Tematização e Agendamento Cultural
nas páginas dos diários portugueses
[1]
Sérgio Luiz Gadini [2], Universidade Estadual de Ponta Grossa
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Compreender o modo como se faz jornalismo cultural [3] em Portugal, a partir de um estudo de caso da editoria de arte/cultura dos principais diários lusitanos. Essa é a preocupação que norteia a análise que segue, desenvolvida entre outubro de 2001 e janeiro de 2002. Paralelamente à observação do que a mídia impressa fez ‘acontecer’ e de como deu visibilidade a determinados eventos no referido período, buscou-se também identificar aspectos, situações ou fatores capazes de ilustrar a forma como se ‘organiza’, ‘funciona’ e se ‘articula’ o campo cultural português, particularmente na capital do País, Lisboa.
Em outros termos, tendo por base o produto jornal impresso, procura-se ainda compreender as maneiras pelas quais esse mesmo campo é agendado pelo jornalismo e como, simultaneamente, também influencia o fazer periodístico cotidiano – aqui compreendido como um dos produtos do campo midiático, que também participa da construção cultural dos grupos sociais no mundo contemporâneo.
Ciente da ampla variedade de produtos e atividades jornalisticamente elaboradas para orientar o setor cultural (programas de tv, rádio, páginas on line, revistas especializadas e dirigidas à literatura, música, teatro, dança, cadernos semanais etc), a opção pela análise dos principais diários impressos – ao mesmo tempo em que configura uma inevitável escolha metodológica – considera, entre outros fatores, o caráter sistemático e necessariamente atual que a periodicidade imprime, bem como o caráter de agendamento, informação e serviço que a edição cotidiana estabelece com o fazer/ler jornal diário.
Como se pode verificar nas páginas que seguem, o presente texto estabelece uma reflexão de caráter teórico com a ilustração de um estudo de caso que se orienta, basicamente, em torno do eixo conceitual das perspectivas de tematização, agendamento e construção social da realidade que o produto jornalístico elaborado para o campo cultural opera no mundo contemporâneo.
Da mesma maneira, embora a análise dos diários seja feita aqui apenas com os principais jornais portugueses, a eventual referência à realidade midiática brasileira se justifica na medida em que uma das etapas seguintes da pesquisa vai observar mais especificamente o modo como os diários brasileiros tematizam e trabalham com e no campo cultural.
Algumas informações, dados sócio-econômicos e estatísticos, bem como referências históricas, podem propiciar uma maior e necessária contextualização do campo – produção, circulação e consumo – cultural em Portugal. Em especial, referente ao mercado da comunicação social. É o que se pode conferir, em seguida, buscando ‘apresentar’ ao leitor na realidade de que se fala.
É oportuno ter presente alguns indicadores que ilustram a dinâmica do mercado cultural (de consumo, adesão e assistência) em Portugal. Tais indicadores, mesmo que parciais, revelam um pouco da realidade, opções, tendências, variáveis ou mesmo oscilações do setor, notadamente no período observado no decorrer do presente estudo, considerando os mais diversos aspectos que integram a conexão dos campos da cultura e o cenário midiático do País.
Dentre tais referências pode-se destacar os números, dados e estatísticas referentes à cultura, desporto e recreação referentes ao ano de 1999, divulgados em outubro de 2001, a partir da sistematização do levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) junto aos estabelecimentos artísticos, culturais, de lazer e recreação existentes no País.
“Mais portugueses nos cinemas” chama o título da matéria que o jornal Diário de Notícias (em sua edição de 31/10/01) veiculou sobre o assunto. A reportagem – como se pode verificar no conjunto das demais informações também publicadas por outros meios – mostra que “20,1 milhões de espectadores assistiram, segundo as estatísticas referentes a 1999, a 464 089 sessões, majoritariamente de filmes americanos. E as autarquias investiram mais” [4] .
Dos filmes exibidos (total de sessões), 86% referiam-se a produções norte-americanas, 9% da União Européia (não se diz, explicitamente, mas pelas estatísticas, estima-se que sejam filmes franceses, britânicos, italianos, espanhóis, alemães e demais países da Comunidade), 3% das sessões foram de filmes portugueses e os restantes 2% de outros países.
“Já no que se refere aos espetáculos ao vivo, as 4.500 sessões atingiram 1,3 milhões de espectadores e geraram uma receita de 1,8 milhões de contos...” O referido levantamento [5] indica que o teatro foi a arte que mais público reuniu (31%), seguindo-se os concertos de música ligeira (25%). A ópera ficou apenas com 2% do total de espectadores. Música clássica ficou com 11% das opções, dança moderna com 6%, dança clássica com 4%, restando 21% para outras modalidades diversas.
Em outros termos, equivale a dizer – a julgar pelos dados apurados e divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE) – que, em 1999, cada português, residente no País, assistiu a dois filmes (duas sessões dos filmes ofertados, para ser mais preciso) e visitou uma biblioteca por uma única vez, oportunidade em que consultou ou solicitou dois documentos ou livros durante o referido ano.
Estas são, claro, deduções possíveis a se lançar diante das informações apresentadas pelo INE. O que, contudo, como acontece com toda e qualquer sistematização estatística, não significa dizer que efetivamente traduzem a realidade, principalmente no campo cultural, considerando que a média de acesso, hábito e procura por produtos e serviços não é absolutamente universal. Até porque, nesses casos, não estão incluídas as atividades regionais, locais e eventuais que não passam pelos centros e demais espaços artístico-culturais legalmente existentes no País.
Pertinente, nesse caso, é atentar para a presença do cinema holywoodiano na cultura portuguesa. O que demonstra que, comparativamente aos dados apresentados por Fernando Correia [6] , ao menos no que diz respeito a Portugal, de 1997 para 1999, a presença (da ‘eficácia’) cultural da indústria cinematográfica norte-americana no meio cultural lusitano subiu de 70 para 86% do total de consumo de filmes... Uma projeção digna de registro!
Mas não é somente no cinema que a influência da cultura norte-americana é visível; na música também se registra um fenômeno similar [7] . Mesmo não dispondo de dados precisos acerca do consumo musical, basta passar o dial radiofônico (seja AM ou FM) nacional para perceber que, paralelo ao fado e às músicas portuguesas, bem como à presença de algumas produções brasileiras, a indústria fonográfica norte-americana é massivamente dominante nas ondas sonoras lusitanas. Situação essa, pelo que se pode observar, diferente do que acontece na maioria dos demais países europeus (principalmente na França, Espanha, Itália e Alemanha).
História e Atualidade do Mundo Cultural
Igualmente oportuno, nessa discussão, é considerar alguns fatores sociais que marcaram a história de Portugal ao longo das últimas décadas do século XX.
Com aproximadamente 10,3 milhões de habitantes, Portugal tem como um dos principais marcos históricos do século XX a existência de um regime ditatorial, que vigorou entre 1926 e 1974, cerceou liberdades políticas, democráticas e civis de milhares de críticos, militantes, intelectuais, religiosos, escritores e demais profissionais que, de alguma forma, se posicionavam contrários ao regime ‘salazarista’, sob censura explícita ou, no final, denominada de “exame prévio”.
É, portanto, a partir do fim da ditadura (oficialmente em 25/04/1974) que o País se estrutura em torno de governos intencionalmente democráticos, aprova nova Constituição (02/04/76) e reordena a comunicação social [8] , possibilitando o surgimento de novos periódicos, ampliando o acesso aos meios eletrônicos, dentre outros fatores.
Nesse contexto, os assuntos e questões pertinentes à comunicação são de responsabilidade do Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro, sob a Secretaria de Estado da Comunicação Social. Existe ainda a Alta Autoridade para a Comunicação Social, que funciona junto à Assembléia da República, e o Instituto da Comunicação Social, que atua sob a superintendência governamental. Paralelo a isso, há que se registrar a existência efetiva de uma sociedade civil, profissional e empresarial, que atua no setor.
O clima de ‘nacionalização’, que marcou a fase pós-25 de abril, levou o governo a nacionalizar dos principais diários do País [9] . Data também desse período – com maior ênfase a partir dos anos 1908 – a criação de novos jornais, revistas e periódicos segmentados (voltados ao esporte, economia, etc) [10] .
O Estado, apesar da reordenação das comunicações rádio-televisivas, ocorrida a partir do início dos anos 1990 (quando surgiram novas redes de comerciais de tv aberta ou por cabo), ainda mantém forte presença no campo midiático. A Radiodifusão Portuguesa (RDP) transmite através de 5 canais: Antena 1, Antena 2 Cobertura nacional), Antena 3 (Ilha da Madeira), RDP Internacional e RDP-Africa. (voltada aos países de colonização e língua portuguesa, Palop). Por sua vez, a RTP (Radiotelevisão Portuguesa), sob controle, investimento e administração pública direta, funciona num sistema misto (com recursos públicos e anúncio publicitário). Em 1992 também é criada a RTP-Internacional e, pouco tempo depois, a RTP-Africa (98), com transmissões via satélite. Além disso, a única agência de notícias com estrutura e cobertura nacional (Lusa [11] ) mantém a maioria de seu capital social sob controle estatal.
Apesar da forte presença estatal no setor, uma significativa parcela dos espaços, serviços e concessões em comunicação social está sob controle de poucos grupos que atuam e, cada vez mais, vêm crescendo com novas aquisições ou fusões empresariais no campo midiático.
Pelos dados públicos referentes à comunicação social, no final de 1999, Portugal tinha três grandes grupos fortemente inseridos no setor, em que pese a força da imprensa regional, a relativa pluralidade no controle de importantes emissoras e jornais impressos em circulação, bem como a existência de aproximadamente duas centenas de emissoras de rádios locais/regionais sob controle de pequenas empresas ou grupos familiares e considerados ‘independentes’.
O grupo Controljornal, que iniciou (e ainda mantém) com o semanário Expresso, hoje possui a revista de informação geral mais lida no País (Visão), controla a TV SIC (Sociedade Independente de Televisão, que foi o primeiro canal privado, lançado em 1993), possui participação em canais de distribuição por cabo (Telecine e Playboy), e está associado ao Grupo Abril, responsável pela edição de inúmeras publicações e mantém participações e parcerias com TV Globo (Brasil).
Já o grupo Media Capital, que também começou na imprensa, possui o controle do semanário O Independente, Diário Econômico, Semanário Econômico, dentre outros. Também atua em rádio (através de três importantes emissoras: Rádio Comercial, Nostalgia e Cidade) e televisão, por meio do relançamento da TVI (Televisão Independente), considerada a primeira em índices de audiência em novembro/2001 (com uma média de 30 a 35% da preferência dos telespectadores, principalmente pela manutenção do programa Big Brother e das telenovelas que compõem a grade).
O terceiro importante grupo privado que atua no setor de mídia português é o Lusomundo. Considerado o maior distribuidor por exibição de filmes (de cinema e vídeo) do País desde a década de 1970, representando as principais distribuidoras norte-americanas, a Lusomundo [12] mantém hoje importantes títulos da imprensa. É o caso do Diário de Notícias (com uma tiragem aproximada de 90 mil exemplares em novembro/01), Jornal de Notícias (137 mil exemplares/dia), do popular 24 Horas (60 mil exemplares), além do semanário Tal & Qual. Controla a cadeia TSF de rádio e mantém participação acionária na Televisão SIC. Opera com canais temáticos no sistema cabo de TV, associado à TV Cabo (Portugal Telecom), SIC/Globo (Controljornal/TV Globo), além da RTP.
O mercado de distribuição de jornais e revistas impressas em Portugal, por outro lado, também parece estar concentrado e sob controle de poucas empresas do setor. É o que revela uma reportagem do jornal Público (26/10/01):
“Vasp e Deltrapress criam a maior distribuidora portuguesa”
“A Vasp e a Deltapress vão juntar-se e transformar-se na maior distribuidora de jornais nacional, com uma quota de mercado superior a 50%. O negócio foi ontem anunciado pela Impresa, PT Multimédia e Cofina, empresas que controlam a Vasp e a Deltapress, e que actualmente ocupam, respectivamente, o segundo e o terceiro lugares do ‘ranking’ dos distribuidores, encabeçado muito recentemente pela Midesa.
A fusão terá de ser ainda aprovada pela Direção-Geral do Comércio e Concorrência, uma vez que as duas empresas – responsáveis pela distribuição de jornais de grande circulação, como o ‘Jornal de Notícias’, o ‘Diário de Notícias’, o ‘Correio da Manhã’, o ‘Expresso’ e o ‘Record’ – irão ficar com uma quota de mercado superior a 50%. A nova distribuidora adoptará o nome Vasp.
Actualmente, a Vasp é controlada indirectamente em partes iguais pela Impresa e a Cofina, enquanto a Deltapress é indirectamente detida em 79,5% pela PT Multimédia (Grupo Portugal Telecom) e em 20,5% pela Cofina. O contrato ontem assinado prevê que cada uma das três instituições passe a controlar – através das suas subsidiarias Hoge (Impresa), Lusomundo Serviços (PT Multimédia) e Presslivre (Cofina) – um terço do capital da Vasp, que, por sua vez, adquirirá a totalidade da Deltapress... Em conjunto, a Vasp e a Deltapress facturaram 34 milhões de contos em 2000”. [13] (Anabela Campos)
Acesso às novas tecnologias é outro indicativo da situação cultural lusitana
Ainda acerca da realidade midiática e cultural portuguesa vale lembrar que “um em cada dois portugueses utiliza o computador e um em cada três navega na internet, principalmente a partir da própria casa”. A informação é de uma pesquisa a respeito da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), realizado pelo Observatório das Ciências e das Tecnologias entre julho e agosto de 2001em Portugal.
A pesquisa [14] revela que 49% dos portugueses utilizam computador, sendo que 39% o fazem de casa. Do total, 30% da população utiliza internet. O comércio eletrônico, entretanto, continua a ser algo estranho ao cotidiano da população, pois apenas 3% admite usar o serviço web para alguma compra. Mas a desigualdade também se reflete no uso das novas tecnologias. Entre as pessoas com formação superior/curso médio, 97% usam o computador e 79% a internet, enquanto que entre as pessoas com apenas o ciclo básico esse número percentual de acesso cai para 18% que usam o computador e apenas 4% que estariam conectados à rede. Pelos dados do levantamento, cerca de 18% das casas portuguesas têm ligação à internet e dos 49% que utilizam computador o fazem entre sua própria casa, trabalho, escola ou demais lugares públicos.
Pelos dados de outro levantamento, realizado junto aos países-membros da Comunidade Européia (pelo Eurostat, feita com 10 mil entrevistados de 15 a 24 anos, entre abril e maio de 2001), 50,3% dos jovens portugueses afirmam ter um computador (contra uma média de 56,4% dos países-membros), 14,8% têm e-mail e 26,1% ‘navegam’ na Internet (contra um percentual de 30,7% e 37,3%, respectivamente, registrados na média da comunidade Européia) [15] .
Os dados referentes ao acesso ao sistema de TV por cabo também podem indicar a dinâmica do campo midiático e do próprio nível ou condição de acesso público aos bens, serviços e produtos culturais. Apesar de um maior poder aquisitivo, se comparado ao atual caso brasileiro [16] , os portugueses ainda não parecem tão familiares ao uso e acesso ao sistema de TV por cabo. Ao menos é o que revelam os dados, disponíveis, referentes ao terceiro trimestre de 1999 [17] . O ICP (Instituto de Comunicações de Portugal) revela que, em junho de 2001, 21% dos lares portugueses recebiam o serviço de TV por cabo, totalizando mais de um milhão de assinantes [18] .
Embora, na ocasião, cerca de 53% das residências do País já tivessem o cabo ao seu respectivo alcance, estima-se que 17% possuíam acesso ao sistema de TV por cabo, sendo a região de Lisboa e Vale do Tejo a que mais registrava assinantes do serviço. Apenas para se ter uma idéia, mais de 94% das ligações eram feitas pelo Grupo hegemônico na prestação do serviço (a Portugal Telecom que, mesmo privatizada, mantém 10% de seu capital sob controle estatal – a “gold share”, que nas decisões estratégicas ‘deixa’ a última palavra ao governo).
Não parece, entretanto, haver consenso nos dados sobre TV a cabo no País, ao menos no que diz respeito aos cálculos estatísticos sobre o assunto. Em 20/11/01, o Instituto das Comunicações de Portugal (ICP) divulgou que, em relação ao terceiro trimestre de 2001, 10% da população portuguesa tiveram acesso ao sistema de tv por cabo, “o que corresponde a 1,054 milhões de clientes” [19] . Os números – que “revelam um crescimento de 22% face ao mesmo trimestre do ano passado” – indicam que 599 mil das ligações ou assinantes (cerca de 58% do total) estão concentradas na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde estima-se que residem cerca de 3 milhões de habitantes. O ICP informa que, no terceiro trimestre de 2001, mais da metade dos lares portugueses (2,95 milhões, o que corresponde a 59%) estavam cabeados, ou seja, “estão servidos por redes de cabo e podem ser assinantes do serviço”.
Enfim, a identificação dos indicadores acima apresentados busca compreender um pouco os modos e variáveis de como se processa a produção e o consumo cultural em Portugal. Embora os recortes destacados possibilitem um retrato e, portanto, uma análise parcial dos setores midiático-cultural lusitano, pode-se pensar que, em certos aspectos, a realidade editorial da mídia impressa portuguesa, seja em termos de tiragem, circulação e consumo de jornais diários, se por um lado não pode ser comparada ao caso brasileiro, por outro lado também se distancia significativamente do que acontece no mercado impresso alemão, britânico, francês e de outros países europeus e mesmo alguns da América Latina (como é o caso da Argentina, Uruguai e Chile), que possuem médias de tiragem e circulação de jornais impressos superiores ao que hoje se registra em Portugal [20] . O que, entretanto, vale ponderar, não nos autoriza a comparar tais países em outros setores da vida social, como saúde, educação, transporte etc.
Mas de que maneira essa contextualização pode auxiliar na proposta de estudo? A discussão feita pelo jornalista Arsénio Mota, já em meados da década de 1980, é sintomática dessa realidade ilustrada por números e elementos sócio-culturais e ao mesmo reforça a importância de se ter presente o lugar, o momento e as próprias transformações históricas vivenciadas pelos portugueses nesse período, possibilitando situar a produção jornalística nesse contexto social, já com outros e inusitados desdobramentos.
Ao discutir o jornalismo cultural em Portugal Arsénio Mota diz que foi a partir da abertura política de 25 de Abril de 1974 que os temas culturais ganharam maior espaço nos órgãos de comunicação social lusitanos. “Surgiu o chamado jornalismo cultural em ligação estreita com o desenvolvimento da indústria cultural, nestes últimos 12 anos. Encontravam mercado crescente os seus produtos e os mass media, arregaçavam as mangas, apropriaram-se dessa nova fatia de espaço público. A expansão da instituição escolar, concretizada no saldo educativo, e o ascenso das perspectivas de promoção social em mais amplas camadas populacionais ampliaram os auditórios em torno da televisão e da rádio, dos espetáculos (de cinema, teatro, música, etc) e das exposições, dos variados festivais, congressos e encontros, da edição e comércio de livros, discos, vídeos etc” (Mota, 1986; 89). Desse modo, “o próprio jornalismo cultural tornou-se uma indústria cultural”.
A apresentação dos indicadores sócio-culturais acima apresentados visa, por isso mesmo, contextualizar um pouco a realidade de que se fala e, assim, possibilitar compreender também como e porquê determinados são pautados e discutidos na forma como os diários portugueses fazem. É aí que as orientações metodológicas devem – acredita-se – nortear a investigação desenvolvida.
Orientações Metodológicas
A opção pelos jornais Diário de Notícias, Público e Jornal de Notícias – três dos principais jornais de circulação nacional em Portugal – deve-se ao espaço dedicado à cultura, bem como à tiragem [21] e, pois, alcance dos mesmos junto aos setores formadores de opinião pública no País e leitores da mídia impressa em geral. Vale lembrar que a maioria dos principais jornais de circulação em Portugal, incluindo os três diários considerados nesse estudo, possuem formato tablóide. O que poderia facilitar eventuais ilustrações de caráter comparativo sobre os modos de abordar o setor cultural e mesmo em termos de uma respectiva dimensão quantitativa.
Como referência principal para verificar o espaço que os jornais dedicam aos vários (sub) setores do campo cultural, no período das 16 edições analisadas (de 1 a 16/11/2001), considerou-se o tamanho dos textos a partir do número de parágrafos das referidas peças