportamento da informação em cada nova mídia que surge.
Vicente Tardin39: A preferência pelo termo webwriter ou redator de web não é assim tão importante. O profissional que escreve para a web pode ser associado a profissionais de redação de outras áreas, mas parte de seu trabalho assume características próprias, exclusivas da internet. .
Daí a criação de uma palavra nova (webwriter), para distinguir o profissional que trabalha exclusivamente escrevendo para a web do redator de publicidade ou do jornalista, por exemplo.
Nem todo redator de internet é um jornalista. Jornalistas que escrevem para a internet normalmente usam certas normas de redação para a internet estabelecidas por seus veículos (é importante lembrar que estas regras ou conceitos não são absolutas. Sites de notícias são diferentes de sites de artigos, por exemplo).
Voltando ao webwriting, utiliza-se o termo em inglês talvez porque é menor e define de modo sucinto a função deste profissional, ou seja, alguém que escreve para a web. Eu prefiro o termo redator especializado em internet. Mas no passado já tivemos outros termos do inglês incorporados ao jornalismo, como repórter.
Alguns webwriters e criadores de conteúdo preferem se apresentar simplesmente como redatores, o que é mais elegante, de certa forma.
Cristina Dissat40: Acho que o termo dá margem a outras interpretações. Não sou contra terminologias em inglês. Não é esse o caso. Mas acho que não fica claro para quem não é do meio. Também acho horrível o termo conteudista. Talvez uma mistura do inglês com o português, como webjornalista, pudesse cair melhor.
Raphael Perret41: Olha, o que acontece é que na web não é só jornalista que escreve na internet. Como ainda não há uma categorização dos papéis profissionais na web - repare que há webdesigners que são designers de formação, ou publicitários, ou pessoas que fizeram um curso de duas semanas, ou mesmo autodidatas - não há, de fato, uma classificação, um nome próprio para quem escreve na web.
Você pode confrontar com o clássico "webdesigner". Porém, repare que o
"designer" já é um termo muito utilizado na nossa língua. Parece que não encontrou um similar em português ("desenho" não retrata bem o amplo significado de "design"), e ficamos com ela mesmo. Mas "writer" pode virar "escritor" ou "redator" tranqüilamente. O "web", por sua vez, também pode ficar no inglês.
Em suma, acho que um novo termo pode ser usado, sim, para designar quem escreve para a web.. Mas "webwriter", em português, não é uma boa escolha, porque podemos aproveitar as palavras "escritor" e "redator". Por que não "redator web"?
Elisa Travalloni42: Acho que jornalismo é jornalismo independente do meio em que você trabalha. Isso significa que você vai pensar em pautas, apurar, escrever (falar) e publicar. Há um processo comum a todos os profissionais que lidam com jornalismo. Por isso, descarto definições como webwriting e afins... É claro que, trabalhando na internet, o profissional vai se deparar com procedimentos e técnicas diferentes das do jornal impresso, televisivo ou do rádio. No site, o profissional vai ter que lidar com outra forma de apresentar seu trabalho, vai ter noções de programas de edição de imagem, de som, vai ter noções de HTML e se quiser, até de programação. Numa equipe pequena como a do JB Online, nós acabamos por fazer um pouco de tudo, para agilizar o trabalho e não sobrecarregar. Mas isso não é ideal, cada empresa deve procurar achar um equilíbrio.
4.2 Fontes de Estudo
Por ser uma prática ainda recente, o jornalista que trabalha com a
notícia digital ainda não conta com farto material (livros,
pesquisas, centros de estudos) para se aprofundar no tema.
Este quadro deverá ser revertido pelos centros acadêmicos do
país que nos últimos cinco anos passaram a adotar disciplinas
específicas sobre o assunto. Os bons exemplos nesta área são a
Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e o Centro
de Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (RS). Este assunto será tratado de forma aprofundada no
capítulo 6.
Assim, apesar do pouco material didático disponível e a recente
adoção do tema nas universidades, o jornalista digital conta com
algumas alternativas para conhecer e discutir as novas tendências de sua
profissão. Hoje, uma das melhores fontes são os sites voltados
especificamente para o jornalismo digital, como o Jornalistas da Web e o
Comunique-se.
Criado em 28 de fevereiro de 2000 pelo jornalista Mário Lima Cavalcanti,
o site Jornalistas da Web (www.jornalistasdaweb.com.br) representa um importante
banco de dados reunindo notícias, artigos, entrevistas e pesquisas
envolvendo o jornalismo online. O site é membro filiado da "MediaChannel, uma
organização de interesse público, sem fins lucrativos, que
congrega uma rede de mais de 700 grupos e entidades de todo o mundo
dedicadas ao jornalismo e ao estudo da mídia e seu papel perante a
sociedade".
Já o Comunique-se (www.comunique-se.com.br), lançado em
setembro de 2001, "traz notícias de bastidores do mercado
jornalístico brasileiro, coloca em discussão aspectos práticos
e éticos da profissão, além de fornecer ferramentas de apoio
para o trabalho diário dos jornalistas de todo o país". O site
conta ainda com uma coluna específica sobre jornalismo online, assinada
por Mário Lima Cavalcanti, do Jornalistas da Web.
Além dos sites, outra boa fonte de estudo são as listas de
discussão por e-mail, que permitem a troca de experiências entre os
profissionais que já estão no meio e para os que ainda pretendem
entrar neste novo mercado.
4.2.1 Listas de discussão: o código aberto do
jornalismo online
Diante dos novos desafios e do surgimento de um novo campo de trabalho, o
jornalista precisa recorrer a fontes de estudos que lhe forneçam
ferramentas para o conhecimento. Como exemplo, recorremos à
informática, onde é comum os profissionais de tecnologia da
informação criarem listas de discussão para trocarem idéias
sobre os principais problemas e as tendências no mercado de software,
hardware, servidores etc.
Hoje, essa realidade não é diferente no jornalismo virtual. As
listas de discussão por e-mail ganham a cada dia mais importância
devido a possibilidade do jornalista trocar experiências e idéias
com outros profissionais do meio, possibilitando sua atualização
sobre as últimas tendências do mercado e de se descobrir novas
formas para se produzir notícias.
Venho acompanhando desde abril de 2002 a lista do site Jornalistas da Web.43
Criada em fevereiro de 2001, já conta com mais de 800 assinantes, que
chegam a trocar 300 mensagens por mês. A seguir, alguns dos assuntos
discutidos neste período:
Conteúdo pago vs. Gratuito
Em julho deste ano, a versão eletrônica do jornal O Globo apresentou uma
pesquisa que, entre as perguntas, questionava se o usuário pagaria taxa
para acessar o conteúdo do site.
Na lista, as opiniões ficaram divididas. Uma corrente alertou que tal
postura ocasionaria perda de visitantes, pois outros sites ofereceriam o
mesmo material gratuitamente (alguns citaram o exemplo do
Napster44 e a criação de seus "genéricos" e Gnutella, Kazaa, entre outros).
Outra parcela de assinantes destacou a tendência crescente de
cobrança, como no caso da TV aberta versus TV a cabo": o telespectador
paga por um conteúdo mais específico e segmentado.
Trabalho sem remuneração
A lista recebe mensagens oferecendo oportunidades de emprego e estágios
na área. Uma dessas mensagens causou grande discussão: um assinante
postou a oferta de um site que oferecia vaga a jovens jornalistas, mas sem
pagamento. Muitos lamentaram a falta de valorização profissional em
empregos deste tipo, e outros contra-argumentaram: vale a pena escrever em
troca da visibilidade e da chance de fazer novos contatos no meio
jornalístico.
Regras para textos online
É comum aparecerem mensagens de novos usuários procurando saber
quais são as ferramentas necessárias para a boa prática do
jornalismo online. Um ponto positivo observado foi que os assinantes mais
antigos prontamente se apresentaram para reforçar uma idéia que
parece unânime: a redação para web ainda não tem padrão
definido.
Boas sugestões foram levantadas, como destacar links no meio das
notícias, usar títulos em negrito e chamativos para atrair a
atenção do usuário, entre outros. A principal apontava para a
necessidade da experimentação de novos modelos para se descobrir o
real interesse do visitante.
Tecnologia dos sites de notícias
A lista discutiu também o uso de novas tecnologias para o
aperfeiçoamento do design de portais de notícias. Usar ou não
animações Flash45?
E javascript46? Colocar notícias em janelas
pop-up47? Qual a preferência do navegante? Uma forte tendência
entre as empresas é que no currículo do jornalista da web conste a
expertise no uso das novas linguagens de construção de sites.
Neste exato momento outros assuntos já devem estar em pleno debate na
lista. Se antes o modelo de jornalismo estava preso a manuais de estilo e de
redação (geralmente revisados de dois em dois anos), hoje as listas
de discussão representam importante recurso de atualização para
os profissionais que desejam se especializar no jornalismo pela internet.
É importante ressaltar que ainda não existe um estilo-padrão de
jornalismo online. Talvez este seja o motivo do sucesso das listas e do crescente
número de adeptos.
Listas de discussão sobre jornalismo online
-
GJOL Facom <http://www.facom.ufba.br/jol/listas.htm>
- Jornalistas da Web <http://www.jornalistasdaweb.com.br/index.asp?Nav=lista>
- Poynter.org <http://www.poynter.org/forum/listsannounce.htm>
5 Leitores da Web
O último levantamento do instituto de pesquisas Ibope eRatings revela que a internet
brasileira registrou no mês de outubro mais de 14 milhões de
usuários domésticos brasileiros48. No entanto, deste total somente a metade, ou seja,
cerca de 7 milhões, acessa a rede pelo menos uma vez por mês (os
chamados internautas residenciais ativos).
Outro levantamento do instituto Ibope eRatings, desta vez do mês de setembro deste
ano, aponta que os internautas do país navegam, em média por
mês, 10 horas e 16 minutos. Se comparados com dados do ano de 2000, no
qual apontavam uma média de oito horas e sete minutos, o brasileiro
gasta duas horas a mais de navegação na grande rede49.
Assim, nesse universo a cada minuto maior, a chave do sucesso para uma longa
vida dos veículos online pode estar na definição do perfil de leitor
de suas publicações. Um dos principais indícios desta
tendência está no fato que os principais portais brasileiros
estão realizando pesquisas, principalmente nos dois últimos anos,
para se apontar as preferências de seu público-alvo.
"Posso falar um pouco sobre a visão da base de leitores do JB Online
(são cerca de 500 mil visitantes únicos por mês). Classe Social:
81% A/B, 15% C, 4% D; Idade: 60% 20/49 anos, 18% 50/64 anos,
10% 65 anos ou mais, 12% de 10 a 19 anos; Grau de Instrução:
62% Superior, 26% Segundo Grau, 12% Primeiro Grau", revela o
diretor de marketing do JB Online, Marcello Penna.
E esta preocupação é pertinente, pois o internauta brasileiro
absorve bem a idéia do noticiário via web. Pesquisa recente
realizada pelo site QualiBest, com 462 entrevistados, revela que 82%
preferem ler notícias pela internet. Os jornais impressos ficaram com
69% da preferência dos leitores50.
Em outra medição do instituto de pesquisa Ibope eRatings, realizada em junho de
2002, diz que os sites de notícias da internet tiveram, em um ano, um
ganho real de 69% com relação a quantidade de leitores, passando
de 1,226 milhão para mais de 2,8 milhões de internautas. Para se ter
uma idéia, os sites que investiram na cobertura em tempo real da Copa do
Mundo de 2002 aumentaram seus acessos em 327%. O estudo revela ainda que
37,75% dos internautas ativos entraram em sites de notícias. Se
compararmos esse percentual com os índices de países europeus,
como a Espanha (26,10%) e o Reino Unido (26,59%), os veículos
online brasileiros poderão ter um futuro próspero.
5.1 Pesquisa Online
Entre os meses de setembro e outubro deste ano, foi realizada uma pesquisa
online com intuito de traçar - para este presente estudo - um perfil
comparativo dos leitores de jornais impressos e jornais online.
O questionário da pesquisa foi publicado no endereço
<http://www.jornoline.hpg.ig.com.br> e a divulgação foi
baseada na troca de e-mails. As seguintes perguntas foram
disponibilizadas no formulário virtual:
- Estado:(campo aberto)
- Idade:
( ) Até 15 anos
( ) De 16 a 24 anos
( ) De 25 a 30 anos
( ) Acima de 31 anos
- Escolaridade:
( ) 2o Grau Incompleto
( ) 2o Grau Completo
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo
( ) Mestrado/Doutorado
- Quantos jornais impressos você lê?
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) mais de 3
- Quais jornais impressos você costuma ler? (Pode marcar mais
de uma
opção)
( ) Jornal do Brasil
( ) O Globo
( ) Folha de SP
( ) O Dia
( ) O Estado de SP
( ) Zero Hora
( ) Correio Braziliense
( ) Outros: _______
- Com que freqüência você costuma ler um jornal
impresso?
( ) Diariamente
( ) Cinco vezes por semana
( ) Três vezes por semana
( ) Só nos finais de semana
( ) Quinzenalmente
( ) não lê jornais impressos
- Em qual lugar você costumar ler um jornal impresso?
( ) Casa
( ) Trabalho
( ) Universidade
( ) Colégio
( ) Biblioteca
( ) Livraria
( ) Ônibus/metrô
- Quantos jornais online você lê?
( ) 1
( ) 2
( ) 3
( ) mais de 3
( ) não lê jornais online, somente impressos
- Quais jornais online você costuma ler? (Pode marcar mais de
uma opção)
( ) JB Online
( ) O Globo Online
( ) O Dia Online
( ) Folha de SP Online
( ) O Estado de SP Online
( ) Zero Hora Online
( ) Correio Braziliense Online
( ) Último Segundo
( ) Outros: _____
- Qual freqüência você costuma acessar um jornal
online?
( ) Diariamente (Manhã, tarde, noite)
( ) Diariamente (Manhã e tarde)
( ) Diariamente (Tarde e noite)
( ) Diariamente (Manhã e noite)
( ) Cinco vezes por semana
( ) Três vezes por semana
( ) Só nos finais de semana
( ) Quinzenalmente
- De que lugar você costumar acessar e ler um jornal online?
( ) Casa
( ) Trabalho
( ) Universidade
( ) Colégio
( ) Biblioteca
( ) Cibercafé
5.2 Resultados
A maioria dos entrevistados está localizada no Rio de Janeiro
(68%). Os outros estados em destaque foram São Paulo
(14%), Bahia (5%) e Minas Gerais (4%).
No item Escolaridade, 95% dos entrevistados apresentaram
formação superior: 44% têm grau superior completo,
40% superior incompleto e 11% com Mestrado/Doutorado.
No item Faixa Etária, o público da pesquisa foi bem
diversificado: 42% estão entre 16 a 24 anos, 31% entre
25 a 30 anos e 27% acima de 31 anos.
Em relação a leitura de jornais impressos, a pesquisa
revela que o veículo continua tendo boa aceitação
entre leitores. Apenas 1% dos entrevistados respondeu a
opção "não lê jornais impressos". Quarenta por
cento disseram ter hábito de ler "um" jornal, 31%
responderam "dois", 18% "mais de três" e 10% responderam
"três".
No item "jornais impressos mais lidos", onde poderia ser escolhida
mais de uma opção, o jornal carioca O Globo, com 31% da
preferência, foi o mais votado. Em seguida, aparecem o Jornal
do Brasil (18%), Folha de São Paulo (17%) e a
opção Outros Jornais (16%). Neste item, os
entrevistados poderiam apontar qual o jornal de sua
preferência que não constava dentre as opções
oferecidas.
Com relação à freqüência de leitura, a maior
parte dos entrevistados (47%) revelou hábitos de leitura
diária de um jornal impresso. A surpresa ficou por conta do
alto índice para o item "só nos finais de semana", que
foi apontado por 24% dos entrevistados e ficou como a segunda
opção de maior marcação.
A surpresa no item hábito de se ler jornais impressos "só
nos finais de semana" pode ter a explicação com os
resultados da sétima pergunta. Sessenta e seis por cento dos
entrevistados apontaram a opção "casa" como o lugar de
costume para leitura. Em segundo lugar, aparece a opção
"trabalho" (22%). Neste item, nenhum entrevistado assinalou a
opção "livraria".
Na oitava pergunta da pesquisa, as opiniões ficaram divididas.
Trinta e três por cento revelaram a leitura de "mais de
três" jornais online. Em seguida, aparecem empatadas,
com 23%, as opções "um" e "dois". Doze por cento
escolheram a opção "dois" jornais. No entanto, 9% dos
entrevistados escolheram a opção "não lê jornais
online, somente impressos". Se comparado com a mesma opção
da pergunta semelhante em relação aos jornais impressos,
apenas 1% dos entrevistados respondeu a opção "não
lê jornais impressos".
Com relação aos veículos online de maior preferência, novamente
um jornal produzido pelas Organizações Globo aparece na frente:
28% dos entrevistados apontaram o jornal O Globo Online como o veículo
mais lido. É preciso lembrar que nesta pergunta também foi permitido
se marcar mais de uma opção.
Na segunda, terceira, quarta, quinta e sexta posições
ocorrem trocas na preferência dos leitores, isso se
compararmos com a preferência apontada pelos jornais impressos
(Jornal do Brasil - 18%, Folha de São Paulo - 17%,
Outros Jornais - 16%, O Dia - 11% e Estado de São Paulo
- 6%). Desta vez, a Folha de São Paulo Online foi
escolhida por 17%, o JB Online aparece com 15%, O
Estado de S.Paulo Online com 11%, Outros Jornais
Online com 10% e O Dia Online com 9%.
A décima pergunta revela que o leitor da web costuma acessar diariamente
os jornais online: 62% dos entrevistados revelaram tal tendência. A
periodicidade, no entanto, ficou dividida: 24% acessam no período
"manhã e tarde"; 22% apontaram a opção "diariamente
(manhã, tarde e noite)"; e 16% escolheram a opção
"diariamente (tarde e noite)".
Se não acessa diariamente um jornal online, 17%
dos entrevistados revelaram o hábito de acessá-lo pelo
menos três vezes na semana. A opção "só nos finais
de semana", bem cotada no hábito de leitura dos jornais
impressos, foi apontada por apenas 4% dos entrevistados.
Na décima primeira pergunta, ocorre novamente uma troca de
posição se compararmos os resultados com os índices obtidos em
relação aos jornais impressos. Sessenta e oito por cento dos
entrevistados escolheram a opção "trabalho" como o lugar de costume
para acessar um jornal online. Em segundo lugar aparece a opção "casa" com
27%. Nesta pergunta, as opções "colégio" e "biblioteca"
não foram marcadas por nenhum dos entrevistados.
5.3 E-mail: aumentando a interatividade com o leitor
O correio eletrônico é um dos recursos de internet que deve se
tornar uma das maiores ferramentas para a chamada interatividade entre
veículo e leitor. Se antes o leitor era "marginalizado" a seção
de "Cartas dos Leitores" nas versões dos impressos, hoje a
publicação de um endereço eletrônico representa a abertura
de um canal direto com o produtor da notícia.
Neste ano, a versão impressa do Jornal do Brasil, de maneira
inédita, trouxe uma grande novidade ao disponibilizar no final de cada
matéria assinada o e-mail correspondente ao jornalista que produziu a
notícia.
Mas um leitor de um grande jornal participa efetivamente, seja criticando
e/ou elogiando, as matérias publicadas diariamente? "Tenho alguma
dificuldade em responder à sua pergunta sobre a participação dos
leitores, porque uma seção especial da redação é que
cuida das cartas. Sei que vêm muitas cartas, e de todo tipo. Para
publicação há um processo de seleção e edição.
Agora, com a novidade de se publicar e-mails dos jornalistas, está
aumentando bastante o número de pessoas que escreve. Esse contato direto
tem enorme importância, porque solidifica a relação do leitor
com o jornal. Mas certamente, no futuro, vamos ter que ver como administrar
melhor a questão, porque é impossível prender o pessoal que
assina matérias algumas horas por dia para responder a e-mails", diz o
jornalista Cid Benjamin, subeditor da editoria Brasil da versão impressa
do Jornal do Brasil.
O diretor de marketing do JB Online Marcello Penna afirma que o conceito de
comunidade é um dos segredos para alcançar uma boa interatividade
com o leitor. "Um dos maiores valores da internet é a interação.
A web é na sua concepção, um negócio de 'gueto', de 'turma',
de 'comunidade'. O jornalismo tradicional sempre conservou um certo
distanciamento dos leitores, até mesmo para poder garantir o seu
posicionamento de isenção nas suas notícias. O webjornalismo se
vê nessa encruzilhada - entre manter essa distância e abrir
espaço para os seus leitores interferirem no conteúdo. Te confesso
que é um dilema bastante interessante, e aqui no JB Online nós
freqüentemente discutimos essa questão. Tem uma corrente, por
exemplo, que defende a existência de um "mural" abaixo de cada
notícia, para que os leitores possam dar a sua opinião e interagir
com a notícia e entre eles. Tem um outro lado - mais conservador - que
tem medo de alguns leitores escreverem besteira e desencadearem uma onda de
reclamações, de discussões inócuas. De qualquer forma,
mantemos uma aproximação com os nossos leitores. Eu pessoalmente
respondo cerca de cinco e-mails diários de leitores", revela.
Já o jornalista Sandro Guidalli alerta para o perigo da
saturação em se disponibilizar diversos canais de interatividade. "O
internauta e o leitor brasileiros adoram trocar correspondências e
são bastante interativos. Resta tomar cuidado para não saturá-lo
com inúmeros canais de comunicação que podem enjoá-lo e
causar embaraços para o veículo", diz.
5.3.1 Fala Leitor
Entre julho e agosto deste ano, o site Nomínino.com.br lançou de
forma pioneira na web a coluna "Fala Leitor", assinada pelo jornalista
Salomão Antunes. Nela, ele apresenta e responde com bom humor e
irreverência as principais mensagens eletrônicas enviadas pelos
leitores sobre os textos publicados pelo veículo. Confira uma
entrevista com Antunes, que revela mais detalhes sobre a iniciativa.
- Na apresentação da nova coluna Fala Leitor, você é
descrito como cria de Zuenir Ventura na revista Visão. Você poderia
nos contar um pouco da sua história no jornalismo?
Antunes: Tive uma passagem pela revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand,
ainda como estagiário, em meados dos anos 60. Ali tomei gosto pela
reportagem. Mas o que determinou mesmo minha trajetória foi o encontro
com Zuenir Ventura na revista Visão, naquela mesma década. Acho que
ali adquiri o senso crítico e o gosto pela opinião,
características muito valorizadas na época devido à conjuntura
de restrições políticas. Posso dizer que, daí em diante,
sempre exerci o jornalismo de maneira crítica e, sempre que
possível, opinativa.
- Você se considera o primeiro ombudsman virtual brasileiro?
Antunes: Não sei se sou exatamente um ombudsman. É claro que tenho
total independência em relação aos colunistas de NoMínimo,
o que me permite eventualmente criticá-los. Mas minha função
principal é estabelecer um diálogo com o leitor, procurar fazer com
que ele próprio pense no que escreveu e se sinta responsável por
isso. Muitas vezes os leitores, por subestimarem sua própria
importância, mandam suas mensagens a esmo, como se fossem garrafas ao
mar.
- Como surgiu a idéia de se criar a coluna Fala Leitor? Há alguma
influência da seção "Cartas dos Leitores" existente em jornais e
revistas?
Antunes: A idéia do Fala Leitor surgiu exatamente pela carência
deste tipo de seção na internet. Interatividade é um conceito
mais falado do que exercido. A coluna pretende ser um passo adiante ao
estilo unidimensional das seções equivalentes na mídia
impressa.
- Quantas mensagens eletrônicas a coluna recebe por dia? Quais são
os assuntos mais comuns?
Antunes: O NoMínimo está completando três meses de
existência, e a audiência tem crescido em média 50% ao
mês. Os e-mails também chegam em quantidade crescente para todas as
colunas. Para se ter uma idéia, tenho respondido a menos de um quinto de
tudo o que chega. Os assuntos variam de acordo com as colunas publicadas.
Pode ser do Rubinho Barrichello ao rap, passando pela sexualidade das
mulheres de 30.
- Há alguma linha editorial para responder os leitores?
Antunes: A linha editorial é a linha do meu pensamento. Não há
preocupação em devolver ao leitor uma verdade acabada sobre o que
ele aborda. O negócio é somar idéias.
- O leitor tem sempre a razão?
Antunes: O leitor nem sempre tem razão, mas é preciso captar as
razões que o levam a se manifestar. Às vezes, é quase como um
divã. O leitor deve ser respeitado sempre, mas leva puxão de orelhas
quando exagera na agressividade ou na falta de nexo.
5.4 Fim dos jornais impressos?
Quando o rádio surgiu, muitos profissionais de comunicação
acreditavam numa possível extinção do jornal impresso. Anos
depois, a televisão surgiria como um grande veículo de massa e
esses mesmos profissionais passariam a apostar na decadência, em
conjunto, do rádio e do jornal como fontes de informação.
Hoje, alguns dos "pensadores" contemporâneos acreditam que a longa e
tão anunciada morte dos jornais impressos - parece até o enredo do
famoso samba de Nelson Sargento, "Agoniza mas não morre" - será
determinada pelo poder de disseminação informativa contido na
tecnologia de internet. Será?
Se depender dos leitores da Folha de S.Paulo, há espaço para os dois
meios de comunicação e, preferencialmente, para os jornais
impressos. Sobre este assunto, em agosto de 2002, o instituto Datafolha
divulgou os resultados de uma pesquisa realizada entre os dias 15 e 25 de
julho com 354 leitores da região metropolitana de São Paulo. Nenhum
dos entrevistados apresentou interesse em deixar a assinatura do jornal
impresso devido a existência da versão online.
Perguntados ainda sobre a preferência de se consultar jornais em papel
ou em computadores, 80% dos entrevistados admitiram a preferência
pela versão impressa da Folha. 17% ficaram com a versão online e
3% não apontaram um veículo preferido51.
As principais vantagens apontadas pelos leitores na versão impressa
foram: poder ler o jornal em qualquer lugar (31%); visualização
do jornal inteiro (17%); reportagens mais aprofundadas (17%) e leitura
menos cansativa (7%)52.
Em agosto de 2001, durante o 3o Congresso de Brasileiro de Jornais,
realizado no Rio de Janeiro, o instituto Datafolha divulgou o resultado de
uma pesquisa com 1.605 pessoas no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto
Alegre, Recife e Brasília53. Cinqüenta por cento dos entrevistados apontaram
os jornais impressos como o meio de comunicação mais utilizado para
se manter informado. Os motivos principais para escolha foram "pode ser lido
em qualquer lugar", "notícias confiáveis" e "conteúdo
abrangente"54.
O fator credibilidade ainda pesa sobre a escolha dos jornais impressos. Na
pergunta "Em qual dessas instituições você mais acredita?", o
Datafolha apresentou diversas instituições como opção de
escolha, dentre elas, emissoras de TV, emissoras de rádio, revistas,
congresso, partidos políticos, governo, entre outros. Os jornais
impressos foram apontados por 15% dos entrevistados e ficaram em segundo
lugar. Já a internet foi apontada por apenas 5%55.
Um outro bom exemplo da credibilidade dos jornais impressos entre os
leitores foi o sucesso de vendagem das edições especiais dos grandes
jornais durante o dia 11 de setembro de 2001, data marcada pelos ataques
terroristas contra as torres do World Trade Center e do prédio do
Pentágono, ambos localizados nos EUA. O jornal O Globo, por exemplo, teve sua
tiragem de 30 mil exemplares vendida rapidamente, segundo depoimento de
jornaleiros cariocas56.
5.4.1 Trocando em bits IV
Em 13 de setembro deste ano, foi realizado na Universidade Veiga de Almeida,
no Rio de Janeiro, o 3o Seminário de Jornalismo Online. Estiveram
presentes quatro profissionais de diversos campos de atuação no
jornalismo para discutir as novas tendências em curso na área.
Uma passagem na palestra da editora do JB Online, Elisa Travalloni, foi a
que causou maior surpresa entre o público e serviu de pauta para o
quarto encontro do Trocando em bits. Confira:
No último seminário sobre Jornalismo Online aqui no
Rio de Janeiro, a editora do JB Online, Elisa Travalloni, afirmou que muitos
colunistas do JB acreditam que a versão eletrônica do jornal é a
responsável pela queda das vendas do impresso. Vocês concordam com
esta afirmação?
Leandro Mazzini57:
Conheço a Elisa e sei que ela não falou por mal, ela é uma boa profissional. Cada um tem sua interpretação da crescente onda web. Como a TV versus rádio, o online não vai acabar com o impresso, com certeza, Luis Fernando. O interessante, hoje, é o novo leitor que se forma: você não deixa para ler amanhã no impresso o que pode ler hoje na web. Mas o impresso tem uma característica fundamental que o distingue: ele te dá tempo para aprofundar a apuração sobre um fato, e o online exige rapidez: daí eu te falar que existe na web um noticiário, e não jornalismo.
Alexandre Fontoura58: Eu estive lá com a Elisa. No primeiro seminário sobre JOL, fui representando o JB. Isso pode acontecer sim, mas não é muito significativo. Não sei precisar sobre números. Existe o bom jornalista. Onde ele vai escrever é outra história. Nesse momento, a Elisa falou sobre um colunista específico, mas preferiu não citar o nome.
Sandro Guidalli59: De forma alguma. Leitores fiéis de jornais impressos jamais deixarão de comprá-los nas bancas só porque podem ter acesso a eles pela Web. Naturalmente o número de novos leitores dos jornais impressos pode vir a cair com a evolução da Web. Mas daí a dizer que as versões virtuais destas publicações prejudicam o meio impresso é um mero chute.
Elisa Travalloni60: Precisamos ter uma pesquisa séria. Acho que não dá para afirmar isso sem que seja comprovado. É claro que muitos preferem ler na internet a fazer uma assinatura. Mas é a maioria? Você deixaria de ler o jornal de domingo na mesa do café para ler no computador? Eu que trabalho com isso, não mudaria meus hábitos. O jornal impresso é móvel, você leva para qualquer lugar... Já o online não, pelo menos por enquanto. Mas, entendo a preocupação do impresso. O que deveria haver é maior integração dos dois veículos, para se complementarem. Um chamando o leitor para o outro veículo.
Leão Serva61: Isso pode ser verdade no caso específico do Jornal do Brasil (não sei) e de outros jornais do mundo. Os veículos que perdem circulação para a internet não souberam responder aos novos desafios. Ou seja: a tevê não matou o jornal, mas forçou uma mudança no conteúdo e na estratégia dos jornais. Se algum jornal perdeu circulação na época foi porque não entendeu as ameaças específicas. É isso que terá que acontecer agora de novo. O meio jornal não será ameaçado em si pela internet, mas obriga a reposicionamentos.
Marcus Mannarino62: Quanto ao impacto comercial das edições web nas originais impressas, tanto pode ser positivo quanto negativo. O que eu acho é que, na "pré-história", poucos ganharam muito dinheiro, e vários tentaram ganhar o mesmo, ou mais, do que esses poucos. Estou falando das start-ups, das empresas da nova economia que surgiram, com superestruturas, para enriquecer acionistas em questão de meses. Não havia modelo comercial que sustentasse os investimentos milionários feitos. Então, muita energia, recursos e tempo foram desperdiçados pela correria da sede ao pote.
Ilusão, afobação, quebradeiras, pé no chão, um passo após o outro. Esse é o roteiro que vejo nortear o desenvolvimento da nova economia. E acho que estamos em plena fase do pé no chão, começando a dar alguns passos.
E essa minha análise, acredito, aplica-se em qualquer dos ramos de atuação - novos ou inéditos - viabilizados com a Internet. Falando especificamente dos jornais, imagino que o tempo vai mostrar que a edição on-line tem muito a oferecer às edições impressas, principalmente para quem já tem credibilidade, tradição.
6 Jornalismo universitário na internet
No capítulo 4 (Jornalistas da Web) deste trabalho foi apresentado o
tema "Fonte de Estudos", no qual foi possível relatar algumas fontes
para um jornalista buscar meios para aprender e estudar o jornalismo
online. As universidades foram apontadas como uma dessas possíveis fontes
pela possibilidade de se gerar conteúdo qualificado, criar
tendências e aumentar a credibilidade para o melhor exercício da
profissão.
Além da conquista de uma maior credibilidade, o jornalista Raphael
Perret aponta outro fator importante para entrada das universidades no
jornalismo digital. "Não sei se ganhará a credibilidade só com a
aproximação de estudos das universidades, mas a academia, se
participar da evolução do jornalismo online, sem dúvida
acelerará o processo. A iniciativa da FACOM63 é
fantástica e merece ser seguida por outras universidades. É
impressionante que poucas instituições de ensino do eixo Rio-SP
tenham dado pouca importância a essa nova área do jornalismo. A
tendência é que elas abram o olho logo, mas isso já devia ter
acontecido há mais tempo. Afinal, quem na sociedade tem a função
de pesquisar e descobrir as novas tendências da comunicação?"
Mesmo diante dos fatos expostos por Perret, exemplos pioneiros como o grupo
de estudos da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e o Centro de Ciências da Comunicação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS) servem como uma esperança
para que outras universidades do país adotem programas semelhantes.
Porém, o professor de jornalismo Nilson Lage faz uma ressalva nesta
questão. "Felicito a UFBA pela iniciativa. Ela ganhou fama como escola
de ciências políticas alternativas e é bom vê-la voltando a
reportar-se ao jornalismo. O problema da pesquisa realizada no âmbito
das escolas de comunicação é que ela é uma espécie de
farol voltado para a ré e que só vê o lado negativo das coisas -
um conceito de crítica que fica entre a paranóia e a
esquizofrenia", adverte.
A jornalista Suzana Barbosa acredita que as universidades podem preparar de
maneira adequada o jornalista da web. "Penso que os problemas que hoje
afetam o jornalismo na Web estão mais relacionados com o próprio
direcionamento e a maneira como as empresas organizam a sua presença
digital. O jornalismo digital no Brasil tem uma história de sete anos, e
as empresas, na sua maioria, se lançam acreditando que basta reproduzir
o mesmo modelo na Web, o que é equivocado. Acredito que uma
atuação mais próxima entre universidade e mercado pode
contribuir para melhorar a qualidade dos projetos das empresas na Web,
sobretudo com a melhor capacitação dos seus profissionais".
Além disso, observa-se também o crescimento do interesse dos
universitários de comunicação pela prática da profissão
na internet. Nos últimos anos, o número de revistas e jornais
eletrônicos universitários, nos mais diversos estados do país,
cresceu consideravelmente. Podemos citar alguns bons exemplos, como os
Fibiotônicos da Bahia, os Jornalistas Estudantes de São Paulo, o
e-Phoca do Rio de Janeiro, e tantos outros.
Suzana Barbosa, que cursa Mestrado no Programa de Pós-graduação
em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de
Comunicação da UFBA, ilustra este quadro em seu depoimento. "No
contato com alunos da Faculdade de Comunicação da UFBA no
período do estágio de tirocínio docente -- de janeiro a maio
deste ano, quando demos forma ao jornal laboratório Panopticon --
percebi que havia, sim, grande interesse pelo jornalismo digital. Tanto
é que alguns dos alunos, atualmente, atuam nesse setor. Em setembro do
ano passado, tive a oportunidade de ter contato com estudantes de uma
faculdade particular de Salvador - a FIB - onde, sob a coordenação
do professor Marcos Palácios, ministramos curso sobre jornalismo
online. Também entre eles, senti um interesse crescente em aprender e ler mais
sobre o assunto. Ou seja, os universitários querem conhecer,
experimentar e também trabalhar com essa nova espécie do jornalismo.
E isso ocorre aliado ao fato deles perceberem, nesse segmento, uma
oportunidade potencial de trabalho".
Será que o mercado de jornalismo digital absorverá um número
maior de profissionais de comunicação? "Acho que é um segmento
que exige profissionalização. Embora qualquer um possa ter um
sítio na Internet -- e muitos, pessoas e empresas, têm - só os
que conquistam credibilidade conseguem sobreviver e prosperar. Credibilidade
se consegue com trabalho e ética profissionais. Por outro lado, a
relação com o computador preside toda atividade profissional, de
modo que a produção gráfica, a de som ou som e imagem convergem
para um mesmo equipamento e habilidades similares", afirma Lage.
Suzana acrescenta outro importante aspecto nesta discussão.
"Particularmente, também acredito neste segmento como um importante
segmento a absorver jornalistas, principalmente porque penso que, na
internet, a função de mediação que cabe ao jornalista é
cada vez mais essencial".
6.1 Grupos de Estudos - FACOM
Pioneirismo e excelência nos trabalhos de pesquisa e estudos no
jornalismo digital. Essas são algumas das possíveis
classificações em relação a intensa produção dos
doutores, doutorandos e mestrandos do grupo de Pesquisas em Jornalismo
Online (GJOL) da Faculdade de Comunicação (FACOM) da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
A apresentação oficial define os principais objetivos do grupo. "As
atividades estão alicerçadas nos eixos de sustentação da
Universidade - pesquisa, ensino e extensão - alinhadas na base das
três linhas de ação do JOL: 1) Articulação das pesquisas
dos professores do Programa de Pós-Graduação da Facom, dos
estudantes de mestrado e doutorado e dos alunos de graduação da
Faculdade; 2) Estudo orientado de bibliografia especializada no jornalismo
digital, organização de grupos de discussão, seminários e
congressos e 3) Oferecimento de cursos sobre o jornalismo digital para
profissionais e estudantes"64.
Para saber mais detalhes sobre o GJOL, confira a entrevista com o professor
e um dos coordenadores do grupo, Elias Machado Gonçalves:
- Primeiramente, gostaria que o senhor fizesse uma breve
apresentação sobre sua carreira profissional.
Elias: Sou jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (RS)
em 1989, Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro em 1992 e Doutor em jornalismo pela Universidade Autônoma de
Barcelona em 2000. Como jornalista trabalhei em rádios e jornais do Rio
Grande do Sul, na Bahia, e em Barcelona, na Espanha, no período entre
1981 e 1997.
Sou Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de
Bahia desde 1993, onde ministro cursos na graduação em jornalismo e
no programa de pós-graduação (Mestrado e Doutorado). Trabalho
como Editor do Jornal Laboratório da FACOM e da Revista especializada em
jornalismo, Pauta Geral, fundada em 1993.
Coordeno em conjunto com Marcos Palácios, o Grupo de Pesquisa em
Jornalismo Digital (http://www.facom.ufba.br/jol). E,
atualmente, coordeno também o projeto de pesquisa ``A estrutura da
notícia nas redes digitais na Bahia'', financiado pelo CNPq.
- Como e quando surgiu a idéia da criação do grupo de estudos?
Elias: O estudo do jornalismo digital na UFBA remonta ao ano de 1994, quando
em conjunto com Marcos Palácios, começamos a desenvolver pesquisas
sobre o assunto. Em 1995 oferecemos, como disciplina optativa, um dos
primeiros cursos sobre jornalismo digital, quando editamos o primeiro jornal
na Web na Bahia, o Lugar Incomun.
O GJOL passa a atuar como Grupo de estudos em 1999, quando o professor
Marcos Palácios, percebendo o crescente interesse dos alunos tanto da
graduação quanto da pós-graduação resolveu reunir seus
orientandos em torno de um Grupo de Estudos. No final de 2001, devido ao
aumento das pesquisas no campo do jornalismo digital, decidimos transformar
o Grupo de Estudos em Grupo de Pesquisa.
- Quantos profissionais fazem parte do grupo?
Elias: No momento dez profissionais fazem parte do GJOL: dois professores
doutores, três doutorandos, dois mestrandos e três bolsistas de
iniciação científica.
- Os universitários brasileiros de jornalismo demonstram interesse
pelo segmento? O senhor acredita que o JOL absorverá um número maior
de profissionais da área?
Elias: Os estudantes têm um grande interesse no jornalismo digital. Nos
primeiros anos em que oferecíamos cursos optativos sempre existia o
dobro de candidatos para o número de vagas. Na faculdade, todo aluno
manifesta vontade de participar do nosso laboratório, o Panopticon.
Neste momento, de retração do mercado de trabalho para o jornalismo
convencional, o jornalismo nas redes representa um dos únicos nichos de
mercado que apresenta crescimento nas contratações.
- A FACOM deu um grande exemplo com o pioneiro trabalho realizado por seu
grupo de pesquisa na área. O senhor acredita que o jornalismo online só
ganhará credibilidade com a aproximação das universidades?
Elias: A cada dia que passa aumenta a credibilidade no jornalismo digital.
Mesmo porque, independentemente das universidades, a confiança aumenta
devido a necessidade dos usuários de acessar de forma rápida as
últimas notícias sobre o mundo. A universidade desempenha tarefa
essencial para melhorar a qualidade da mão de obra, refletindo a
médio prazo no aumento do nível dos conteúdos. No curto prazo,
a confiança dos usuários depende mais das facilidades oferecidas
pelas publicações para consultar dados disponibilizados em linha. No
jornalismo, como um todo, confiança decorre da qualidade do serviço
prestado.
- A FACOM mantém intercâmbio nesta área com outras
universidades de outros países?
Sim. Universidades de Aveiro, Portugal, Texas, no Estados Unidos e Quilmes,
na Argentina.
6.2 Jornais e revistas universitárias eletrônicas
A lista de discussão do site Jornalistas da Web, citada anteriormente no
subcapítulo 4.2, trouxe entre os meses de abril e outubro deste ano
diversos depoimentos sobre a produção universitária em
jornalismo na internet.
Muitos assinantes da lista enviaram mensagens relatando suas
experiências na criação e realização de trabalhos em
revistas e jornais acadêmicos na web.
Abaixo, seguem algumas dessas histórias:65
"Cerca de doze pessoas trabalham na equipe. Umas bastante ativas, outras nem tanto. Nos dividimos em equipes de produção jornalística e propaganda & marketing. Temos o interesse de montar também um núcleo de produção de eventos. Gostaríamos de trazer cursos extracurriculares, workshops e eventos culturais para a faculdade. Isso seria bom para gerar receita para o site e para divulgar mais a nossa marca.
Oficialmente não existe supervisão de professores. Este foi um projeto nosso. Nós sempre fizemos muita questão que fosse assim para que tivéssemos independência na hora de colocar matérias que mostrassem os pontos negativos ou positivos da FIB. A partir do momento que os professores e coordenadores perceberam que o nosso trabalho era sério, passou a haver uma maior aproximação entre nós e eles. Hoje, os nossos professores funcionam como ótimos consultores. Tiramos dúvidas na sala de aula das coisas que acontecem na prática no site.
O nosso site foi criado para ser a "imprensa da FIB66", literalmente. Acho que isso já é um diferencial. Temos um público-alvo bastante específico, que é o aluno da FIB. Não nos preocupamos se estudantes de outras faculdades nos lêem ou não. Somos assim porque acreditamos que podemos fazer um trabalho muito melhor se concentrarmos nossos esforços para informar os próprios colegas. Não temos estrutura para competir com outros veículos profissionais e de grande porte, então para quê concorrer com eles?? É claro que ficamos felizes de saber que pessoas de fora da FIB estão lendo e gostando do Fibiotônicos, mas elas não são nossa prioridade. Mais tarde, quando tivermos conquistado completamente a nossa faculdade, pretendemos dar vôos mais altos e partir para um site que cubra toda a cidade de Salvador.
O Fibiotônicos nos dá liberdade de escrever sobre o que gostamos e, o mais importante, nos dá a oportunidade de gerenciar um projeto de comunicação sem interferência de ninguém. Dificilmente conseguiríamos isso em um estágio, mesmo os remunerados. Sempre no início eu usava esse argumento para incentivar os meus colegas. Infelizmente os estágios, pelo menos aqui em Salvador, subaproveitam a capacidade do estudante, colocando-o em tarefas menores e burocráticas. Nós encaramos esse trabalho como uma grande chance de aparecer e mostrar para o mercado de trabalho do que somos capazes."
Por Gustavo Seabra - Editor do Fibiotônicos
"Estou no sétimo período de jornalismo da Fundação Mineira de Educação e Cultura. Temos o jornal laboratório impresso "O Ponto" e, há pouco mais de 2 anos, foi criado o "Ponto Eletrônico", um site com notícias atualizadas diariamente e com matérias especiais.
Neste jornal virtual trabalham alunos apenas do sétimo período, que se revezam em grupos de atualização. Cada grupo, de seis pessoas em média, atualizam o site durante uma semana. Cerca de 30 notícias são inseridas por dia se dividindo em editorias como cultura, educação, política, internacional. As matérias especiais são atualizadas a cada 15 dias. Alguns recursos multimídia estão sendo inseridos aos poucos e, no próximo semestre, o 'Ponto Eletrônico!' passará por uma reforma gráfica. O endereço é www.pontoeletronico.fumec.br"
Por Denise Mota
"Sou Fábio Lima e estou no quarto período de Jornalismo na UFPI. Já fiz também um curso técnico em publicidade, o que me coloca como estudioso das duas áreas. Sendo presidente do centro acadêmico do meu curso, procurei elaborar um projeto de um site para o curso de comunicação. Como tempo, as discussões chegaram a conclusão que deveríamos ousar um pouco mais. Assim, o projeto que se limitava a mostrar os trabalhos escritos dos alunos, foi ampliado para os blocos de rádio e telejornalismo. Uma associação com os alunos do curso de computação está sendo discutida, para que além de divulgarmos os nossos trabalhos nós possamos pesquisar melhores formas de organização do site, nessa busca de agradar o máximo ao internauta.
Aqui teremos um pouco mais de sorte do que muitos: temos um laboratório de jornalismo que só precisa ser adaptado em algumas coisas, e o domínio será cedido dentro do site da universidade. Estamos somente concluindo o projeto novo.
O meu grande medo mesmo é o desânimo da galera. O problema de trabalhar de graça não rola, por que os trabalhos realizados no site farão parte da carga horária do curso. O problema mesmo são as dificuldades da universidade pública, como greves, professores que vivem faltando, professores que fingem que dão aula, e o site da universidade que de vez em quando cai. O importante será mesmo dar o primeiro passo."
Por Fábio Lima
"Não costumo participar das discussões, prefiro ficar só observando, mas na minha sala (estou no 6o período e estudo no Unis - Centro Universitário do Sul de Minas, em Varginha) estamos criando um site noticioso, já conseguimos parcerias e o projeto está bem estruturado, se alguém quiser dar uma olhada, o endereço é www.nosuldeminas.com.br."
Por Raquel Cristina
"Bom, estou tendo um trabalhão para diagramar o Jornalistas Estudantes (http://www.jornalistasestudantes.hpg.com.br) sozinho. Mas não vou desistir, afinal não tenho dinheiro para pagar uma boa empresa que desenvolve sites. Tenho certeza que até o final do ano consigo terminar, apesar do TCC, do novo emprego (não é na área), etc...
Ainda não divulguei o site como gostaria, mas mesmo assim o JE tem média de 30 novas visitas por dia. No dia 28 do mês passado o site contou com 113 novas visitas e fechei o mês com média de 600 novas visitas. Estou feliz com o resultado e tenho certeza que quando inaugurar o novo layout, vou ter muito trabalho para atualizar as matérias. Esta semana recebi mensagens de profissionais e estudantes de Governador Valadares, em Minas Gerais, estou muito feliz."
Por Fábio Prudêncio - Editor e Web Designer
"Aproveitando a leva, mais um projeto universitário: A revista Encruzilhada (http://encruzilhada.cjb.net) foi a primeira publicação on-line do curso de Jornalismo da UFMG. Como projeto experimental de apenas duas pessoas, teve vida curta, mas intensa."
Por Carlos D'Andrea
"Eu também carreguei uma bandeira parecidíssima com a sua. Aconteceram exatamente os mesmos problemas. Coloquei o "Farol 507" no ar em 1999 também, sem apoio algum da Universidade (Unisantos-SP) ou patrocínio. Foi um excelente meio da turma treinar, mas cada um teve que procurar algo que desse algum retorno financeiro... Sem dúvida, foi uma experiência super válida e recomendável a todos os estudantes de jornalismo."
Por Andresa da Silva
"Também tentei comandar um site alimentado por textos do pessoal da minha turma da UERJ, mas foi difícil. No meu caso, nem por culpa da universidade, mas por culpa nossa. É a velha história: todos têm
iniciativa, se empolgam com o projeto, fazem altos sonhos, mas na hora do 'vamuvê', todo mundo some. As pessoas não colaboravam e, por pura falta de material, o site estava natimorto.
Acho que o principal fator que levou à derrocada desse projeto foi que o pessoal engajado, com exceções, já trabalhava ou estagiava. Com pouco tempo disponível, já que todos ainda tinham aula, era difícil se dedicar a uma tarefa que não lhes dava muito retorno. A curto prazo, claro, porque acho
que um projeto desses na bagagem podia garantir bons pontos no currículo. E
o pessoal é bom. Pena que não deu atenção ao site.
Nem posso, portanto, afirmar se houve apoio da universidade, uma vez que o
projeto nem foi implantado :-) Mas fica aqui o relato da minha - vã -
experiência na área de site jornalístico universitário."
Por Raphael Perret
"Em 1999, junto com alguns colegas, ganhei o prêmio do INTERCOM pelo melhor site de jornalismo feito por estudantes. Na época eram poucos, talvez somente uns 10 no Brasil, incluindo a 359 do Nestor Jr, que faz parte da lista.
Foi realmente algo inovador. Não tinha nada parecido. Os estudantes montavam tudo, desde pauta até layout gráfico. Durou cerca de uns dois anos mas, sem apoio algum da universidade e com os colegas estudantes desmotivados de trabalhar sem ganhar nada (compreensível, né?), o site morreu.
A gente inventava muita moda, inclusive coberturas ao vivo de eventos (coisa que veio a se tornar comum mais recentemente). Esse de SP é bacana mas, na minha opinião, o melhor site de universitários disparado hoje em dia é a 359online (Nestor, não lembro a URL, passa para o pessoal!).
Bem, pela breve experiência posso afirmar duas coisas:
-
É excelente para os alunos e para universidade! Os alunos aprendem MUITO, principalmente sobre o veículo e já podem começar a batalhar por algum estágio de uma forma mais concreta... afinal, os estudantes da lista sabem que, hoje, até para estagiar você tem que ter experiência prévia.
Para universidade nem se fala! Eles ganham por tabela cedo ou tarde. Mas, como o meio acadêmico geralmente é cego, vamos ao segundo ponto...
- Apoio próximo de zero da instituição - mesmo as universidades particulares se negam (nem deus sabe o porquê!) a ajudar esse tipo de projeto. Na Gama Filho era cômico, porque eles não só não nos ajudavam como, em alguns eventos, roubavam matérias do nosso site e usavam no site deles sem crédito. Não tínhamos nem máquina pra fazer e subir os textos, tudo era feito aqui em casa mesmo...
O Nestor e a 359, se não me engano, tiveram um pouquinho mais de sorte mas, ainda assim, continuam sobrevivendo sozinhos, destacados da Universidade.
Na época, conheci outras pessoas de SP e ES que também tinham sites similares e as instituições também não ajudavam nem hospedando os sites que, geralmente, ficavam numa Geocities da vida. Cheguei a fazer parcerias com alguns deles mas na maioria até mesmo o editor (que geralmente é o criador) não tinha SACO de tocar o site...
Esse lado - extremamente - negativo, leva a desmotivação dos alunos. O pessoal tem que procurar estagiar, muitos precisam de grana e, com o tempo, as pessoas vão saindo do projeto. Espero que esse de SP dê certo mas (não lembro quem falou que era algo pioneiro) não é, certamente, o primeiro na área. Lembro que quando estava na Austrália tinha uma menina que estagiava no maior jornal da Western Austrália (o estado) e ela era o orgulho da Notre Dame. Aqui os alunos devem implorar pra fazer coisas boas pra PRÓPRIA universidade... só rindo mesmo..."
Por Nino Carvalho
"Na verdade a 359 - www.359online.com (volta em 16 de setembro) - hoje já não é mais um site acadêmico de uma única universidade, pois dele participam jornalistas, estudantes de outras universidades, colunistas de diversas áreas, etc. Ele nasceu na universidade, mas hoje ele é bem plural. O site vai continuar tendo suas reportagens misturadas com artigos. A grande novidade é que estamos englobando repórteres das quatro principais universidades da região metropolitana aqui do RS (PUCRS, UFRGS, ULBRA e UNISINOS)."
Por Nestor Jr.
6.2.1 Viva a mídia alternativa
67
Mês de junho, ano 2000, quinto período de Jornalismo na Facha, Rio
de Janeiro. Idéias e fatos fervem no Rio 40o graus. A internet
é o meio da moda. Quatro amigos resolvem lançar então suas
idéias e ideais pela internet. É criada a revista eletrônica
quinzenal C@iu na Rede <www.cnrede.hpg.com.br>, "destinada a todos que
não se satisfazem com o óbvio, trazendo reflexão, humor e ironia
em linguagem simples e objetiva".
A odisséia desses estudantes terminaria sete edições, muitos
textos, entrevistas e discussões depois. Sentimento de missão
cumprida ou incompetência? Bom, seria fácil rotular
situações, mas a maior lição foi a atitude de
construção e pensamento, coisa que pouco fazemos e deveríamos
fazer mais nas faculdades de Comunicação do Brasil.
Na verdade, aqueles estudantes estavam buscando uma nova identidade,
diferente do modelo proposto aos novos profissionais que ingressam no
mercado da comunicação. Alguns pensaram, e decerto outros
pensarão lendo este texto, que tudo não passou de inconformismo
juvenil. Pode até ser. Mas a idéia principal era essa. Amada ou
odiada, a revista fomentaria o debate entre os leitores.
A revista foi dividida em seções (Calúnia Social, Cultura,
Cotidiano, Esportes), e teria sempre uma entrevista mensal. A estréia
teve logo de cara uma entrevista com o "verborrágico" Lobão, que na
época lançava o disco A vida é doce, marco do alternativo na
MPB. Os textos produzidos continham humor e indignação com a
realidade do país. A idéia dessas entrevistas era trazer sempre uma
personalidade de cada área para refletir, dizer tudo que não poderia
dizer nos grandes veículos de comunicação.
Velhas práticas, novas referências
O site contava ainda com charges, fotos e fotomontagens. Havia também os
personagens, como o enviado especial José de Belém e o "calunista"
social Pepi Mello Carvalho Prado (uma paródia à febre de revistas,
programas de fofocas e colunistas sociais que surgem como epidemias de
dengue). A fórmula deu certo. Tivemos retorno.
Então, o que deu errado? Faltou definir uma linguagem específica
para os textos e a linha editorial. Esses fatores causaram divergências
e brigas entre os idealizadores do site. Assim, quatro meses após o
lançamento, o C@iu na Rede terminaria.
Frustração e sentimento de perda? Um pouco, é verdade.
Mas o orgulho é ver que a semente da mídia alternativa no
meio universitário não pára de crescer. São os
Fibiotônicos <www.fibiotonicos.com.br> da Bahia, é o
E-Phoca da UFRJ <www.eco.ufrj.br/ephoca>, são os Jornalistas
Estudantes <www.jornalistasestudantes.hpg.ig.com.br/index.htm> e
tantos outros. O C@iu na Rede fracassou, mas a guerra
não foi perdida.
A internet nos pertence, caro estudante. O jornalismo vive uma nova era, a
porta e os portais estão aí. Vamos criar a nossa linguagem, as
nossas referências. Embora os espaços nos jornais e televisões
estejam fechados "para nós que somos jovens" (saudosa Elis Regina), a
web permitirá que criemos novos conceitos.
Lembram-se do Dogma 95, dos cineastas dinamarqueses Lars von Trier e Thomas
Vinterberg, e do Dogma 1,99, do diretor e roteirista gaúcho Allan
Sieber, que recuperaram formas esquecidas de criação para a
sétima arte?
Lanço, então, o Dogma 2002 da Comunicação Social:
- Cada centro universitário de Comunicação Social, do Oiapoque
ao Chuí, criará sua revista eletrônica para fomentar novos
conceitos de jornalismo.
- Cada equipe editorial contará com 15 estudantes, que serão
divididos nas diversas funções que uma produção editorial
exige: editores, repórteres, diagramadores, pauteiros, revisores,
publicidade e administrativo.
- Recomenda-se revezamento de cargos, pelo qual cada estudante
"aprenderá na prática" o que se produz em cada função;
- Formular documento sobre os objetivos do projeto para ser entregue à
coordenadoria da universidade;
- Buscar apoio de professores para a supervisão do projeto. Além de
ajudar na concepção da teoria do projeto, esses profissionais
terão função de ombudsman na publicação;
- A reunião de pauta deve ser a chave principal para o sucesso da
revista. Assim, deverão ser realizados encontros periódicos entre os
participantes do projeto.
- Os textos seguirão as normas básicas do bom jornalismo (uso do
lide, rigor na apuração, rigor na revisão etc.). No entanto,
é altamente recomendado o uso da experimentação, pois o
jornalismo online ainda não conta com um modelo definido para atrair os
leitores;
- A revista terá um canal para sugestões e críticas dos
leitores. O conteúdo deste canal servirá como base para traçar
os rumos editoriais da revista;
- É proibido usar o recurso "control+c / control+v" para gerar novas
matérias. Quando utilizar um texto existente, citar os créditos do
autor;
- Viva a mídia alternativa!
7 Tendências para o jornalismo online
De todos os capítulos abordados neste trabalho, este com certeza é
o de maior grau de dificuldade para se expor pensamentos, afinal a
prática do jornalismo na internet ainda não completou nem dez anos
de existência. Efetivamente, os grandes veículos de
comunicação do país só passaram a disponibilizar grande
quantidade de conteúdo somente a partir do ano de 2000.
Para se apontar novas tendências é preciso levar em
consideração dois fatores críticos: a necessidade de
democratização da informática no país e a precária
velocidade de acesso à internet disponível para a maior parte dos
usuários.
Grande parte das novas tecnologias da web ainda só funciona da melhor
maneiro em conexões de grande velocidade, na chamada
broadband68. Assim, a
possibilidade dos portais web disponibilizarem de uma só vez reportagens
com a integração de áudio, imagem e texto ainda está
limitada ao poder de conexão entre os usuários, potenciais leitores
do veículo digital.
Nos próximos subitens serão abordados quatro possíveis exemplos
para o futuro do jornalismo na internet: os blogs, telejornalismo, as web
rádios e a convergência de mídias (texto, imagem e som), tendo
como exemplo o site Globonews.com. Em cada tópico, os relatos de
profissionais sobre suas experiências diante das novas tendências
servirão como parâmetro para se analisar tais tendências.
Primeiro é preciso conhecer o significado do termo blog para entendermos
o porquê de sua importância nos veículos de
comunicação. Blog têm origem de duas palavras inglesas, web e
log, surgindo a tradução literal "diário virtual". O uso na
internet ampliou seu significado, gerando novos conceitos e desafios para as
mais diversas comunidades virtuais.
Assim, usuários dos mais diversos segmentos utilizam os blogs como uma
poderosa ferramenta de comunicação livre para publicação e
divulgação de idéias. Além disso, a interação entre
o produtor da notícia e o leitor é maior, pois abaixo de cada
notícia - através de tecnologia específica - é
possível que o usuário insira comentários a respeito do que foi
escrito.
Os grandes jornais internacionais, como o americano The New York Times e o
britânico The Guardian passaram a adotar a ferramenta para
publicação de notícias. No Brasil, o jornal online Último Segundo
e o caderno de informática do jornal O DIA são alguns dos
veículos que já utilizam este formato.
7.1.1 Trocando em bits V
Foram reunidos novamente alguns profissionais, que possuem blogs
ou que trabalham diretamente com jornais online, para sabermos a
efetividade desta
nova tecnologia para os veículos. Confira:
O blog começa a ser adotado por muitas editorias de
jornais online. Vocês acreditam que a ferramenta blog, uma versão
mais aprimorada de publicação em tempo real, pode aproximar ainda
mais o leitor do veículo?
Luciana Moherdaui69: Não acho que o blog possa substituir ou ter importância maior que os sites noticiosos. Os weblogs são mais uma fonte de informações. Um bom exemplo é o do site Catarro Verde. Quando o blog noticiou que o discurso da renúncia do ex-senador Antônio Carlos Magalhães era plágio literal do discurso feito na Câmara, em 9 de agosto de 1954, pelo então deputado federal Afonso Arinos, a notícia varreu a Internet. Em segundos, chegou à TV, foi parar no BlueBus, que publica informações sobre mídia, depois virou manchete no iG. Tem até quem aposte o contrário. Dave Winner, veterano de desenvolvimento tecnológico, apostou US$ 1 mil que em cinco anos o jornalismo dos weblogs vai informar melhor e ter mais influência que o "New York Times". Sabe com quem ele apostou? Com o editor do "NY Times", Martin Nisenholtz. A discussão entre os dois é a mesma que pauta todos os críticos: credibilidade na web.
Alexandre Fontoura70: O blog é uma maneira simplificada de comunicação na Web. Por ser simples, muitos usam. Agora é questão de analisar cada caso especifico.
Sandro Guidalli71: Não saberia te responder sobre o blog sendo utilizado profissionalmente e num âmbito de redação. Acredito no crescimento de páginas criadas por jornalistas independentes que servirão como um aprimoramento da informação em suas dimensões mais críticas e analíticas. Entre uma Agência Estado e um blog, prefiro a primeira. Mas se o blog tiver conteúdo exclusivo e independente ele pode virar este complemente de que falei acima. Mais importante que "como" publicar está em "o quê" publicar.
Raphael Perret72: Acho que pode aproximar sim, caso a linguagem do blog seja mais pessoal. Isso mostra que o leitor não está lendo algo produzido por uma máquina, e sim por um humano, facilitando a identificação dele com o jornalista.
Tendências? O uso maior de blogs; tentativas de aumentar a interatividade; utilização de mais recursos audiovisuais; participação maior de free-lancers.
Suzana Barbosa73: Não sei se o blog é uma ferramenta mais aprimorada de publicação em tempo real. Porém, as facilidades permitidas pela ferramenta não podem ser desconsideradas e é por isso mesmo que os websites de jornais norte-americanos já estão publicando blogs de colunistas e de repórteres como um recurso a mais para o aprofundamento de informações sobre determinado fato ou temática. Creio que a incorporação do blog nas versões digitais dos jornais, assim como certamente pelos portais, deve se tornar uma tendência. Já existe muita discussão em torno do blog como um formato a mais para o jornalismo digital. Acredito que ele poderá vir a ser. Já há, inclusive, disciplinas específicas sendo ministradas em universidades como Stanford, se não me engano. Veremos.
Elisa Travalloni: Acho que o blog pode aproximar sim os leitores dos veículos, mas não tenho visto isso ser feito no jornalismo online brasileiro. O que vemos são alguns jornalistas que montam seus blogs para publicar conteúdo jornalístico ou para comentar assuntos diversos. É difícil fazer esse exercício de futurologia, nem vou dizer aqui o que eu acho que vai acontecer. Prefiro apostar no que eu gostaria que acontecesse. Uma das tendências que gostaria de ver é justamente essa interação com o leitor, buscar a participação desse leitor e mostrar as histórias dele no site. Vejo isso como uma fonte muito rica de material e informação e acho que a internet é o melhor meio para isso.
Leão Serva74: As ferramentas de blog são ágeis porque são simples, não pela velocidade de publicação (ao contrário, são ferramentas simples). Elas aproximam leitor do veículo por serem simples, não exigem preparo técnico específico e assim qualquer pessoa pode postar, como se fala, informações e comentários.
Elias Machado75: O blog nada tem de jornalístico. Tem muito mais a ver com os diários pessoais. Numa publicação jornalística nas redes como no jornalismo impresso, na TV ou em rádio nem tudo que se publica ou divulga tem natureza jornalística. Como uma atração para fisgar o usuário me parece interessante, embora seja cada vez mais repetitivo. Qualquer que seja o modelo de produto para o jornalismo digital deve seguir três características essenciais: produção descentralizada, conteúdos multimídia e incorporação dos usuários no sistema de produção de conteúdos.
7.2 Telejornalismo online
"O telejornalismo já não é o mesmo na sociedade informacional, e o jornalista tem que se preparar para uma nova época em construção e não em extinção"76
Com a necessidade de se aumentar as ofertas de serviços de banda larga
para os internautas brasileiros, uma das tendências que deve ser
beneficiada de forma positiva é a do telejornalismo online.
O site da AllTV (www.alltv.com), criado em 26 de abril de 2002, foi a
primeira emissora de TV do mundo voltada exclusivamente para internet. É
a única do país a transmitir ao vivo, por 24 horas ininterruptas,
programas jornalísticos de qualidade. As outras boas iniciativas na
área estão presentes nas universidades brasileiras, como é o
caso do TJ Uerj e o TJ.UFRJ.
O pioneiro TJ Uerj foi criado em julho de 2001, sendo o primeiro telejornal
universitário diário e ao vivo na internet brasileira. "Neste
período, o telejornal recebeu, inclusive, o prêmio Luiz Beltrão
para grupos inovadores pela INTERCOM, Sociedade Interdisciplinar de Estudos
em Comunicação. Além disso, temos uma parceria com a rede
americana de TV, a CNN", revela o coordenador do Laboratório de TV e
professor de telejornalismo da Uerj, Antônio Brasil.
Já o TJ.UFRJ, criado em 2002, "apesar do nome, é muito
mais que um simples telejornal veiculado na Internet. Apostando na
plena utilização de toda a capacidade de
comunicação e interatividade da grande rede, o site aplica
ao máximo o conceito de convergência de mídia, sem
crer que todas as formas de comunicação tendam a se fundir
em uma só, mas sim tentando utilizar, adequar e aprimorar cada
uma delas para este moderno e global veículo de
informação."77
Abaixo, segue uma entrevista feita por e-mail com o professor Antônio
Brasil, que revela maiores detalhes sobre os desafios enfrentados no comando
do TJ Uerj e sua visão sobre o futuro da profissão:
- Primeiro gostaria que o senhor fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Brasil: Sou da geração televisão e apaixonado pela
produção de imagens. O jornalismo teria que refletir esses
interesses. Estudei na PUC e já no terceiro período, procurei um
trabalho na Globo em 1973. Sempre gostei de documentários e na
época, a Globo estava estreando o Globo Repórter. Fui trabalhar como
assistente de câmera, pois queria aprendera a produzir imagens. Já
havia participado do Festival de Cinema Amador do JB aos 16 anos. Como havia
pouca produção no GR, fui para o jornalismo e fiz de tudo. Na
época, estava começando um outro grande programa de TV: o
fantástico. Trabalhei no piloto do programa ainda com a Cidinha Campos
como repórter especial.
Em 1976, em pleno clima de censura no país (falta de notícias
permitidas pelos órgãos de segurança), fui um dos primeiros
jornalistas a serem transferidos para a Europa (Londres) ainda no
início da expansão internacional da Globo. Tinha só 21 anos e
durante muito tempo, cobri o mundo inteiro com a Sandra Passarinho. Fizemos
reportagens memoráveis com pouquíssimos recursos em lugares muito
estranhos. Eram tempos de juventude e pioneirismo em Telejornalismo.
Saí da Globo e fui trabalhar como free-lancer na Europa. Fiz meu mestrado em
Antropologia na London School of Economics e acabei voltando ao Brasil no início dos anos 80 para
ser correspondente estrangeiro em meu próprio país. Trabalhava para
a UPITN, agência internacional de notícias para TV.
Montei uma das primeiras produtoras de vídeo no RJ, a Rio Cine
Vídeo e produzimos diversos programas sobre o Brasil para TVs
internacionais e para Globo. Sempre tive interesse em desenvolver novas
idéias e projetos de comunicação. Comecei a dar aulas na PUC do
RJ em 93, fiz concurso para UERJ e hoje sou coordenador do Laboratório
de TV e professor de telejornalismo. Estou desenvolvendo o primeiro
telejornal universitário diário e ao vivo na internet.
Publico artigos sobre TV e Novas Tecnologias semanalmente para o site do
Observatório da Imprensa. Acabei de publicar dois livros sobre
Telejornalismo e estou concluindo o meu doutorado em Ciência da
Informação na UFRJ com tese sobre o papel da imagem e os arquivos
telejornalísticos na internet.
- Algumas universidades brasileiras, como a UFBA - FACOM, estão
fomentando grupos de estudos em jornalismo online. A UERJ, através de
seu Departamento de Comunicação, criou um projeto pioneiro sobre
telejornalismo online. O senhor acredita que o jornalismo e telejornalismo
online só ganharão credibilidade com a fomentação de pesquisas e
estudos nas universidades?
Brasil: Aqui na UERJ, nós estamos pesquisando o futuro do
telejornalismo na internet e para isso, também produzimos os
seminários internacionais de TJ online. Durante esses eventos anuais,
procuramos acessar a evolução do meio.
- Há diferenças de hierarquia e cargos em uma redação
telejornal online para o telejornal "tradicional"? E na técnica de
reportagem? Que fatores tecnológicos e conceituais o senhor apontaria
como vantajosos?
Brasil: Não existe grande diferença. É inegável um
certo privilégio para a operação técnica. Temos poucos
recursos, pouca especialização e todos fazem de tudo. A técnica
de reportagem procura estabelecer uma nova linguagem audiovisual.
Os nossos limites técnicos não nos permitem (graças a Deus)
imitar a TV. Estamos inventando um novo meio e por enquanto a nossa
referência é a TV.
A grande vantagem é a liberdade de experimentar novas pautas e novas
linguagens sem a interferência externa. O público pequeno e a pouca
visibilidade são grandes vantagens para quem deseja criar uma forma
alternativa de comunicação.
- O senhor concorda que a expansão do telejornalismo, bem como das
webrádios, não está atrelada a melhoria da conexão de
internet no país?
Brasil: A TV ao ser inaugurada no Brasil. em 1951, tinha somente
400 aparelhos disponíveis. Os últimos relatórios do IBGE,
confirmam que a TV ultrapassou o rádio e já está em 87 pct dos
lares brasileiros. Ou seja, em um pouco mais de 50 anos, a TV finalmente se
tornou o meio hegemônico e está em todos os lugares. Somo um
país de TV. A internet, em menos de 8 anos, já está em quase 10
pct dos lares brasileiros. Grande parte dos brasileiros tem acesso à
rede em locais de trabalho ou públicos. O futuro é a internet com
uma convergência total de mídias. Os outros meios continuarão
existindo mas deixarão de ser hegemônicos.
7.3 O rádio na internet
Outra mídia que dentro de pouco tempo será totalmente incorporada
pela internet é o rádio. Atualmente, ela já se faz presente na
grande rede, pois todas as grandes emissoras de rádio do país
possuem websites disponibilizando notícias em tempo real, com áudio
de entrevistas, arquivos sobre determinados eventos históricos, além
de tecnologia específica que permite ao usuário escutar pelo
próprio computador seu programa de rádio favorito.
É preciso citar ainda as diversas iniciativas independentes de web
rádios (como as web rádios comunitárias, de universidades, de
pequenos grupos de comunicação, entre outros), que começam a
despertar nos principais conglomerados de comunicação a necessidade
de encarar a internet como um novo campo a ser desbravado pelos
radiojornalistas.
No entanto, assim como o telejornalismo online, a prática do radiojornalismo
na web ainda está muito vinculada à melhoria dos serviços de
acesso à internet. Hoje, é praticamente impossível escutar um
programa inteiro de rádios por acesso discado, devido a constante queda
do sinal de transmissão.
A esperança reside no surgimento de novas tecnologias e na possibilidade
de que o acesso via banda larga fique disponível a uma maior parcela de
usuários em um menor tempo possível. Assim, o radiojornalismo pela
internet poderá assistir um grande investimento das empresas e surgir
assim diversas cadeias com programação segmentada.
No livro "Manual de Radiojornalismo", os jornalistas Heródoto Barbeiro e
Paulo Rodolfo de Lima, ambos com larga experiência na área, dedicam
um capítulo ("O Rádio Via Internet") somente para tratar das
transformações que as web rádios trarão para os
profissionais de comunicação. Confira um resumo das principais
tendências:
- "Com o advento da internet, os aparelhos de rádio e televisão, como conhecemos hoje, vão desaparecer e passarão para o computador. É nele que as atuais emissoras de rádio e TV vão ser ouvidas e assistidas"78.
- "A vida do sistema, do rádio propagado por ondas eletromagnéticas está com seus dias contados. É um fato inevitável. O rádio vai navegar no bit digital binário"79.
- "Com alguma simplicidade, cada pessoa ou entidade conectada na rede pode montar sua própria emissora. Não há mais um núcleo central. Cada um vai ser operador, programador, ideólogo e editor-chefe do conteúdo da rádio"80.
- "Outra característica dessa mudança qualitativa do rádio é a interatividade. É verdade que o rádio nasceu interativo. Mas essa interatividade põe nas mãos do ouvinte meios muito mais eficazes para influir diretamente no conteúdo da programação. Simultaneamente, ele ouve e escreve um email sobre o que está sendo transmitido."81.
- "Uma rede de rádio vai se constituir com todas as emissoras conectadas via web e não mais por satélite. Contudo, com a facilidade de acesso do ouvinte-internauta a uma rádio de programação nacional, não mais haverá necessidade das formações de rede como se conhecem hoje... A web proporciona a uma única rádio cobertura mundial, sem necessidade de outras emissoras"82.
- "As novas rádios via internet não serão mais apenas transmissoras de programas em áudio. Os internautas querem mais. Querem consultar arquivos, obter dados, ouvir programas já apresentados, comunicar-se com a direção da rádio, apresentadores, comentaristas e programadores"83.
- "As programações serão delineadas em hard news e grandes fóruns de debates... Isso abre para o rádio a possibilidade de uma programação mais formativa do que informativa, mais qualitativa do que quantitativa... Isso exige dos jornalistas da web capacidade de raciocínio histórico-sociológico para explicar origens e fatos sociais cotidianos e sua inserção no contexto histórico onde ocorrem"84.
- "Os jornalistas do novo rádio terão que se adaptar ao conceito de que o conhecimento social se obtém participando do laboratório original que é a sociedade entendida como um conjunto histórico de feitos e atos humanos...O ouvinte-internauta vai questionar o porquê. A lógica vai imperar no novo jornalismo exigido na web"85.
7.4 Convergência de Mídias - Trocando em bits VI
Antes do recente corte de grande parte de sua
redação, o portal Globonews.com vinha sendo considerado um
veículo de ponta por unir imagem, texto e áudio num único
canal. Alguns afirmam que a internet "mixou" rádio, jornal e TV num
só meio. Vocês concordam com esta visão? Vocês acham que os
recursos tecnológicos disponíveis estão sendo usados
adequadamente?
Luciana Moherdaui86: No caso do Globonews.com, concordo com suas colocações. A estrutura das Organizações Globo permite fazer esse mix a que você se refere - colocar na Web vídeo, áudio e texto num curto espaço de tempo para enriquecer uma cobertura local ou internacional. Acho que poderiam ser feitos pequenos ajustes, como o tamanho e cor da letra para facilitar a leitura, mas ao que se refere à utilização de recursos multimídia, a Globonews consegue oferecer informação multimídia completa ao leitor/usuário. A CNN. com e o site MSNBC também fazem bom uso da hipermídia.
Leandro Mazzini87:
Concordo, mas ainda não há público para isso. É apenas o começo, muita coisa pode mudar ou cair. Você pode perceber que, com todos estes recursos supracitados, a internet chegou a um patamar de estagnação, mas necessária. Cabe a pergunta: além de noticiário em tempo real com recursos de rádio e TV, o que mais pode aparecer? É difícil, e imprevisível.
Sandro Guidalli88: Naturalmente, com a evolução da tecnologia, deverá haver cada vez mais este mix de que você fala. Hoje, entretanto, são poucos os leitores que possuem conexões em banda que permita obter o que esta tecnologia oferece de melhor. Ademais, tenho minhas dúvidas sobre a audiência deste mix. Parece coisa de "paranóicos" pela notícia que querem obtê-la de todas as formas possíveis num só tempo. Assistir a TV e ouvir radiojornalismo são prazeres a meu ver insubstituíveis.
Raphael Perret89: Concordo com a visão, mas acho que os recursos não estejam sendo usados adequadamente. A tendência é de melhora, sem dúvida, mas ainda estamos muito nos primórdios. Uma vez estava visitando um portal e a notícia que eu lia era sobre a imagem da santa que teria aparecido na janela de uma casa numa cidade de São Paulo. O texto era bom, a notícia não era irônica nem sensacionalista, estava impecável. Mas faltou o principal: a foto da janela. Isso acontece porque as notícias quando saem num jornal online são publicadas através de ferramentas que padronizam o formato das notícias, e elas não dão espaço para a inserção de imagens, vídeos etc. Seria necessário fazer "na mão". Acho que os jornais precisam ir se adaptando a essa realidade: publicar notícias não apenas com o texto escrito, mas também com ilustrações. Não necessariamente fotos.
Antônio Brasil90: A convergência de mídia já é um fato consumado. O que estamos tentando fazer agora é simplesmente melhorar a qualidade da transmissão de dados. Pura questão de tempo. Por enquanto ainda estamos adaptando as linguagens dos meios tradicionais na rede. Foi assim na TV durante 10 anos. Era um rádio com imagens. Creio que um desses meninos que brinca com videogames, câmeras de vídeo, celulares, que está sempre ligado nas últimas novidades da internet e que ouve muito 'rock and roll' é que vai trazer uma solução ou tradução para essa falta de linguagem específica. Quem viver, verá!
Elisa Travalloni91: Acho que os recursos serão melhor empregados com o tempo. É bem legal colocar tudo isso para os leitores, mas quantos realmente acessam? O Globonews tem o mérito de estar testando tudo isso agora. No futuro, todos terão banda larga (espero) e com isso teremos que estar preparados para oferecer informação para esse leitor. Mas não apenas colocar um vídeo ou um áudio, porque a internet não é TV nem rádio. É outra coisa que engloba essas linguagens. A questão é: que linguagem é essa? O que podemos fazer de diferente com isso? Isso porque a TV faz bem TV. Nós vamos copiar simplesmente? Essas são questões para serem discutidas não só no mercado de trabalho, mas também na faculdade.
Leão Serva92: Concordo que a internet projeta essa possibilidade, não concordo que ela está acontecendo no portal Globonews.com. Acho que por enquanto estamos experimentando e por isso não se pode dizer que constantemente estamos usando os recursos adequadamente.
Elias Machado93: O Globonews longe está de representar um canal de ponta. Nada tem de inovador no sistema de produção dos conteúdos. Na maior parte das vezes vampiriza os conteúdos produzidos nos meios convencionais do sistema globo. Nos conteúdos multimídia do Globonews o usuário cumpre com a função de leitor, telespectador ou ouvinte. Uma vantagem quando comparado aos meios convencionais em separado; mas um modelo muito distante do que deveria se fazer no jornalismo digital: descentralizar a produção, concebendo o usuário como um produtor-consumidor de conteúdos multimídia.
8 Conclusão
Antes de se pensar na prática do jornalismo na web é preciso
conhecer as particularidades do universo de internautas no país. Se
levarmos em conta a população do país (mais de 170 milhões
de pessoas), o Brasil ainda possui poucos usuários de internet, não
chegando a 10% de sua população. A esperança reside nas
ações de democratização digital, que objetivam diminuir a
distância tecnológica entre as diversas camadas sociais da
população. Mas por que o interesse na quantidade de pessoas
conectadas à internet? A resposta aparece na possibilidade de
negócios que cerca de 170 milhões de usuários poderão
oferecer para as empresas de comunicação.
Além disso, não se pode esquecer que a prática deste novo campo
profissional ainda é muita curta, pois os principais jornais e revistas
digitais passaram a efetivamente produzir conteúdo em massa há pouco
mais de três anos.
Assim, o mercado e prática do jornalismo na web ainda estão muito
receptivos a novas idéias e experimentações. O modelo de
escrita, o design, a interatividade com o leitor, a geração de
recursos são alguns dos temas que serão debatidos e testados
exaustivamente até se descobrir um modelo rentável para
sustentação dos produtores de notícias digitais.
Alguns novos modelos, como um Jornal Nacional disponibilizando de forma online as matérias
vinculadas na edição televisiva do dia, a iniciativa pioneira do
Jornal do Brasil em revelar o endereço eletrônico de repórteres
no texto das reportagens e o jornal O Globo publicar em sua edição impressa
pequenas chamadas no rodapé de determinadas matérias para atrair o
leitor/internauta para versão online do veículo, são os exemplos de
tendências que os veículos estão buscando criar.
Essas ações significam o início de futuras interações
entre os veículos (jornal, rádio, TV e internet). Assim, a internet
poderá ser o melhor meio para se atrair da melhor maneira e de modo mais
rentável os leitores. No entanto, a criação de um jornalismo
online não significa de forma alguma a extinção dos meios
tradicionais. Na verdade, a internet englobará, de uma forma ainda
não conhecida, todos os outros meios de comunicação para "dentro
de si". De que forma? Somente o tempo poderá nos responder.
Nessa história, não podemos esquecer a importância que o meio
acadêmico trará com a fomentação de grupos de estudos e
pesquisas apontando novas tendências e caminhos. Apesar de serem poucas
as universidades a adotarem disciplinas na área, como a Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia, certamente dentro de
pouco tempo a matéria estará totalmente inserida na grade
universitária.
E o mais importante: mesmo diante do imenso avanço tecnológico que
elimina postos de trabalho, a web criará novos campos de atuação
para dezenas de profissionais que já estão no mercado e para os
futuros jornalistas que estão sendo preparados nas universidades do
país.
9 Bibliografia
- MOHERDAUI, Luciana. Guia de Estilo Web:
Produção e edição de notícias
on-line. São Paulo: SENAC, 2000.
- LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e prática de entrevista e
pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.
- LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. O Adiantado da Hora: a
influência americana sobre o jornalismo brasileiro. São Paulo:
Sumus, 1991.
- RODRIGUES, Bruno. Webwriting: Pensando o texto para a mídia digital. São Paulo: Berkeley, 2000.
- BARBEIRO, Heródoto; RODOLFO, Paulo. Manual de
Radiojornalismo. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
- BARBEIRO, Heródoto; RODOLFO, Paulo. Manual de
Telejornalismo. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
- PALÁCIOS, Marcos Silva e GONÇALVES, Elias Machado. Manual de Jornalismo na Internet - conceitos, noções práticas e
um guia comentado das principais publicações jornalísticas
digitais brasileiras e internacionais (Bahia: FACOM, 1994), p.5.
- Elias Machado Gonçalves, Jornalismo na Internet, (Trabalho
apresentado no Congresso Intercom, 1996), p.4.
- Poder ler em qualquer lugar é vantagem apontada
80% dos leitores preferem versão impressa da Folha à
eletrônica, Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1408200297.htm.
Acesso em 25/11/2002.
- Curso Passo a Passo de Web Design - mini-dicionário técnico (Goiânia: Editora Terra, 2002).
- ROCHA, Luis Fernando. Lista de Discussão: O
código aberto do jornalismo online, Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/eno021020022.htm
Acesso em 02/10/2002.
- ROCHA, Luis Fernando. Viva a mídia
alternativa, Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/eno180920021.htm
Acesso em: 18/09/2002.
- Brasil tem 14,3 milhões de internautas
residenciais, Disponível em: http://idgnow.terra.com.br/idgnow/internet/2002/11/0021
Acesso em 11/11/2002.
- Ibope: usuários passam 10h16m na web em
setembro, Disponível: http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A413906-19,00.html
Acesso em 11/10/2002.
- Poder ler em qualquer lugar é vantagem apontada
80% dos leitores preferem versão impressa da Folha à
eletrônica, Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1408200297.htm.
Acesso em 25/11/2002.
- Jornal é a 2a instituição de maior credibilidade. O Globo. Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2001, p.3.
- Edição especial esgota rapidamente. O Globo. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2001, p.21 - Caderno Especial.
- Apresentação. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/jol/apresenta.htm
Acesso em: 26/11/2002.
- Quem somos, Disponível em: http://www.telejornalismo.com/tjufrj/quemsom.htm
Acesso em: 28/11/2002.
10 Anexos
----- Original Message -----
From: Marcello Penna JB
To: Luis Fernando
Sent: Tuesday, October 01, 2002 12:02 PM
Subject: Re: Sobre monografia de jornalismo online
- Falar sobre sua formação e carreira profissional.
Sou carioca, tenho 31 anos, me formei em Marketing pela Faculdade da Cidade,
trabalhei em algumas empresas do mercado financeiro no eixo RJ/SP, sendo
responsável por áreas voltadas a serviços e clientes. No
começo de 1999 participei de um grande projeto de internet, e desde
novembro de 2001 assumi o desafio de reestruturar o JB Online, trazendo
modernidade e uma visão de negócios.
- Da criação do primeiro jornal eletrônico (JB Online em 1995)
até os dias atuais, foi possível traçar um perfil de "leitor da
web"?
Não entendi muito bem a sua pergunta... posso falar um pouco sobre a
visão da base de leitores do JB Online [são cerca de 500mil
visitantes únicos por mês].
Classe Social: 81% A/B, 15% C, 4% D
Idade: 60% 20/49 anos, 18% 50/64 anos, 10% 65 anos ou mais, 12%
de 10 a 19 anos
Grau de Instrução: 62% Superior, 26% Segundo Grau, 12%
Primeiro Grau
- Os jornais impressos obtêm a maior parte de seu lucro através da
venda de assinaturas e publicidade. Hoje, em apenas duas horas, um
veículo online pode obter o dobro de "tiragem" diária de um jornal
impresso. Como gerar recursos em um veículo online com um potencial
público? Publicidade do tipo banner e popup sustenta um jornal online?
O ponto é: de que adianta gerar esse tráfego gigantesco de leitores,
sem ao menos conhecê-los? Os leitores anônimos não são
"clientes", não são assinantes. O JB Online possui cerca de 8 vezes
mais visitantes únicos do que o Jornal do Brasil possui assinantes. A
grande diferença é que o jornal fatura com essas vendas [assinaturas
e bancas] e também com publicidade e os classificados.
Atualmente o modelo de negócios do JB Online consiste basicamente na
venda de publicidade [em diversos formatos] e principalmente no
licenciamento de conteúdo [também em várias formas]. Nesse
modelo, conseguimos nos sustentar como empresa, sem qualquer ajuda
financeira do Jornal do Brasil.
Não é nenhuma profecia desmedida, mas eu posso te garantir que é
uma questão de tempo para que todos os jornais online passem a ter o seu
conteúdo fechado [parcialmente ou integralmente].
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet no Brasil vá pagar para ler
matérias jornalísticas? Existe alguma pesquisa que aponta uma
determinada tendência?
Conforme disse anteriormente, acho que esse é um caminho inevitável.
Para oferecer tudo o que o jornal impresso oferece e ainda mais algumas
outras coisas, isso é imperativo...Só não dá para dizer em
quanto tempo isso irá acontecer, nem como será feita essa
"cobrança". As possibilidades são bastante variadas.
Já existem algumas iniciativas de cobrança pelo conteúdo (Valor
/ Gazeta). Curiosamente ambos jornais atuam especificamente no setor
econômico, e apostam no fato de possuírem um conteúdo vertical
para cobrar pelo acesso às informações. Não sei se dará
certo...vamos esperar e ver. Outro modelo de cobrança pelo conteúdo
é o UOL com a Abril e com a Folha de São Paulo. De todos os modelos,
parece ser um dos melhores, pois mantém uma carteira de aproximadamente
1 milhão de clientes. Obviamente parte desses clientes paga pelo acesso,
mas acredito que a maior parte está "comprando" o conteúdo. Sei que
o UOL representa cerca de 10% das vendas de assinaturas mensais da Abril.
Eu não tenho conhecimento de pesquisas dentro desse campo, mas acho que
o caminho mais importante é que cada veículo identifique
precisamente o perfil dos seus leitores e estabeleça uma relação
contínua com eles. Mais do que qualquer pesquisa genérica, acredito
que os próprios leitores é que poderão nos direcionar nesse
processo.
- Qual a opinião do senhor sobre as ferramentas disponíveis
atualmente para interatividade (chat, e-mail, listas de discussão) do
leitor com veículo? Alguma apresenta maior eficácia?
Um dos maiores valores da internet é a interação. A web é na
sua concepção, um negócio de "gueto", de "turma", de
"comunidade".
O jornalismo tradicional sempre conservou um certo distanciamento dos
leitores, até mesmo para poder garantir o seu posicionamento de
isenção nas suas notícias. O webjornalismo se vê nessa encruzilhada
entre manter essa distância e abrir espaço para os seus leitores
interferirem no conteúdo. Te confesso que é um dilema bastante
interessante, e aqui no JB Online nós freqüentemente discutimos essa
questão.
Tem uma corrente, por exemplo, que defende a existência de um "mural"
abaixo de cada notícia, para que os leitores possam dar a sua
opinião e interagir com a notícia e entre eles. Tem um outro lado -
mais conservador - que tem medo de alguns leitores escreverem besteira e
desencadearem uma onda de reclamações, de discussões
inócuas. De qualquer forma, mantemos uma aproximação com os
nossos leitores JB Online. Eu pessoalmente respondo cerca de 5 e-mails
diários de leitores.
- Na concepção do JB Online foram deslocados profissionais do
impresso ou foi criada uma equipe específica para colocar o
veículo na web?
O JB Online sempre possuiu uma equipe própria. inicialmente essa equipe
era bastante reduzida e mais limitada a área de tecnologia. com o tempo,
fomos agregando novos profissionais, principalmente do ramo editorial e
fomos aumentando a nossa capacidade de geração de conteúdo e de
apuração de notícias.
- Muitos profissionais apontam que os jornais online passaram a produzir
conteúdo próprio, deixando de ser apenas reprodutores de
notícias dos seus respectivos similares impressos. Quais foram as
maiores evoluções tecnológicas e conceituais no JB Online desde
sua criação?
Certamente o jbonline vem se consolidando como modelo de negócio
[vendemos publicidade e conteúdo]. também estamos aumentando
gradativamente a nossa capacidade de geração de conteúdo,
independente do jornal do brasil.
Ainda se trata de um negócio de pequenas proporções, se
comparado ao faturamento do jornal. por esse motivo, o caminho é sempre
um pouco mais longo - dado que os investimentos são de menor
proporção. De qualquer forma, o JB Online não depende
financeiramente do jornal do brasil - e é uma empresa que "roda no
azul".
- Quais são os projetos futuros do veículo?
Existem diversos projetos. infelizmente eu não posso entrar em maiores
detalhes, mas os nossos focos estão basicamente voltados para:
I - o aumento de tráfego [principalmente no stickness]. esse tráfego
será aumentado de uma forma absolutamente planejada, através do
lançamento de novas áreas do site e de um maior relacionamento com o
portal que nos abriga [atualmente TERRA]
II- queremos também estabelecer um grande relacionamento com nossos
leitores, cadastrando-os e agregando serviços que aumentem
consideravelmente a fidelização.
III - por fim, uma outra frente bastante importante para a nossa
estratégia é trazer novas fontes de conteúdo - verticalizando
cada vez mais o nosso site.
----- Original Message -----
From: "Luciana Moherdaui" <lucianamoherdaui@uol.com.br>
To: <luisf@rochapereira.com.br>
Sent: Sunday, September 29, 2002 11:42 AM
Subject: Respostas
-
Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Cinco anos de experiência em jornalismo on-line diário. Pesquisadora
sobre o tema e autora do livro Guia de Estilo Web, pela Ed. Senac em 2000 e
2002 (ed. revista e ampliada). Participação da criação do
jornal Último Segundo, primeiro jornal desenvolvido para a Internet.
Cobertura diária nas áreas de Informática, Nova Economia,
Telecom, Brasil, Cultura e Internacional. Editora de Homepage do Útimo
Segundo. Free-lancer da Revista Veja, Tudo e Caras, da editora Abril.
- O jornalismo americano, em determinada época, exerceu forte
influência no jornalismo brasileiro. Quais escolas jornalísticas
foram pesquisadas para adoção de um jornalismo digital no país?
Não há escola jornalística determinada para o estudo do
jornalismo na Web. Tim Bernes Lee é britânico e desenvolveu a Web
num laboratório em Genebra no início da década de 90. É
verdade que os americanos criaram a Internet para se protegerem de um
possível ataque soviético. Mas há pesquisadores e grupos de
discussão conceituados diversos países - que não só nos EUA
- tentando chegar a um acordo sobre como produzir conteúdo on-line e
atrair leitores. Se levarmos em conta que o texto na Web não muda,
pode-se afirmar que os sites noticiosos brasileiros têm influência
americana. As coberturas em tempo real são escritas no formato
pirâmide invertida e os textos mais elaborados (como os do site
www.nominimo.com.br) também seguem o modelo adotado pelas
revistas impressas. Na minha opinião, uma das melhores edições
de imagem da Internet são feitas pelo jornal espanhol El Pais
(www.elpais.es). Eles utilizam o flash para fazer
reconstituição de fatos. Muitos outros jornais no Brasil e nos EUA
passaram a fazer o que o El Pais faz.
- Como anda o jornalismo online brasileiro em relação a outros
países?
O jornalismo on-line ainda está em fase de adaptações em todo o
planeta. O jornalismo on-line ainda precisa ser mais criativo do que é.
Grande parte dos sites noticiosos (estrangeiros e nacionais) utiliza os
mesmos recursos de edição para atrair a atenção de leitores
on-line. O jornal do futuro, na minha opinião, será aquele produzido
conforme a audiência que se pretende atingir, oferecendo níveis de
informação ao leitor.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Conceitual - a principal evolução conceitual foi a formação
de pessoas (designers, jornalistas e técnicos se adequarem à
velocidade da Web). Três anos atrás, quando eu ajudei a criar o
Último Segundo, a equipe ainda estava sintonizada com a Web. A maioria
dos profissionais veio do impresso. Hoje, redação, arte e tecnologia
têm uma sintonia incrível. É possível produzir
conteúdo multimídia para incrementar a cobertura local e
internacional em poucas horas. Outro fator importante no período foi
treinar a agilidade da equipe. Um repórter que trabalha na Web está
apto a trabalhar em qualquer redação. Ele é um profissional
ágil, com texto final e maior capacidade de acuracia gramatical.
Além disso, também está preparado para pensar uma página de
jornal ou revista, pois faz esse exercício na Web o tempo todo.
Tecnológico - Se pensarmos em programas desenvolvidos para
edição multimídia, edição de texto, programas de e-mail
e de comunicação simultânea, avançamos bastante.
Hoje,
algumas redações fazem entrevistas por ICQ ou e-mail e utilizam
sofisticados software de publicação e produção de imagens.
Aos poucos, o telefone vai sendo substituído por esses tipos de
programas. Agora, se levarmos em conta que pouco mais da metade da
população tem telefone em suas casas, que as conexões
telefônicas são de péssima qualidade e que a banda larga não
avançou muito em países como o Brasil, por exemplo, e que dos 170
milhões de brasileiros, quase oito milhões são usuários
ativos de Internet, pode-se afirmar que ainda estamos engatinhando. Outro
problema que considero grave é a falta de sintonia entre desenvolvedores
de sites e usuários. Muitos projetos, inclusive jornalísticos,
são desenvolvidos para supermáquinas, sem levar em conta que a
maioria dos usuários está conectada via linha discada e não tem
programas para fazer o download das páginas. Ou seja, muitas vezes,
temos a tecnologia de ponta para criar uma nova página, mas os
leitores/usuários não poderão ver esse material pronto em suas
telas. Você deve ter acompanhado o congestionamento na Internet por
causa da cobertura on-line do ataque aos EUA, ano passado. A CNN.com, por
exemplo, teve de diminuir sua homepage de 255 KB para 20KB para que os
internautas pudessem navegar por suas páginas e saber o que estava
acontecendo nos EUA. Muitas vezes, a tecnologia sofisticada não resolve
o problema do usuário que só está atrás de
informação.
- Na sua opinião, há diferença em trabalhar numa
redação de um jornal impresso e de um veículo online?
A estrutura das redações é a mesma. O processo de
produção de notícias, da pauta até a edição, é
o mesmo. Nas redações on-line, o que muda é o suporte de
publicação e a utilização de recursos multimídia para
enriquecer uma cobertura, se o assunto justificar.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Sim. O jornalista da Web se habitou a pensar multimídia e a trabalhar
em conjunto com o webdesigner e o técnico na edição de suas
reportagens. O jornalista Luciano Martins fala sobre isso em meu livro: "O
importante, como ressalta o jornalista e escritor Gabriel García
Máquez, é saber contar bem a história. Ele quer dizer que cada
fato impõe seu próprio estilo, e eu acrescento que, no caso da
Internet, cada história a ser contada impõe também o recurso
tecnológico mais adequado. Precisamos ter repórteres que se habituem
a pensar de maneira abrangente, multimídia, e que saibam trabalhar em
parceria com o desenhista do ambiente onde a história vai ser exibida e
com o técnico que vai operar os recursos de edição e
exibição."
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e TV num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
No caso do Globonews.com, concordo com suas colocações. A estrutura
das Organizações Globo permite fazer esse mix a que você se
refere - colocar na Web vídeo, áudio e texto num curto espaço
de tempo para enriquecer uma cobertura local ou internacional. Acho que
poderiam ser feitos pequenos ajustes, como o tamanho e cor da letra para
facilitar a leitura, mas ao que se refere à utilização de
recursos multimídia, a Globonews consegue oferecer informação
multimídia completa ao leitor/usuário. A CNN. com e o site MSNBC
também fazem bom uso da hipermídia.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
Não acho que o blog possa substituir ou ter importância maior que os
sites noticiosos. Os weblogs são mais uma fonte de informações.
Um bom exemplo é o do site Catarro Verde. Quando o blog noticiou que o
discurso da renúncia do ex-senador Antonio Carlos Magalhães era
plágio literal do discurso feito na Câmara, em 9 de agosto de 1954,
pelo então deputado federal Afonso Arinos, a notícia varreu a
Internet. Em segundos, chegou à TV, foi parar no BlueBus, que publica
informações sobre mídia, depois virou manchete no iG. Tem
até quem aposte o contrário. Dave Winner, veterano de
desenvolvimento tecnológico, apostou US$ 1 mil que em cinco anos o
jornalismo dos weblogs vai informar melhor e ter mais influência que o
"New York Times". Sabe com quem ele apostou? Com o editor do "NY Times",
Martin Nisenholtz. A discussão entre os dois é a mesma que pauta
todos os críticos: credibilidade na web.
----- Original Message -----
From: Leandro Mazzini - lema@jb.com.br
To: Luis Fernando
Sent: Saturday, September 28, 2002 1:53 PM
Subject: Res:Re: Res:Sobre Jornalismo Online
-
Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Tenho apenas dois anos no jornalismo, os mesmos no JB. Comecei no online e
agora estou no impresso-política.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Há muita coisa a se discutir sobre webjornalismo. A princípio, o
termo mais abrangente e correto, na minha opinião, seria noticiário
online. Ainda não aprendemos a fazer jornalismo online. A
evolução tecnológica é extraordinária - há cinco
anos não tínhamos isso - há uma globalização
comunicacional sem fronteiras. O futuro da comunicação passa por
isso. Um aspecto negativo é causado por um positivo: a velocidade da
informação. Isso, de certa forma, causa um estafa. É muita
notícia, atualmente, para pouco leitor.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. Você concorda com esta afirmação?
Conheço a Elisa e sei que ela não falou por mal, ela é uma boa
profissional. Cada um tem sua interpretação da crescente onda web.
Como a tv x rádio, o online não vai acabar com o impresso, com
certeza, Luiz Fernando. O interessante, hoje, é o novo leitor que se
forma: você não deixa para ler amanhã no impresso o que pode ler
hoje na web. Mas o impresso tem uma característica fundamental que o
distingue: ele te dá tempo para aprofundar a apuração sobre um
fato, e o online exige rapidez: daí eu te falar que existe na web um
noticiário, e não jornalismo.
- Você já trabalhou no JB Online e atualmente faz parte da
redação do impresso. Quais diferenças você apontaria em
trabalhar numa redação de um jornal impresso e de um veículo
online? Existe diferença na estrutura hierárquica de cargos?
Acho que respondi tudo nas respostas acima. Não existe diferença na
estrutura hierárquica.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Claro. Esse é um dos novos pontos que distinguem o online do impresso.
Mas você, na web, tem que saber usar ferramentas pelos programas que o
impresso não exige. Mas nas redações online há também o
editor, o sub e o diagramador. O repórter faz sua matéria, que - na
maioria dos casos - passa por esta hierarquia até ser divulgada, como
acontece no impresso. Salvo as vezes que um repórter faz todas estas
funções, até diagramar.
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e tv num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
Concordo, mas ainda não há público para isso. É apenas o
começo, muita coisa pode mudar ou cair. Você pode perceber que, com
todos estes recursos supracitados, a internet chegou a um patamar de
estagnação, mas necessária. Cabe a pergunta: além de
noticiário em tempo real com recursos de rádio e Tv, o que mais pode
aparecer? É difícil, e imprevisível.
----- Original Message -----
From: "Alexandre Fontoura" <alexandre@jbonline.com.br>
To: "'Luis Fernando '" <luisf@rochapereira.com.br>
Sent: Friday, September 27, 2002 12:50 AM
Subject: RE: De novo - JB
-
Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Estou no JB há dois anos e meio. Também me formei na Facha, ano
passado. Comecei no JB Online, quando era junto, inclusive fisicamente da
Agencia JB. Então trabalhava para os dois e, eventualmente, escrevendo
para o jornal impresso.
Bem, o JB saiu da Avenida. Brasil e foi para o centro da cidade. Está
completando um ano agora. Há três meses mais ou menos, sou um dos
responsáveis pelo caderno internet (impresso) que está sendo
produzido pelo JB Online. É a primeira vez que uma equipe online assumiu
um jornal impresso, por completo. Sem maiores dificuldades.
Continuo sendo do JB Online, ainda mais agora que virou uma outra empresa,
chamada JB Online LTDA. Faço também fotos para o JB. Hoje uma foto
minha foi capa do Jornal do Commercio, sobre o desabamento. O JB Online e os
maiores portais também usaram a foto. Isso porque foi vendido pela
Agência. Praticamente comecei no JB e continuo nele.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
O Último Segundo tem 80% (ou algo parecido) das noticias vindas das
agências de noticias, inclusive o JB Online. O ultimo segundo reproduz
noticias... produz quase nada.
Aprendemos com experimentos, testando e vendo resultado, para fazer um local
atrativo virtualmente.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. Você concorda com esta afirmação?
Eu estive lá com a Elisa. No primeiro seminário sobre JOL, eu fui
representando o JB. Isso pode acontecer sim, mas não é muito
significativo. Não sei precisar sobre números. Existe o bom
jornalista. Onde ele vai escrever é outra história. Nesse momento, a
Elisa falou sobre um colunista específico, mas preferiu não citar o
nome.
- Você já trabalho no JB Online e atualmente faz parte da
redação do impresso. Quais diferenças você apontaria em
trabalhar numa redação de um jornal impresso e de um veículo
online? Existe diferença na estrutura hierárquica de cargos?
Estou no impresso e no online. Todos do caderno. Diferenças: no impresso
você tem limites físicos. Tem o espaço que precisa ser
preenchido. Você não tem como retocar, como numa matéria online.
A atenção tem que ser maior porque não tem volta. No online
você pode acabar não dando tanta atenção porque você
sabe que pode corrigir. E o prazo para entrega das matérias é mais
rigoroso. O trabalho em equipe é maior. Cargos? São os mesmos.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Palpite você sempre pode dar. Talvez na internet mais por ser tudo novo
e as pessoas são jovens e tem certa intimidade com a tecnologia. Na
maioria da vezes.
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e tv num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
Tenho uma teoria sobre isso. Mas não dá para explicar assim. A
internet pode convergir as mídias também depende do ponto de vista.
A internet não é explorada da melhor forma, uma vez que não
usamos o máximo dela por causa da banda explorada. Pouca gente ainda tem
internet rápida - apesar do número estar crescendo muito.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
Acho que vai continuar um grande laboratório esse meio virtual. Com
relação aos blogs. O blog é uma maneira simplificada de
comunicação na Web. Por ser simples, muitos usam. Agora é
questão de analisar cada caso especifico.
- Em apenas duas horas, um veículo online pode obter o dobro de
"tiragem" que um jornal impresso. Como gerar recursos em um veículo
online com essa massa de leitores?
É a missão mais difícil: ganhar dinheiro. A gente está
vendo que tem que usar de e-commerce. Infelizmente. Banner só não
dá. Ou ser sustentado.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
É uma forma de sustentação. Acho que pode funcionar para
notícias específicas, direcionadas, mas não para um jornal
diário. A informação é gratuita. Você paga pelo modo que
você quer recebê-la.
----- Original Message -----
From: lage (lage@floripa.com.br) - Nilson Lage
To: 'Luis Fernando'
Sent: Sunday, October 06, 2002 9:30 PM
Subject: RES: Sobre monografia de JOL
- Primeiro, gostaria que o senhor fizesse uma breve apresentação
sobre sua carreira profissional.
Comecei a trabalhar em 1956, no Diário Carioca, do RJ. Lá aprendi o
básico do texto jornalístico -- foi o jornal que introduziu no
Brasil a técnica de redação de notícias. Entre outros
colegas, o José Ramos Tinhorão, o Jânio de Freitas, o Evandro
Carlos de Andrade ... Dirigindo o jornal, Danton Jobim e Pompeu de Souza.
Daí fui para o JB, em 1958: o texto estava sendo reformado, lá,
junto com a diagramação. Em seguida, Última Hora, Manchete, O
Globo, O jornal, TV Educativa ... até meados da década de 80.
Comecei no magistério na UFF, em 1970; depois, na UFRJ, em 1975. Estou
na UFSC desde 1992. Trabalhei em assessorias, escrevi livros técnicos
(oito), artigos (dezenas) etc.
- Os universitários brasileiros do curso de jornalismo têm
demonstrando interesse por este segmento. O senhor acredita que o Jornalimo
Online absorverá um número maior de profissionais da área?
Acho que é um segmento que exige profissionalização. Embora
qualquer um possa ter um sítio na Internet -- e muitos, pessoas e
empresas, têm -- só os que conquistam credibilidade conseguem
sobreviver e prosperar. Credibilidade se consegue com trabalho e ética
profissionais. Por outro lado, a relação com o computador preside
toda atividade profissional, de modo que a produção gráfica, a
de som ou som e imagem convergem para um mesmo equipamento e habilidades
similares.
- Algumas universidades brasileiras, como a UFBA - FACOM, estão
fomentando grupos de estudos na área. O senhor acredita que o jornalismo
online só ganhará credibilidade com a aproximação das
universidades?
Felicito a UFBA por isso. Ela ganhou fama como escola de ciências
políticas alternativas e é bom vê-la voltando a reportar-se ao
jornalismo. O problema da pesquisa realizada no âmbito das escolas de
comunicação é que ela é uma espécie de farol voltado
para a ré e que só vê o lado negativo das coisas -- um conceito
de crítica que fica entre a paranóia e a esquizofrenia.
- O jornalismo americano, em determinada época, exerceu forte
influência no jornalismo brasileiro. O senhor acredita que jornalismo
online poderá assumir também características de outros
países ou criar um modelo próprio?
O jornalismo americano influenciou, do ponto de vista técnico, o
jornalismo mundial. A alternativa seria devolver os jornais aos intelectuais
que antes ditavam o comportamento do público -- e parece que têm
saudade disso.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Evolução tecnológica, sim. Conceitual, não sei. Se
evoluíram, evoluíram juntos. Os portais são muito confusos, a
matéria desorganizada, os critérios editoriais permissivos. Será
preciso evoluir muito.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. O senhor concorda com esta afirmação?
Jornalista é jornalista, na web ou fora dela. Pessoalmente, não
aprecio a especialização por veículo como formação
básica. A convergência tecnológica (a universalização do
computador como ferramenta) marcha a favor da minha posição.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. O senhor concorda com este ponto de
vista?
Isto aconteceu em toda a profissão com a introdução dos
computadores. Desapareceram figuras como os revisores e os profissionais que
calculavam o tamanho dos textos. Na Internet ou fora dela há jornalistas
repórteres, redatores, editores e projetistas gráficos.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. O senhor
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
Não sei. Pessoalmente, só pagarei em último caso. Acredito que
essa seja a postura mais freqüente. E, se começarem a cobrar, sempre
aparecerá alguém disposto a abrir uma página própria,
acessar as páginas pagas (pagando, é claro) e reescrever rapidamente
as matérias que lhe parecerem confiáveis. No caso, verei a
página desse plagiário, até porque pode-se patentear a forma,
não o conteúdo. E há muita gente acreditando, como Norbert
Wiener, que a era da informação implica o acesso pleno e gratuito
à informação.
----- Original Message -----
From: Sandro Guidalli
To: Luis Fernando
Sent: Tuesday, October 08, 2002 10:55 PM
Subject: Re: Res: Sobre monografia de JOL
-
Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Minha formação se deu na reportagem política, curiosamente na
campanha presidencial de 1989. Eu era repórter foca da sucursal da Folha
de Londrina em Curitiba que, na época, reunia um seleto time de
profissionais com os quais aprendi muito. Logo em seguida me tornei chefe de
redação do departamento de jornalismo da Rádio Clube, uma das
mais tradicionais do Paraná. Fui repórter da Folha de S. Paulo, de O
Globo e da Revista Caras, isso a partir de 1994 quando me mudei para o Rio
de Janeiro. A partir de 1998, comecei a trabalhar com conteúdo para a
Internet. Organizei todo a conteúdo do portal do provedor PSINet no
Brasil, passando logo depois para o portal iBest, onde fui editor-chefe do
site do prêmio na Web. Dali fui para o Canal Web, site de notícias
de Tecnologia e Telecom, e que fez história na web brasileira. Lá
fui repórter sênior. De lá pra cá colaboro com sites e
revistas de Telecom. Trabalho atualmente em casa e tenho dois blogs que se
tornarão sites voltados para a crítica jornalística até o
final do ano.
- O jornalismo americano, em determinada época, exerceu forte
influência no jornalismo brasileiro. Quais escolas jornalísticas
foram pesquisadas para adoção de um jornalismo digital no país?
Seria pretensão de minha parte dizer que não houve pesquisa alguma
no desenvolvimento do jornalismo online no país. Também não
tenho informações suficientes que garantam o contrário, ou seja,
que houve uma pesquisa. O que posso dizer a respeito baseia-se apenas nas
minhas impressões. As agências online ora copiaram suas similares
americanas ora adequaram o conteúdo jornalístico em imensos portais
sem que tenha havido necessariamente uma pesquisa, um estudo sobre qual
modelo seguir. Os jornais impressos e as agências em tempo real seguem
parâmetros comuns a todos os que estão na Web. Texto enxuto, muito
espaço para imagens, flashes e boletins noticiosos curtos e
dinâmicos.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Não me lembro de ter acompanhado esta evolução passo-a-passo.
Suponho que os elementos citados na resposta anterior ainda não tivessem
sido contemplados no pioneiro JB e hoje estão plenamente dispostos no
Último Segundo.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. Você concorda com esta afirmação?
De forma alguma. Leitores fiéis de jornais impressos jamais deixarão
de comprá-los nas bancas só porque podem ter acesso a eles pela Web.
Naturalmente o número de novos leitores dos jornais impressos pode vir a
cair com a evolução da Web. Mas daí a dizer que as versões
virtuais destas publicações prejudicam o meio impresso é um mero
chute. Quanto a existir um jornalista específico para a Web, trata-se
de um dos mais novos mitos da era da Internet. Jornalista é jornalista,
bom ou ruim, em qualquer meio.
- Na sua opinião, há diferença em trabalhar numa
redação de um jornal impresso e de um veículo online?
A diferença está no timing da apuração, redação e
publicação da notícia. No meio tradicional, trabalha-se com
mais calma, apesar da pressão do dead-line. Deve-se sempre buscar apurar
completamente a matéria para só então publicá-la, seja no
impresso, seja na Web. Me parece que há um frisson, um nervosismo que
é peculiar da Internet, muito também em função da
competição.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Sem dúvida. O problema está "apenas" no fato de que passamos a
apurar e a investigar menos para editar e diagramar mais.
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e tv num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
Naturalmente, com a evolução da tecnologia, deverá haver cada
vez mais este mix de que você fala. Hoje, entretanto, são poucos os
leitores que possuem conexões em banda que permita obter o que esta
tecnologia oferece de melhor. Ademais, tenho minhas dúvidas sobre a
audiência deste mix. Parece coisa de "paranóicos" pela notícia
que querem obtê-la de todas as formas possíveis num só tempo.
Assistir a TV e ouvir radiojornalismo são prazeres a meu ver
insubstituíveis.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
Não saberia te responder sobre o blog sendo utilizado
profissionalmente e num âmbito de redação. Acredito no
crescimento de páginas criadas por jornalistas independentes
que servirão como um aprimoramento da informação em
suas dimensões mais críticas e analíticas. Entre uma
Agência Estado e um blog, prefiro a primeira. Mas se o blog
tiver conteúdo exclusivo e independente ele pode virar este
complemente de que falei acima. Mais importante que "como" publicar está em "o quê" publicar.
- Em apenas duas horas, um veículo online pode obter o dobro de
"tiragem" que um jornal impresso. Como gerar recursos em um veículo
online com essa massa de leitores?
Ainda não se sabe a melhor resposta para esta pergunta que é mais um
dilema do que uma simples indagação. Malabarismos de marketing
já foram testados de quase todas as formas sendo que ainda existe o
temor de que o conteúdo pago possa afugentar os leitores. Talvez isto
funcione para algumas publicações tradicionais não para os
portais mais generalistas. Há jornais americanos que cobram pelo seu
acesso online e obtiveram sucesso. Isso também depende da cultura e do
hábito de leitura de cada país. Ainda considero temeroso "fechar" o
conteúdo no Brasil. A solução é encontrar outras saídas
para obter rentáveis fontes de recursos além da publicidade.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
A resposta desta pergunta está parcialmente na resposta anterior.
Repito: no Brasil acho muito arriscado cobrar pelo acesso. Ele teria que ser
excepcional e garantir outras vantagens além da própria leitura de
suas notícias.
- Qual sua opinião sobre as ferramentas disponíveis para
interatividade (chat, e-mail, listas de discussão) do leitor com
veículo?
O internauta e o leitor brasileiros adoram trocar correspondências e
são bastante interativos. Resta tomar cuidado para não saturá-lo
com inúmeros canais de comunicação que podem enjoá-lo e
causar embaraços para o veículo.
----- Original Message -----
From: "Raphael Perret" <raperret@yahoo.com.br>
To: "Luis Fernando" <luisf@rochapereira.com.br>
Sent: Wednesday, October 09, 2002 1:34 PM
Subject: Re: Sobre monografia de JOL
-
Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Me formei em 1999 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e desde
então só fiz frilas. Algumas reportagens para o Jornal do Brasil
(caderno de Informática). Participei da cobertura pelo JB Online da Copa
do Mundo de 2002 e das Olimpíadas de 2000. Fora isso, já publiquei
alguns artigos sobre jornalismo e internet no Observatório da Imprensa,
Jornalistas da Web e no jornal O Globo. Sou um pesquisador do jornalismo,
especialmente o online. Leio e escrevo muito sobre o assunto, além de
escrever em blogs relacionados ao assunto, como o Ponto JOL (junto com mais
três) e o Tá na
Tela (meu).
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Positivos: aos poucos, os jornais perceberam que não bastava que suas
versões online fossem puras cópias dos impressos. Era importante
manter uma redação que pudesse trabalhar ao longo do dia e atualizar
as notícias do site. A utilização de outras mídias, como
imagens, sons e vídeo, ainda que
muito econômica, também começou a ser implantada, enriquecendo a
informação.
Negativos: ainda alguns conceitos, a meu ver antiquados, dirigem a
tônica dos sites de notícias. O tempo real é um deles. Por que
eles se esgoelam para dar uma informação a cada minuto? Por que um
portal nacional publica uma nota sobre uma reunião de sindicalistas no
Amapá? O que importa é dar
as notícias mais rápido, e não a qualidade da notícia.
Assim, com a pressa, criam-se muitos erros que entram rapidamente para o
folclore do jornalismo online.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Não sei dizer se isso ocorre muito nas redações dos jornais
online, mas se ocorre é um fenômeno interessante, porque modifica as
relações dentro da empresa. Pode estar nascendo um novo
profissional.
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e tv num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
Concordo com a visão, mas acho que os recursos não estejam sendo
usados adequadamente. A tendência é de melhora, sem dúvida, mas
ainda estamos muito nos primórdios. Uma vez estava visitando um portal e
a notícia que eu lia era sobre a imagem da santa que teria aparecido na
janela de uma casa numa cidade de São Paulo. O texto era bom, a
notícia não era irônica nem sensacionalista, estava
impecável. Mas faltou o principal: a foto da janela. Isso acontece
porque as notícias quando saem num jornal online são publicadas
através de ferramentas que padronizam o formato das notícias, e
elas não dão espaço para a inserção de imagens,
vídeos etc. Seria necessário fazer "na mão". Acho que os
jornais precisam ir se adaptando a essa realidade: publicar notícias
não apenas com o texto escrito, mas também com ilustrações.
Não necessariamente fotos.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
Acho que pode aproximar sim, caso a linguagem do blog seja mais pessoal.
Isso mostra que o leitor não está lendo algo produzido por uma
máquina, e sim por um humano, facilitando a identificação dele
com o jornalista.
Tendências? O uso maior de blogs; tentativas de aumentar a
interatividade; utilização de mais recursos audiovisuais;
participação maior de free-lancers.
- Algumas universidades brasileiras, como a UFBA - FACOM, estão
fomentando grupos de estudos na área. Você acredita que o jornalismo
online só ganhará credibilidade com a aproximação de estudos
das universidades?
Não sei se ganhará a credibilidade SÓ com a aproximação
de estudos das universidades, mas a academia, se participar da
evolução do jornalismo online, sem dúvida acelerará o
processo. A iniciativa da Facom é fantástica e merece ser seguida
por outras universidades. É impressionante que poucas
instituições de ensino do eixo Rio-SP tenham dado pouca
importância a essa nova área do jornalismo. A tendência é
que elas abram o olho logo, mas isso já devia ter acontecido há mais
tempo. Afinal, quem na sociedade tem a função de pesquisar e
descobrir as novas tendências da comunicação?
- Em apenas duas horas, um veículo online pode obter o dobro de
"tiragem" que um jornal impresso. Como gerar recursos em um veículo
online com essa massa de leitores?
Realmente é uma questão complicada. A publicidade na internet
está em xeque. Os banners têm-se mostrado um fracasso. Uma
solução é cobrar o conteúdo, mas trata-se de uma atitude que
pode ser mais repulsiva do que atraente diante dos leitores. Mas gestão
administrativa não é minha praia, por isso não tenho muito o que
sugerir nessa área.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
Claro que se todo mundo começar a fazer isso, acredito que sim. Por
outro lado, enquanto houver uma opção gratuita, acho que os
internautas vão preferir essa opção. O conteúdo pago só
vai sobreviver se realmente valer a pena pagar por ele. Não basta pegar
o mesmo conteúdo de hoje, fechar e avisar: "agora para nos ler você
precisa pagar X reais por mês". É preciso oferecer mais, para que o
leitor perceba que, pagando, ele não terá apenas as notícias
que ele achará em qualquer outro site gratuito, mas muitas outras
vantagens, como, por exemplo, notícias exclusivas de jornais
estrangeiros. As pessoas pagam o preço que acham justo. É
questão de custo-benefício.
-----Mensagem original-----
De: Suzana Barbosa [mailto:suzana-b@uol.com.br]
Enviada em: domingo, 20 de outubro de 2002 18:40
Para: Luis Fernando Rocha
Assunto: entrevista
- Primeiro, gostaria que você fizesse uma breve apresentação
sobre sua carreira profissional.
Atualmente, sou mestranda no Programa de Pós-graduação
em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade
de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. A minha
graduação é em Jornalismo, também pela FACOM/UFBA.
Já atuo como jornalista há dez anos. Iniciei como revisora
no jornal Correio da Bahia, em 1990, quando era
estudante. Depois, fui para a assessoria de comunicação do
Teatro Castro Alves, onde trabalhei de 1992 a 1995. De 1996 a
2000, atuei como repórter especial dos suplementos
(Informática, Turismo e Veículos) do Correio da
Bahia, com maior atuação em Informática e, em
seguida, no suplemento feminino e de variedades. No jornal,
começou a minha incursão no jornalismo digital,
através da edição do material para o website do
jornal. Em abril de 2000, no Guia Local -- um portal de
cidades criado e pensado para a Web, que possuía
escritórios em cinco capitais: Rio de Janeiro, São Paulo,
Salvador, Belo Horizonte e Brasília. O portal, lançado em
novembro de 1999, encerrou suas operações em março de
2001. Além disso, atuei como jornalista free-lancer
em trabalhos de assessoria de imprensa para eventos diversos --
especialmente na área cultural -- e, ainda, em trabalhos para
cadernos especiais da Gazeta Mercantil em sua
edição regional na Bahia, tendo passagens também pelo
jornal A Tarde, com trabalhos de colaboração.
Neste momento, sou bolsista CAPES e estou concluindo a
dissertação Jornalismo digital e o caso dos
portais regionais, com estudo sobre o UAI e o iBAHIA, sob a
orientação do Prof. Dr. Marcos Silva Palacios. Também
sou integrante do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online, da
FACOM/UFBA.
- Os universitários brasileiros de jornalismo demonstram interesse por
este segmento? Você acredita que o JOL absorverá um número maior
de profissionais da área?
No contato com alunos da Faculdade de Comunicação da UFBA no
período do estágio de tirocínio docente -- de janeiro a maio
deste ano, quando demos forma ao jornal laboratório Panopticon --
percebi que havia, sim, grande interesse pelo jornalismo digital. Tanto
é que alguns dos alunos atualmente atuam nesse setor. Em setembro do ano
passado, tive a oportunidade de ter contato com estudantes de uma faculdade
particular de Salvador -- a FIB -- onde, sob a coordenação do
professor Marcos Palácios, ministramos curso sobre jornalismo online.
Também entre eles, senti um interesse crescente em aprender e ler mais
sobre o assunto. Ou seja, os universitários querem conhecer,
experimentar e também trabalhar com essa nova espécie do jornalismo.
E isso ocorre aliado ao fato deles perceberem, nesse segmento, uma
oportunidade potencial de trabalho. Particularmente, também acredito
neste segmento como um importante segmento a absorver jornalistas,
principalmente porque penso que, na internet, a função de
mediação que cabe ao jornalista é cada vez mais essencial.
- Algumas universidades brasileiras, como a UFBA - FACOM, estão
fomentando grupos de estudos na área. Você acredita que o jornalismo
online só ganhará credibilidade com a aproximação das
universidades?
A universidade é o lugar para o desenvolvimento de pesquisas -- não
apenas teóricas como também as pesquisas aplicadas. Acredito que os
pesquisadores, de um modo geral, estão dando bons retornos quanto ao
estudo do emergente jornalismo digital, especialmente no Brasil. A FACOM foi
a pioneira no país. Desde 1995, os professores Marcos Palacios e Elias
Machado Gonçalves iniciaram as pesquisas nessa área, tornando a
faculdade e o próprio Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (www.facom.ufba.br/jol) referencia tanto no Brasil como no exterior. Temos
dissertações e teses abordando diversos aspectos do jornalismo nas
redes e, a cada seleção -- como os próprios professores comentam
-- mais pessoas, inclusive de outros estados, submetem projetos nessa
área. Quanto a credibilidade, penso que os problemas que hoje afetam o
jornalismo na Web estão mais relacionados com o próprio
direcionamento e a maneira como as empresas organizam a sua presença
digital. O jornalismo digital no Brasil tem uma história de sete anos, e
as empresas, na sua maioria, se lançam acreditando que basta reproduzir
o mesmo modelo na Web, o que é equivocado. Acredito que uma
atuação mais próxima entre universidade e mercado pode
contribuir para melhorar a qualidade dos projetos das empresas na Web,
sobretudo com a melhor capacitação dos seus profissionais.
- O jornalismo americano, em determinada época, exerceu forte
influência no jornalismo brasileiro. Quais escolas jornalísticas
foram pesquisadas para adoção de um jornalismo digital no país?
Não sei se pode falar em escolas. Mas é certo que o modelo americano
foi o que exerceu grande influência -- seja através do Washington
Post, cuja primeira versão foi elaborada por Melinda McAdams, que se
tornou referência na área. Ela adotou a idéia de metáfora no
jornalismo digital, mas não exatamente reproduzindo o impresso. Na
verdade, creio que os grandes jornais norte-americanos serviram de modelo.
Mas o que é interessante perceber é que, enquanto lá, eles
definiram sua presença digital como Websites mesmo -- tendo as
versões digitais não meramente como espelho da impressa -- no
Brasil, proliferou o modelo portal, que nos EUA é mais adotado pelos
engenhos de busca, etc.
Basta observar para perceber como as empresas jornalísticas brasileiras
adotaram o formato portal para agregarem também o negocio de provimento
de acesso para ter maior receita e conquistar mais parceiros ou passaram a
integrar um megaportal em busca de maior visibilidade.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Entre os dois exemplo que você aponta é evidente que houve
evolução, exatamente porque enquanto o JB simboliza o modelo de um
jornal impresso que migra para a Web - em maio de 1995, portanto logo que o
acesso comercial a internet é liberado no país - o US, lançado em
2000, representa o primeiro produto concebido e veiculado apenas na Web, sem
nenhuma vinculação com uma empresa jornalística tradicional
(mais tarde, a TV Bandeirantes torna-se uma parceira e acionista no portal
iG do qual o US é o principal produto. Desta maneira, pode-se dizer que, se
o JB foi pioneiro ao utilizar as tecnologias digitais para a
veiculação de seu conteúdo também através da rede e
utilizando os recursos disponíveis e possíveis naquele momento, o
US também o foi, mas quando surge já tem possibilidades ampliadas
(inclusive tecnologicamente falando, pois a infra-estrutura já estava
mais desenvolvida) para a organização, tratamento e
disponibilização do seu conteúdo.
Obviamente, o JB incorporou novos recursos, sendo também um dos primeiros
a divulgar notícias em fluxo ou em tempo real com atualização
constante, valendo-se do material da Agência JB. Assim, foi incorporando alguns dos
elementos relacionados com as características do jornalismo neste
suporte - hipertextualidade, multimidialidade, interatividade,
personalização e memória (BARDOEL & DEUZE, 2000; PALACIOS,
1999). O US, por sua vez, além da utilização desses elementos para
a publicação dos conteúdos, termina por consolidar um padrão
-- em nome da velocidade e agilidade do meio -- publicando uma nova
notícia por minuto, resultando num afrouxamento do caráter de
noticiabilidade, conforme verificou Ana Lucia dos Santos em sua
dissertação Jornalismo fast-food sobre o US, defendida em fevereiro na FACOM. De qualquer
maneira, entre o US e a edição do JB existem diferenças conceituais e
algumas semelhanças que refletem o posicionamento de cada produto,
principalmente em relação a sua linha editorial. E nesse caso
não se pode ignorar que o JB é uma marca relacionada a uma empresa
tradicional.
Por outro lado, como aferiu pesquisa sobre mapeamento de
características e tendências no jornalismo online brasileiro
(realizada de agosto de 2000 a agosto de 2001, pelo Grupo de Pesquisa em
Jornalismo em Jornalismo Online da FACOM), as versões digitais dos
jornais brasileiros com similares impressos, gratuitos e auditados pelo
IVOCÊ, conceitualmente, ainda são muito parecidas com o impresso.
Encontram-se na fase classificada como transpositiva e também de
metáfora, pois pouco empregam recursos oferecidos pelo meio para a
construção das matérias. (Sobre a pesquisa, que analisou 44
versões digitais, ver artigo no site do grupo)
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
Não sei se o blog é uma ferramenta mais aprimorada de publicação
em tempo real. Porém, as facilidades permitidas pela ferramenta não
podem ser desconsideradas e é por isso mesmo que os websites de jornais
norte-americanos já estão publicando blogs de colunistas e de
repórteres como um recurso a mais para o aprofundamento de
informações sobre determinado fato ou temática. Creio que a
incorporação do blog nas versões digitais dos jornais, assim como
certamente pelos portais, deve se tornar uma tendência. Já existe
muita discussão em torno do blog como um formato a mais para o jornalismo
digital. Acredito que ele poderá vir a ser. Já há, inclusive,
disciplinas específicas sendo ministradas em universidades como
Stanford, se não me engano. Veremos. (Há um artigo de Steve Outing
abordando o uso dos blogs nos sites jornalísticos).
- Qual a opinião do senhor sobre as ferramentas disponíveis para
interatividade (chat, e-mail, listas de discussão) do leitor com
veículo? Alguma apresenta maior eficácia?
Não apenas esses recursos de interatividade devem sem implementados, mas
efetivamente qualquer publicação que deseje ser bem-sucedida deve
incorporar os usuários na produção dos conteúdos. Para isso,
outros recursos -- como canais para que eles possam atuar como produtores --
devem ser disponibilizados. O e-mail, o chat, os fóruns, as enquetes
são alguns deles -- e olha que ainda tem muita publicação que
não os oferece.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
Acredito que o modelo de conteúdo fechado seja uma tendência para
aquelas publicações que tenham de fato conteúdos exclusivos e de
grande interesse. O leitor/usuário vai pagar por algo que saiba que
só vai encontrar em determinado site. Atualmente, os grandes jornais e
alguns portais adotam a estratégia do conteúdo fechado - denominado
prêmio - para algumas áreas do site, deixando outra parte do
conteúdo aberto a qualquer usuário. Isso ocorre porque as empresas,
para investir em qualidade de conteúdo e também em tecnologia,
precisam de retorno financeiro - que não vem tão facilmente apenas
com a publicidade.
----- Original Message -----
From: <etr@jb.com.br> Elisa Travalloni
To: "Luis Fernando" <luisf@rochapereira.com.br>
Sent: Thursday, October 24, 2002 2:02 PM
Subject: Res:Res:Sobre monografia de jornalismo online
- Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Vou contar um pouco sobre minha formação e experiência: Me
formei em Ciências Sociais pela UFRJ e depois fiz a faculdade de
Comunicação Social pela UERJ. No terceiro período de
jornalismo, comecei a estagiar no jornal O Estado de São Paulo (sucursal
Rio). Lá fiquei um ano. Depois fiz trabalhos no Departamento de Cultura
da UERJ, na área de redação de textos institucionais e de
produção teatral. Em 1999, vim para o JB Online como estagiária,
fui contratada como repórter (1999) e depois como coordenadora de
conteúdo (2000). Em julho deste ano, fui contratada como editora do
site.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Conceitual: Os jornais online romperam um pouco a dependência que tinham
com os jornais impressos, ou seja, deixaram de ser apenas reprodutores de um
tipo de conteúdo para começar a criar seu próprio conteúdo.
No caso do JB/ Folha/ Estadão e Globo, é claro que não dá
para deixar de lado a reprodução desses jornais, nem devemos, porque
garante bons acessos e porque permitimos que os brasileiros de outros
estados ou que moram fora possam ler o jornal. Mas, quero dizer que os
jornais online estão investindo em sua própria redação,
querem ampliar conteúdo, oferecer o algo mais aos leitores. Ainda
enfrentamos muita dificuldade financeira (publicidade, patrocínio ou
mesmo investimento interno), mas a idéia é que os sites cresçam
e ofereçam mais informação aos leitores, que se constituam em
redações próprias. De positivo também, acho que os jornais
online estão se preocupando em definir uma nova linguagem - ainda
não sabemos que linguagem é essa ou se mesmo teremos apenas uma
linguagem. Estamos buscando formas novas de apresentar a informação
aos leitores, vídeos, áudios, hiperlinks, fotos, gráficos,
animações. Mas, é um processo longo, de discussão entre os
jornalistas e também acadêmicos.
Acho que o problema hoje dos jornais online é o "formato agência". O
que vem a ser isso? Quando os jornais online foram criados, eles se basearam
nas Agências de notícias da época (AJB e AE), que produziam
muitas notas para vender (texto e foto). Esse conteúdo era reproduzido
no site, originando o que o JB Online chama de Tempo Real (em outros sites
é o plantão). É claro que uma das características dos sites
do jornais é a informação instantânea, oferecer ao leitor a
qualquer hora do dia o que está acontecendo na cidade, no país e no
mundo. Mas, temos que discutir se queremos quantidade ou qualidade ou os
dois. Os sites têm que buscar um equilíbrio, pq não adianta
publicar qualquer coisa só para fazer volume, e nem sempre temos que
oferecer 5 notinhas sobre um assunto. Às vezes é melhor oferecer
menos notas, mas mais profundas, ou seja, ao invés de publicarmos 5
notas sobre o tiroteio da madrugada no RJ, vamos oferecer uma matéria
consolidada para o leitor (claro, isso diminui o número de page views do
site e reduz o número de notas em relação ao concorrente). O
problema ainda é perceber melhor o que o leitor quer. Responder isso
é muito difícil, pq os leitores são diversificados. O ideal
seria oferecer quantidade e profundidade, mas para isso é preciso uma
equipe que dê conta.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. No última dia 13/09, no seminário sobre JOL
aqui no RJ você comentou que muitos colunistas do JB acreditam que a
versão eletrônica do jornal é responsável pela queda das
vendas do impresso. Por que o jornalismo online ainda não é
considerado "sério" por esses profissionais?
Deixa ver se entendi a primeira parte da pergunta: o que não existe
é um modo novo de fazer jornalismo ou o que é feito na internet
não pode ser chamado de jornalismo? Acho que agora fui eu que confundi
tudo, mas vamos lá... Acho que jornalismo é jornalismo independente
do meio em que você trabalha. Isso significa que você vai pensar em
pautas, apurar, escrever (falar) e publicar. Há um processo comum a
todos os profissionais que lidam com jornalismo. Por isso, descarto
definições como webwriting e afins... É claro que, trabalhando
na internet, o profissional vai se deparar com procedimentos e técnicas
diferentes das do jornal impresso, televisivo ou do rádio. No site, o
profissional vai ter que lidar com outra forma de apresentar seu trabalho,
vai ter noções de programas de edição de imagem, de som, vai
ter noções de html e se quiser, até de programação. Numa
equipe pequena como a do JB Online, nós acabamos por fazer um pouco de
tudo, para agilizar o trabalho e não sobrecarregar. Mas isso não
é ideal, cada empresa deve procurar achar um equilíbrio.
Agora, se o que fazemos pode ou não ser considerado jornalismo é
outra discussão... Acho que fazemos sim... afinal, nós também
vamos buscar a informação, seja por colaboradores em outros estados
que pautam ou são pautados, seja apurando por aqui. Mas, acho que o fato
de sermos um site com notas em tempo real, e não com matérias
consolidadas, pode tirar um pouco a 'seriedade' para estes profissionais
mais antigos. Acho até que é natural essa avaliação. É
um meio novo, uma linguagem nova a ser criada... Muitos profissionais
não estão interessados nisso e não prestam muita
atenção. Para outros, seremos jornais sérios quando dermos
furos, fizermos matérias 'sérias' e não notas. Mas é algo
que não posso te responder com certeza, é apenas um achismo. O bom
seria perguntar diretamente para um profissional das antigas...
Sobre o jornal online representar queda nas vendas, precisamos ter uma
pesquisa séria. Acho que não dá para afirmar isso sem que seja
comprovado. É claro que muitos preferem ler na internet a fazer uma
assinatura. Mas é a maioria? Você deixaria de ler o jornal de
domingo na mesa do café para ler no computador? Eu que trabalho com
isso, não mudaria meus hábitos. O jornal impresso é móvel,
você leva para qualquer lugar... Já o online não, pelo menos por
enquanto. Mas, entendo a preocupação do impresso. O que deveria
haver é maior integração dos dois veículos, para se
complementarem. Um chamando o leitor para o outro veículo.
- Quais diferenças você apontaria em se trabalhar numa
redação de um jornal impresso e de um veículo online?
O jornalista tem que estar antenado o tempo todo ao que está
acontecendo. O tempo todo olhando os outros sites. Já que nosso modelo
é o de oferecer notícia em tempo real, então temos que buscar o
mais importante pelo mundo. Num jornal impresso você olha, claro, mas se
concentra em uma ou duas matérias por dia... depois no final do dia,
olha de novo o que está acontecendo, até para pensar pautas. No
site, a agilidade é maior, além do fato de que o jornalista pensa de
forma mais abrangente, ou seja, ele pensa se vai poder fazer galeria de
foto, se pode criar uma enquete para o assunto, se vai oferecer áudio,
vídeo, etc... Ele pensa de forma multimídia. Tem também a
rotina de ter que passar flashes da rua, mas hoje em dia, repórteres do
impresso já fazem. No globo.com eles recebem flashes do pessoal do O
Globo. A interação com o designer é muito maior no ambiente
online do que a interação com o diagramador no impresso. Sentamos
juntos para avaliar o que deve ser feito para que o designer não
atrapalhe a conteúdo e vice-versa.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Isso vem acontecendo, mas eu ainda vejo como um trabalho integrado com os
outros profissionais. Se eu fizer uma matéria especial, com outros
links, com imagens, gráficos, vou passar tudo isso para o designer e
comentar com ele qual é o teor da matéria, posso sugerir uma imagem,
ou formato, posso também discordar sobre a cor, fonte, layout e pedir
outra coisa, mas é um trabalho de equipe, a responsabilidade deve estar
dividida. A minha responsabilidade final é com a matéria. No meu
caso, como editora, sim, fico responsável por tudo, pq dou a palavra
final (heheh nem sempre funciona assim, mas isso é outra história).
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e tv num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
Acho que os recursos serão melhor empregados com o tempo. É bem
legal colocar tudo isso para os leitores, mas quantos realmente acessam? O
Globonews tem o mérito de estar testando tudo isso agora. No futuro,
todos terão banda larga (espero) e com isso teremos que estar preparados
para oferecer informação para esse leitor. Mas não apenas
colocar um vídeo ou um áudio, pq a internet não é TV nem
rádio. É outra coisa que engloba essas linguagens. A questão
é: que linguagem é essa? O que podemos fazer de diferente com isso?
Isso pq a TV faz bem TV. Nós vamos copiar simplesmente? Essas são
questões para serem discutidas não só no mercado de trabalho,
mas também na faculdade.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
Acho que o blog pode aproximar sim os leitores dos veículos, mas
não tenho visto isso ser feito no jornalismo online brasileiro. O que
vemos são alguns jornalistas que montam seus blogs para publicar
conteúdo jornalístico ou para comentar assuntos diversos. É
difícil fazer esse exercício de futurologia, nem vou dizer aqui o
que eu acho que vai acontecer. Prefiro apostar no que eu gostaria que
acontecesse. Uma das tendências que gostaria de ver é justamente
essa interação com o leitor, buscar a participação desse
leitor e mostrar as histórias dele no site. Vejo isso como uma fonte
muito rica de material e informação e acho que a internet é o
melhor meio para isso.
- Em apenas duas horas, um veículo online pode obter o dobro de
"tiragem" que um jornal impresso. Como gerar recursos em um veículo
online com essa massa de leitores?
Acredito que uma das formas de buscar recursos é cobrar assinatura por
serviços especiais do site ou mesmo pelo site todo. É uma medida
impopular, é verdade, e complicada de ser colocada em prática no
Brasil. Mas por que não cobrar pelo acesso, como é cobrada a
assinatura do impresso? A publicidade também precisa buscar meios de ser
atraente na internet. Os internautas detestam pop-ups ou barras de
propaganda, mas esquecem que é isso que ainda está mantendo o site
gratuito.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
Pois é... Nos EUA e Londres, por exemplo, a tiragem de jornais impressos
é muito maior do que a nossa. A variedade de publicações idem.
Eles têm o hábito da leitura de jornais e revistas. Um jornal como o
New York Times é referência, muitos querem continuar lendo, mesmo
tendo que pagar por isso. Mas, isso pode não se refletir aqui. A
primeira experiência foi com a Gazeta Mercantil, que fechou parte do
conteúdo e não obteve muito sucesso, o que foi surpreendente, porque
é um jornal específico, voltado para uma parte da população
que precisa daquelas informações sobre o mercado financeiro. A
tendência é que a cobrança seja feita como na Folha de São
Paulo, em que o conteúdo impresso é fechado para assinantes (online
ou não).
----- Original Message -----
From: Leao Serva
To: luisf@rochapereira.com.br
Sent: Friday, October 11, 2002 7:31 PM
Subject: Re: Sobre monografia de jornalismo online
- Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Nasci em 1959, sou jornalista desde 1978, quando comecei na então
chamada imprensa alternativa. Me formei na PUC-SP em 1982 e logo fui
trabalhar na Folha de S. Paulo a convite de Matinas Suzuki Jr., que tinha
assumido a editoria da Folha Ilustrada.
Na Folha, fiquei quase 12 anos, fui editor, repórter, secretário de
Redação, correspondente em Londres e diretor de Marketing. Em 1994
mudei para o Jornal da Tarde, onde fui diretor-executivo de Redação;
depois trabalhei na implantação do diário esportivo Lance, entre
1997 e 1999, passei pela revista Placar (1999) e fui convidado a fazer parte
do grupo inicial que trabalhou na montagem do iG, onde sou diretor de
jornalismo.
- O jornalismo americano, em determinada época, exerceu forte
influência no jornalismo brasileiro. Quais escolas jornalísticas
foram pesquisadas para adoção de um jornalismo digital no país?
Estudamos os modelos existentes no exterior e no Brasil e intuímos um
modelo novo que não existia nem lá nem aqui, um jornal digital, com
cadernos, manchetes etc (os sites de noticias costumavam ser listas de
notícias, apenas) e ao mesmo tempo velocidade de serviços de tempo
real (que não estavam na Internet).
- Como anda o jornalismo online brasileiro em relação a outros
países?
Minha opinião é de que ele é competitivo com os melhores sites
do exterior. O que não é de se estranhar, pois os jornais (em papel)
brasileiros têm um padrão excelente.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
O JB foi o primeiro jornal brasileiro a ter um site de internet que
veiculava no meio digital o conteúdo do jornal em papel. O Último
Segundo foi o primeiro jornal concebido para o meio digital, explorando suas
peculiaridades. Aspectos positivos: exatamente essa adequação;
negativos: o jornalismo na internet ainda é associado a algo
epidérmico pelo establishment, o que limita, ainda, sua influência.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. Você concorda com esta afirmação?
Isso pode ser verdade no caso específico do Jornal do Brasil (não
sei) e de outros jornais do mundo. Os veículos que perdem
circulação para a internet não souberam responder aos novos
desafios. Ou seja: a tevê não matou o jornal, mas forçou uma
mudança no conteúdo e na estratégia dos jornais. Se algum jornal
perdeu circulação na época foi porque não entendeu as
ameaças específicas. É isso que terá que acontecer agora de
novo. O meio jornal não será ameaçado em si pela internet, mas
obriga a reposicionamentos.
- Na sua opinião, há diferença em trabalhar numa
redação de um jornal impresso e de um veículo online?
Sim, todas elas acidentais. Por exemplo, o estresse tende a ser mais
espalhado pelo dia todo (o que é saudável), em vez de concentrado em
um só momento. Outra coisa: o conceito de furo é muito alterado; por
fim, neste momento ainda em que as empresas de internet são jovens, suas
equipes são jovens também, o que é ótimo.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
Sim.
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet 'mixou' rádio, jornal e tv num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
Concordo que a internet projeta essa possibilidade, não concordo que ela
está acontecendo no portal Globonews.com. Acho que por enquanto estamos
experimentando e por isso não se pode dizer que constantemente estamos
usando os recursos adequadamente.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
As ferramentas de blog são ágeis porque são simples, não
pela velocidade de publicação (ao contrário, são ferramentas
simples). Elas aproximam leitor do veículo por serem simples, não
exigem preparo técnico específico e assim qualquer pessoa pode
postar, como se fala, informações e comentários.
Quais tendências futuras: acho que convergência de meios,
progressiva, em curto prazo; acho que uma maior dedicação a
aprofundamento de temas (hoje é maior a dedicação à
velocidade e ao noticiário).
---- Original Message -----
From: "Elias Machado Gonçalves" <eliasgonc@uol.com.br>
To: <luisf@rochapereira.com.br>
Sent: Tuesday, October 08, 2002 7:48 PM
Subject: Dados sobre o GJOL
- Primeiro, gostaria que o senhor fizesse uma breve apresentação
sobre sua carreira profissional.
Gaúcho, tenho 35 anos. Jornalista formado pela Universidade Federal de
Santa Maria (RS) em 1989. Mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro em 1992 e doutor em jornalismo pela Universidade
Autônoma de Barcelona em 2000. Como jornalista trabalhei em rádios e
jornais do Rio Grande do Sul, na Bahia, e em Barcelona, na Espanha, no
período entre 1981 e 1997. Professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal de Bahia desde 1993, onde
ministra cursos na graduação em jornalismo e no programa de pós
graduação (Mestrado e Doutorado). Editor do Jornal Laboratório
da Facom e da Revista especializada em jornalismo, Pauta Geral, fundada em
1993. Especialista em jornalismo digital esteve à frente do primeiro
curso de jornalismo digital nas escolas brasileiras de jornalismo em 1995.
Um dos pioneiros da pesquisa na área do jornalismo digital no Brasil
coordena em conjunto com Marcos Palacios o Grupo de Pesquisa em Jornalismo
Digital (http://www.facom.ufba.br/jol). Atualmente coordena o
projeto de pesquisa ``A estrutura da notícia nas redes digitais na
Bahia'', financiado pelo CNPq.
- O jornalismo americano, em determinada época, exerceu forte
influência no jornalismo brasileiro. Quais escolas jornalísticas
foram pesquisadas para adoção de um jornalismo digital no país?
É um mito reducionista definir o jornalismo brasileiro como uma copia
fiel do praticado nos Estados Unidos. Nosso jornalismo sempre conseguiu
manter uma certa autonomia. Me parece mais fiel conceber nosso jornalismo
como uma mescla do norte-americano com o europeu. No caso do digital ocorre
algo muito semelhante. Muito do modelo vem como uma forte carga das
experiências nos Estados Unidos, mas vale lembrar que, com o aumento da
competição em termos mundiais, muitas vezes os processos de
desenvolvimento de produtos são simultâneos. No caso dos
negócios nas redes somos obrigados a enfrentar os competidores externos
sem ter tempo de aprender com seus erros porque os processos de
desenvolvimento dos negócios são paralelos, quase simultâneos.
Se a Folha esperasse pelos norte-americanos para lançar o UOL em
parceria com a Abril teria perdido as condições de disputar, com
vantagens competitivas, o Terra e o Aol.
- Como anda o jornalismo online brasileiro em relação a outros
países?
De um modo geral vai bem. Como um dos poucos países com uma forte
tradição universitária na formação de jornalistas
apresentamos uma imprensa com muita qualidade. Muitas são as
críticas ao pluralismo do nosso jornalismo. Falta conhecimento de
causa. Nenhum jornal norte-americano ou europeu daria espaço para
candidatos presidenciais como José Maria do PSTU ou Rui Costa Pimenta do
PCO. Ralph Nader, do Partido Verde, nos Estados Unidos, com 10% do
eleitorado jamais conquistou as páginas de publicações como The
New York Times, por exemplo. No caso do online, temos uma variedade de
publicações muito grande em todos os estados da federação.
Os modelos de produção de noticias ainda são muito vinculados ao
jornalismo tradicional como ocorre em todo o mundo porque para mudar o
sistema de produção se deveria implantar sistemas de
produção de aplicativos destinados ao jornalismo nas redes. Nesta
etapa do jornalismo sem software adequado pouco se pode oferecer de novidade
tanto nos sistemas de produção quanto na circulação dos
conteúdos ou mesmo na incorporação dos usuários aos sistemas
produtivos das organizações jornalísticas.
- Do primeiro jornal online brasileiro (JB) ao jornal exclusivamente
online Último Segundo, quais aspectos em termos de evolução
conceitual e tecnológica você apontaria como positivos? E os
negativos?
Em primeiro lugar, uma correção. A façanha de primeiro
diário online pertence ao Jornal do Comércio, de Recife, na rede
desde, 1994, no Gopher. O JB é o primeiro na plataforma Web. A maior
avanço está na menor reprodução automática dos
conteúdos dos demais meios. O aspecto mais negativo: a falta de
desenvolvimento de sistemas autônomos de produção de
conteúdos adaptados ao suporte digital. Avançamos na
produção de conteúdos específicos mas falta ainda conceber
modelos de produção de conteúdos descentralizados, capazes de
incorporar os usuários na alimentação das publicações.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. Você concorda com esta afirmação?
Como a pergunta adianta são jornalistas da velha guarda. Sintonia com o
próprio tempo nada tem a ver com idade, mas sem dúvida os
profissionais mais antigos tem menos possibilidades de adaptação que
os mais novos. Os jornalistas vinculados aos demais meios tem muitos
fantasmas na cabeça. Na maioria das vezes, sem fundamentos. Um suporte
complementa o outro. Tudo depende da capacidade de quem gerencia o
negócio para aproveitar oportunidades de mercado. Tampouco estranho a
reação dos profissionais da antiga ao jornalismo digital. Demora um
pouco para que o profissional possa se acostumar aos desafios do meio
emergente.
- Alguns profissionais apontam que o jornalismo online permitiu que o
jornalista ampliasse sua atuação, sendo responsável não
só pela escrita, mas também pela edição e
diagramação de reportagens. Você concorda com este ponto de
vista?
É verdade. A ampliação das atividades do jornalismo devido ao
aumento da complexidade da tecnologia vem de longe. Não é fato
específico do jornalismo digital. A partir da entrada dos computadores
nas redações o jornalista teve assumir muitas das funções
dos revisores ou mesmo dos subeditores ou copy-desks. No caso do jornalismo
digital a concentração das atividades num único profissional
aumenta em progressão geométrica. Para evitar que a sobrecarga de
trabalho possa prejudicar a qualidade do produto final a empresa deve
conceber sistemas de produção adequados às necessidades do meio,
descentralizando a criação dos conteúdos. Nas redes, cada vez
mais, o jornalista funciona como uma espécie de editor dos conteúdos
produzidos em lugares remotos, distantes fisicamente da redação da
publicação.
- Há algum requisito básico para o jornalista atuar
neste campo? É realmente necessário aliar conhecimentos
técnicos com uma boa redação?
Sem dúvida. Muito da baixa adaptabilidade das publicações
digitais às demandas dos usuários decorre da falta de
capacitação dos profissionais. Desprovido dos conhecimentos
específicos sobre a natureza do meio o jornalista fica sem
condições de desenvolver modelos inovadores de publicações.
No jornalismo digital mais que dominar o texto o jornalista tem ter
capacidade de produzir conteúdos multimídia, adaptados a um
ambiente em que o usuário exige desempenhar uma função ativa ao
longo do processo de produção dos conteúdos. Caso desconheça
as particularidades do meio ou as exigências técnicas do suporte
nenhum profissional pode apurar fatos no tempo padrão das redes, o tempo
da atualização permanente das notícias.
- O portal Globonews.com é considerado um veículo de ponta por
unir imagem, texto e áudio num único canal. Alguns afirmam que a
internet "mixou" rádio, jornal e TV num só meio. Você concorda
com esta visão? Você acha que os recursos tecnológicos
disponíveis estão sendo usados adequadamente?
O Globo News longe está de representar um canal de ponta. Nada tem de
inovador no sistema de produção dos conteúdos. Na maior parte da
vezes vampiriza os conteúdos produzidos nos meios convencionais do
sistema globo. Nos conteúdos multimídia do Globo News o usuário
cumpre com a função de leitor, telespectador ou ouvinte. Uma
vantagem quando comparado aos meios convencionais em separado; mas um modelo
muito distante do que deveria se fazer no jornalismo digital: descentralizar
a produção, concebendo o usuário como um produtor-consumidor de
conteúdos multimídia.
- O blog começa a ser adotado por muitas editorias de jornais online.
Você acredita que a ferramenta blog, uma versão mais aprimorada de
publicação em tempo real, pode aproximar ainda mais o leitor do
veículo? Quais tendências futuras você apontaria para o
jornalismo online?
O blog nada tem de jornalístico. Tem muito mais a ver com os
diários pessoais. Numa publicação jornalística nas redes
como no jornalismo impresso, na TV ou em rádio nem tudo que se publica
ou divulga tem natureza jornalística. Como uma atração para
fisgar o usuário me parece interessante, embora seja cada vez mais
repetitivo. Qualquer que seja o modelo de produto para o jornalismo digital
deve seguir três características essenciais: produção
descentralizada, conteúdos multimídia e incorporação dos
usuários no sistema de produção de conteúdos.
- De 1995 até os dias atuais foi possível traçar um perfil
de "leitor da web"?
Existem centenas de pesquisas sobre as características dos usuários
das redes, que varia dependendo do nicho estudado. Nós, na Bahia,
até agora estivemos mais voltados para o estudo dos conteúdos das
publicações, para a definição conceitual do jornalismo nas
redes e para a pesquisa sobre os modelos de produção de
conteúdos jornalísticos nas redes.
- Qual a opinião do senhor sobre as ferramentas disponíveis para
interatividade (chat, e-mail, listas de discussão) do leitor com
veículo? Alguma apresenta maior eficácia?
Todas são interessantes mas muito pouco adaptadas à exigências
das publicações jornalísticas. Uma das maiores dificuldades
para o desenvolvimento de sistemas de produção de conteúdos
originais para as redes advém da falta de aplicativos adaptados as
demandas dos jornalistas ou dos usuários dos sistemas de
produção e circulação de notícias.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
No campo da pesquisa científica não existe lugar para crenças
ou futurologia. Se consideramos a natureza dos sistemas de relações
ou econômicos desenvolvidos nas redes digitais podemos afirmar que
cobrar pelo acesso aos conteúdos significa a menos criativa de todas as
saídas. O futuro do jornalismo nas redes depende do desenvolvimento de
modelos de negócio viáveis. Nos meios convencionais a publicidade
viabiliza os empreendimentos. Na rede, cada vez mais o comércio
eletrônico supre com a função cumprida pela publicidade antes.
Quanto mais desenvolvido o modelo de jornalismo digital menos se cobra do
usuário pelo acesso aos conteúdos. A cobrança deve ser indireta.
O melhor modelo de negócio insere o usuário no sistema de
produção em vez de cobrar pelo acesso a conteúdos produzidos
centralizadamente.
----- Original Message -----
From: "Marcus Vinicius Rodrigues Mannarino" <marcus@marcus-mannarino.jor.br>
To: <luisf@rochapereira.com.br>
Sent: Thursday, November 28, 2002 10:40 PM
Subject: Re: Sobre monografia de jornalismo online
-
Primeiro gostaria que você fizesse uma breve exposição sobre
sua carreira profissional no jornalismo.
Dentre outras experiências pontuais e curtas, tive duas relevantes.
Iniciei minha vida profissional na Assessoria de Comunicação da
Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto
(Andima), entre 1991 e 1994. Lá tive meu primeiro contato com
computadores e redes. Por incrível que pareça, comecei pela rede.
Produzi o clipping da Andima, de notícias do mercado, distribuído
pela rede da Cetip, que era acessada por terminais nas instituições
associadas. Depois, fui para a editoração eletrônica e
redação de publicações.
Saí da Andima para a Rede Nacional de Pesquisa que, desde 2000 chama-se
Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, mantendo a sigla RNP.Participei da
abertura da Internet comercial no Brasil, dei início às atividades
de comunicação da RNP, publicando notícias sobre suas
atividades, primeiro em seu próprio site, depois em boletim impresso.
Hoje, sou gerente do Centro de Informações, que concentra atividades
de assessoria de comunicação, assessoria de imprensa e
desenvolvimento de sistemas (em conjunto com analistas, programadores e
designers) para uso interno.
- Muitos jornalistas da velha guarda acreditam que não existe um
jornalista para web. Exemplo: no última dia 13/09 ocorreu um
seminário sobre JOL aqui no RJ e a editora do JB Online, Elisa
Travalloni, afirmou que muitos colunistas do JB acreditam que a versão
eletrônica do jornal é responsável pela queda das vendas do
impresso. Você concorda com esta afirmação?
Luis, me desculpe, mas acho que não entendi, me pareceu haver duas
perguntas distintas. Vou me arriscar nas duas que entendi, para provocar o
esclarecimento. Se não for nada disso que você está interessado,
ok. Me explique que eu tento ir no ponto de seu interesse.
Existem profissionais que, hoje, são capazes de atuar em veículos
impressos, em TV e em rádio. Cabe a pergunta: todo, ou qualquer
jornalista é capaz dessa flexibilidade? Definitivamente, não. É
preciso que a pessoa tenha múltiplas capacidades para ter desempenho
profissional minimamente satisfatório em mídias distintas, e poucos
profissionais têm essa capacidade - isso não desmerece nem diminui
em nada aqueles que se especializam em determinado meio.
A web nada mais é que a possibilidade de convergência imediata de
várias mídias: texto, imagem, som, áudio. Sendo que o texto tem
características peculiares, o modelo do hipertexto - que permite
associações não lineares de conteúdo - associado à ampla
capacidade de armazenamento do meio eletrônico, exigem alguma
experiência específica por um lado, e oferecem grandes vantagens,
por outro.
Eu diria que é possível encontrar jornalistas que sejam capazes de
produzir uma reportagem escrita; e captar imagens e gravar passagens para
uma reportagem televisiva; ou gravar áudio e produzir material para
rádio. Isso tudo pode ser enviado pela própria rede e ficar
disponível no menor prazo que for possível produzir, revisar,
editar.
Mas são (muito) poucos os jornalistas que terão essas
competências desenvolvidas. A segunda questão que entendi: Quanto ao
impacto comercial das edições web nas originais impressas, tanto
pode ser positivo quanto negativo.
O que eu acho é que, na "pré-história", poucos ganharam muito
dinheiro, e vários tentaram ganhar o mesmo, ou mais, do que esses
poucos. Estou falando das start-ups, das empresas da nova economia que
surgiram, com super-estruturas, para enriquecer acionistas em questão de
meses. Não havia modelo comercial que sustentasse os investimentos
milionários feitos. Então, muita energia, recursos e tempo foram
desperdiçados pela correria da sede ao pote.
Ilusão, afobação, quebradeiras, pé no chão, um passo
após o outro. Esse é o roteiro que vejo nortear o desenvolvimento da
nova economia. E acho que estamos em plena fase do pé no chão,
começando a dar alguns passos.
E essa minha análise, acredito, aplica-se em qualquer dos ramos de
atuação - novos ou inéditos - viabilizados com a Internet.
Falando especificamente dos jornais, imagino que o tempo vai mostrar que a
edição on-line tem muito
a oferecer às edições impressas, principalmente para quem já
tem credibilidade, tradição.
- Em apenas duas horas, um veículo online pode obter o dobro de
"tiragem" que um jornal impresso. Como gerar recursos em um veículo
online com essa massa de leitores?
Ainda acredito no modelo que prevê o aproveitamento da escala que a
Internet proporciona: cobrar pouco de muitos. Mas cobrar pelo quê?
Cobrar pelas notícias, simplesmente? Os jornais já são
produzidos em meio digital.
A edição impressa é apenas uma saída possível. Gera
uma edição eletrônica é simples e barato, considerando a
estrutura industrial já montada nas empresas que têm versões
impressas. Mesmo para as empresas que montam equipes especificamente para
edições eletrônicas, acho que o adequado não é cobrar
pelo acesso às notícias. Isso porque, em breve, meu círculo de
amigos vai ter condição de ser uma fonte mútua de notícias.
Todos plugados em rede, podem trocar informações permanentemente.
Os jornais vão ter de se aprimorar para oferecer a notícia e,
também, ir além. É uma imposição que se coloca, da mesma
forma como eles tiveram que se adaptar ao surgimento do rádio e, depois,
da TV.
- Alguns países, como EUA e Inglaterra, as empresas de
comunicação comemoram os lucros com seus veículos online que
iniciaram o processo de cobrança pelo conteúdo exibido. Você
acredita que o usuário de Internet vá pagar para ler matérias
jornalísticas?
O New York Times já aprendeu a usar alguns dos recursos que a tecnologia
oferece, em seu próprio benefício comercial. Sua edição web
já foi de acesso restrito aos americanos; depois foi aberta ao mundo,
mas mediante assinatura; depois foi abandonada a assinatura, mas exigido o
cadastramento.
E eles souberam usar o cadastramento. Passaram a identificar os leitores e
rastrear o comportamento deles. E usaram essas informações para
negociar com os anunciantes. Você, leitor brasileiro, ao entrar no site
do New York Times, pode se surpreender ao ver uma anúncio de empresa
brasileira. Esse anúncio não é exibido para qualquer leitor,
apenas para os brasileiros, por exemplo. Eles fazem isso: dão ao
anunciante espaço publicitário para o público que o interessa.
Isso tem muito valor. Buscaram na tecnologia um forte argumento comercial. E
faturam com isso.
Acredito que a tecnologia será a força por trás de qualquer
modelo de negócio para o jornal online.
O exemplo acima é mais comercial que editorial. E não passa pela
cobrança ao leitor. Mas acredito que o leitor vá se interessar em
pagar se houver valor agregado à notícia. Muita coisa pode ser
feita em edições eletrônicas. O espaço para reportagens
especiais está todo disponível e mal aproveitado. Os jornais podem
investir em reportagens de fôlego, com produção de fotos e
imagens, pois têm espaço para publicar. Cobrar por isso? Por que
não? Se for possível identificar e atingir o público que tem
interesse naquele conteúdo, cobra-se do leitor, uma quantia reduzida e
ainda aproveita-se o potencial publicitário.
Arquivos de jornais: outra possibilidade. Em 50 anos, o acervo
eletrônico acumulado será riquíssimo! E somar-se-á a este o
material mais antigo, que for digitalizado conforme os custos desse processo
caírem. Isso tudo terá um altíssimo valor. Hoje, poucos
leitores utilizam os arquivos dos jornais.
Pudera, esses arquivos não foram feitos para o público -
pelo menos no jornalismo brasileiro, porque os norte- americanos
têm arquivos estruturados para atender ao público. São
inúmeras as possibilidades, mas dependem da cultura dos
editores, dos jornalistas, dos anunciantes, dos leitores. É
preciso que o tempo e a ousadia mostrem os vários usos que o
webjornal pode ter.
- 1
- Carlos Eduardo Lins da Silva, O Adiantado da Hora -
a influência americana sobre o jornalismo brasileiro (São
Paulo: Sumus, 1991), p.9.
- 2
- Marcos Silva Palácios e Elias Machado Gonçalves,
Manual de Jornalismo na Internet - conceitos, noções práticas e um guia comentado das principais publicações jornalísticas digitais brasileiras e internacionais (Bahia: FACOM, 1994), p.5.
- 3
- Elias Machado Gonçalves, Jornalismo na Internet, trabalho apresentado no
Congresso Intercom, 1996, p.4.
- 4
- Segundo o site Node1 (www.node1.com.br),
"Gopher é uma ferramenta de busca de informação em redes, que
permite ao usuário navegar, facilmente, através da complexidade da
Internet. Ele foi desenvolvido, no início da década de 90, pela
Universidade de Minnesota (EUA) a fim de prover seu corpo docente e discente
de um sistema de informação interno flexível, que pudesse ser
atualizado pelos diversos detentores da informação".
- 5
- Poder ler em qualquer lugar é vantagem apontada 80% dos leitores preferem versão impressa da Folha à eletrônica, Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1408200297.htm. Acesso
em 25/11/2002.
- 6
- Jornalista. Começou a
carreira como redator de revistas (Manchete, Ele&Ela, Desfile,
Computerworld e PC World). Mais tarde se tornaria editor da Computerworld e
PC World. Atualmente é editor da revista eletrônica Webinsider.
- 7
- Profissional de marketing do
O Globo Online. Depoimento enviado por e-mail.
- 8
- Wilson
Dizard Júnior, Nova mídia - A evolução da
comunicação de massa (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998),
p.20.
- 9
- Curso Passo a Passo de Web Design - mini-dicionário técnico (Goiânia: Editora Terra, 2002), p.38.
- 10
- Curso Passo a Passo de Web Design - mini-dicionário técnico (Goiânia: Editora Terra, 2002), p.46.
- 11
- Luciana
Moherdaui, Guia de Estilo para Web - produção e edição de
notícias on-line (São Paulo: Editora Senac, 2002), p.97.
- 12
- Ibid,
pp.99-100.
- 13
- Jornalista formado pela Universidade
Federal de Santa Maria (RS). Mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e doutor em jornalismo pela Universidade
Autônoma de Barcelona. Professor da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Bahia.
- 14
- Autora do livro Guia de Estilo Web,
pela Ed. Senac em 2000 e 2002 (ed. revista e ampliada). Participou da
criação do jornal Último Segundo e foi Editora da Homepage do Último
Segundo.
- 15
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha na editoria de política do Jornal do
Brasil.
- 16
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha no Caderno de Informática do Jornal do Brasil e no
JB Online.
- 17
- Jornalista e professor. Começou a
trabalhar com jornalismo em 1956, no Diário Carioca, do RJ, JB, em 1958.
Em seguida, Última Hora, Manchete, O Globo, O Jornal, TV Educativa ...
até meados da década de 80. Atualmente, trabalha na Universidade
Federal de Santa Catarina. Escreveu oito livros técnicos e dezenas de
artigos sobre a profissão.
- 18
- Formado pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), Mestrando em Sistemas de Informação NCE-UFRJ,
atualmente é free-lancer e editor do blog Tá na Tela.
- 19
- Jornalista, atualmente cursa Mestrado no
Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura
Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
- 20
- Formada em Ciências Sociais pela
UFRJ e Comunicação Social pela UERJ. Atualmente é editora do JB
Online.
- 21
- Formado pela PUC-SP. Atualmente é
diretor de jornalismo do Último Segundo.
- 22
- Segundo definição do Mini-dicionário técnico da Editora Terra, Banner significa "Faixa.
Atualmente, refere-se a um anúncio, que é colocado em páginas da
web, geralmente com um link para a página do anunciante".
- 23
- Segundo definição do
Mini-dicionário técnico da Editora Terra, Pop-up significa "uma pequena janela que se abre automaticamente a partir
de uma janela inicial...".
- 24
- Bacharel em Marketing pela Faculdade da
Cidade. Atualmente é diretor de marketing do JB Online.
- 25
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha no Caderno de Informática do Jornal do Brasil e no
JB Online.
- 26
- Formado pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), Mestrando em Sistemas de Informação NCE-UFRJ,
atualmente é free-lancer e editor do blog Tá na Tela.
- 27
- Jornalista, atualmente cursa Mestrado no
Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura
Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
- 28
- Formada em Ciências Sociais pela
UFRJ e Comunicação Social pela UERJ. Atualmente é editora do JB
Online.
- 29
- Jornalista formado pela Universidade
Federal de Santa Maria (RS). Mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e doutor em jornalismo pela Universidade
Autônoma de Barcelona. Professor da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Bahia.
- 30
- Autor do livro "O Papel do Webjornal".
Atualmente é Gerente do Centro de Informações da Rede Nacional
de Ensino e Pesquisa (RNP).
- 31
- Depoimento do jornalista Joel Silveira para o livro
Repórteres, de Audálio Dantas
- 32
- Hyper Text Markup Language - Segundo definição
do Mini-dicionário técnico da Editora Terra, HTML significa "uma linguagem de formatação de texto
desenvolvida no início da internet, mas padrão até hoje. É
importante lembrar que o HTML não é uma linguagem de
programação como muitos pensam".
- 33
- Nilson Lage, A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística (Rio de Janeiro: Record,
2001), p.161.
- 34
- Ibidem.
- 35
- Ibid, p.153.
- 36
- "Profissional da área de design
voltado para a criação digital, em especial no meio internet",
definição do Mini-dicionário técnico da Editora Terra.
- 37
- Bruno Rodrigues, Webwriting: pensando o texto para a mídia digital (São Paulo: Berkeley
Brasil, 2000), p.5 e p.8.
- 38
- Jornalista e publicitário.
Atualmente, é editor do site da Petrobras, além de ministrar cursos
e fazer palestras sobre webwriting e Arquitetura da
Informação.
- 39
- Jornalista, começou a carreira como
redator de revistas (Manchete, Ele&Ela, Desfile, Computerworld e PC
World). Mais tarde se tornaria editor da Computerworld e PC World.
Atualmente é editor da revista eletrônica
Webinsider.
- 40
- Sócia-diretora da empresa de
comunicação Informed Jornalismo, editora de conteúdo do site da
Sociedade Brasileira de Diabetes e membro da Associação Brasileira
de Jornalistas Científicos.
- 41
- Formado pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), Mestrando em Sistemas de Informação NCE-UFRJ,
atualmente é free-lancer e editor do blog Tá na Tela.
- 42
- Formada em Ciências Sociais pela
UFRJ e Comunicação Social pela UERJ. Atualmente é editora do JB
Online.
- 43
- Luis Fernando Rocha, Lista de Discussão: O código aberto do jornalismo online, Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/eno021020022.htm. Acesso
em 02/10/2002.
- 44
- Programa criado para troca de arquivos de som (MP3) pela
internet.
- 45
- Programa fabricado pela empresa americana
Macromedia para criação de arquivos de animação para web.
- 46
- Segundo definição do Mini-dicionário técnico da Editora Terra, Javascript significa "linguagem
baseada em scripts, desenvolvida pela Netscape Communications e pela Sun
Microsystems, que combinada ao HTML confere mais dinamismo e interatividade
às páginas de um site...".
- 47
- Segundo definição do Mini-dicionário técnico da Editora Terra, pop-up significa "uma pequena
janela que se abre automaticamente, a partir de uma janela inicial, após
uma ação direta ou indireta do visitante, oferecendo um leque de
múltiplas opções que se encontram vinculadas àquele link
principal''.
- 48
- Brasil tem 14,3 milhões de internautas residenciais, Disponível em:
http://idgnow.terra.com.br/idgnow/internet/2002/11/0021 .
Acesso em 11/11/2002.
- 49
-
Ibope: usuários passam 10h16m na web em setembro, Disponível: http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A413906-19,00.html .
Acesso em 11/10/2002.
- 50
- www.qualibest.com.br
- 51
- Poder ler em qualquer lugar é vantagem apontada 80% dos leitores preferem versão impressa da Folha à eletrônica,
Disponível em:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1408200297.htm. Acesso
em 25/11/2002.
- 52
- Idem
- 53
- Jornal é a 2a
instituição de maior credibilidade. O Globo. Rio de Janeiro, 14 de
agosto de 2001, p.3.
- 54
- Idem
- 55
- Ibidem
- 56
- Edição especial esgota rapidamente. O
Globo. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2001, p.21 - Caderno Especial.
- 57
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha na editoria de Política do Jornal do Brasil.
- 58
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha no Caderno de Informática do Jornal do Brasil e no
JB Online.
- 59
- Colunista do site Comunique-se, com
passagens pela Folha de S.Paulo, O Globo e a Revista Caras.
- 60
- Formada em Ciências Sociais pela
UFRJ e Comunicação Social pela UERJ. Atualmente é editora do JB
Online.
- 61
- Formado pela PUC-SP. Atualmente é
diretor de jornalismo do Último Segundo.
- 62
- Autor do livro "O Papel do Webjornal".
Atualmente é Gerente do Centro de Informações da Rede Nacional
de Ensino e Pesquisa (RNP).
- 63
- Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
- 64
- Apresentação. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/jol/apresenta.htm. Acesso em: 26/11/2002.
- 65
- Todas as transcrições dos textos foram
autorizadas pelos respectivos autores.
- 66
- Faculdades Integradas da Bahia.
- 67
- Luis Fernando
Rocha, Viva a mídia alternativa, Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/eno180920021.htm. Acesso
em: 18/09/2002.
- 68
- Segundo o Mini-dicionário Técnico da Editora, broadband,
traduzida para o termo banda larga, "é uma forma qualquer de acesso
rápido à Internet, como acesso via cabo, ADSL, satélite etc.,
que permite a transmissão integrada e simultânea de vários tipos
de sinais ao mesmo tempo, tais como voz, dados, imagens etc".
- 69
- Autora do livro Guia de Estilo Web,
pela Ed. Senac em 2000 e 2002 (ed. revista e ampliada). Participou da
criação do jornal Último Segundo e foi Editora da Homepage do Último
Segundo.
- 70
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha no Caderno de Informática do Jornal do Brasil e no
JB Online.
- 71
- Colunista do site Comunique-se, com
passagens pela Folha de S.Paulo, O Globo e a Revista Caras
- 72
- Formado pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), Mestrando em Sistemas de Informação NCE-UFRJ,
atualmente é free-lancer e editor do blog Tá na Tela.
- 73
- Jornalista, atualmente cursa Mestrado no
Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura
Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
- 74
- Formado pela PUC-SP. Atualmente é
diretor de jornalismo do Último Segundo.
- 75
- Jornalista formado pela Universidade
Federal de Santa Maria (RS). Mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e doutor em jornalismo pela Universidade
Autônoma de Barcelona. Professor da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Bahia.
- 76
- Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima, Manual de Telejornalismo (Rio de Janeiro:
Campus, 2002), p.39.
- 77
- Quem somos,
Disponível em: http://www.telejornalismo.com/tjufrj/quemsom.htm . Acesso em:
28/11/2002.
- 78
- Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima, Manual de Radiojornalismo (Rio de
Janeiro: Campus, 2002), p.34.
- 79
- Idem, p.35.
- 80
- Idem, p.35.
- 81
- Idem, p.36.
- 82
- Idem, p.37.
- 83
- Idem, p.38.
- 84
- Idem, p.38.
- 85
- Idem, p.39.
- 86
- Autora do livro Guia de Estilo Web,
pela Ed. Senac em 2000 e 2002 (ed. revista e ampliada). Participou da
criação do jornal Último Segundo e foi Editora da Homepage do Último
Segundo.
- 87
- Jornalista formado pela FACHA-RJ,
atualmente trabalha na editoria de política do Jornal do Brasil.
- 88
- Colunista do site Comunique-se, com
passagens pela Folha de S.Paulo, O Globo e a Revista Caras.
- 89
- Formado pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ), Mestrando em Sistemas de Informação NCE-UFRJ,
atualmente é free-lancer e editor do blog Tá na Tela.
- 90
- Professor de telejornalismo e
coordenador do Laboratório de TV da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ)
- 91
- Formada em Ciências Sociais pela
UFRJ e Comunicação Social pela UERJ. Atualmente é editora do JB
Online.
- 92
- Formado pela PUC-SP. Atualmente é
diretor de jornalismo do Último Segundo.
- 93
- Jornalista formado pela Universidade
Federal de Santa Maria (RS). Mestre em Comunicação pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e doutor em jornalismo pela Universidade
Autônoma de Barcelona. Professor da Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Bahia.